Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 117
Alvo


Notas iniciais do capítulo

Estamos de volta! Ainda sofrendo problemas técnicos, mas de volta!
Aproveitem o capítulo! E não comecem a atirar pedras na minha direção (mesmo que virtuais!)!
Boa leitura!



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A última semana do castigo de Sophie tinha chegado e eu estava surpresa que tivesse durado por todo o tempo estabelecido por Jethro. Na verdade, a única coisa que continuou como ele havia determinado foi que ela não sairia de casa para nada, e, com o passar dos dias e o fato de que ela tinha mantido o bom comportamento e não tinha reclamado de nenhuma das regras que impusemos, fomos relaxando as restrições aos poucos e já nos últimos dias, permitimos que ela assistisse a um pouco de TV enquanto estivéssemos na sala... acontece que a ruivinha não ficou sentada do nosso lado e, muito encabulada, acabou por nos explicar.

— Não é que eu não queira ficar do lado de vocês, é só que eu preciso ensaiar mais. Mademoiselle Bordeaux me pediu para repassar uma parte da coreografia para que ficasse perfeita, assim, vou aproveitar que já acabei minhas tarefas e que ainda está cedo e vou ensaiar mais. – Terminou toda vermelha.

Jethro ficou encarando a pequena e eu a mandei ensaiar.

 - Só feche a porta para não nos atrapalhar aqui! – Falei.

— Pode deixar mamãe, não vou nem colocar a música muito alta.

E saiu saltitando da sala.

— Ela só vai saber de fazer isso até o dia da apresentação... – Jethro murmurou.

— Sophie é dedicada e está muito empolgada em ser a protagonista, Jethro. É o primeiro grande papel dela, dê os devidos créditos, ela se esforçou muito no final do ano passado depois que quebrou o pé! – Disse e aproveite que minha filha estava longe e me aconcheguei nele.

Jethro, lógico, me abraçou, contudo ficou olhando para a porta com cara feia.

— Quase um mês que ela não fica conosco nesse horário e quando tem a oportunidade, nos troca pelo balé!

— Quando a apresentação passar, te garanto que ela vai estar aqui, sentada nesse sofá, clamando para assistir algum desenho!

— Só que aí, Jen, terão outras crianças juntas. E eu não vou poder ficar com a minha filha, porque o DiNozzo vai clamar a atenção dela para que os dois discutam o que eles estão vendo, enquanto dividem uma bacia de pipoca doce! Isso sem contar a presença de Ziver, Abbs, Tim, Jimmy e Breena, e olha que eu nem estou contando com Kells e o Engomadinho!

Comecei a rir.

— Mas é ciumento que chega até a doer! – Brinquei e dei um tapa no ombro dele. – Agora coloca em um programa qualquer aí e vamos aproveitar que temos um tempo só para nós dois.

E isso tinha sido dois dias atrás, Sophie estava quase liberta do castigo, contudo não parecia muito animada.

— Uhn... mamãe! – Ela me chamou da porta do meu escritório. – Tinha vindo mais cedo para casa, já que a MCRT tinha um caso que parecia que viraria a madrugada e eu não queria deixar minha filha sozinha, Svetlana ainda estava por aí.

— Diga. – Tirei meus óculos e olhei para a minha filha.

— Parece bobo, mas... – Ela parou e olhou em direção à porta. - A senhora já teve a sensação de estar sendo observada? – Tombou a cabeça e entrou no meu escritório, como se escondendo do que estava lá fora.

Tive que me manter calma, apesar de meu coração ter disparado em meu peito.

— Às vezes tenho, filha.

— E realmente tem alguém lá fora te observando ou é só uma sensação? – Sophie agora estava sentada no sofá e abraçava os joelhos.

— Um pouco dos dois. Às vezes não é nada, outras realmente tem um paparazzi enjoado tirando fotos. Por quê?

— Bem... já tem quase uma semana que eu acho que estou sendo observada, ou seguida, não sei. Sempre acontece quando eu deixo a escola... e quando eu olho para trás, não tem nada, não tem ninguém. Pensei em conversar com o Melvin, mas acho que ele iria falar que eu estou imaginando coisas.

— Mas você não viu nada? Nada mesmo? – Perguntei, me levantei de minha mesa e fui me sentar ao lado dela.

— Não. Não vi nada. E essa sensação esquisita era só quando eu deixava a escola. Até agora.

— Como assim, até agora, Sophie?

Ela parou, mordeu o lábio, pulou do sofá e foi fechar a porta do meu estúdio.

— Eu estava dançando agora. Ensaiando como eu disse para a senhora... estava de costas para a janela e de frente para o espelho, quando eu senti que tinha alguém me vendo. Achei que fosse o papai, pois ele nunca faz barulho quando anda ou chega em casa, mas não tinha ninguém na porta, assim me virei para a janela, as cortinas estavam abertas, porque eu estava com calor, de novo, não vi nada, mas eu juro para a senhora que tinha alguém ali! – Ela tinha os olhos arregalados e assustados.

— Deve ser só o detalhamento de segurança dando voltas na casa, filha.

— Não sei, mamãe. Nenhum dos agentes nunca ficam parados perto das janelas. E a sensação durou por muito tempo... além do mais, eles não passam tão perto da casa... não quando estamos acordadas, pelo menos!

Ela tinha razão. Eles não passavam tão perto. Mas como eu contaria para ela tudo o que estava acontecendo? Eu não podia! Não queria assustá-la ainda mais.

— Filha, você quer que eu vá lá fora e dê uma olhada? – Me ofereci. Afinal, tinha certeza de que se alguém realmente ficou ali, observando a minha filha, já deveria ter ido, não me arriscaria demorando mais do que o necessário.

— NÃO!! Não! – Ela se desesperou. – E se for alguém atrás da senhora? Por conta do seu cargo?

— Tudo bem. Quer que eu ensaie com você, então? Para que não fique sozinha lá?

— A senhora faria isso?

Beijei o topo da cabeça dela.

— Só vou trocar a roupa e pegar a minha sapatilha. Pode voltar para lá e se aquecer novamente. – Me levantei e a guiei até a porta da sala.

Ela entrou pulando, mas escutei, enquanto subia as escadas, que a primeira coisa que fez foi fechar as cortinas.

