Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 107
Você Não Tinha Esse Direito, Jethro!


Notas iniciais do capítulo

Capítulo MUITO baseado no episódio Chimera, um dos meus favoritos, apesar de terminar no ar... e que merecia ter tido nem que seja mais umas duas horas de duração só para vermos o que Jenny fez com o asqueroso do Skinner! Se não tem na série, tem aqui! E... só para avisar... tem um momento MUITO Jibbs também!!
Boa leitura!!



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Depois do incidente Stephanie, a fofoca dentro do Estaleiro aumentou exponencialmente. Tudo para saberem quando que a Ex-esposa nº2 apareceria para que eu pudesse colocá-la em seu lugar.

Espero que nunca, não tenho energia para lidar com outra ex-esposa possessiva. 

E eu não era a única com esse desejo, Sophie pensava do mesmo modo e, do alto dos seus sete anos e completamente entediada por não poder fazer nada por estar com o pé imobilizado, soltou:

— Mamãe... por que o papai só namora mulher doida? E já reparou que nenhuma delas, apesar de terem sido elas quem foram embora – com exceção da Coronel – ainda ficam olhando pra ele estranho? Se a Stephanie é maluca, a Diane completamente pirada, como será a Rebecca?

— Eu nem quero saber, Sophie.

— Se eu perguntar para o papai ele me responde?

— Provavelmente não.

— E para a Kelly?

— Ela pode ter uma ou duas opiniões sobre o assunto.

— Então eu vou perguntar! – Disse animada. – Na minha próxima carta.

— Vai perguntar o que, Soph? - Jethro entrou na minha sala, sem bater, como se fosse o dono do lugar e foi logo se intrometendo na conversa.

— Sobre a ...

Tive que cortá-la.

— Quanto tempo ela terá que ficar sem dançar balé por ter bancado a filha do Tarzan.

Sophie me olhou estranho, não entendendo o motivo de eu ter cortado a pergunta dela, depois encarou o pai e só confirmou o que eu disse.

— Vai ficar quanto tempo for o necessário. E a mocinha sabe que é por sua culpa que está de molho pelo verão inteiro. – Jethro falou sério olhando para a filha mais nova.

— É... – Ela olhou para o calombo que era o pé dela. – Eu sei...

— E eu espero que tenha aprendido a lição! – Completei.

— Cair de árvore dói! – Ela disse infeliz.

— Cair da árvore? Sophie Shepard-Gibbs... – Jethro começou.

— Tudo bem... é errado tentar escalar a árvore para ir para o telhado... mesmo que a noite esteja quente pra caramba.

Jethro assentiu e ia saindo da minha sala, escoltando Sophie que ia saltitando e mancando na frente dele quando recebi um telefonema estranho na minha linha pessoal.

Direto do Alto comando da Marinha. Ordenando que eu mandasse uma equipe para um navio de pesquisa que estava atracado no meio do Atlântico. Alguém tinha sido assassinado lá dentro e era imprescindível que a notícia não se espalhasse.

Chamei Jethro de volta e passei o que me foi informado. Eram tão poucas informações que eu fiquei intrigada com a natureza do chamado.

— Só isso? - Ele questionou.

— Foi o que me passaram. Disseram que na base, antes de vocês entrarem no helicóptero, vão passar o restante das informações.

Ele não gostou disso, contudo ordens são ordens e o Marine que habita nele não as recusa, mesmo que o seu instinto gritasse que algo estava errado.

— Eu sei... também não gostei disso, achei vago demais, além de ser completamente incomum que a ordem passe do diretamente do alto comando para mim. – Falei diante da encarada dele.

Ele assentiu, concordando comigo.

— E Jethro... – Chamei-o antes que ele saísse de vez. – Tome cuidado. Você e a equipe. Eu vou tentar descobrir mais daqui.

Ele abriu a porta e pudemos escutar Tony, Tim, Ziva e Sophie bagunçando no andar de baixo.

— Se fossem irmãos, não se dariam tão bem! – Ele murmurou antes de assobiar pedindo que os três agentes de preparassem e que Sophie voltasse para o meu escritório.

Escutei a concordância mútua dos quatro e logo ouvi o som dos passos de Sophie até a minha sala.

Ela bateu na porta antes de entrar e depois de se sentar e colocar o pé quebrado na outra cadeira, me perguntou:

— Onde eles foram?

— Um caso.

— Eu sei que é um caso, mamãe. Mas onde é?

— Um navio.

— Atracado em Norfolk?

— Não. Está no meio do Atlântico.

