Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 102
Reunião de Família


Notas iniciais do capítulo

Ou você pode chamar a Cristina Rocha e denominar o capítulo de Casos de Família mesmo.
E vamos nós para o jantar de ensaio... tem surpresas, é claro. E tem aquela reunião de família que todo mundo quer fugir mas não pode
E tem Sophie surpreendendo todo mundo, é claro!
Espero que gostem do capítulo!
Boa leitura!



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Enfim era chegada a hora. Eu estava devidamente pronta, claro, depois de uma ajuda extra da minha mãe adotiva e da minha irmã pitaqueira, que não ficou muito por perto porque meu pai fez questão de tirá-la de dentro do quarto, dizendo que ela já tinha dado muito a opinião dela no meu vestido e na roupa dele. Antes que ele fechasse a porta, ouvi Sophie dizendo que ela estava orgulhosa em saber que todos iam muito bem arrumados no meu casamento, já que ela tinha ajudado a escolher a maioria das roupas. Não ouvi a resposta do meu pai - se é que teve uma – mas ouvi nitidamente a risada de meu avô.

Com tudo ajeitado, meu pai pediu que chegássemos mais cedo. Éramos cinco e ele insistiu que fôssemos em dois carros. Acabou que fui com Jen no meu e papai, Sophie e vovô foram no carro dela. Achei estranho esse arranjo, porém não estava na posição de discutir nada. Mas no fundo, eu sabia que estavam planejando algo.

Como de praxe papai acelerou pelo caminho e Jen, que dirigia hoje, já que eu ainda não tinha me acostumado a dirigir de saltos, e muito menos com um salto desses, seguiu no ritmo dela, eu desconfiava que aqueles dois tinham combinado isso. Assim, quando paramos na frente da minha casa, algo como um resquício daquele pânico que me assolou no meio da tarde voltou.

— Kelly, respira. – Jenny disse enquanto conferia a maquiagem no espelho retrovisor.

— A cada hora fica mais real, e depois de hoje, não tem mais volta! – Afirmei.

— Volta tem. Você ainda tem uma semana para poder fugir. Contudo não acredito que seu pai gostaria disso, e tenho plena certeza de que, dentro do NCIS, ninguém aguentaria DiNozzo comentando as semelhanças do seu ato com o filme “Noiva em Fuga”.

— Não vou fugir. Por mais que eu esteja um desespero por dentro, não consigo fazer isso nem com Henry, nem comigo e muito menos com o papai.

Jenny riu da minha ordem.

— Então... o que estamos esperando? – Perguntei e busquei pela maçaneta para abrir a porta.

O olhar de Jenny me disse o que eu já desconfiava.

— O que está me esperando lá dentro? – Perguntei alarmada.

Ela só apontou para a porta, de onde Sophie saía toda feliz e saltitante.

Ela é o sinal?

— Quando é que Sophie não está no meio de cada um dos planos malucos que cercam essa família? – Me devolveu a pergunta e colocou todos os significados possíveis nela.

Fiz uma careta. Sim, eu havia usado muito a minha irmãzinha nos meus planos.

Sophie parou do lado da minha porta, seu vestido azul escuro fazia um contraste interessante com seus olhos multicoloridos, sua pele branquinha e seu cabelo vermelho.

— Kelly, você vem comigo! – Ela disse ao abrir a porta.

Olhei novamente para Jenny que sorria.

— Vá antes que ela te arranque de dentro do carro. – Disse ao ver como a filha já batia o pé ansiosamente.

Desci e minha irmã saiu pulando do meu lado, mesmo contra os avisos de Jen que ela ficaria desarrumada antes da hora.

Quando subimos os cinco degraus e chegamos na porta, Sophie chamou:

— Papai, estamos aqui! Para onde levo a Kelly?

Eu sabia que tinha alguma coisa por trás de toda essa cordialidade da Moranguinho.

— Vamos começar aqui por baixo, Ruiva. – A voz de meu pai soou de algum lugar no primeiro andar.

Sophie me cutucou e indicou que eu me abaixasse para ficar do lado dela. Fiz o que me pediu e fui surpreendida quando ela passou uma venda nos meus olhos.

— Para que isso?! – Perguntei aflita já que não enxergava nada.

Jenny riu atrás de mim e escutei-a se afastando. Para onde, não sei.

Minha irmã acabou de amarrar a venda e depois pegou a minha mão.

— Agora você pode se levantar. E confie em mim, eu te guio!

