O Recomeço escrita por Caroline Miranda


Capítulo 14
Capítulo Treze




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/773273/chapter/14

O casamento havia sido realmente lindo, todos os convidados foram embora com sorrisos em seus lábios e emocionados. Elizabeth não poderia estar mais feliz por tudo ter corrido tão bem, mas era prazeroso chegar em sua casa com John, tudo tornou-se ainda melhor após o longo banho de uma hora que os dois tomaram juntos, ela estava renovada de dentro para fora. A sensação de liberdade por estar sem toda aquela maquiagem, com o seu cabelo preso e um moletom muito confortável fazia os seus pensamentos hibernarem terminantemente, era como estar no paraíso em descanso absoluto.

 

 

Duas xícaras de chá de pêssego ao lado de biscoitos com gotas de chocolate, era tudo que Elizabeth precisava naquele exato momento. Ela mordia pequenos pedaços do seu biscoito enquanto dava longos goles sobre o chá, por outro lado, John não estava com fome, e não havia sido por conta do casamento, ele não trocou muitas palavras com Elizabeth na última hora; fez com que ela pensasse que havia feito algo para ele, mesmo que tudo estivesse perfeitamente bem, até mesmo durante a cerimônia e festa.

— Phill, você está bem? — ela disse, suspirando profundamente ao observar a expressão que John fazia.

Ele permaneceu em silêncio por um tempo, apenas movia a colher sobre o chá de um lado ao outro. Seu olhar estava perdido, mas não parecia triste ou irritado com algo, ou até mesmo com ela.  Ele parecia não ter dado ouvidos para o que ela havia acabado de dizer, isso de algum modo deixou Elizabeth irritada.

— O que você tem, Phillip? — ela exigiu saber.

Novamente o silêncio foi longo pelos cômodos da casa. A cabeça de Elizabeth estava imaginando muitas coisas naquela altura, tantas que não poderia por em palavras. Será que John estava arrependido de algo em relação aos dois? Todo aquele silêncio torturava os sentimentos, pensamentos e reações que Elizabeth poderia ter.

Ele deu de ombros, piscando os olhos vagarosamente. — Está tudo bem, Dean. Mas nós precisamos conversar.

Aquelas palavras só poderiam significar algo ruim, em poucos segundos Elizabeth começou a relembrar tudo o que fizeram nos últimos dias, na realidade, ela começou a relembrar todas as vezes que eles estiveram juntos nos últimos meses, mas nada lhe pareceu aterrorizante.

— Claro que sim, por favor.

— Com toda essa loucura do casamento, nós não tivemos tempo para conversar sobre muitas coisas, e eu acho que esse assunto merece uma devida atenção, entende? — ele disse, sua mão passava lentamente sobre sua barba. — Há um tempo eu havia recebido uma carta de um fotógrafo incrível, ele precisa de um outro fotógrafo para cobrir sua ausência por um tempo no trabalho, mas isso não vem ao caso. Ele entrou em contato comigo novamente semana passada.

Elizabeth sentiu um alívio percorrer os seus pensamentos, sentidos e corpo. Significava que não era algo ruim, mas não entendia por quê John estava tão abatido por contar aquilo.

— Isso é incrível — ela disse, sorrindo. — Você vai conseguir trabalhar somente com fotografias por um tempo, e isso é exatamente tudo que você sempre desejou.

Ele deu de ombros, forçando um sorriso. — Claro, isso é ótimo.

— Qual o problema, Phill? Está triste por deixar a Potere? — ela empurrou a cadeira para perto dele. — Está tudo bem quanto a isso, não se preocupe.

John permaneceu em silêncio por longos minutos que pareciam ter se tornado horas.

— Phill, você está me assustando agora — ela disse, rindo um pouco baixo.

— Não é em Verona.

Ela suspirou profundamente, sentia suas pernas trêmulas e suas mãos começarem a suar. — É em outro estado da Itália? Vicenza? Padova? Catania? Roma? Nós podemos dar um jeito.

