O Recomeço escrita por Caroline Miranda


Capítulo 2
Capítulo Um




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Duas xícaras de café misturadas com creme e raspas de chocolate fizeram milagre na tarde de Elizabeth. Seu dia havia sido recheado de estresse com uma pitada de muitas papeladas. Ser chefe de uma das principais revistas da Itália era normalmente instigante, mas para apenas uma mulher de vinte e seis anos isso era um pouco assustador algumas — notórias — vezes.

Amava gastar boa parte do seu tempo na Caffè Benevolo II. Uma ótima cafeteria com mesas espalhadas pela calçada, lugar onde Elizabeth sempre amava sentar. A aparência rústica enchia seus olhos de brilho, a fazia apreciar cada segundo que ficava naquele lugar. Não imaginava como sua vida seria caso não existisse os famosos biscoitos amanteigados ou o café que tanto lhe acalmava.

Ela adorava observar como as pessoas gastavam suas vidas correndo de um lado para o outro com tantos intermináveis papéis em suas mãos, telefonemas, e-mails; eles não buscavam ter um tempo para refletir. Nessas ocasiões, os pensamentos de Elizabeth oscilavam entre preocupações, mas também entre viver a vida de um modo mais sublime, despreocupado. Ela bebericou um pouco mais do seu delicioso café com creme e raspas de chocolate enquanto seus pensamentos entraram em dolência por mais uma vez naquele dia.

 

 

Há quatro anos Elizabeth havia perdido o seu amado marido George. Muitas pessoas lhe falaram da loucura que era se casar com apenas dezenove anos de idade, Elizabeth pouco se importou, estava tão apaixonada e certa do que estava fazendo; de fato, o casamento foi excessivamente aprazível. Porém, o destino foi um pouco cruel com os dois, Elizabeth e George viverem anos felizes — extremamente felizes para qualquer casal — até George falecer em um trágico acidente de carro, isso abalou Elizabeth e todos em sua volta.

Eles se conheceram assim que ela assumiu a revista Potere, logo após sua mãe falecer. Ela havia sido diagnosticada com câncer de mama, estágio metastático. George ajudou Elizabeth com tudo, ele era fotógrafo na revista; através de algo tão terrível eles puderam se conhecer tão profundamente, dando abertura aquele sentimento tão intenso e belo.

Elizabeth entrava em transe com os seus pensamentos ao relembrar como sua vida era ao lado de George. Não conseguia acreditar que já haviam se passado quatro anos desde a sua partida. Eles viveram apenas três anos juntos. Por que o destino só havia lhe proporcionado isso? Apenas três anos...

Suas mãos deslizavam com força sobre os fios de cabelos sempre que lembrava que precisaria enfrentar aquele terrível julgamento.

Tudo bem, Elizabeth. Você tem as suas amigas.

Ela pensou pela décima vez naquele dia.

Ela sabia que para encerrar aquele capítulo tão terrível do acidente, ela precisaria encarar de frente Daniel.

 

 

— Elizabeth, me perdoe pela demora. Fiquei presa no trânsito pela décima vez essa semana. Como podem falar que a Itália não estressa nenhum ser humano? — Jennifer disse, em um tom irritado e alterado.

— Jennifer — Elizabeth riu —, você está grávida, sabe que não pode ficar estressada.

— Meu bem, eu estou grávida, não doente.

Jennifer sentou-se de frente para Elizabeth. Ela sabia quando a melhor amiga estava triste, percebia cada traço desolado naquele rosto; como também as preocupações que tanto insistiam em  atormentar os pensamentos de Elizabeth.

— Você não está bem, Elizabeth — ela pegou o cardápio. — Diga-me, aconteceu algo?

Elizabeth deu de ombros. — Você sabe, o mesmo de sempre... trabalho.

— Hummm… — Jennifer ruminou, deixando o cardápio em cima da mesa para tocar a mão de Elizabeth. — Eu te conheço desde que você estava na barriga da sua mãe, sei mais de você do que você mesma, sei que não são só questões do trabalho. O julgamento está relativamente próximo, então a sua cabeça está uma confusão, mas vai tudo ficar bem. E acredite, ele será condenado por tudo.

Elizabeth deixou um sorriso transparecer em seus lábios.

Jennifer prosseguiu. — Eu sei que a vida é muito difícil algumas vezes. Na maioria das vezes, na realidade. Mas, você é muito corajosa.

Os olhos de Elizabeth ficaram marejados. Jennifer não esperou uma resposta, muito menos queria uma, elas tinham uma conexão especial. Quando Jennifer disse que conhecia Elizabeth desde que ela estava na barriga da mãe, ela havia falado literalmente. Jennifer tinha apenas três anos quando Elizabeth veio ao mundo, a diferença era muito pouca entre as duas; significava que elas compartilharam tudo: roupas, brinquedos, lanches na escola, livros, sapatos, maquiagem. Porém, agora elas eram mulheres com vidas independentes, Jennifer era casada há dez anos com Mike. Elizabeth era madrinha de casamento, também seria madrinha dos gêmeos do casal. Pode imaginar? Dos dois. Um pouco mais além, ela também era redatora-chefe na Potere, somente um cargo abaixo da dona da revista; na ausência de Elizabeth, tinha autoridade para tomar muitas decisões, algo que somente melhores amigas de anos poderiam ter essa liberdade. Mike por sua vez não se aventurava nesse mundo, ele preferia o mundo da psicologia. Era um psicólogo de extrema importância com uma sensibilidade incrível.

 

 

Sábados e domingos eram regados a ciclos intermináveis de trabalho e livros. Elizabeth pensara quando havia sido a última vez que deixou-se render aos encantos da noite para se divertir com as amigas, provavelmente há cinco meses. Similarmente significava que havia sido algo péssimo para os pensamentos dela, era assombroso lembrar como alguns homens poderiam ser terrivelmente péssimos ao tentarem ser algo que na realidade não eram para as mulheres. Elizabeth não era de tentar conhecer muitos homens, e das poucas vezes que havia tentado, não terminou de um jeito agradável. Para ela ficar citando toda hora o quanto seu cabelo loiro curto nos ombros e seus olhos verdes eram sexys não era tão ruim, mas o quanto isso ficava irritante na voz daquele último homem, isso sim era insuportável. Lembrar daquilo fez a pasta que havia comido no almoço revirar em seu estômago. Certamente ela gostaria de nunca mais cruzar na rua com o homem super musculoso de cérebro pequeno, havia sido dessa forma que ele acabara sendo nomeado por suas amigas.

Depois do seu casamento com George, Elizabeth não havia uma lista promissora ou extensa de relacionamentos ou futuros relacionamentos. Ela não era de ir para cama com muitos, na realidade não gostava disso; nas poucas vezes que foi, não sabia ao certo porque fizera aquilo, talvez por carência demasiada. Mas nenhum para ocupar o seu coração, preencher o espaço que George havia deixado.

As noites frias eram mais frias para ela, filmes de romance eram rotina. Na realidade ela havia aprendido viver sozinha, se adaptado. Por diversas vezes pensou em adotar milhares de gatos, se render em ter diversos e não somente um; o pequeno Ozzy, um gato todo branco de olhos verdes, completamente carinhoso, gordo e comilão. Elizabeth achava que era só isso que ela precisava.


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