Não me demorei no segundo andar e logo estava ao lado dela, coordenando os movimentos que já a tinha visto fazer à exaustão. E não pude deixar de pensar que, se Sophie realmente quisesse seguir o caminho da dança e do balé, ela se sairia muito bem, afinal, tinha talento e era muito dedicada.

Dançamos por quase duas horas, ao final, ela ainda tinha gás para mais duas, já eu, estava exausta.

— Acho que já deu por hoje, né? – Ela me perguntou ao me entregar o copo d’água e uma toalha para que eu enxugasse o suor.

— Sim, já deu. Primeiro porque eu não aguento mais. Definitivamente estou ficando velha. E segundo, já está tarde e a senhorita tem que dormir. Vamos tomar um banho.

Sophie concordou comigo, tirou as sapatilhas e subiu pulando os degraus. Já perto do seu quarto, parou e me encarou.

— Papai não volta para casa hoje?

— Creio que não. Caso complicado.

— E não são todos? – Ela questionou.

— A grande maioria sim, mas por que você quer saber?

— Uhn... primeiro – Ela imitou o meu tom de voz e a minha forma de falar de mais cedo, e eu tive que me manter séria enquanto era caçoada por minha própria filha. – e mais importante, estou com saudades dele. Segundo... posso dormir com a senhora?

— Sempre tem um mas no qual a mocinha se dá bem, hein?

— Isso é um sim?

— Eu não vou dormir com nenhum gambazinho do meu lado! Então, se quiser ir para o meu quarto, vá tomar um banho.

— Não pode ser um banho de espuma? A banheira da senhora é maior!! – E lá estava aquela carinha de cachorrinho pidão que eu nunca resisti!

— Mas você não desiste, hein?

— Isso é um sim?!

— Anda, Sophie. Se apresse porque já está tarde!

Ela deu uma gargalhada e me abraçou apertado.

Depois de ter tomado banho e tomado conta de metade da minha cama – como alguém tão magrinha pode ser tão espaçosa? – Sophie pegou no sono, isso porque clamava que não estava cansada. Enquanto eu via minha filha dormindo não pude deixar de pensar no que estava acontecendo, se ela realmente notou que estava sendo observada, e isso não parecia ser coisa da cabeça dela, significava que Svetlana estava por perto e que ela já sabia que Sophie existia.

Respirei fundo e comecei a pensar se contava tal fato para Jethro ou não. Será que ele realmente precisava saber o que Sophie sentiu? Estava tentada em manter isso em segredo, mas não podia confiar que a minha filha iria ficar calada, e, se por acaso ela falasse algo com o pai? – e ela fala tudo com ele – Jethro viria igual a um míssil teleguiado na minha direção querendo explicações.

A única certeza que tive foi: eu deveria ter apertado aquele maldito gatilho em 1999!

Era alta madrugada, ainda estava naquela fase de semiconsciência quando ouvi um barulho. Com cuidado, peguei a arma reserva no meu criado e fingi que dormia, a porta do meu quarto foi aberta e antes que eu pudesse mirar...

— Tem alguém no meu lugar e guarde essa arma, Jen! – Era Jethro quem sibilava.

Guardei a arma, sem me mexer muito, não queria despertar a versão ruiva da Bela Adormecida que estava do meu lado.

— Eu fico fora por uma noite e alguém já toma o meu lugar? – Jethro disse brincalhão e se abaixou para beijar a testa da filha.

— Na verdade, você pegou o lugar dela, Sophie costumava dormir comigo quase todos os dias. – Informei. – E o caso, resolveram?

— Nah. Estamos parados. Resolvi mandar a equipe para casa para descansar, começaremos do zero pela manhã. – Jethro me respondeu e foi para o banho, quando voltou, parou ao lado da cama e, coçando a cabeça, reclamou. – Como pode ocupar tanto espaço?!

— Pensei a mesma coisa quando vim dormir. – Falei e fiquei observando como ele iria se virar para se deitar e evitar acordar Sophie.

Contudo, eu deveria saber que ele conseguiria fazer isso. E, mais rápido do que imaginei, ele estava deitado do meu lado e tinha aninhado Sophie em seu peito, a dorminhoca só ressonou e deu boa noite para o pai.

— Achei que você estaria dormindo. – Ele começou. – Não esperava te ver acordada. O que está te tirando o sono?

Por que ele tinha que ser tão perceptivo?

— Muita coisa, Jethro. Pela manhã nós conversamos. Agora, vai dormir porque eu sei que você está morto de cansado. – Dei um beijo nele e me ajeitei um pouco mais perto, ou tão perto quanto pude, já que Sophie estava atravessada no colo dele, sua cabeça apoiada em seu peito e seus pés esparramados na cama. – Folgada. – Murmurei dando um tapinha na perna dela. E o que a minha filha fez? Roncou alto. – Que princesa, hein?

Jethro só riu da situação.

Na manhã seguinte, depois de lutar como sempre com a preguiça matutina da minha filha e de escutar toda a fala retraída de quase oito horas que ela tinha, cheguei ao Estaleiro com um aperto no peito. Com aquela nítida certeza de que algo ruim ia acontecer. Ao descer do elevador, dei uma boa olhada na sala dos agentes, tudo parecia em ordem, todos estavam ali, absortos em seus trabalhos – com a exceção de DiNozzo que, escondido pela capa de um relatório, lia uma de suas revistas. Tentando me livrar dessa sensação, sacudi os ombros e rumei para a minha sala. Pude sentir o olhar de Jethro em mim e me virei para olhá-lo, estranhamente ele também parecia pressentir que algo ruim iria acontecer.

Por mais que uma vozinha me dissesse que algo não ia bem, nada aconteceu, nem na agência, nem em casa, me certifiquei de ligar para Noemi e perguntar de Sophie no instante em que Melvin veio até me sala dizer que já a tinha em casa.

Noemi me garantiu que tudo ia bem, que ela estava no quarto, fazendo as tarefas enquanto cantarolava alguma música.

Diante de tal afirmativa e da certeza da minha fiel governanta de que nada estava errado com a Pequena, voltei a me concentrar no trabalho e acabei por perder a hora de voltar para casa.