De repente, outra mão segurou a minha. Me virei para tentar descobrir quem era.

— Você chegou atrasado, Henry! – Sophie reclamou.

— Atrapalhei o seu cronograma, Rainha da Pontualidade? – Ele perguntou, ouvi que ele sorria, e depois gargalhou, de qualquer que fosse a reação da minha irmã.

Achei que andaríamos para sempre. Até que paramos.

— Você fica aqui. – Sophie me alertou. – E Henry, se importa de fechar os olhos? E se você trapacear, eu chuto você! E vai doer porque meu sapato tem bico fino.

— Como quiser, Madaminha!

Portas foram abertas, e vi Sophie nos escoltando para dentro de um cômodo. Minha ansiedade foi a mil. Como eu não estava vendo, meus outros sentidos estavam tentando compensar a falta de visão temporária e se aguçaram, o olfato era o mais intenso deles e eu sentia o cheiro de madeira, verniz e flores.

Meu pai tinha terminado um dos cômodos!! Me controlei para não recomeçar a chorar a estragar a maquiagem e apertei com mais força a mão de Henry.

Sophie me puxou para baixo. Me agachei, não sei se era o suficiente, mas ela tirou a venda, me alertando que ainda não era para abrir os olhos.

— Quando vou poder? – Perguntei já tentando formar uma imagem mental para o que me esperava.

— Agora. – Foi o comando do meu pai.

E eu fiquei maravilhada. Aquele era o meu escritório e por mais que eu o tivesse escolhido porque tinha uma enorme porta de vidro que ia do chão ao teto, eu jamais imaginaria que tudo ficasse desse jeito.

— Ficou... – Me faltavam palavras para descrever toda a mobília e a decoração que eu não tinha escolhido.

Dei uma volta, tentando absorver cada parte do que eu sabia, era o presente do meu pai.

— Pai... eu amei! – Falei e corri para abraçá-lo.

Henry sabiamente não comentou nada.

— Esse é só o começo. – Papai me disse e eu o encarei. Ele apenas meneou a cabeça para o outro lado do corredor, onde seria o escritório de Henry.

— Não acredito! – Corri até lá, rebocando Henry comigo.

— Cuidado para não escorregar... – Jen me avisou quase tarde demais. Abri as portas duplas e fiquei ainda mais extasiada. Agora fazia sentido papai ter pedido para que chegássemos mais cedo.

— Eu nem sei o que dizer! – Falei girando para vê-lo e quase caindo de novo, ainda bem que Henry me segurou pela cintura. – Esse cômodo não estava no pedido!

Henry estava vendo o próprio escritório pela primeira vez. E depois, em um movimento completamente inesperado, abraçou meu pai e o agradeceu.

Sophie olhou para a cena e depois encarou a mãe, rindo.

— É feio não retribuir o abraço, Jethro! – Jen comentou.

Achei que as surpresas tinham terminado ali e quis perguntar quem tinha decorado tudo, porque estava perfeito e dentro de tudo o que nós dois gostávamos, quando papai soltou:

— Não quer ver o segundo andar?

Paralisei.

— Tem mais?! Como é possível? Olha o que o senhor já fez!! – Eu disse e pelo canto do olho vi que Sophie tinha ficado ofendida, já que ela, eu sabia, tinha ajudado papai, ou pelo menos, ficou falando sem parar na cabeça dele enquanto ele trabalhava.

Cheguei ao pé da escada tive que respirar fundo, eu sabia muito bem qual cômodo tinha sido montado lá em cima. Dei o primeiro passo, e vi que nenhum dos quatro me acompanharam dessa vez.

 - Vocês...

— Depois! – Foi a vez de Jenny responder.

Para evitar levar um tombo, e olha que eu já tinha brincado com a sorte duas vezes em menos de quinze minutos, tirei os sapatos de salto e os arremessei na direção da minha irmã, que não gostou nadinha. Literalmente corri escada acima e abri a porta que sabia seria o nosso quarto. Henry entrou logo atrás de mim e nós dois nos encaramos antes de olharmos, embasbacados, para o quarto.

Era incrível. Ele tinha feito tudo o que eu pedi. Estava além de perfeito e eu duvidava que qualquer outro decorador, ou sei lá quem, faria melhor. Entrei para ver os detalhes, e duas grandes portas chamaram a minha atenção.

— Uma eu sei que é o banheiro. E a outra? – Henry me perguntou.