E minha filha fez uma cara estranha, como se até ela não gostasse da ideia do pai, os três irmãos e o tio irem parar no meio do nada.

—  Eu vou ficar sentada ali no sofá, lendo. Se a senhora precisar que eu saía, eu desço e fico na mesa do papai ou no lab da Abby, ou fazendo companhia pro Jimbo...

Só concordei e lá foi ela mancando até o sofá.

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 Eu só fui ter notícias da equipe três horas depois. E nenhuma das notícias que recebi eram boas.

A primeira: toda a tripulação do navio Quimera tinha desaparecido, ou eles foram retirados ou todos eles simplesmente resolveram pular na água.

A segunda e mais preocupante: o ajudante de cozinha pode ter sido contaminado por um vírus mortal. E Ducky tinha quase certeza de que todos eles já haviam sido contaminados.

Ou seja, era a boa e velha Lei de Murphy.

Mas não acabava por aí... não mesmo, o tal Navio Fantasma ainda tinha mais um mistério. Era impossível de se saber, estando lá dentro, o que a Marinha fazia em águas internacionais. E o suspense ficou ainda melhor quando McGee descobriu uma porta que estava trancada por um código.

A essa altura, Jethro já tinha perdido a pouca paciência que tem, tendo que lidar, nas palavras de Tim para Abby: “Com McGee e sua fobia por barcos, Tony e sua fobia por ratos, e Ziva e sua fobia por fantasmas”. Na hora eu agradeci por não estar lá e busquei entender o que se passava dentro daquele navio.

No caminho até a minha sala, encontrei minha filha, que me olhava um tanto assustada.

— Que foi Sophie? – Perguntei enquanto segurava o elevador para ela.

— Eu não sabia que a Tia Ziva acreditava em fantasmas...

Encarei a ruivinha de pé quebrado.

— Sabe, mamãe, não sei se sou só eu, mas acho que tem algo muito estranho nesse navio. Não gosto nem do nome dele.

— Quimera?!

— Pensa bem, Quimera é um monstro híbrido mitológico, certo? Mas também significa sonho. Agora imagina se esse Navio realmente for um Navio Fantasma igual à lenda do Holandês Voador?

— E desde quando você acredita em lendas, Sophie? – Perguntei quando ela veio manquejando atrás de mim.

— Se a Tia Ziva, que é a Tia Ziva e não tem medo de nada e pode matar uma pessoa com um cartão de crédito, acredita, por que eu não vou acreditar?

Ela tinha sido sensata ao dizer isso.

— E tem mais! Eu escutei o papai murmurar qualquer coisa sobre a falta de informação do crime. E se a Marinha fingir que o Quimera é realmente um sonho e der cabo nele? Tudo e todos que estão lá simplesmente vão deixar de existir com um piscar de olhos?

— Sophie, você ficou muito tempo perto da Abby e a conversa dela com o Tim não ajudou em nada... agora pode ir esquecendo toda essa teoria da conspiração que você criou e tratar jeito de ficar quieta em um algum canto para a sua perna não inchar ainda mais.

— Mas mamãe... só pensa nisso por favor! Não é uma teoria da conspiração. Papai me disse que todos os navios e barcos tem um nome que realmente indicam algo, nada é por acaso. Quimera não é um acaso! – Ela disse, parando de andar logo que entramos na sala de Cynthia.

— Fique aqui que eu tenho uma ligação importante para fazer e não quero que você fique despejando as suas teorias ao fundo. – Mandei e ela se sentou no sofá. – Cynthia, pode por de castigo se começar a te perturbar. – Avisei e entrei na minha sala. Minha mente remoendo o que Sophie tinha acabado de inventar.

E se tudo ali não passasse de um engodo?

Liguei para o Alto Comando querendo informações, fui avisada que mandariam um Comandante para me dar as devidas explicações pessoalmente, devido a natureza confidencial da missão do Quimera. Comandante Skinner chegaria dentro de quarenta minutos.

Não gostei da resposta, não há nada de “confidencial” quando se trata de uma investigação do NCIS. Eu, como Diretora, posso acessar qualquer informação, independente do nível de segurança que ela tem, a minha credencial me permite isso.

Decidi por tentar contato com o misterioso navio e pedi que Cynthia me avisasse quando o Comandante chegasse.

— E eu... posso ficar na mesa do papai? – Sophie me pediu assim que acabei de dar as orientações à minha secretaria.

— Pode. Mas nada de ficar perambulando pelo prédio.

— Não vou... vou ficar sentada lá. Ducky me deu uma revista com mais de cem palavras cruzadas e caça-palavras, só vou pegar a minha mochila e descer. – Me falou.