— Hoje é você quem quer perder o lugar na cama, Jen? – Jethro me assustou ao entrar no meu escritório sem bater. Ainda no mundo da lua, tudo o que eu pude fazer foi encará-lo.

— Uhn.. já quer me trocar por outra ruiva? – Brinquei, tentando voltar ao presente.

— Bem... ao menos a outra Ruiva, apesar de ser baixinha, sempre me recebe com um abraço quando eu chego.

— Acho melhor eu começar a melhorar a minha maneira de te recepcionar em casa. – Falei e busquei pelo relógio na tela do computador. Já era realmente tarde.

— E então, Jen, vamos antes que a Ruiva comece a nos ligar perguntando se não vamos voltar para casa hoje?

— Claro! Vamos. Apesar de ter a certeza de que Sophie vai estar dançando até a exaustão...

Juntei as minhas coisas, coloquei meu casaco, não via a hora de ficar livre dessas roupas de inverno, e comecei a caminhar ao lado de Jethro até o elevador. Foi uma viagem silenciosa até o estacionamento, nada estranho, só o normal de duas pessoas cansadas. A quietude foi quebrada por Jethro quando ele xingou, me tirando de meus pensamentos.

— O que foi? – Perguntei alarmada, olhando em volta.

— Um envelope. Ou seria melhor dizer, outro envelope.

— O terceiro. E todos eles com o intervalo de um mês. – Murmurei.

Jethro tirou o envelope que estava no para-brisa, preso pelo limpador e o abriu.

Dessa vez não tinha um bilhete, não tinha ameaças. Nem precisava. As fotos que lá estavam eram a própria ameaça.

Todas fotos de Sophie, de uniforme da escola, saindo de casa, entrando na escola, brincando na hora do intervalo, subindo no carro quando as aulas acabavam, em uma delas, um close perfeito de seu rosto, ela tinha uma expressão desconfiada, parecidíssima com a do pai, ao encarar a câmera que ela não sabia que a fotografava; e as duas últimas gelaram meu estômago, ainda eram de Sophie, mas dessa vez ela não estava uniformizada, estava com uma calça legging preta, uma blusa rosa com a estampa da Mulan, sapatilhas de balé rosa clara, a mesmíssima roupa que usava na noite anterior.

— Esse aqui é...

— Sim, Jethro. É o salão que eu transformei em estúdio de balé. E vou mais além, essas fotos foram tiradas ontem à noite.

Jethro tirou a última foto. Eu e Sophie, sentadas no chão da sala, suadas, ela me estendia uma garrafa de água sorrindo, eu sorria para ela. Desviei o meu olhar, mordendo o lábio e me perguntando como eu não notei que estávamos sendo observadas quando abri as cortinas na noite passada?

— Isso foi ontem?! – A voz de Jethro estava perigosamente perto da fúria extrema e suas mãos seguravam com tanta força as fotos que suas juntas estavam brancas.

— Foi. Poucos minutos antes de irmos para o andar de cima e dormimos. – Não tinha como negar que eu estava assustada com o quão perto haviam chegado de Sophie.

— Onde estava o detalhamento de segurança? – Ele me perguntou ao me guiar até a porta do carona, assim que entrei ele bateu a porta e deu a volta para assumir o seu lugar.

— Patrulhando. – Respondi assim que ele entrou e ligou o carro. – Como sempre.

— Você não viu nada?

— Não, Jethro, não vi. Nem percebi que estávamos sendo observadas... – Resolvi editar o que Sophie havia me dito mais cedo, ou era bem capaz que ele começasse a gritar comigo por não ter ligado para ele.

— Eu vou levar vocês duas para Alexandria. – Não era uma informação, era uma ordem.

— Não acho que vá fazer alguma diferença agora, mas se você acha melhor, vou ligar para Noemi e pedir que ela prepare uma bolsa com as coisas de Sophie. – Nem esperei ele me responder e fui logo ligando para a minha casa, quem atendeu foi Sophie, que pareceu aliviada em saber que não ficaria em casa hoje.

— Por que tão feliz? – Perguntei.

— Bem... mamãe... sabe como é... eu ainda acho que tem alguém aqui. E não estou falando de fantasmas.

— Como assim, filha?

— Nossas sapatilhas de balé sumiram. Além de que o meu quarto estava todo revirado, meu distintivo do NCIS não está em lugar nenhum, assim como a foto do papai estava com o vidro quebrado.

— Que horas isso aconteceu? – Perguntei e não consegui conter o pânico, o que atraiu a atenção de Jethro que, para chamar a minha atenção, puxou o meu braço. Tudo o que eu pude falar era para ele ir mais rápido.

— Depois que eu saí com a Noemi para comprar algumas coisas para o jantar. Mas é melhor eu explicar para a senhora pessoalmente, parece muito estranho... – Sophie falou apreensiva.

— Tudo bem, filhota. Já estamos chegando, arrume a sua mala o mais depressa possível.

— Tá bom, mamãe!

Encerrei a chamada e só falei.

— Tem como ir ainda mais rápido?

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Tinha escutado parcialmente a conversa de Jen com a Ruiva, não sabia sobre o que se tratava de início, até que Jen perdeu o controle de suas emoções e entrou em pânico. E só havia um motivo para que ela entrasse em pânico conversando com Sophie. Não precisei de mais motivos e tentei me concentrar somente em dirigir, sabia que o quanto mais rápido eu chegasse, mais rápido poderia estar ao lado de minha filha. A ligação foi encerrada e Jen só pediu para ir mais rápido. Como se ela precisasse.

Com dez minutos parei o carro na entrada e desci, não tão rápido quanto Jen, que quando vi, já estava escancarando a porta e subindo a escada apressada, chamando pela filha.

— Sophie? Filha! – Ela praticamente gritava.

— Estou aqui no meu quarto, mamãe. – A Ruiva respondeu, mas Jen não desacelerou os passos, pude ouvir seus saltos ecoando na madeira e parando abruptamente na porta do quarto da filha.

Ainda no andar de baixo, olhei ao redor para ver o que poderia ter acontecido de verdade, só encontrei Noemi que parecia alarmada.

Señor Gibbs! – Ela me cumprimentou.

— O que aconteceu?