Me lembrei da tarde que sequestrei Sophie para me ajudar a escolher alguns móveis e ainda para colocá-la a par de meu plano para mandar a Coronel embora.

Você vai ter um closet. E eu desenhei o seu closet e o do Henry... Já que ele parece ter uma coleção de ternos maior do que a do Tony.”

— Creio que nosso closet. E eu sei muito bem quem o desenhou... – Respondi ao meu quase marido e nós dois chegamos até as portas.

— Não me diga que foi a Sophie? – Ele questionou quando puxamos as portas de correr.

E não era um cômodo vazio, pelo menos não a minha parte... Pois ali estavam dependuradas algumas roupas, que eu sabia tinham o toque não só da minha irmã e de Jenny, mas de Ziva e Abby também.

— Eu não ganhei esse tipo de presente! – Henry brincou ao ver algumas das roupas, não eram muitas, mas já era mais do que eu esperava, mais até do que eu merecia, tendo em vista o que já haviam me dado.

— Por essa eu não esperava. Não mesmo!! – Olhei o imenso closet e vi que na parte de trás já tinha algumas roupas de cama e banho também.

Eu poderia ficar perdida ali dentro, ainda mais depois que consegui desvendar o padrão que minha irmãzinha tinha feito para cada uma das espécies de roupas e sapatos que ela achava que eu teria. E ela era tão esperta, que tinha até uma gaveta para as joias. Henry ganhou uma para relógios, e eu acho que isso foi ideia de Tony..., contudo, em menos de uma hora os convidados para o jantar começariam a chegar e eu tinha que estar no mínimo composta para recebê-los.

Desci as escadas para encontrar os quatro, mais Abby e Tim sentados na sala, conversando. Eles só me olharam, sem dizer nada.

— Nós não temos palavras para agradecer. Sinceramente, dizer que ficou perfeito ou que amamos é muito pouco. – Falei ao parar na frente deles. Sophie foi logo me entregando o meu par de sapatos, olhando longamente para a altura do salto que ela ainda não podia usar. Papai vendo essa cena, apenas cutucou a perna dela, e Moranguinho apenas o encarou com um beicinho.

— Então eu acho que você já viu o closet? – Abby perguntou se levantando e vindo nos abraçar.

— Já... e vi que você teve uma participação nas roupas. Aproveitando o seu abraço, Abbs, muito obrigada pelo cordão e pelo brinco. Não precisava!

Abby deu uma risada e depois de abraçar Henry muito apertado soltou:

— Minha irmã merece!!

Eu fiquei toda sem graça e resolvi agradecer a Tim pelo presente e ele soltou quase a mesma frase.

Não tive tempo de me recuperar da cor vermelha, quando a campainha tocou e Ducky, Jimmy, Cynthia, Ziva e Tony chegaram, esperei mais um pouco, pois o Senador Sanders e a Sra. Sanders e as filhas chegavam também.

Ainda na porta, os recebi. A parte “boa” da minha família me abraçou apertado e eu agradeci ao presente. Ziva soltou um:

— Você faria a mesma coisa.

Já Tony:

— Esposa de político adora pérolas! – Mas depois continuou. – Assim você vai se lembrar da gente.

Era a primeira vez que Tony era fofo comigo.

Meus sogros chegaram, o Senador me cumprimentou como sempre, já a Sra. Sanders.

— Finalmente! Vejo que aderiu ao uso de joias mais apropriadas para a esposa de um político!

Escutei a risadinha de Tony e pude jurar que alguém pisou mais forte no chão, meu pai, com certeza.

— É um presente da minha família! – Falei com orgulho. – Vou apresentá-los para a senhora! – Disse e a guiei até onde a minha família estava. – Sra. Sanders, estes são, na ordem: Tony DiNozzo, Ziva David, Tim McGee, Abby Sciuto, Cynthia Summers, Jimmy Palmer, Doutor Donald Mallard, Meu avô Jack. Os outros três a senhora já conhece. – Disse orgulhosa da melhor família que qualquer um poderia ter.

E minha sogra encarou o grupo eclético à sua frente. Vi que seus olhos pararam por um tempo em Abby, que apesar de não estar calçando as suas botas plataformas habituais, ainda estava vestida dentro de seu estilo único. Sophie também reparou isso, e foi logo se dirigindo para perto de Abby, prontinha para defendê-la de qualquer comentário sarcástico que a minha sogra poderia soltar.