Esperei Sophie pegar as coisinhas dela e só entrei no MTAC quando ela já estava sentadinha na mesa de Jethro.

Lá dentro, assim que fiz contato com o navio, vi que a situação não tinha melhorado nada.

— Alguma notícia para mim, Jen?

— Estou aguardando um Comandante da Marinha para me dar maiores detalhes sobre qual tipo de pesquisa faziam dentro desse navio, Jethro. Fora isso, mais nada. Como estão as coisas por aí?

Ele só fechou a cara, e eu presumi que não tinha mudado em nada.

— Ducky descobriu de que o assistente de cozinha morreu?

Foi aí que ele deu uma risada irônica.

— Tendo Tony como ajudante de laboratório é mais provável que todos morramos com o que quer que seja, antes que Duck descubra o que é.

— Por que não o McGee?

— Tentando abrir a porta! Só ele para conseguir hackear aquela fechadura.

Suspirei. A situação estava a cada segundo pior.

— Mais alguma coisa?

— Ziva acha que tem mais alguém aqui dentro.

— E você?

— Eu vi algo. Mas não achei ninguém.

— Então realmente tem mais alguém aí?

— É o que eu estou tentando descobrir.

— Boa sorte, então. – Falei.

— Que cara é essa, Jen?

— Só pensando em algo que me falaram. – Respondi sem emoção.

— Quem te falou o que?

— Sophie. Ela está achando essa situação ainda mais estranha do que nós. E disse que pode ser uma cilada.

— Ela escutou a conversa do McGee com a Abbs, não foi? - Ele perguntou com um sorriso.

— Sim.

— A Ruiva tem tanta imaginação quanto DiNozzo.

— Deve ser por isso que os dois se dão tão bem. – Brinquei.

— É uma possibilidade. Me mantenha informado com o que a Marinha te passar.

— E não faço sempre? – Perguntei e o feed foi cortado, não porque Jethro havia desligado o computador, mas por uma clara perda de sinal.

Saí da sala para encontrar Cynthia me esperando. Comandante Skinner tinha chegado.

Olhei para a área das mesas e Sophie encarava o Comandante com uma expressão fechada, um olhar que rivalizava com o do pai.

Indiquei o caminho até a minha sala e ele me seguiu, se eu soubesse o que eu passaria nas próximas horas, eu teria deixado a minha filha empurrá-lo escada abaixo.

Para início de conversa, Skinner tinha uma papelada que ele precisava que eu assinasse. Toda ela pedindo o mais absoluto sigilo sobre as informações que ele me passaria.

Li os documentos, eu não precisava assiná-los e disse isso a ele.

— A Marinha exige. – Ele disse com um sorriso galanteador. Então esse seria o joguinho dele.

— Eu preciso saber sobre o Quimera e o que tem lá dentro. - Fui curta e direta.

— É um Navio de Pesquisa, Diretora. Nada demais.

— Então, talvez você possa me explicar o motivo de que quando a minha melhor equipe chegou a bordo, não tinha ninguém lá dentro? Onde foi parar a tripulação do Quimera?

— Isso cabe à sua equipe descobrir.

— É mesmo? É essa a informação que você teve o trabalho de trazer até o Estaleiro? Poderiam ter me dito por telefone. Pois não foi de nenhuma ajuda. – Me levantei de minha mesa e indiquei a porta.

— Você vai ter que confiar em mim, Diretora. – Novamente o ar de flerte e isso começou a me irritar ainda mais.

— Eu não conheço você o bastante para isso, Comandante.

— Bem, nos podemos consertar isso, não é mesmo? – Ele veio para perto de mim, e eu tive que me controlar em não socá-lo.

Voltei para a minha mesa e o encarei, deixando claro a diferença de posto:

— Você pode parar com o charme. Homens mais bem posicionados, ricos e definitivamente muito mais bonitos do que você, já tentaram isso e não chegaram muito longe. – deixei em evidência a minha mão direita e a aliança que tinha ali. – Bem, eu não posso falar por você, Comandante, mas eu não cheguei onde eu estou por conta da minha aparência. Agora, tire seus olhos de mim e os coloque naquele maldito navio! – Falei.

Com pouco, consegui que ele me passasse os dados de satélite do Quimera. Infelizmente, ele me acompanhou para dentro do MTAC e ficou invadindo o meu espaço pessoal.

— Que dar um passo para trás? – Praticamente grunhi as palavras.

— Estou bem aqui.

Até o final do dia eu ia cravar a minha faca no pescoço dele!

