O Recomeço escrita por Caroline Miranda


Capítulo 17
Capítulo Dezesseis




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Algumas horas depois Elizabeth estava finalmente com a sua família. Sua felicidade poderia ser exalada por qualquer local aparentemente e, de certo modo, deixava todos tão felizes quanto estavam antes de sua chegada. Tudo continuava da mesma forma, exceto por algumas coisas que mudaram desde o feriado em agosto; Andrew agora estava namorando uma bela italiana, mas ela não havia ido muito bem com a cara de Elizabeth, ficava encarando a cada cinco segundos, Elizabeth pensou que tudo bem, ao menos Andrew pararia de flertar com pedaços de lasanha ou qualquer coisa do tipo. Carlo seria avô pela primeira vez, sua prima Michele estava grávida de apenas três meses, esbanjava tanta alegria que contagiava a todos. Luna não tinha mais os fios vermelhos, agora estavam pretos como a escuridão, ela havia se desprendido da cor que carregou por tantos anos. Algumas pequenas mudanças fizeram muita diferença para Elizabeth que recebera tudo de muito bom grado, principalmente quando envolvia Andrew e sua namorada.

 

 

O jantar estava sendo calmo para uma família tão agitada e barulhenta, aparentemente ninguém havia perguntado por John — por enquanto tudo ocorria perfeitamente bem —, alguns olhares peculiares de Andrew, tornava um pouco difícil digerir a pasta. Elizabeth pensou que um pouco mais de molho ajudaria a fazer com que tudo descesse de uma forma agradável.

— Eu estou tão empolgada para ficar esses dias com você, nonno — Elizabeth disse, quase afundando sua cara sobre o prato, tentando desviar do olhar de Andrew.

— Eu também estou feliz por você estar aqui, aliás... — Giovanni largou o garfo sobre o prato. — Cadê os seus amigos?

Ela franziu a testa, fechando os olhos fortemente. Elizabeth sabia que o seu avô perguntaria uma hora ou outra dos seus amigos e, que isso, consequentemente, levaria a John Phillip. Que merda, nonno; ela pensou. — Meus amigos… hummm... — ela ruminou, pensativa. — Estão com suas famílias, sabe? É Natal, eles querem ficar em família.

Fez-se silêncio por um tempo.

Ao que se via, sua família certamente notou seu desconforto ao tocar naquele assunto.

— Andrew, como você conheceu a sua namorada? — Elizabeth questionou, bebericando um pouco do vinho.

— O quê? — ele respondeu, parecia um pouco confuso e desconfortável.

— Vocês me parecem bem apaixonados — ela disse, sorrindo.

— Nós estamos apaixonados, Elizabeta — a namorada disse, de modo seco e sarcástico.

Elizabeth ergueu o indicador em direção a namorada, franzindo a testa. — Elizabeth, por favor.

O clima parecia ter ficado bem árduo naquele momento, era visível para qualquer um. Elizabeth conseguiu notar o quão sarcástica ela havia sido, isso a deixou profundamente irritada e chateada. Porém, naquele momento pensou um pouco em John, pensou que deveria acalmar-se diante de tudo, sabe... doses de calma, de coragem. Com toda aquela distância, sem notícias, mesmo assim ele estava proporcionando de algum jeito; mesmo que boa parte de tudo aquilo seja resumido em saudades, em necessidades, ele estava proporcionando.

Em poucos segundos Elizabeth se manteve calma, novamente estava de volta sobre Vernazza com sua família, sem pessoas com provocações. Era por esses motivos que ela estava lá, por sua família, principalmente em razão de Giovanni e Carlo.

 

 

Um banho quente fez uma grande diferença depois de uma viagem longa, Elizabeth conseguia sentir todos os seus músculos relaxando continuamente sobre o colchão macio; era como estar no paraíso, e tudo isso era muito bem refletido em seus lábios com um belo sorriso. Sem toda aquela loucura de olhares raivosos, sem barulhos em sua mente, sem papeladas, sem pensamentos ruins, sem absolutamente nada — apenas ela e Ozzy como bons companheiros que eram — aquilo estava sendo as férias tão desejadas em anos.

— Eu esperei isso por anos — ela murmurou para si mesma.

Elizabeth estava pensando que fazia um bom tempo que os seus pensamentos não estavam mais confusos. Afinal, ela estava descobrindo-se e revelando-se plenamente, mas gostaria de entender o porquê John veio em seus pensamentos daquela forma tão vorazmente no jantar. Era algum tipo de castigo? Mas, castigo de exatamente o quê? Ela precisava entender.

Olhou algumas vezes para o celular ao lado. Naquele momento o seu coração estava disparado como se fosse uma adolescente beijando pela primeira vez, os seus sentimentos pareciam ser exatamente os mesmos se fossem para serem comparados na mesma medida. Tudo bem, ela não queria ser racional naquele momento, mas ao mesmo tempo estava tentando ser. E se John atendesse? O que ela falaria?

Oi, quanto tempo. Você está bem?

Oi, podemos conversar agora?