— É um prazer finalmente conhecê-los. Ouvi muito sobre vocês em todos estes anos. – Ela disse polida, mas eu vi que não tinha aprovado a todos e hora nenhuma ela fez questão de estender a mão e cumprimentá-los devidamente, coisa que o Senador fez. Depois, minha sogra se virou para minha irmã. – E você, pequena Sophie! Está tão grande, tão linda! – Sophie deu um passo à frente e estendeu a mão para cumprimentá-la.

— Sra. Sanders. Senador Sanders. – Ela falou toda educadinha, depois viu Claire. – Oi, Claire!! Senti saudades! – Abraçou a irmã do meio de Henry e lhe deu um beijo. – E olá, você... - Cumprimentou Alícia, essa, por sua vez, olhava com um ar de deboche para todos da minha família.

— Família peculiar, Kelly. – Foi o que ela disse, ignorando a mão estendida de Sophie.

Papai que estava mais perto de Sophie, delicadamente a puxou para perto dele, e esse gesto era tanto para conter a minha irmã de falar algo como para impedi-lo de respondeu algo pior. Pelo canto do olho, vi que nem Tony e nem Ziva tinham gostado de ver a minha irmã ser ignorada, a noite seria longa!

Foi Claire, de todas as pessoas, quem quebrou o clima estranho.

— Então... quando eu vou poder ver como o seu closet ficou, Kelly? Estou curiosa desde que você me contou que a Ruivinha aqui – ela deu um tapinha no alto da cabeça da minha irmã. – iria planejá-lo para você!

E com essa frase, ela atraiu a atenção de todas as mulheres.

Mais tarde, com certeza, eu teria que agradecê-la por isso!

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Não demorou muito e os demais convidados chegaram. Kelly apesar de nervosa e um pouco ofendida com Alicia, conseguiu se controlar e foi uma anfitriã admirável. Contornou os pequenos problemas que apareceram e teve a cabeça no lugar de não cair nas provocações da cunhada, nem quando as duas ficaram às sós dentro do escritório da primeira.

Alicia comentou sarcasticamente sobre a decoração e os móveis, dizendo que ela conhecia mulheres que tinham muito bom gosto, o que claro, não se aplicava ali.

Kelly ficou calada e se encaminhou para a porta, quando a cunhada soltou:

— Mulheres que seriam esposas muito melhores para o Henry.

Ao longe, eu vi Kelly ficar vermelha, contrair os pulsos e se virar lentamente para Alicia. Mas ela não tinha 100% do DNA de Jethro, e os 50% herdados de Shannon fez com que ela respirasse fundo, se recompusesse e depois saísse de cabeça erguida do cômodo.

Ah se fosse eu ali dentro, aquela garota loira com cara de metida não tinha saído de lá sem umas costelas quebradas e precisando de uma reconstrução facial.

Ziva também tinha ouvido a conversa e ao me ver observando a cena, veio para o meu lado de discretamente disse:

— Estou esperando por dois momentos nesse jantar...

Olhei para ela com a sobrancelha erguida, pelas nossas expressões poderíamos estar conversando sobre o tempo ou sobre a minha filha.

— Quero ver Gibbs responder à Sra. Sanders e quero ver Kelly voar no pescoço da Alicia.

— Nenhuma das duas coisas vai acontecer! – Comentei e tive que sorrir em direção à avó de Henry.

— Por que não? Gibbs não tem lá toda essa paciência e a mulher não gostou nem um pouco de nenhum de nós. – Ela me retrucou em hebraico.

— Nem cogite a ideia. Jethro já quer voar no pescoço dela desde quando ela soltou a data do casamento. Isso sem contar que a Sophie também não é fã dela, basta uma palavra e a felicidade de Kelly vai para o espaço.

Ziva revirou os olhos, porém segurou a língua, pois a Sra. Sanders Mãe, ou seja, a avó de Henry, vinha na minha direção.

— Boa sorte, acho que essa velha aí não vai gostar de saber que os pais da irmã de Kelly não são casados. – A israelense completou e com um sorriso educado pediu licença e foi para perto de Abby e Tim.

— Senhora Sanders. – A cumprimentei.

A velha me olhou de cima embaixo e soltou.

— Você é a Diretora do NCIS, não é?

— Sim, sou.

— A primeira mulher?

— Exatamente.