Pela imagem do satélite era possível ver somente o Navio, eu ainda não tinha a comunicação com a equipe. Mas as imagens que eu tinha me deram uma outra péssima notícia. Um barco de assalto se aproximava do Quimera e eu não podia fazer nada para alertá-los.

— Que barco é aquele? – Demandei para o irritante Comandante.

— Não é da Marinha! – Ele me respondeu com um sorriso.

Minha mão foi até o bolso da minha calça e eu senti o meu soco inglês. Respirando fundo, tornei a perguntar.

— O que tem dentro do navio? – Deixei de ser educada e diplomática.

— Por que se importa tanto com o Navio? – Pela sua expressão, Skinner sabia que algo aconteceria.

— Minha equipe está lá dentro. O que há lá? O que a Marinha está buscando no fundo do Atlântico?

— Não está na sua alçada, saber, Diretora, mas eu poderia te contar por um preço justo.

Os dois técnicos que ficam dentro do MTAC olharam espantados para a audácia do Comandante.

— Preço justo? – Mantive a minha voz calma e tentei manter a minha expressão composta.

— Sim. O meu preço é...

Eu agarrei a sua mão igual tinha feito com Benoit e praticamente esfreguei a sua cara nojenta na tela.

— De quem é aquele barco de assalto? – Tornei a perguntar.

Mas ele não me respondeu. Pois Morgan, um dos técnicos, chamou a minha atenção para outra coisa na tela.

Eu vi o míssil. Mas não acreditei.

— Aquilo ali, Diretora, é um míssil. – Skinner me disse.

— A Marinha vai destruir o Quimera?!

— Os segredos daquele navio não podem sair dali. Serão sepultados no fundo do Oceano.

E dez segundos depois, eu via o Navio ser explodido. Com toda a MCRT lá dentro.

Eu vi vermelho. Depois de ter aturado as piadinhas e as cantadas desse comandante, de ter visto uma parte da minha família ser assassinada, eu não me importei com muita coisa, minha mão voou para o bolso da minha calça e quando eu vi, eu tinha o meu punho em volta do soco inglês e não hesitei nem por um segundo em acertá-lo na cara de Skinner.

Ele recuou dois passos, me chamando de maluca.

— Agora você vai me contar o que tinha lá dentro! – Falei o agarrando pelo braço e o arrastando para fora do MTAC. Só na luz da claraboia que eu vi o estrago que eu tinha feito no rosto dele.

— Não tem nada que você possa vir a saber. – Ele tentou se soltar.

— Mais uma tentativa e você vai levar outro soco. – Eu arrastava o Comandante até uma das salas de interrogatórios. Todo o prédio parou para ver o que acontecia.

— Você não tem permissão para fazer isso!

— Não tenho? Vamos ver se não... – Peguei meu telefone e, na discagem rápida, encontrei o número do secretário da Marinha. Coloquei a chamada no viva-voz e Secretário Davenport me atendeu rapidamente.

— Boa tarde, Diretora, do que precisa?

— Boa tarde, senhor Secretário, desculpe incomodá-lo mas preciso de um favor do senhor.

— Se estiver na minha alçada.

— E está, senhor. Só quero que lembre para um Comandante da Marinha quais são as credenciais de segurança que a Diretora do NCIS tem, pois estão me negando informações sobre um caso em aberto.

Na minha frente, Skinner começou a tremer.

— Você tem acesso ao mais alto nível de segurança e nem a Marinha quanto os Fuzileiros podem te negar alguma informação de nenhum caso.

— Muito obrigada, Senhor Secretário. Era tudo.

— Boa tarde, Jennifer.

A ligação foi encerrada e eu só encarei Skinner.

— Comece a falar ou eu vou usar uma outra ferramenta da próxima vez.

E ele começou a cantar. No fim das contas, tudo o que o Quimera fazia era resgatar ogivas russas da segunda guerra. E como era uma retaliação ao que os russos faziam no Mar de Bering, ninguém poderia saber que agora o país era detentor de duas ogivas.

— E a minha equipe?! – Demandei. – O que eu vou falar às famílias? Vocês assassinaram cinco pessoas inocentes!

— Efeito colateral.

E lá foi outro tapa na cara dele.

— Eu aposto que tem gente que não está sabendo sobre isso. Eu vou contar, Skinner, e você vai ser o único responsável por toda essa bagunça. – Falei me dirigindo para a porta.

— Você não pode me deixar aqui! Eu não fiz nada de errado. – Ele gritou.