— Alguém entrou aqui. Não levaram nada de valor, a não ser algumas coisinhas da Pequeña.

Então seria assim que Svetlana queria jogar.

— Vocês estavam aqui?

No. Tínhamos ido comprar os ingredientes para o jantar. Quando voltamos e a Pequeña foi correndo para voltar a ensaiar, ela notou que as sapatilhas não estavam na sala, assim subiu correndo, achando que tinha levado para o quarto, foi quando ela gritou. Reviraram o quarto dela todo. E foi só o quarto dela. – Noemi completou apreensiva.

— Alguém tocou em alguma coisa?

— Só a Pequeña, ela ficou desolada quando viu a bagunça.

— Obrigado, Noemi. Você já pode ir e pode tirar alguns dias de folga.

— Mas quem vai olhar a Sophie? Ela está de castigo!

— Ela vai ficar bem.

E a Governanta me encarou, como que não acreditando em mim.

— Não vai ficar tudo bem até que isso acabe. Não sei o que é, mas a Señora Jenny está nervosa há meses. Agora isso veio atrás de Sophie. É o seu dever protegê-las.— Soltou um tanto furiosa e foi para a cozinha.

Antes de ir ver Sophie, liguei para a equipe, tínhamos uma cena de crime para investigar. Quando falei onde era, todos eles disseram que chegariam rápido, não duvidei.

Com isso resolvido, fui para o quarto de Sophie. Assim que parei na porta, notei o motivo de Noemi ter dito que ela havia ficado desolada. Todos os seus livros estavam no chão, seus bichinhos de pelúcia espalhados e o urso gigante que o Engomadinho havia dado a ela alguns anos atrás, estava todo rasgado, sem a cabeça e com a espuma para fora. Mas o choro maior era por outros motivos.

As miniaturas.

Na verdade, a grande maioria estava intacta, quebradas só três.

O Arco do Triunfo, A Catedral de Notre Dame e a Torre Eiffel. E Sophie tinha os pedaços da Torre em suas mãos, essa, junto com o Big Ben eram as maiores que ela tinha, além de serem as suas favoritas, e agora ela chorava, sentada no colo da mãe, pela Torre quebrada.

— Hei, Miniatura, podemos comprar outra! – Jen falava baixinho perto do ouvido dela, tentado acalmá-la de todas as formas.

— Mas não vai ser a mesma coisa. Compramos essa na nossa primeira visita à Paris, juntas.... mamãe, por que fizeram isso? – A Ruiva até soluçava. – Por que quebraram as minhas coisas? A foto do papai! Minhas miniaturas de Paris... e o ursão que o Henry me deu!! – Ela apontou para o urso que tinha a cabeça removida. – Eu amava aquele urso!

Jen beijou o topo da cabeça dela e começou a niná-la.

— São só objetos, filha. O que vale é a memória!

— Mas eles me ajudavam a lembrar! E... levaram o meu distintivo do NCIS! Levaram embora, e aquele distintivo era do papai antes do Tony me empossar como Agente Baby! – Ela ficou nervosa. – Por que levariam as minhas coisas? Por que bagunçar o meu quarto?!

Jen apertou ainda mais a filha nos braços e Sophie começou a chorar ainda mais. Agora ela estava assustada.

— O que está acontecendo, mamãe? É aquele cara careca de novo?

— Não, filha, não é ele. – Garanti e me sentei ao lado dela, vendo-a olhar desolada para a miniatura quebrada.

— Quem é?

— Teremos que investigar, filha. Por isso a equipe está a caminho. – Respondi e notei que Jen afundou o seu rosto no cabelo da filha, escondendo a própria expressão.

— Meu quarto é uma cena de crime agora? Mas eu toquei em tudo!! Eu... estraguei a cena toda! – Disse preocupada.

— Abby vai saber quais são as suas digitais, Ruiva.

— Não duvide do que Abbs é capaz de fazer. – Jenny sussurrou.

— Não duvido. Ela é a melhor! – Sophie concordou. – Quem é agora? – Perguntou alarmada assim que escutamos a porta abrir.

— Chefe! Jenny! – DiNozzo nos chamou.

— No quarto da Ruiva.

Três pares de sapatos subiram correndo a escada e logo estavam os três agentes parados na porta do quarto, olhando, assustados, a bagunça.

— Já estamos saindo, só vou terminar a mala da Soph. – Jenny informou sem olhá-los.

Vi Ziva olhar para o quarto e depois para a minha filha que tinha o rosto vermelho de chorar. Tony encarava a estante de livros revirada e McGee o urso completamente estragado. Enquanto isso Sophie ficou sentada na cama, sem falar nada, encarando o porta-retrato no chão.

Com pouco Jen terminou de arrumar a bolsa de nossa filha e fez menção de pegá-la no colo.

— Vamos para onde?

— Para Alexandria.

Sophie se levantou da cama, coçou a cabeça, olhou em volta e perguntou.

— Meu Mike, meu Mushu, minha Annia e meu Timmy tem que ficar aqui, né?

— Tem sim, Peste Ruiva. – Tony respondeu.

— Tá bom. – Ela respondeu triste e estendeu as mãozinhas na direção de Tim que tinha um saco de provas aberto. – Eu toquei em tudo, falem pra Abby que eu sinto muito por dificultar o trabalho dela. – Continuou e depois saiu devagar do quarto.

— Mais algum lugar, Chefe? – Tony perguntou assim que começou a juntar tudo.

— Porta dos fundos e a sala de dança, parece que até a sapatilha dela foi levada.

Ziva xingou em hebraico, enquanto tirava fotos.

— Ninguém deveria mexer nas coisinhas das crianças... – McGee falou ao buscar pelas outras miniaturas quebradas.

— Não mesmo. Vou levar esses bichinhos para a Abby analisar, e se não tiver nada, talvez possamos devolver para a Ruivinha. – Tony falou ao pegar os bichinhos preferidos de Sophie. – Tá vendo, McAzul, você é o único que foi homenageado com um ursinho no quarto dela. Só você nomeou um! – Ele estendeu o ursinho azul.

— Tá com ciúmes, Tony? – Ziva perguntou.

— Não. Pois aquela coleção de filmes ali fui eu quem dei e ela tem um lugar especial!