— Acho isso um absurdo! Onde já se viu uma mulher tentando brincar no mundo dos homens? E nem sei como te levam à sério, sendo que nem casada é! E ainda tem uma filha! Deveriam escolher melhor as pessoas que ficam à frente das agências, isso é trabalho para homens, você deveria estar em casa e tomando conta da sua filha. Por falar nela, quem é o pai dela? Espero que esteja morto, porque é intolerável que uma mulher leviana fique perto do meu neto!

Engoli todas as palavras mal-educadas que vieram na ponta da minha língua e disse:

— Estamos no século XX. Mulheres têm os mesmos direitos que os homens, não ficamos mais só dentro de casa, trabalhamos para dar conforto aos nossos filhos, sejam eles fruto de um casamento, adotados ou só nossos, sem a presença de um pai. E só informando, o NCIS não me escolheu levianamente, eu fui escolhida por minha carreira e nada mais! Quanto ao pai da minha filha, ele não está morto, está bem aqui nesta casa, e mesmo que nós não sejamos casados, posso garantir à senhora que Sophie é muito mais bem educada, polida e comportada que muitas outras garotas que foram criadas tendo pais casados e morando debaixo do mesmo teto. Nosso relacionamento pessoal jamais interferiu na forma como ela foi educada! – Disse entredentes. Espero que ela tenha recebido o recado sobre o comportamento de Alicia.

A Matriarca me encarou, depois seus olhos buscaram por Sophie, que estava no colo de Jethro enquanto atualizava o avô sobre o que ele havia perdido, depois flutuaram para onde Alícia estava sentada, com uma cara de deboche e um sorriso cínico estampado no rosto enquanto observava Abby, Cynthia e Kelly conversando.

— Acho que a senhora entendeu o recado! – Falei encarando-a, ela, sem graça, meneou a cabeça e foi em direção à neta, puxando-a pelo braço e tirando-a de perto de Kelly.

Respirei fundo e recompus minhas feições, assim que me virei, para alertar Kelly, vi Ducky.

— Minha querida, lembre-me sempre de estar do seu lado bom. Principalmente se a questão comentada for suas filhas.

— Ducky, sendo-te sincera, mexam comigo, falem o que quiser de mim, mas jamais, falem mal das minhas filhas ou da minha família. Isso eu não permito. Eu sei que ninguém é perfeito, que todos têm falhas, mas cabe a mim indicá-las e corrigi-las e a mais ninguém!

— Eu sei disso, Jennifer. E tenho certeza de que tem mais alguém aqui dentro que pensa exatamente igual a você. – Seus olhos pousaram em Jethro, que a cada minuto, segurava Sophie um pouco mais forte, como se a presença dela perto dele fosse capaz de impedi-lo de fazer ou falar algo, ainda mais agora que o Senador Sanders tinha parado para conversar com ele. – E, ah, me avise quando for a hora de dar os parabéns a você, sei que uma proposta foi feita.

— Eu não sei quem foi o fofoqueiro que te contou, Doutor Mallard, mas ainda não é hora para isso.

— Não espere muito tempo, minha criança. Vocês dois já esperaram demais. Merecem ser felizes. – Ele me deu um tapinha do ombro e caminhou para controlar a conversa entre Tim, Ziva, Abby, Cynthia, Tony e Jimmy que estava ficando um pouco alta.

Era cada coisa que estava ouvindo nesta noite. Gostaria de saber o porquê ninguém falava isso para DiNozzo ou Ziva...

O jantar foi servido logo em seguida. O arranjo da mesa nos proporcionava ficar perto das pessoas da outra família para que nos conhecêssemos melhor. Uma ideia bem-vinda, se eu não tivesse sido colocada ao lado do Senhor Sanders Pai e mentor da carreira do filho e do neto. Ouvi sobre política o tempo todo, se me perguntarem ao final do jantar a história da família Sanders na política, eu saberia dizer até os menores detalhes.

Vasculhei a mesa e vi que Jethro não estava em uma posição melhor, uma das tias de Henry, que eu nem guardei o nome tagarelava sobre a última viagem dela ao Egito, e dizia como os camelos são desagradáveis. Ele viu o meu olhar e eu tive que sorrir em sua direção, com certeza riríamos muito quando tudo isso passasse.

Kelly e Henry estavam em uma bolha particular, conversando entre eles e alheios ao que se passava na mesa.

Só faltava encontrar Sophie.