— Bem-vindo ao NCIS. Aqui é o meu reino, eu tenho as minhas próprias regras, e faço o que eu bem quero. E como eu quero você preso aqui, você vai permanecer aqui dentro, até que minha ordem de te soltar chegue os ouvidos do agente Balboa que está de guarda. Aproveite a estadia. – Disse friamente e voltei para a minha sala.

No caminho passei por Sophie e ela quis me perguntar algo. Não deixei. Não sabia como contar a ela que a Marinha, onde a irmã dela trabalhava, tinha acabado de assassinar uma parte da sua família.

— Filha, depois, a mamãe ainda tem que resolver um problema.

— Mas por que a senhora bateu no Comandante? Eu vi o rosto dele!

— Eu não bati, ele caiu.

Sophie não comprou a minha mentira, mas me deixou ir, dizendo que agora iria conversar com o Jimbo. Não me importei, talvez o sempre feliz Palmer, pudesse distrai-la até que eu tivesse a coragem de contá-la de que, dessa vez, o pai dela não voltaria mais.

Já em meu escritório, voltei a discar o número do Alto-Comando e quando, enfim, me atenderam, fui posta em espera. A Secretária me disse que todos eles estavam em reunião.

— Só diga ao seu Chefe. – Eu informei. – Que a Diretora do NCIS sabe de tudo e que é para ele me ligar imediatamente ou a mídia também vai ficar sabendo.

Vinte minutos depois, eles retornaram a minha ligação. Não foi fácil escutar as mentiras e ladainhas pré-escritas e ensaiadas. Não acreditei em nenhuma.

— Já que é assim, Almirante, eu gostaria que o senhor ligasse para as famílias dos meus agentes e dissesse que a Marinha os matou para manter um segredo.

— Isso é impossível, Diretora Shepard. Vamos apenas dizer que houve um princípio de incêndio que logo chegou aos tanques do navio.

Mordi a minha língua para não soltar uma gargalhada histérica.

— E como o senhor sugere que eu conte para a filha de sete anos de idade do Agente Gibbs que ela jamais vai ver o pai? E pior, ele tem uma filha que faz parte da Marinha. Será que a Marinha, por quem ela está dando tanto de si, vai mentir para uma das suas, também?

Do outro lado só ouvi a respiração do Almirante.

— Foi o que pensei. Inocentes morreram e vão encobrir. Mas não pense que ficará assim. Não. Isso não acabou. Eu não vou ver outro assassinato sancionado da Marinha e ficar quieta. – Ameacei e desliguei o telefone.

Levantei da minha mesa e fui até a estante onde estavam as bebidas. Já devia ser cinco da tarde em algum lugar. Me servi de meia dose de Bourbon e a virei de uma única vez, a queimação da bebida me distraindo por pouco tempo da tarefa que tinha em mãos. Encarei o porto e me pus a pensar sobre como eu contaria para Kelly, Sophie, Abby e Jimmy que nenhum dos cinco voltariam. E o pior, eles nem poderiam se despedir apropriadamente.

Encostei minha testa no vidro me permiti chorar um pouco. Se antes eu só pensava na minha família, agora a notícia começou a afundar em mim.

Eu jamais veria Ducky, Tim, Ziva, Tony e....

Eu nem consegui pensar no nome dele.

Eu vivi seis anos longe dele, mas eu sabia que ele estava vivo. Agora... eu não conseguia assimilar o que seria da minha vida sabendo que ele não estava mais aqui.

Um som estranho saiu da minha garganta, não era um soluço, mas também não era um grito, era mais uma mistura dos dois. Se eu fosse um animal, diriam que era um urro. E eu tive a estranha necessidade de bater em algo, atirar em algo, quebrar alguma coisa. Eu precisava pôr a dor para fora, antes que ela me consumisse por inteira. Olhei para o copo em minha mão, serviria. Me virei rápido e já pronta para arremessá-lo na parede oposta quando eu o vi, parado ali e me encarando como se não entendesse o motivo do meu desespero.

Abaixei meu braço, consegui colocar o copo em cima da minha mesa e antes que eu raciocinasse qualquer outra coisa, antes que meu cérebro assimilasse qualquer outra reação, me vi abraçando Jethro com força, enterrando meu rosto em seu pescoço e sentindo o seu cheiro. Deixei que o calor do corpo dele aquecesse o meu e tentei parar de tremer.

— Jen? – Ele sussurrou no meu ouvido. E eu estava tão aliviada em poder ouvir a voz dele novamente que não respondi nada, só o apertei ainda mais em meus braços, e eu senti que eu perdia o controle sobre as minhas ações, logo eu o estava beijando, trazendo-o na minha direção como que tentando me convencer de que ele realmente estava ali. Eu tropecei em meus próprios pés ao tentar levá-lo para o sofá, e Jethro acabou por interromper o beijo para poder me segurar.