Por que fazer uma confusão tão grande, Elizabeth? Ela pensou enquanto ouvia a ligação se estender a cada segundo. Isso era uma besteira? Provavelmente. Ou, talvez, ele havia mudado de número, ele já não estava na Itália, estava no Japão; talvez em qualquer outro lugar do mundo, é do John Phillip que estamos nos referindo. Ela estava pensando que havia sido uma péssima hora no momento em que decorou o número dele em sua cabeça.

 

Oi, aqui é o John. Eu não posso atender no momento, mas deixe o seu recado e eu prometo retornar o mais breve possível.

 

Era real, não havia meios de comunicação. Isso era bom ou ruim? E naquele momento ele com certeza poderia estar com outra mulher. Que horário deveria ser no Japão agora? Bom, agora estaria de dia. Então ele deveria estar trabalhando, ou deveria estar com alguma outra mulher conhecendo a cultura japonesa.

— Para, Elizabeth — ela disse, com raiva de si mesma.  

Tentou se convencer com as suas próprias palavras naquele momento. Não importava mais para ela, era a vida dele. Tudo o que ela precisava naquele momento era focar nas suas férias e tirar John de seus pensamentos, estava tudo bem usar as doses de coragem algumas vezes, ele ensinou isso para ela, era uma descoberta, mas só. Agora os passos seriam somente dela, os créditos seriam para ela, estava na hora de criar as suas próprias asas e voar.

Doses de coragem para si mesma, Elizabeth.

 

 

Ler ajudou Elizabeth passar boa parte da madrugada com os seus pensamentos longe de qualquer parte do mundo, ela amava o fato de conseguir desligar-se tão depressa quando estava com um livro em suas mãos. Porém, sua boca estava inegavelmente seca, não podia adiar por nem mais um segundo a sua ida até a cozinha.

Ela ajeitou um longo kimono vermelho sobre o seu corpo, escondendo um pouco a camisola de seda que estava usando. Riu ao ver Ozzy dormindo como uma bola de golfe sobre as cobertas, certamente estava sentindo falta de sua dona o aconchegando e deixando quentinho.

— Eu voltarei rapidamente, seu preguiçoso.

Elizabeth colocou as pantufas em seus pés que já estavam congelados como duas pedras de gelo, o frio em Vernazza estava castigando qualquer um. Seu corpo tremia da cabeça aos pés, cada fio de seu cabelo e os passos até a cozinha foram dolorosos demais. Elizabeth ficara se perguntando o por quê não havia deixado uma garrafa d’água na escrivaninha, teria sido uma decisão inteligente naquela altura. Ah, como estava desejando que sua saliva matasse a sua sede, por que não? Poderia, não é? Isso seria muito útil naquele momento. Depois daquele verão, não estava acostumada com um frio tão severo e, bom, que falta estava fazendo — aquele outro lá — sem nomear.

— Finalmente — ela murmurou, entre os dentes pelo frio que estava sentindo.

Seus dedos estavam congelando, ela estava com a sensação de que eles estavam em câmera lenta ou travando, isso em algumas raras vezes lhe causava crises de risos. Já poderia estar imaginando o quão avermelhada sua pele estaria com aquela sensação térmica baixa; seu nariz estaria tão vermelho quanto um pimentão e os seus lábios tão vermelhos quanto um molho para pasta. Para todos os casos, uma maquiagem natural iria lhe cair muito bem, isso certamente a fez rir por longos segundos.

— Estava sentindo falta da sua doce risada, miele — Andrew disse, apoiado no balcão da cozinha.

— Para de me chamar assim, Andrew — ela disse, parecendo irritada pelo susto que levou.

— Você adorava quando mais nova, de certo modo — ele pigarreou —, me parecia bem à vontade por aí.

— Adorava aos treze anos, eu já tenho vinte e seis.

Andrew aproximou-se de Elizabeth, deixando um suave sorriso sobre os lábios. — Você pode, por favor, parar de ficar na defensiva? — ele disse, de modo suave.

— Andrew, você pode, por favor, se afastar antes que a sua namorada chegue? Aliás, eu só estava com sede, já estou de saída. Tenha uma ótima noite.

— Você nem bebeu a sua água.

— Eu perdi a vontade de beber, Andrew — ela disse, alterando o tom da voz. Arfou, acenando negativamente com a cabeça.

— O John não presta mesmo... — ele disse, trincando os dentes. — Eu jamais te deixaria sozinha.

Elizabeth sorriu de modo cínico para ele, rolou seus olhos ao pensar que era muito típico do Andrew aquilo, muito óbvio. Já estava esperando por todo aquele teatro, e bem sabia que o momento de ir a cozinha de madrugada seria ideal para ele, deveria ter notado de primeira. Por que foi tão tola? Agora já era tarde demais. E se a namorada dele tivesse acordado naquele horário? Pouco importa o que ela fosse pensar, mas aguentar aqueles olhares em pleno Natal? Isso era demais para ela. Andrew adora doses fartas de dramas familiares, era só não dar esse gostinho para ele, não dessa vez.


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