E ela era a única da família que tinha dado sorte, pois, como o número de convidados era ímpar e ela era a única criança ali, acabou sentada perto de Tony e Claire, com Abby à sua frente e Tim e Ziva não muito longe, um dos primos de Henry, que se eu não me engano se chama Martin estava ali também e parecia não se importar em ter uma criança por perto. E nessa parte da mesa, a conversa fluía de forma descontraída. Invejei minha filha e desejei estar com ela do meu lado, pelo menos a conversa giraria em torno do seu dia na escola ou sobre o que o pai dela estava aprontando no porão, ao invés, voltei à minha atenção para a tediosa conversa sobre a História da Família Sanders.

Quase uma hora de jantar depois, foram iniciados os brindes. Estes mais simples do que os que seriam ditos no dia da cerimônia em si. Do lado de Henry, seu pai, sua mãe, Claire e Martin foram os responsáveis por saudar os noivos. Na nossa família, Jethro, Jack, Abby e a mim.

Kelly pareceu aliviada que eu nunca mencionei os sustos, a briga que levou ao pedido de casamento e muito menos o surto dela hoje.

Quando minha parte tinha terminado, e todos se sentaram novamente, Henry simplesmente disse:

— E você, Sophie, não vai dizer nada?

Todas as cabeças da mesa se viraram na direção de minha filha que, diante dessa atenção inesperada, ficou vermelha igual a um tomate e abaixou um pouco o rosto, tentando se esconder atrás de Tony.

Kelly deu uma risada.

— Sempre falante e na hora que te pedem para falar, fica vermelha? Vamos lá, Moranguinho!

Sophie respirou fundo e começou a brincar com a ponta do guardanapo que estava em seu colo.

— Eu não escrevi nada. – Disse, como se estivesse se desculpando.

— E desde quando isso te impediu? – Kelly continuou.

Sophie levantou os olhos e fitou a irmã, creio que mentalizando o momento para fazê-la pagar um dia. Respirou fundo e, ficando de pé, começou, depois que Tony lhe entregou uma taça com água:

— Eu gostaria de homenagear o meu segundo casal favorito, que estão juntos desde sempre, pelo menos para mim. – Ficou ainda mais vermelha. – E dizer que dou as boas-vindas à Henry e sua família à nossa família. – Claramente tinha uma exceção ali, mas Sophie jamais diria. – Henry, você já era como meu irmão, antes mesmo que eu percebesse, e espero que você se lembre da promessa que fiz no Aeroporto de Londres, - nesta fala, Jethro abriu um sorriso, Sophie poderia ameaçar o Engomadinho veladamente que ninguém acharia ruim. – mas, saiba que, apesar de implicar com você de vez em quando, eu te amo e sempre vou estar do seu lado. – Ela olhou para o cunhado. – Kelly, eu só queria te dizer que não importa onde você more, onde você esteja, ou o que você esteja fazendo, você é a minha irmã e sempre, sempre, eu vou te amar e estar ao seu lado quando você precisar de um abraço ou só de uma pessoa para ouvir você falar. Eu vou manter a promessa que te fiz no meu aniversário e sei que você vai manter a sua, a distância não foi empecilho quando eu morava em Londres e você aqui, e não vai ser agora, seja por carta, por e-mail ou por telefone, você não está sozinha e quanto ao papai, eu vou tomar conta dele, mas, tanto para você quanto para Henry, eu sou peço uma coisa: - Todo o cômodo prendeu a respiração enquanto minha Miniatura levantava mais alto a taça. – Sejam felizes! Eu quero que vocês sejam felizes como vocês estão hoje e como eu sempre vi vocês. – E os noivos se olharam depois encararam Sophie, Kelly, só para variar, estava chorando. – Aos noivos e que sejam felizes para sempre!! – Sophie terminou.

Kelly se levantou e correu para abraçar a irmã, Henry fez o mesmo, e, sem querer eu percebi que ele gostava mais da minha filha do que de Alícia.

— Isso foi porque você não escreveu nada? – Ele perguntou tentando descontrair o ambiente.

Sophie olhou para ele por cima do ombro de Kelly e pediu que ele chegasse mais perto.

Eu previ o movimento antes que ele acontecesse. Jethro também, tanto que ele abriu aquele sorriso orgulhoso na direção da filha caçula.

Henry parou à distância de um braço de Sophie e ela, muito deliberadamente, deu um sonoro tapa na cabeça dele.

— Agora você faz parte, oficialmente, da Família Shepard-Gibbs! – Ela disse e, para meu espanto, minha filha tinha invertido os papeis, pois, pela tradição, é a noiva quem é recebida na família do noivo, não o contrário.