Ele acenou negativamente com a cabeça, os seus olhos estavam marejados, Elizabeth nunca viu John reagir sobre algo daquele jeito.

— Não é na Itália — ele murmurou, ficou cabisbaixo por um tempo até voltar a olhar para Elizabeth. — É no Japão.

Ela ficou sem reação naquele momento, era bem provável que estava pálida, muito mais do que o habitual. Seus olhos estavam marejados, mas ela sabia que não deveria chorar naquele momento. Era algo bom para ele, era algo que ele sempre desejou em longo prazo, mas como eles ficariam? Não era uma distância fácil de suprir. Como seriam suas noites sem o John para lhe abraçar? Como seria os dias no trabalho sem a presença dele para alegrar os corredores da Potere?

— Você vai?

— Sim. Mas, olha... eu estive pensando em algo — ele virou-se para o lado, olhando atentamente para Elizabeth. — Você poderia ir para o Japão comigo, iria ser incrível. E isso faria tão bem para você, faria com que você pensasse melhor sobre os próximos cinquenta anos — ele sorriu de modo incentivador.

Ela franziu a testa, apertando os olhos por alguns segundos. Em seguida acenou negativamente com a cabeça. — Você está louco, Phillip? Eu não posso largar a Itália, a Potere, para viver atrás de você.

— Eu não disse para você viver atrás de mim, mas, sim que isso seria incrível para você.

— Hummm... — ela ruminou, levantando-se da cadeira. — Como seria a minha vida? Você vai para o seu trabalho super agradável, e eu fico te esperando chegar em casa? Esses serão os próximos cinquentas anos, Phillip?

Ele deu um longo gole em seu chá, que naquele momento, já estava frio como os invernos da Itália. — Eu não disse isso, tampouco quero que fique me esperando. Elizabeth, seria perfeito para você se descobrir, o Japão seria incrível para você ver outras coisas, experimentar uma cultura nova.

— E a Potere? Eu apenas largo ela por aí? — ela questionou, com sarcasmo.

— Podemos ser honestos? Você é totalmente infeliz naquele lugar. Por que insistir?

Elizabeth começou a rir de modo irônico, talvez tenha sido pelo nervosismo que estava sentido. John iria para o Japão, isso era uma certeza, mas ele estava sendo inconveniente ao tocar novamente no mesmo assunto do dia da livraria. Ao menos naquele momento, ela estava irritada demais para pensar em outras possibilidades.

— O quê? Você não sabe nada sobre a minha vida, Phillip.

— Vai continuar tentando se convencer que ama o que faz atualmente? — ele disse, dando de ombros. — Você era infeliz quando eu cheguei por aqui, você era reprimida e não sorria direito. Era tão deprimente te observar pelos cantos.

Ela ficou boquiaberta naquele instante, não estava acreditando como John conseguira ser tão insensível sabendo de todas as coisas que ela havia passado nos últimos anos. — Você é a pessoa mais insensível que eu conheci na vida.

— Insensível?

— Sim, extremamente insensível — ela disse, sentindo as lágrimas rolarem por seu rosto. — E quer saber? O Japão está esperando por você. Espero que você seja muito feliz por lá, John Phillip.

Elizabeth suspirou enquanto olhava uma última vez para John, ela havia terminado com ele naquele momento. Nunca esteve tão magoada com alguém antes, não esperava aquelas palavras sendo ditas pelo homem que passou os últimos meses acompanhando todas as lutas diárias que teve para superar as suas dores emocionais.

 

 

John realmente havia magoado os sentimentos que ela possuía, era difícil continuar olhando para ele naquele instante, Elizabeth deu alguns passos para fora da cozinha. Ela passou as mangas do moletom suavemente sobre sua pele para secar as lágrimas, mas elas insistiam em escorrer. Suas mãos estavam trêmulas, assim como as suas pernas também estavam, aqueles passos pareciam uma eternidade dentro de sua cabeça. Seus pensamentos estavam escuros, ela não conseguia enfatizar absolutamente nada, apenas aquelas palavras que havia acabado de ouvir.

