Hoje será meu primeiro dia de aula. Minha avó me matriculou no Instituto Fukurodani, dizendo que é uma escola muito boa. Não sei quais são as expectativas de minha avó, mas sinto que terei dificuldades nas matérias. Na escola onde eu estudava no Brasil, as aulas não eram tão boa, porém, as piores eram as aulas de física, pois o professor não colaborava. De resto, eu ia bem na medida do possível, sempre estudando por fora.

Parei em frente aos portões da escola e suspirei. Será que não posso voltar pra casa e tentar me acostumar com o Japão primeiro? Pensando bem, isso não ajudaria muito… Provavelmente eu ficaria trancada em casa jogando vídeo game. Então é isso, vamos enfrentar o primeiro dia logo. Se eu encarar dessa forma, ele passará rapidamente.

Entrei pelos portões e tentei encontrar a sala da direção. Essa escola é enorme. Estou perdida e tenho vergonha de me comunicar com estranhos. Ok, essa minha vergonha vai acabar comigo qualquer dia.

Enquanto me perdia em pensamentos, acabei esbarrando em uma pessoa. Ótimo, agora ela vai querer brigar comigo, com certeza. Da escola onde eu venho, se uma pessoa esbarra na outra, mesmo que sem querer, acaba apanhando. Com isso em mente, fechei os olhos fortemente.

— Me desculpe por isso. - Falei com os olhos ainda fechados, esperando qualquer golpe.

— Você está bem? - Ouço a voz calma de um garoto.

— Não vai me bater…? - Questiono abrindo somente um dos olhos.

— Não. É nova por aqui, certo? - O garoto de cabelos negros perguntou.

— Sim… Me mudei para o Japão a pouco tempo… - Respondi me recompondo.

— Entendo. Se está procurando a sala do diretor, é só seguir reto este corredor e virar à direita. É a primeira porta. - O garoto explicou.

— Obrigada! Aliás, meu nome é Ayaka, qual é o seu? - Perguntei sorrindo.

— Akaashi Keiji. - O garoto se limitou a responder a pergunta.

— Akaashi-san, muito obrigada! - Agradeci e segui pelo caminho indicado.

Chegando a sala do diretor, ele me explicou como funcionavam as coisas na escola, falou sobre os clubes e atividades que ocorrem em certas épocas do ano. Confesso que fiquei maravilhada de ver o quão diferente a Fukurodani é, comparada a minha antiga escola. Espero me dar bem com todos. Não suporto mais ouvir piadinhas sobre minha mancha de nascença e minhas cicatrizes.

Por eu ter uma mancha de nascença na região da nuca, sempre me zoavam por isso, falando que eu não tomava banho e era suja. Não gosto dessa mancha, então evito prender os cabelos. Só os prendo quando acho necessário ou quando está muito calor.

O diretor, depois de me explicar tudo, falou para eu seguir até a sala dos professores, pois ele me guiaria até a sala de aula. Segui suas instruções e encontrei o professor do segundo ano colegial, série em que fui matriculada.

Chegamos na classe e fui pega de surpresa. Não sabia que precisava me apresentar na frente de todos. Isso me deixou nervosa e trêmula por um longo tempo. O professor me chamou, indicando que eu poderia entrar na sala e me apresentar.

— Ahn… Bom dia. Meu nome é… - Fui interrompida pelo professor.

— Fale um pouco mais alto Ayaka. - O professor sussurrou para mim.

— Desculpe! Meu nome é Ayaka Lettiere e venho do Brasil! Então… Espero me dar bem com todos vocês! - Falei rapidamente e um pouco mais alto.

— Ótimo. Seja bem-vinda Ayaka. Pode se sentar na carteira ao lado de Akaashi. - O professor indicou uma carteira vazia no meio da sala.

— Akaashi…? - Me virei e o vi pegando seu material.

— Agora, vamos começar nossa aula. Trouxeram o dever de casa? - O professor perguntou.

Enquanto via alguns alunos suspirando derrotados, outros me encaravam com um olhar sugestivo. Já sei. Devem pensar que faço programa. É isso que pensam de brasileiras. Sei disso. Entretanto, nem um corpo bonito eu tenho. Eu sou meio “fora dos padrões de beleza” de qualquer brasileira.

Ignorando isso, sentei-me na carteira ao lado de Akaashi. Olhei de soslaio para ele. Queria começar um diálogo, mas ele parece ser um garoto quieto, de poucas palavras. Mesmo assim, arrisquei conversar.

— Ahn… Que aula é agora? - Perguntei o cutucando.

— Física. - Ele respondeu.

— Física… Nunca fui boa com essa matéria… O professor é bom? - Questionei.

— Aprendemos muito com ele ano passado. Espero continuar aprendendo. - Ele respondeu.

— Hm… Participa de algum clube? - Lembrei do diretor citar alguma coisa de clubes.

— Sou do clube de vôlei masculino. - O garoto respondeu.

— Vôlei? Posso ver o treino de hoje, por favor? - Juntei minhas mãos e pedi animadamente.

— Gosta de vôlei? - O garoto questionou.

— Gosto sim! Eu jogava muito na escola onde estudava! - Exclamei alegre.

— Entendo. Se quiser assistir, os treinos começam logo depois das aulas. - Akaashi falou.

— Muito obrigada! - Exclamei feliz e sorrindo para ele.

— Ok Ayaka, fale sobre vôlei depois. Preste atenção nas aulas. - O professor interrompeu a aula para chamar minha atenção.

— Me desculpe! - Falei envergonhada. Não sabia onde enfiar a cara.

Parece que irei me dar bem por aqui. Até agora só falei com Akaashi, mas creio que conseguirei me enturmar com o tempo. Só espero não ser tratada mal por aqui também.