E essa “iniciação” foi como o tiro de largada para o restante da família abraçar os noivos. No meio dos desejos de felicidades e muitas alegrias, eu percebi a tênue divisão que se formava.

Henry sempre conheceu a família de Kelly e nunca se importou com a aparência de ninguém ou com os pormenores de nossa história, aos poucos ele trouxe Claire e a garota, que hoje também já está noiva, se adaptou muito bem a nós, assim como seu futuro marido. O Senador Sanders era ocupado demais com a própria carreira para se dar ao trabalho de se preocupar com alguém além dele próprio, no final, a felicidade do filho não era tão importante, mas seria um ponto chave se ele pudesse usar isso em sua campanha. Seu avô pensava da mesma forma, esse casamento era bom para o jogo político. Suas tias e tios não ligavam, para eles o evento social é o que contava. Do outro lado da linha estavam Alicia, a avó de Henry, Mary, e, Caroline Sanders, que, apesar de não se opor a Kelly em hora nenhuma, e até gostar dela, mostrou aversão aos familiares, principalmente Ziva e Abby.

E essa divisão teria que ser muito bem contornada por Kelly, pois Caroline tinha o poder de tentar desmanchar o casamento, principalmente se Alícia se envolvesse. Não era uma forma ideal de se começar a vida de casado, porém, com certeza, não faltariam apoiadores a esta união.

Com o fim dos abraços e das felicitações, algumas pessoas começaram a se despedir e rumarem para casa, dizendo que na próxima semana estariam juntos novamente.

Ao final, restaram Kelly, Henry, seus pais e irmãs, Jethro, Jackson, Sophie e eu.

Caroline, ainda incomodada com o fato de que a família Gibbs tinha dado mais presentes e sido mais participativa no arranjo do casamento do que a Família Sanders, resolveu por uma questão na mesa.

—  Bem, eu sei que vocês dois não tiveram tempo de decidir sobre a Lua de Mel, ainda mais com a formatura de Kelly na Academia Naval. E eu ficaria imensamente feliz em poder organizar isso para vocês. É só me falarem o destino. Para facilitar, podem até ir com o jato da família. Não irá me atrapalhar em nada, não é querido?

Vi Henry ficar desconcertado. A mãe dele sempre coloca os interesses dela à frente dos demais. Claire escondeu o rosto atrás da tela do celular. Alicia deu um sorrisinho cínico.

— Agradeço a preocupação, mas não é necessário. – Kelly respondeu educadamente. – Além do mais, organizar algo assim tão em cima da hora é muito difícil. A senhora só tem que se preocupar com a cerimônia na próxima semana. – Disse com um sorriso.

— Vai ser o primeiro casamento que vejo onde os noivos não sairão para a Lua de Mel. E onde vão passar a noite de núpcias? Dentro do carro? Creio que lá não tem espaço para... – Alícia alfinetou.

Sophie ficou inquieta do meu lado, Jethro pôs um braço ao redor dos ombros dela e a abraçou, sussurrando algo em seu ouvido.

Henry e Claire encararam a irmã.

— Você parece saber muito bem como é fazer isso dentro de um carro, hein, Alicia? – Claire retrucou.

Henry coçou a garganta e apontou para Sophie, eu agradeci por isso, pois sabia que mais cedo ou mais tarde minha filha viria com mil e uma perguntas sobre o que ela não havia entendido da conversa dos adultos.

Claire pediu desculpas e Alicia ficou sem graça diante do olhar do pai. Kelly, doida para mudar de assunto, perguntou para Claire se ela já tinha tudo pronto. Porém Caroline não desistiria.

— Por que vocês não vão, ao menos para o Hawaii? Nem é tão longe assim... lógico, não se compara com uma viagem para Paris, mas vai servir.

Henry estava pronto para responder a mãe e dessa resposta não sairia nada de bom, pois Alicia já estava se preparando para o comentário seguinte, quando eu tive que interromper:

— Eu deixaria isso para a próxima semana, mas já que o assunto veio à tona. – Abri a minha bolsa, tirei um envelope e o estendi aos noivos. – Creio que é a oportunidade perfeita.

Kelly pegou o envelope e o entregou para Henry, depois me encarou.

— Já não basta de presentes por hoje? – Perguntou sem graça. – Olha o tanto de coisas que vocês já me deram! – Ela parecia querer me passar um sermão.

— Você nem sabe o que é! – Disse suavemente.