— Um lugar especial depois dos livros e das miniaturas.

— Pode parando, McQueridinho! Eu ainda a empossei como a Agente Baby do NCIS. Olhe ali o distintivo.... – Ele se virou para o criado só para parar e... – Mas que merda, até a distintivo!

— DiNozzo, menos falação e mais trabalho. E olhe a boca!

— Sim, Chefe! – Ele ainda olhava para o criado. – Se eu por as minhas mãos nessa pessoa, eu vou matá-la!

Cheguei no alto da escada e tudo o que ouvi era silêncio. Não sabia se Sophie tinha dormido ou se ela estava tão chateada que até chorar estava sendo demais. McGee passou por mim carregando uma caixa com os DVD’s da Sophie.

— Eu vou tomar cuidado, Chefe. Não quebraria nada da Pequena.

— Eu sei, Tim.

Com pouco Ziva saiu do quarto, desceu a escada e foi fotografar o lado de fora, atrás de alguma pegada ou pista. Ao passar por Sophie, ela mexeu com ela em hebraico.

— Chefe... – Tony me chamou.

— Que foi, DiNozzo?

— Quantas pessoas entram nesse quarto? Você, Jenny, Noemi, Sophie e....

— Só. Kelly e Henry não vem aqui desde que ela foi para Pendleton e Sophie não gosta de muita gente aqui dentro. Outros conjuntos de digitais só se forem as de vocês.

Tony anotou isso e foi encaixotando os livros e tudo o que estava fora do lugar. Quando chegou no urso fez uma cara feia.

— Talvez esse seja o futuro de quem fez isso. – Murmurou e deixou o cômodo. Com as prateleiras vazias, sem os livros, bichinhos e miniaturas aquele tinha deixado de ser o quarto de minha filha, pois até as fotos que ela tanto ama, foram levadas.

Desci para enfim levá-la embora quando ouvi o soluço que ela deu ao ver Tony carregando os restos do urso dela.

— Calma filha, nós vamos achar outro para você!

— Não é pelo urso! É porque Henry vai ficar chateado pensando que eu não gosto mais do presente que ele me deu!

— Ele sabe que não é isso, Sophie. – Jen falou com ela, mas minha filha não parecia que se acalmaria tão cedo, ou se conformaria com tudo isso.

Tony voltou do caminhão e tinha uma barra de chocolate na mão.

— Hei, Peste Ruiva, aqui. – Entregou o chocolate a ela. – Eu prometo que vamos tomar conta direitinho das suas coisas. E vamos te devolver tudo, assim que a Abby disser que pode.

— Posso te pedir um favor, Tony?

— Você sempre pode, Sophie!

— Acha o distintivo do papai!! Por favor! – Ela o abraçou apertado e chorando.

— Vamos procurar onde as pistas nos levarem e se ele estiver lá, eu vou trazer de volta para você, tudo bem?

Sophie desfez o abraço para concordar com a cabeça.

— Muito obrigada, Tony.

E, como DiNozzo é uma criança grande, ele tinha que soltar uma pérola.

— A parte boa é que agora eu vou poder assistir filmes no trabalho, já que tenho uma caixa cheia deles e um DVD Portátil. – Ele piscou para Sophie e deu um peteleco na ponta do nariz dela.

— E vai conseguir uma enxaqueca de tão forte que o papai vai te bater! Olha a cara dele! – Ela apontou para mim.

— Eu estava brincando, Chefe. Eu vou trabalhar. – Ele saiu da sala e começou a gritar para que o “McVagaroso” se apressasse que eles tinham um caminhão cheio de evidências para levar para Abby.

— Agora ele diz isso. – Sophie murmurou, mas o intento de Tony foi alcançado, ela tinha parado de chorar.

McGee desceu a escada carregando os últimos sacos de provas, e dentro de um deles estava Timmy, o urso.

— Toma conta do Timmy, Timmy! – Sophie murmurou. – Ou você vai virar o meu ursinho azul.

Ziva gargalhou alto com essa.

— Eu vou trazer o Timmy de volta, Soph. Pense que ele só tem que ir dar um passeio para lavar.

— Tomara que não demore igual a lavagem do Mushu! Essa levou quase um ano! E ele voltou com cheiro de carro novo...

— Abby é mais rápida do que qualquer lavanderia. - McGee garantiu.

Sophie se virou para mim e depois de olhar a quantidade de coisas que tinham tirado do quarto dela, murmurou:

— Abbs vai precisar de um estoque de CAF-POW! para poder analisar tudo isso! Tadinha! Vai levar quase uma semana, ou mais!

Abbs já tinha trabalhado com muito mais coisa e não tinha levado todo esse tempo, mas esperança de ter as coisinhas de volta o mais rápido possível era algo que eu não queria dar e ela.

Logo que a equipe terminou e conferiu se nada estava ficando para trás, nós fechamos a casa, eles foram para o Estaleiro, e eu levei as duas ruivas para minha casa. Já sabendo que, além de lidar com uma Sophie chateada, uma Jenny se sentindo culpada, mais cedo ou mais tarde, Kelly estaria me ligando aos berros, querendo saber o que de verdade estava acontecendo.

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— Sem querer ser a chata e a portadora das más notícias, mas nós temos que contar para a Kelly o que aconteceu...

— Eu acho melhor não, Zee-vah. Ela tá do outro lado do país, tá tranquila e na dela na Califórnia e, além do mais, fora a tristeza da Peste Ruiva ao ver suas coisinhas quebradas e, digamos, decapitadas, nada de ruim aconteceu com ela, pois ela não estava lá na hora.

— Ainda acho que devemos contar. Se fosse com a minha irmã eu gostaria que me contassem! E se a Sophie contar? Kelly não vai brigar com o Gibbs ou com a Jenny. Ela vai vir armada é para cima da gente. – Retruquei e olhei para os outros três ocupantes do laboratório de Abby.

— Ziva tem razão. – A cientista concordou comigo.

Olhamos para McGee, ele poderia empatar a disputa ou dar a vitória para mim, e o fujão apenas desconversou.

— Tim! – Ralhei.

— Se fosse com a minha irmã eu gostaria de ficar sabendo! E gostaria de saber que, mesmo depois de tudo, ela está bem!

