O Recomeço escrita por Caroline Miranda


Capítulo 9
Capítulo Oito




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Quinze minutos mais tarde, Elizabeth e John estavam na Horizon Library. Ela disse para si mesma que não ficaria mais do que uma hora por ali, apesar de ser tão difícil; tinha costume de ficar horas e horas em livrarias, as prateleiras eram convidativas demais, uma mais do que a outra. Os autores lhe inspiravam mais do que o habitual, o cheiro dos livros, o chão de madeira, até mesmo a cor gelo das paredes conseguia encher os olhos de Elizabeth. Seus pulmões se encheram de ar, seus olhos de brilhos, seus lábios de sorriso. Verona tinha uma mulher feliz.

— Eu amo livros, mas você é um nível surpreendente — John disse, de queixo caído.

Elizabeth riu enquanto andava lentamente analisando a prateleira de drama adulto. — Meu primeiro livro foi O Pequeno Príncipe, ganhei com apenas quatro anos. Eu amava — ela disse, sorrindo. — Eu não amo só ler, amo escrever também. Sabe aquelas competições do colégio? Eu participava de todas, e geralmente sempre estava ganhando medalhas.

John ficou boquiaberto por um momento, não esperava aquelas informações. Coçou a sua barba com o seu indicador, pensativo. — Elizabeth, eu posso te perguntar algo? Já que estamos aqui.

Ela pegou um livro, folheando-o. — Claro, Phill.

— Você está feliz atualmente?

Ela desviou o olhar até John. — Como? — voltando a folhear o livro.

— Digo — ele deu de ombros. — Na Potere.

Elizabeth riu histericamente. — Claro que sim, que pergunta foi essa? — ela colocou o livro de volta na prateleira.

John pensou que foi uma péssima transição para aquele assunto, mas, ele nunca a viu com aquele brilho no olhar ao entrar na Potere; ele nunca a viu demonstrando todo aquele amor explícito ao falar da revista. Ela era uma empresária incrível, isso era um fato que todos concordavam, mas será que ela estava feliz com toda aquela rotina? Será que ela estava tão satisfeita com a sua vida nos últimos anos? Talvez. Porém, ele não estava na vida dela nos últimos sete anos, mas entendia o suficiente para ver que ela não estava completa. Talvez ela ainda não tivesse entendido o que queria para a sua vida ao certo e, isso de algum modo, explicava o suspiro que deu noite passada quando ele citou que descobriu o que queria aos seis anos de idade. Seus pensamentos entraram em uma espécie de labirinto de questões e respostas lógicas. Ele queria ajudá-la, mas não sabia se ela queria ser ajudada. Era difícil compreender.

Quando deu por si, olhou por cima de seus ombros, Elizabeth não estava mais naquele corredor. Onde será que ela estava? Provavelmente muito irritada com aquela perguntada inescrupulosa. Ele recriminou-se por tê-la feito a Elizabeth, e acabou sentindo que era um verdadeiro tolo algumas vezes em seus pensamentos.

— Você é um idiota, John — ele murmurou para si mesmo.



Elizabeth começou a rir ao vê-lo daquele jeito, encostou-se na prateleira para apreciar a situação por alguns segundos; estava abraçando quatro livros e, de certo modo, parecia um pouco confusa com John daquele jeito, mas achou tão atraente o modo como ele estava que ficou analisando por um longo tempo. Deveria mesmo deixá-lo se torturando, ela pensou. Mas, não seria justo com ele, não depois da noite incrível que os dois tiveram, aliás, dos meses.

Talvez, por um breve momento, ele estivesse com um pouco de razão sobre aquilo que havia perguntado para ela. Será que ela estava feliz mesmo? Será que todos os anos na Potere foram de pura excitação profissional? Todas aquelas questões entraram de forma coerente na mente de Elizabeth. Então, ela fez questão de lembrar da forma como se portava ao escrever pensamentos, coisas pequenas em seu notebook, até mesmo em post-it. Temia estar entrando em uma crise existencial, mas em pouco tempo teria trinta anos; era hora de começar a rever coisas que iriam afetar sua a vida em longo prazo.

Dose de coragem, Elizabeth.

— Ei — ela disse, aproximando-se de John. — Podemos nos sentar para conversar?

Ele assentiu para ela. — Claro que sim — ele sentou-se em uma das cadeiras que tinha sobre a livraria.

Elizabeth sentou-se ao seu lado logo após, colocando os livros sobre a mesa. — Você está certo — ela deu de ombros, desviando o olhar para o chão. — Eu fui obrigada a assumir aquela empresa, não tive chance de recusar. Acho que a minha mãe foi um pouco egoísta comigo, eu entendo que ali foi a vida dela, mas...

— Mas não significa que seja a sua também — ele disse, completando para ela.

— Exatamente. Ela não perguntou se era isso que eu queria para mim, mas essa é a minha vida, então... — ela forçou um sorriso.

Ele acenou negativamente com a cabeça, franzindo a testa. — É assim que se imagina nos próximos cinquenta anos? Vivendo algo que não quer viver porque a sua mãe quis?

— Próximos cinquenta anos... — ela disse, pensativa. — Eu não sei...

John encostou a testa sobre a de Elizabeth, sorriu ao ver o brilho daqueles olhos verdes que tanto amava.

— Doses de coragem, Dean? — ele murmurou.

Elizabeth fechou os olhos vagarosamente, ao permitir que o cheiro de John alegrasse o seu dia. — Doses de coragem! — ela disse, sorrindo.



Eles pensaram que seria agradável um dia de folga, principalmente depois de semanas cansativas de trabalho e, bem, assim tiveram. Depois de muitas horas na livraria lendo algumas páginas dos livros mais incríveis daquele local, foram diretamente à Caffè Benevolo II alimentar o vício de Elizabeth — café com creme e raspas de chocolate —, claro. Seus olhos brilhavam ao tomar aquelas gotas abençoadas do paraíso, como ela era uma mulher feliz naquele momento. John preferiu o bom e velho café preto, ele não era de se render aos prazeres dos cremes, tinha suas teorias sobre eles.

Um pouco mais tarde foram ao parque para darem uma volta, queriam aproveitar aquele clima mais ameno da Itália. Agradeciam mentalmente por não estarem mais derretendo como picolés em uma panela. Apreciavam também como o outono deixara tudo mais bonito e convidativo. Verona enchia os olhos de qualquer um e, para eles, era um dos melhores lugares na terra.

— Eu amo a Itália, Verona é incrível — Elizabeth disse, saboreando seu delicioso sorvete.

— Você nunca sentiu curiosidade de conhecer outros lugares? Austrália? Japão? Índia? Qualquer outro.

Elizabeth assentiu. — Sim, mas nunca fui para muitos lugares. Eu fui para o Canadá quando tinha dois anos, mas não me lembro de nada — ela riu, balançando as mãos.

Ele encostou-se no banco, olhando para o céu enquanto sentia o frescor sobre sua pele. — Família do seu pai?

— Sim, mas eles nunca ligaram para mim o suficiente. Então, eu simplesmente faço o mesmo.

Ele ergueu as sobrancelhas, surpreendido com aquilo. — Quanto mais tempo passamos juntos, mais surpreso eu fico com você. Desde quando você é assim tão...

— Tão decidida? — ela completou.

— Exatamente! — ele exclamou.

— Personalidade forte, Phillip — ela disse, com sarcasmo. — Notei uma coisa agora.

— O quê?

— Você não está com sua câmera — ela comentou.

— Aparentemente estou apreciando esse momento apenas com os meus olhos.


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