Kelly balançou negativamente a cabeça e se voltou para o envelope. Os dois o abriram juntos e eu só escutei Kelly se engasgar.

— Você não fez isso!!

Dei de ombros.

— O que é? – Caroline Sanders perguntou curiosa.

— Nossa lua de mel. – Foi a resposta simples que Henry lhe deu. – Jenny nos deu a nossa viagem de lua de mel.

— E para onde é? – Agora, até Alicia estava curiosa.

Kelly retirou o roteiro e ficou abismada. Contudo, se recompôs e com um sorriso presunçoso e um tom um tanto quanto cínico, disse:

— Para as Ilhas Gregas. Esse é um bom lugar para se ter uma Lua de Mel, agora?

O queixo de Alicia foi ao chão. Caroline ficou sem palavras.

— Bem, Caroline, talvez você aprenda agora que fazer as coisas com discrição é muito melhor. – O Senador disse ao se levantar para atender a uma chamada. Alicia o acompanhou e saiu batendo a porta da casa. Caroline Sanders ficou tão sem graça que arrumou uma desculpa esfarrapada para ir embora. Foi Claire quem soltou:

— Tem como vocês me adotarem? Porque eu acho muito injusto que só o Henry tenha conseguido sair dessa família! – Disse ao nos abraçar se despedindo. – Eu prometo que não dou trabalho!!

— Nem comece, Claire, quero ficar livre de você também! – Henry brincou com a irmã preferida e a escoltou até o carro, Kelly foi junto por educação e quando voltaram, já livres de terem que atuar para serem perfeitos, os dois soltaram:

— É muito feio usar uma criança para obter informações, Diretora Shepard! É muito feio! – Kelly falou apontando um dedo para mim.

Jethro e Jackson olharam para Sophie, pedindo explicações.

— A mamãe só me pediu para descobrir para onde eles tinham vontade de viajar...

— E você faz tudo o que a sua mãe pede, não é mesmo? – Jack perguntou, cutucando a neta nas costelas, ela só começou a rir.

— Para falar bem a verdade, vovô.... eu me meto em um monte de problemas tentando ajudar um monte de gente, mas eu gosto! – Ela tinha um sorriso travesso.

— Disso ninguém duvida! – Jethro disse e encarou a filha. Creio que relembrando o dia em que ela chegou passando mal dentro do NCIS.

— Eu realmente estava com crise de enxaqueca! – Ela se defendeu do olhar do pai.

Kelly e Henry ficaram muito concentrados nos papeis da viagem e Jack questionou:

— Um dia eu vou ficar sabendo sobre tudo o que vocês aprontam aqui em Washington?

— Melhor não, Jack! Acredite em mim! – Eu falei escondendo um sorriso.

Conversamos mais um pouco, porém, Sophie começou a se recostar no colo do avô com cara de sono, era a nossa deixa para ir embora.

— Vão ficar aqui? – Jethro perguntou.

— Sim... temos que organizar algumas caixas que já estão lá em cima. – Henry respondeu ao sogro. – E, senhor Gibbs, muito obrigado por tudo.

Jethro ao invés de responder, deu um sonoro tapa na cabeça do genro. Kelly o olhou ultrajada. Já Sophie...

— Acho que o papai está começando a gostar de verdade de você, Henry!!

Jethro se despediu de Kelly e tomou Sophie de meus braços, murmurando qualquer coisa sobre aquilo ser o segredo entre os dois.

Me despedi dos noivos e me coloquei a disposição para ajudá-los no que fosse preciso.

— Nos ajudar ainda mais? O que mais você vai fazer, Jen? Nos adotar?!

— Pare de ser tão exagerada, Kelly.

— Tudo bem. – Ela me abraçou apertado e me agradeceu pelos presentes e por todo ajuda até ali. Henry fez o mesmo.

A primeira parte da provação tinha terminado, o desfecho seria em oito dias.


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Notas finais do capítulo

Ziva é muito gente da gente e só quer ver o circo pegar fogo!! Quem nunca, né?
Na minha história não é a noiva que vai ser recebida pela família do noivo, é o noivo que vem fazer parte da família da noiva! Vamos inverter esses papéis um pouco, né?
Sophie, como sempre, é a pestinha do papai e fez exatamente o que ele queria fazer!
Obrigada a você que leu e agradeço a todos os comentários!
Se preparem que no próximo capítulo já começam os preparativos para o grande dia de Kelly!
Até lá!!



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