— Jen. – Ele tornou a me chamar. – O que aconteceu? – Ele deu um mínimo passo para trás para tentar ler o meu rosto.

— Você está aqui! – Foi o que eu sussurrei. – Vocês não... – Não terminei a frase, pois decidi por beijá-lo de novo e de novo.

Quando tive que parar, pois meus pulmões ardiam pela falta de oxigênio, Jethro simplesmente disse:

— Não que eu não goste de ser recebido assim, mas e a nossa regra de que isso não aconteceria dentro do seu escritório?

Eu o empurrei para o sofá e quando vi, estava sentada no colo dele.

— Não é todo dia que você sobrevive à uma explosão pré-programada. Eu achei que vocês... que você.... – Balancei a cabeça para afastar o pensamento funesto. - Nunca mais faça isso comigo, Jethro! Nunca mais!! – Meu humor mudou do “eu nunca mais vou te deixar sair daqui de dentro” para “Como eu vou te matar por quase me matar do coração?”

— Tudo bem, Jen. Eu entendi. Eu estou aqui. Pode parar de me bater. – Ele segurou a minha mão direita.

— Você não tinha esse direito, Jethro! Não tinha o direito de quase me deixar maluca pensando que você tinha morrido! – Escorei a minha cabeça no ombro dele e comecei a respirar devagar, tentando acalmar o meu corpo com o seu cheiro.

Ele só começou a rir.

— Acho que devo ser explodido mais vezes, se é assim que você vai reagir, Jen! – Ele me disse e levantou o meu rosto para me encarar.

— Não é motivo para rir.

Ele pareceu pensar um pouco, depois encarou a porta e com um sorriso de lado, soltou.

— Ainda bem que eu tranquei a porta e que Sophie é naturalmente curiosa com tudo.

— O que você quer dizer com isso?! – Perguntei tarde demais, pois ele me deitou no sofá e, com aquele sorrisinho de lado que lhe é tão característico falou:

— Só aproveitando que você pareceu esquecer da sua regrinha. – Ele me beijou vorazmente.

Uma vozinha responsável me dizia que isso era totalmente errado, que nós dois não deveríamos estar agindo dessa maneira ali, dentro do meu escritório, que ali era um ambiente de trabalho e, pior, a minha filha estava no andar de baixo. E tinha uma outra voz que mandou a outra calar a boca e aproveitar o momento.

Eu sabia que era errado. Mas era tudo o que eu precisava naquele momento. Eu só precisava saber que ele estava bem ali e comigo.

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— Como eu vou me concentrar agora dentro dessa sala? Toda vez que eu olhar para esse sofá eu vou lembrar do que acabou de acontecer! – Jen murmurava, tentando alisar as roupas e arrumar o cabelo.

— A ideia foi sua. – Brinquei com uma mecha do cabelo dela.

— Você se aproveitou de um momento de fraqueza. – Ela rebateu na hora.

Encarei os olhos verdes e aquele rosto afogueado.

— E não me olhe assim. Só vai piorar a situação!

— A sua ou a minha? – Perguntei.

— A nossa! – Disse exasperada e se levantou do sofá, indo até o banheiro para ver se ela disfarçava a aparência. – Como eu vou sair dessa sala assim? – Murmurou.

Parei na porta do banheiro e fiquei olhando para o reflexo dela.

— Eu sempre gostei das suas bochechas dessa cor.

E os olhos que antes estavam brilhantes, se estreitaram e faiscaram em pura fúria.

— Se continuar a me olhar assim, vai ter o segundo round. – Avisei e dei um passo na sua direção.

— Parado! Fique onde está. – Ordenou e se virou para o lavatório e jogou água fria no rosto.

— Não sei o porquê de todo esse trabalho. O expediente já acabou, Jen. Não tem quase ninguém no prédio. A não ser o Comandante Skinner. Será que você pode me dizer o motivo de ter dado um soco na cara dele com isso? – Peguei o inseparável soco inglês que ela sempre carregou.

E o sorriso que ela abriu não tinha nada a ver com o que tínhamos acabado de fazer. Era um sorriso que indicava que alguém iria perder a cabeça hoje.

— Por que eu bati no Skinner, Jethro? – A voz dela estava perigosa. – Primeiro, porque eu tinha acabado de ver você e toda a equipe explodir, para mim, naquele momento, vocês estavam mortos. – Ela parou.