— Ganhei, Tony! Pode falar para a Kelly!

— Mas por que eu?? A ideia foi sua, Ziva. Pegue o telefone e fale.

— Você é o Agente Sênior, como sempre gosta de nos lembrar.

— Foi você quem foi comprar o vestido de casamento com ela. Além do mais, Kelly não é lá a minha maior fã. A Abby conta.

— Eu não!!! Não quero a fúria da primogênita Gibbs na minha cabeça!

Todos olhamos para McGee.

— Eu?!! Não!

— Kelly gosta de você! – Abby falou.

— Ela nunca implicou com você! – Tony afirmou.

— Implicou sim, ela me ameaçou de morte por conta do livro! Eu não vou contar para ela!

— Tenho uma ideia! – Tony gritou.

— Não precisa gritar, você está do meu lado!! – Dei uma cotovelada e um pisão nele.

— Para com isso, Ziva, quer me aleijar!

— A sua ideia, Tony!! – Tim e Abby gritaram.

— O chat!

— O CHAT!! Por que não pensamos nisso antes? – Abby berrou.

—  Se a Kelly não estiver online, não vamos ouvir os xingamentos agora!! – Tony completou.

Abby foi logo abrindo a página, atualizando algumas medidas de segurança e escreveu:

LabQueen: Oi Kelly! Quanto tempo!!! Então, só passando para avisar que talvez, só talvez, você queira ligar para o seu pai hoje. Aviso que tudo está relativamente bem, mas é sempre bom tentar descobrir o que acontece, né? Beijos, Fui!

Abby digitou e foi saindo do chat, só que Kelly estava online... e na mesma hora...

Chefinha: MAS O QUE ACONTECEU COM A SOPHIE??

— Como ela sabe que é com a Sophie? – Tim perguntou perplexo.

— Ela é filha do Gibbs! Deve ser coisa do DNA saber disso! – Abby deu de ombros. – E aí? O que eu falo?

— A verdade! – Disse simplesmente.

— A Verdade, Ziva, vai nos custar nossos empregos! – Tony reclamou e a telinha do chat piscava.

Chefinha: Abigail Sciuto, não ouse me lançar uma bomba dessas e simplesmente me ignorar!! Pode ir falando!

Chefinha: Ou eu vou contar para a Jenny que esse chat ainda existe.

Chefinha: E vou falar para o meu pai que, ao invés de você estar trabalhando, está fazendo hora.

Chefinha: Na próxima vez que eu te ver, eu vou cortar as suas Maria-Chiquinhas!

— Aí ela pegou pesado! – Tony murmurou.

LabQueen: Entraram na casa da Jenny e foram direto para o quarto da Jibblet. Quebraram algumas miniaturas e estropiaram o ursão que o Henry deu a ela, isso sem contar que levaram embora as sapatilhas de balé e o distintivo que demos a ela, aquele que pertenceu ao seu pai... A Jibblet está bem, ou pelo menos foi isso que o Tim, o Tony e a Ziva me disseram, eu não a vi... mas seria bom você ligar para ela.

A resposta veio imediatamente.

Chefinha: Eu vou ligar! Ah, se vou! E vou mandar o Henry para Georgetown vai ser agora. E se tiverem alguma outra notícia, me contem. E só para saber, quem fez isso?

LabQueen: Não sabemos quem fez, ainda. É o que eu vou começar a descobrir agora!

Chefinha: Ok, não vou te atrapalhar. Bom trabalho.

LabQueen: E só para Henry não andar à toa... Gibbs levou a Jibblet e a Jenny para Alexandria!

Kelly não nos respondeu, mas leu a mensagem.

Gibbs e Jenny teriam que se explicar para a Tenente da Marinha!

—--------------------

Por que que tudo o que acontece na minha família eu sou a última a saber?? Por quê? Já não basta ter sido aquela que foi deixada por quase dois anos no país enquanto papai estava trabalhando na Europa? Não basta eu ter tentado ser a intermediária entre ele a Jenny por anos? Custava muito ter me ligado e falado que tinha algo errado?

Mandei uma mensagem para Henry, eu precisava dele para dar uma checada em Soph. Não no meu pai ou na Jenny! Neles não. Mas a minha irmãzinha!

Ele me disse que passaria na casa do meu pai – como eu sabia onde ele estava? Fácil, foi a casa da Jenny quem foi invadida, JAMAIS meu pai deixaria que as duas ruivas dormissem lá. – e conversaria com a minha irmã.

Me disseram que aquele urso enorme que você deu a ela quando ela chegou no país foi decapitado e estraçalhado... vai com calma, a Moranguinho deve estar arrasada, ela amava ficar deitada em cima daquele urso! – Mandei um sms para ele.

Esse é o menor dos problemas, Kelly. Urso, eu arranjo outro. Até levo ela comigo quando for comprar se for preciso! Temos que ver se ela está bem.

Quando me perguntarem o motivo de eu ter casado com Henry eu vou mostrar essa mensagem.

Obrigada! Depois me fale como ela está. E Henry?

Que foi, Kells?

Te amo.

Também te amo. Agora vai descansar que eu sei que os seus dias não têm sido fáceis!

Pode deixar...

Larguei o celular, fui para a cozinha e tomei um copo de água com açúcar... sabia que iria precisar estar controlada para conversar com o meu pai, mesmo que a minha vontade fosse de conversar só com a minha irmã! Contudo, eu sabia que não seria uma boa ideia, primeiro porque eu não queria que ela ficasse revivendo o que viu e segundo, ela não teria os detalhes que eu precisava.

Assim, voltei para a sala, coloquei meu copo d’água em cima da mesinha e apertei o dois por alguns segundos.... logo a discagem rápida completava a ação e eu ligava para o meu pai.

Um toque...

Dois toques....

Três toques...

Ele nunca demorou tanto para me atender!

— Diga Kelly! – Era a voz de Jen.

Agora eu era Kelly e ele se recusava a atender o telefone? Que interessante!

— Eu sei sobre a Sophie e toda a bagunça da sua casa, Jenny. Como a minha irmã está?

Nem um pouco direta ou possessiva! De onde eu tirei tanta coragem??