— Você está terminando comigo, Elizabeth?

Ela parou de andar pelo corredor, virando-se de frente para John. — Não ficou óbvio? Vai para o Japão viver os seus próximos cinquenta anos. E aliás, nós nunca tivemos nada para terminar algo.

Apesar de tudo, ela ainda queria que John escolhesse ficar na Itália, ela ainda queria viver uma vida ao lado dele, estava desejando ouvir ele pedindo desculpas e, tudo bem, ela entenderia depois de um tempo. Isso seria egoísmo da parte dela? Talvez. Porém, Elizabeth não queria perdê-lo para sempre, não depois de todos os meses juntos, não depois de tudo, mas ela também não queria implorar por ele, não era justo com o seu amor próprio.

— Quer saber de uma coisa? — ele disse, aparentemente irritado e cansado. — Você afasta da sua vida todas as coisas que podem ser boas para você. É cansativo demais te amar, Elizabeth.

Ela ergueu as sobrancelhas, parecendo estar bastante surpresa com aquelas palavras sendo ditas por John, a raiva também estava consumindo os seus pensamentos que ficaram escuros em instantes. Fungou profundamente enquanto voltava a andar sobre o corredor, balançando negativamente a cabeça em cada passo.

 

 

John não havia pedido desculpas, não havia lhe dado um último beijo ou abraço. Eles terminaram da pior forma possível para Elizabeth, aliás, para qualquer um dos dois. Tantos momentos bonitos foram reduzidos em palavras mal ditas, mas agora era tarde demais para contestar algo. Não havia absolutamente nada para ser feito que pudesse reduzir o peso que aquelas palavras tiveram sobre os ombros dela, como também a forma como ela agiu quando soube da notícia. Nem ao menos parabenizou ele por sua conquista, era um dano complicado de reverter, de fato.

Elizabeth não percebeu o horário que John havia ido embora de sua casa, aquela noite fora difícil para dormir. Principalmente porque boa parte dela havia sido regada a lágrimas e tristeza, pensamentos ruins também fizeram parte das duras horas da madrugada. Às seis da manhã, Elizabeth não aguentava mais ficar no ciclo de vivenciar sua tristeza; um calmante fora perfeito para controlar os seus pensamentos e os seus sentimentos intensos e dolorosos.

 

 

As horas se prolongaram para o seu descanso: sem pesadelos, sem lágrimas, sem tristeza, apenas descanso. Isso estendeu-se pelo resto do dia e, quando deu por si, já eram cinco e meia da tarde.

Andar pelo corredor que brigaram, ir até a cozinha, justo naquele local que havia ocorrido a última conversa; isso realmente machucou Elizabeth, suas lágrimas não tiveram descanso algum. Sentia-se acabada por dentro, era como afogar-se em sentimentos em uma única vez. Tão doloroso.

Elizabeth separou uma xícara de café puro, mas naquele instante sua garganta parecia estar fechada para qualquer tipo de líquido ou alimento, era como se seu corpo rejeitasse todas as tentativas possíveis de coragem e resistência.  Ela sentou-se sobre a cadeira, sentindo que estava derrotada por completo naquele momento, John havia ido, acabou. Não havia mais nada além dela e Ozzy sobre a casa, e uma carta sobre a mesa.

— O quê? — ela sussurrou, sentindo sua barriga embrulhar.

Elizabeth pegou o pedaço de papel, analisando o que aquilo poderia ser. Antes que pudesse abrir, observou que por fora do papel havia algumas palavras. Ele estava dobrado em duas partes, em algumas partes pareciam ter caído algumas lágrimas, o que fez o papel ficar um pouco enrugado.

 

Por favor, leia isso ao acordar. Eu espero que ainda não seja tarde demais...

 

Aquela letra era familiar; era a letra do homem que ela amava e queria naquele momento, era a letra de John.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Recomeço" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.