— E a segunda?

— Eu tinha que me defender das cantadas dele de alguma forma... Eu já não aguentava mais aquele desprezível invadindo o meu espaço pessoal e fazendo mil e uma insinuações.

— Ele ainda está aqui? – Grunhi.

— Sim... Interrogatório um. – Ela falou, seu sorriso ainda maior ao me fitar.

Destranquei a porta e fui em direção à sala de interrogatório. O cara tinha tentado me matar, matar a minha equipe e ainda deu em cima da minha noiva? Não.

Passei pela equipe e por Sophie, eles não tinham notado nada de estranho no meu sumiço, mas acompanharam com interesse o caminho que tomava. Ouvi os passos de Jen logo atrás de mim e ainda pude ouvir:

— O papai também vai bater naquele Comandante nojento, mamãe?

— É o que eu espero, Sophie. – Foi a resposta de Jen.

E com menos de dois segundos, ouvi os passos de todos eles, com certeza eles se espremeriam na sala de observação.

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A Peste Ruiva tinha nos contado, assim que chegamos, como a Diretora tinha arrastado um Comandante da Marinha, com o nariz quebrado, pelo braço, até a sala de interrogatório. E diante desse relato, o chefe logo subiu para saber o motivo de Jenny ter agido tão fora do seu costumeiro jeito.

A conversa parecia que não ia ter fim, e os dois estavam trancados lá dentro, nada que pudesse nos impedir de florear sobre o “Navio Fantasma” para Sophie, que parecia muito alegre por ter alguém contando histórias de terror com final feliz para ela.

Só McMedroso não entrou na brincadeira, ainda um tanto mareado, se sentou em sua mesa e abaixou a cabeça, claro que a Ruivinha iria querer saber o que ele tinha. Quando McEnjoado disse, ela tratou de tomar conta dele, enquanto ouvia em êxtase, o que tínhamos para contar.

Ao final da nossa história, um tanto aumentada para dar o devido suspense para a nossa voraz ouvinte, ouvimos a porta da Direção ser aberta e o Chefe passar rapidamente por nós, sem nem ao menos olhar para a filha.

Nós quatro nos olhamos e depois vimos a Diretora o seguir, com a mesma feição determinada no rosto.

— O papai também vai bater naquele Comandante nojento, mamãe? – A Peste Ruiva perguntou.

— É o que eu espero, Sophie. – Foi a resposta que a Diretora deu sem nem olhar para a filha.

O que aquele Comandante tinha feito de tão extraordinário para ter apanhado da Diretora e agora estar em vias de apanhar do Chefe também?

Assim que os saltos de Jenny ecoaram um pouco mais longe, nós quatro nos entreolhamos e saímos correndo, seja lá o motivo, a “conversa” seria muito boa dentro daquela sala e ninguém queria perder. Era como ver o Chefe interrogando uma ex, novamente.

Corremos e logo nos quatro nos esprememos no vidro para ver o que acontecia do outro lado. Sophie teve que arrastar uma cadeira e subir nela para poder enxergar melhor.

— Que foi? – Ela me lançou um olhar que rivalizava com o da mãe.

— Essa cadeira tem rodinhas, você pode cair, até porque a senhorita só tem um pé bom...

— Tony! Eu não quero perder... – Ela parou e deu um pulo, pois no exato momento o Chefe batia com uma força imensa a mão na mesa e encarava Skinner, a Diretora só passou para trás dele e o ameaçou com a voz mais calma do mundo.

— Não disse... vai acabar caindo! – Falei e tive que me certificar que a Pestinha iria ficar bem e segura em cima daquela cadeira enquanto ouvíamos o chefe dizer umas poucas e boas para o Comandante.

— Eu entendi direito? – Ziva perguntou. – Esse Comandante sabia que era uma armadilha e mesmo assim nos mandou para dentro daquele Navio? – Fechou os punhos e eu vi que até ela queria a sua chance junto com o Comandante.

E aí a coisa toda ficou muito interessante, pois o tal Comandante apenas falou:

— Eu falei para a Diretora que se ela quisesse qualquer tipo de informação, era só pedir com jeitinho.

Ziva sibilou do meu lado, McGee fez uma careta, eu vi que Sophie não entendeu a conotação da palavra “jeitinho” mas não gostou do modo como o tal Skinner olhou para a mãe dela, eu me empertiguei e esperei, sabendo que mais cedo ou mais tarde, ou Gibbs ou Jenny iriam dar o troco.

— Jeitinho? – A voz do Chefe nos fez dar um passo para longe do vidro – Ele se esqueceu quem é você, Diretora Shepard?