— Nada bem... está assustada. Está triste porque as coisinhas que ela tanto ama foram destruídas. E está com medo. Muito.

Era a primeira vez que eu via a Jenny assumir algo de primeira. Eu nem precisei ameaçar, nem nada.

— Você sabe quem fez isso, não sabe?

Ela respirou fundo uma, duas, três vezes.

— Temos uma grande ideia de quem possa ser.

— Só isso? Uma pessoa entra no quarto da sua filha e é isso o que você tem a dizer?

— Kelly, por favor, não comece! – Ela me cortou. – Você não tem a mínima ideia do que eu estou querendo fazer nesse exato momento. E também não vai entender o meu desespero até que seja a sua filha nessa situação!

Ela nunca tinha sido tão ríspida comigo e isso me pegou de surpresa, talvez eu deva ter merecido, cobrar de longe é fácil, não sou eu quem está lá vendo tudo e não podendo fazer nada até que se tenha uma prova concreta.

— Me desculpe... eu...

— Eu sei, Kelly. E você não faz a menor ideia do quanto eu estou me culpando.

— Mas... vocês estão bem?

— Ninguém foi ferido... E Sophie vai ficar bem, quando conseguirmos voltar a uma normalidade.

— Tem alguma previsão para isso? – Perguntei.

— Não, não temos. E não faço a mínima ideia de quando isso vai ser, Kelly. – A voz de Jenny soou cansada e esgotada.

— Me desculpe intrometer, mas... você está se culpando?

— Tem como não fazer isso, Kelly? Meu trabalho trouxe isso para a minha filha, o que eu faço está amedrontando uma das pessoas mais importantes da minha vida. Não tem outra pessoa a se culpar a não ser eu.

— Seu trabalho te trouxe a sua filha. Se não fosse por ele, eu não teria a família que tenho hoje, Jen. Pense por esse lado.

Jen suspirou do outro lado.

— Se fosse tão simples. – Murmurou. E ao fundo escutei o nítido som de uma pessoa se sentando no sofá – Seu pai está aqui, vai querer falar com ele?

— Mas é claro, liguei para xingá-lo. – Brinquei.

— Não faça isso. Ele não tem culpa, Kelly.

— Eu sei... mas eu tenho que apavorar alguém, não tenho?

— Você não tem jeito!

Escutei o celular ser passado para outra pessoa e logo ouvi a voz do meu pai.

— Diga, Kells.

— Eu juro que ia tentar arrancar a sua cabeça pelo telefone só com o som da minha voz, mas não vou fazer isso. Só te peço que, por favor, tome conta dessas duas, principalmente da Jenny. Ela tá se culpando por não sei o que, diz que isso só aconteceu por conta dela. Vê se faz alguma coisa para que ela não fique assim. O senhor conhece essas duas, sabe que a Sophie tende a absorver tudo o que a Jenny está sentindo, e se a Jenny continuar a se culpar, a Moranguinho não vai esquecer isso e também não vai colocar para fora...

— Eu sei Kells, difícil é fazer essas duas me entenderem.

— O senhor é a única pessoa capaz de conseguir fazer isso, pai. Mais ninguém consegue!

Ele não me respondeu, mas conhecendo esses dois, eu tenho quase certeza de que ele dava aquela encarada na ruiva e ela o encarava de volta.

— Ah... pai.....

— Oi?

— A Sophie já está dormindo?

— Ainda não, está no quarto, lendo. Por quê?

— Bem... – Ia começar a contar que Henry ia passar lá, mas tocaram a campainha.

— Quem é? – Jenny perguntou ao fundo e fez alguns segundos de silêncio.

— Você mandou o Engomadinho vir aqui? – Papai quase sibilou no telefone.

— Era isso que eu ia falar. Pelo visto ele chegou, né?

— É, ele tá aqui. - A voz de meu pai não estava nada feliz.

Espero que Henry não tenha dado um passo atrás, pois sei que papai o encarava.

— Então, deixa ele conversar com a Sophie... os dois só falam besteiras quando estão juntos. Isso vai ser bom pra ela.

— Ele está com um urso de pelúcia. Um ainda maior do que o outro.

Comecei a rir. Era de se esperar que Henry fizesse isso.

— Já que é assim, eu vou desligar e deixar o senhor se divertir com o seu genro. Boa noite!! – Desliguei antes que ele falasse algo e continuei a rir. Só Henry para fazer uma coisa dessas!!

—-------------------------

Apesar de Jethro ter implicado com Henry, achei o gesto bonitinho. Ele chegou, dizendo que Kelly tinha lhe contado o que aconteceu conosco, mas, principalmente, com Sophie. Completou que sabia sobre o urso despedaçado e, antes que eu pudesse falar qualquer coisa, colocou para dentro da casa um urso ainda maior do que o outro.

— Henry, não precisava! – Falei ao ver o tamanho do urso. Jethro encarou o ursão e, teve que comentar com Kelly sobre isso.

— Que isso, Jenny. Kells me disse que a Sophie estava arrasada, e ela sempre gostou do ursão.

— Mas não precisava dar outro, no fim, Henry, era só um bichinho de pelúcia. – Tentei argumentar, estava sem graça por ele ter comprado outro urso para a minha filha, porém Henry só abriu um sorriso.

— Eu não me importo... ela gosta dessas coisas... você tem que ver o que eu e Kelly estamos aprontando para o quarto dela na nossa casa.

Não tive tempo de falar nada, pois o assunto da conversa chegou no alto da escada e foi logo chamando por Henry.

— Henry!!! Que saudade!

— Você me viu na semana passada, Sophie.

— Foi na semana passada, Henry... e você nem ficou muito comigo porque eu estava e ainda estou de castigo! – A ruivinha respondeu.

— Larga de ser exagerada, Sophie. Eu te trouxe um presente.

— Um presente? Mas meu aniversário é só no final do mês! – Sophie desceu até a metade da escada, encarando o vereador. – Que presente? 

Henry se virou para a sala e pegou o ursão.

Sophie só arregalou os olhos e seu queixo caiu. Depois, desceu correndo o restante dos degraus e praticamente aterrissou em Henry que conseguiu pegá-la no colo.

— Ele é pra mim?? Esse ursão é para mim? – Ela perguntou animada. E foi tão bom ver que pelo menos isso trouxe a ela um sorriso.

— Sim, é seu. Fiquei sabendo que o outro sofreu um pequeno acidente, assim, saí para procurar um igual, não tem mais, mas acho que esse serve.

— Você acha?? – Minha filha perguntou descrente. – Henry, ele é... é... – E Sophie procurava pela palavra certa. – Ele é enorme!!! – Ela se soltou do colo de Henry e pulou em cima do urso, que praticamente a escondia. – Eu adorei!! Adorei de verdade!! Muito obrigada! – Saiu de cima do urso e correu para o braço do sofá, de onde chamou pelo cunhado só para abraçá-lo e dar um beijo na bochecha.

— Ainda bem que gostou, porque foi difícil de escolher...

— Tinham tantos assim na loja?? – Os olhos de Sophie até brilharam com a possibilidade de existir uma loja cheia de ursos de pelúcia enormes.

— Tinha. Mas achei que você gostaria desse. – Henry piscou para ela.

Sentado no sofá, Jethro tinha terminado de conversar com Kelly e observava as reações de Sophie.

— Eu amei. Agora só falta uma coisa!! – Ela disse feliz, pulou do sofá e correu para tentar levantar o urso do chão. Algo que não conseguiu fazer.

— Deixa que eu te ajudo. Mas o que está faltando, Sophie? – Henry quis saber enquanto levava o urso escada acima.

Sophie parou na frente dele de repente, e quase que Henry a atropela.

— Henry!! Falta um nome! Nós precisamos achar um nome para ele! – Ela demandou com as mãos na cintura. – Você tem um?

Eu comecei a rir, Jethro cruzou os braços e os dois sumiram para dentro do quarto de Sophie e ainda era possível ouvi-los discutindo um nome para o famigerado urso.

— Só espero que ela não chame o urso de Henry, como fez com aquele azul que foi  nomeado de Timmy em homenagem à fantasia de McGee no Halloween. Um Henry na família já está de bom tamanho.

— Duvido que será Henry... mas também não será Jethro. – Brinquei e antes que Jethro pudesse retrucar, ouvimos o grito animado de Sophie.

— Acho que o urso já tem um nome! – Jethro murmurou.

Com pouco Henry e Sophie desciam as escadas, minha menina ainda agradecendo o presente.

— E o veredicto é? – Perguntei.

— Ben! O meu ursão vai se chamar Ben!! Foi o Henry quem deu a ideia, e eu gostei!

Jethro bufou do meu lado e murmurou qualquer coisa como: “quero só ver que nomes ele vai escolher para os meus netos... Ben... que nome é esse?”

— Gostei... acho que combina! – Desviei minha atenção para Sophie que falava sem parar sobre agora ela ter o maior urso do mundo todo!

Henry vendo que Sophie já estava mais feliz, começou a se despedir, algo que a pequena não gostou muito, mas logo o celular dele tocou e pela cara que ele fez, era trabalho. Sophie esperou pacientemente pela ligação ser finalizada e tornou a agradecer a Henry.

— Muito obrigada, Henry!! Você melhorou o meu dia! Ou melhor dizendo, noite!

— De nada, pequenina. E da próxima vez que Kelly estiver aqui, temos uma surpresa para te contar.

— O que é??

— É só uma surpresa. Mas é a Kelly quem tem que te mostrar, mas não diga a ela que eu te contei, ou ela vai ficar chateada.

— O segredo está bem guardado comigo, Henry! Não vou contar nada para a Kelly. Pode confiar em mim.

Ao meu lado, Jethro só murmurou:

— Para a Kelly ela não vai contar, mas vai contar para o Tony e para a Abby... o que dá na mesma!

Tive que segurar a risada.

Henry se despediu de nós e se foi. Sophie ficou parada na porta até que ele realmente saísse do campo de visão e depois soltou:

— Acho que eu tenho que agradecer a Kelly... pois isso tem muito a cara dela!! É muito tarde na Califórnia??

— Amanhã você faz isso, Ruiva. Agora, já passa do seu horário de dormir.

— Uhn... papai...

— Aquele urso é muito grande para a sua cama, você não vai dormir com ele e muito menos no chão abraçada com aquilo.

— Como o senhor sabia que eu ia perguntar isso? – Sophie olhou espantada para o pai.

— O que eu faço para viver, Sophie?

— Bem lembrado! – Ela respondeu e se desvencilhou dos braços do pai para vir correndo até mim, me dar o meu beijo e meu abraço de boa noite. – Boa noite, mamãe! Te amo!! – Falou e correu de volta para o pai. E eu, mesmo sentada no sofá, pude ouvir a falação da minha filha, enquanto Jethro tentava fazê-la ficar quieta.

— Mas papai, eu não tô com sono! Eu tô muito feliz pela surpresa que o Henry me fez!!

— Então você vai dormir feliz. Anda, feche os olhos. – Jethro pediu.

— Conta uma história?? Ou eu não vou dormir! – Pude ouvir Sophie começar a pular na cama.

— Jen, história é o seu departamento!

Eu sabia que iria acabar para que eu colocasse a ruivinha na cama. Assim, quando entrei no quarto, Jethro fez menção de sair, só para Sophie pular da cama e arrastá-lo de volta.

— Não, papai!! A mamãe conta a história e o senhor é o meu travesseiro! – Ela falou quando o sentou perto da cabeceira.

Peguei “O Pequeno Príncipe” para ler e ela logo se ajeitou no colo do pai. Vinte páginas depois, ela ressonava pacificamente, murmurando coisas inteligíveis. Jethro a ajeitou no travesseiro, e na falta de Mushu e os demais bichinhos, ela teve que se contentar em abraçar o cobertor. Demos nossos beijos de boa-noite e, depois de verificar a janela mais de uma vez e fecharmos as cortinas, apagamos as luzes e fechamos a porta. Sophie poderia estar dormindo, mas eu tinha certeza de que a minha noite e a noite de Jethro seria longa.


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Notas finais do capítulo

Henry é um fofo, não é?
E quem diria que Leroy Jethro Gibbs já está pensando em netos!!! o.O!!!
Muito obrigada a você que leu!
Até terça com o novo capítulo!
xoxo



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