— Eu mostrei para ele, Agente Gibbs, mas acho que a lição foi pouca, ou ele precisa de mais aulinhas. – Os dois se entreolharam e foi só aí que o Comandante percebeu a cilada em que tinha se metido.

Eu vi que os olhos dele passarem da mão do Chefe para a mão da Diretora, depois ele olhou bem para como os dois estavam posicionados e engoliu em seco.

— Com certeza os dois já fizeram interrogatórios juntos... – Ziva comentou.

— Resta saber se a pessoa saiu viva... – McGee, mesmo com um vidro a prova de balas nos separando dos dois, falou baixo e mantinha uma distância de segurança.

Olhei para a Ruivinha de pé quebrado do meu lado... ela não precisava ver isso.

— Hei... Peste Ruiva. Por que você não vai lá embaixo e compra um chocolate para você? – Peguei minha carteira e tirei uma nota de cinco dólares e estendi para ela.

— Mas Tony... eu quero ver o papai e a mamãe no interrogatório!

— Não hoje, Pingo de Gente... talvez daqui uns seis anos... – Ziva a colocou no chão e abriu a porta.

— Mas eu vou voltar! – Ela garantiu e saiu murmurando qualquer coisa sobre a vida ser injusta e ninguém deixar que ela visse as melhores partes de um interrogatório.

Ziva trancou a porta e voltou a sua atenção para a outra sala bem no exato momento em que a Diretora imobilizava Skinner e o pedia para ele repetir o que tinha dito.

Encurralado entre os dois, ele se recusou a dizer, e prometeu que todos seriam ressarcidos de possíveis danos, desde que a história não vazasse.

— Mas quem te disse que isso aqui, neste exato momento é sobre o Navio? – Jenny perguntou.

— Eu faço uma retratação pública! – Ele guinchou quando o Chefe chutou a cadeira dele.

— O que mais ele disse para a Diretora? – McGee perguntou assustado vendo a reação dela e de Gibbs.

— Eu não faço ideia, mas acho que não cabe a nós ver o restante. – Ziva disse. – De qualquer maneira, já sabemos o que ele fez para nós, um dia, vai que ele está atravessando a rua e eu estou passando de carro, não é mesmo? – Ela deu de ombros e foi para a porta.

— Isso se ele sobreviver a esses dois, não é mesmo, minha amada Ninja? – Brinquei e a segui.

— Vocês dois vão realmente deixar de ver aquilo? – McCurioso tinha um olho em nós e o outro na sala, onde o Chefe tinha acabado de amassar a cara de Skinner na mesa.

— Sem testemunhas, sem crime. – Eu falei e desliguei os computadores.

McGee concordou comigo e nós três saímos, a última coisa que escutamos foi:

— Quantas vezes eu vou ter que dizer eu sinto muito? – A voz esganiçada do Comandante ecoou no corredor.

— Regra #06. Nunca peça desculpas, é um sinal de fraqueza! – Nós três dissemos ao passar pela porta. E essa regra nunca fez tanto sentido quanto agora.

Ao virarmos no corredor, já quase na sala do esquadrão, trombamos com Sophie e duas barras de chocolate. Ela me estendeu uma e disse:

— Eles já acabaram com o Comandante?

— Depende de qual significado de acabaram você está usando, Pequena. – McGee a respondeu.

Ela arregalou os olhos e deu dois passinhos para trás.

— Acho que vou ficar por aqui mesmo... mais alguém quer que eu vá até a sala de descanso e compre algo. Prometo que vou comprar!! – Ela disse se afastando o máximo do corredor.

— Não estamos bem... – Ziva disse. – Que tal se fossemos todos comer uma pizza? Acho que Gibbs e Jenny vão demorar hoje por aqui.

— Eu concordo! – Falei.

Tim foi logo chamando Abby, Ducky e Palmer e tiramos a Peste Ruiva do Estaleiro, só deixando um bilhetinho para ambos os pais, dizendo que ela estava segura e que nós a entregaríamos no outro dia cedo.


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Notas finais do capítulo

Alguém sabe responder a pergunta da Sophie? Por que Gibbs só tem ex maluca??
Ah se as paredes daquele escritório falassem ou pudessem escrever um livro... segredos de estado seriam revelados, operações secretas também e... bem... teria aquela parte não permitida para menores de 18 anos... se é que me entendem!
Muito obrigada por lerem e sábado tem mais!!
Querem spoiler?? Quem está esperando por outro casal da fic virar realidade, vai ter os seus desejos realizados!
xoxo



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