Sign Of The Times escrita por Suh Souza


Capítulo 3
Capítulo 3 - You look pretty good down here




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Minha primeira lembrança ao desembarcar em Los Angeles foi o calor infernal no aeroporto que me fazia pensar ainda estar na Austrália e a carranca do meu agente que me esperava de com uma mala na mão para embarcar novamente para o outro lado do mundo para uma reunião relâmpago com a equipe de marketing responsável pelo One Direction em Londres. Ainda estava tonta pelas doze horas de voo fora a enorme diferença de fuso horário e tentei acompanhar o fluxo de informações que meu agente despejava sobre mim. Enquanto eu voava, longe de qualquer veículo de informação, as informações sobre o acontecido na Austrália voavam o mundo todo. Além do meu artigo irônico, algumas revistas de fofoca também publicaram o acontecido graças aos repórteres presentes e havia até uma foto tirada no momento em que o segurança me escoltava até a saída segurando meu braço que havia sido divulgada como provas de que eu teria sido inclusive agredida. O relato da própria fã que eu havia ajudado só piorou as coisas para o meu lado, como minha credencial era de imprensa, ela não foi autorizada a tirar nenhuma foto com os meninos e teve que se contentar com um aperto de mão e um autografo simples de apenas um integrante já que os outros atendiam aos demais membros da impressa que estavam por lá.

Meu agente permaneceu nervoso durante todo o tempo, e eu percebi que o assunto era realmente sério quando ele me informou que embarcaríamos em um avião particular da própria Modest! a fim de chegar a Londres o mais rápido possível. Estava cansada demais, e apavorada demais para ter algum pensamento racional: uma empresa como essa poderia facilmente arruinar uma escritora no início de carreira como era o meu caso. Meu pai tinha uma bem sucedida empresa de publicidade e com ele eu havia aprendido que qualquer informação falsa, poderia se tornar verdadeira desde que bem veiculada.

Aproveitando que de passageiros éramos apenas nós, meu agente depois de escutar a minha versão da história, e depois passou a vomitar informações e conselhos que eu deveria seguir antes, durante e após a reunião. Assim que foi liberado o uso de aparelhos eletrônicos, e aproveitando o WiFi a bordo, liguei meu celular e notebook pela primeira vez em quase 36 horas por conta dos fusos, e fui inundada com uma quantidade infinita de notificações.

Depois de acalmar meus pais por mensagem, e receber o apoio de alguns amigos próximos, procurei dei uma olhada em meu twitter sondando a reação das pessoas e fiquei muito surpresa ao ver que estava recebendo muito apoio, não só das minhas fãs, como de alguns famosos e veículos de informações e até das próprias directioners, que pareciam me ver como a heroína da história. A situação toda me deixou elétrica demais para dormir e acabei fuçando cada mention minha, ficando chocada com algumas que me chamavam e piranha aproveitadora e afirmavam que eu estava só querendo chamar atenção. Foi quando a eficiente aeromoça anunciou que estávamos perto de pousar que me dei conta da situação em que me encontrava: estava em Londres, depois de 36 horas sem dormir, prestes a ter a reunião da minha vida.

Uma coisa posso afirmar sobre os executivos da Modest!: eles não brincavam em serviço. Embora o primeiro tópico da reunião tenha sido um pedido de desculpas pelo comportamento do segurança, a primeira hora foi uma compilação das consequências negativas que meus atos haviam causado, intercaladas com nomes e processos jurídicos complicados demais para a minha mente cansada processar e que poderiam ser utilizados pela empresa contra mim em um tribunal. No final da tortura, foi me oferecido duas opções: na primeira eu iria me desculpar publicamente afirmando que tudo não havia passado de um mal entendido e que eu havia exagerado um pouco ao escrever o artigo, além de assinar um documento onde concordaria em manter toda a reunião em absoluto sigilo e no futuro não realizar nenhuma declaração a respeito do incidente com a banda ou quaisquer outros tópicos envolvendo a One Direction.

A primeira opção era assustadora porque colocava em risco tudo o que eu havia trabalhado até então, eu havia começado como uma simples escritora brasileira de fanfics do McFly que deu a sorte de ter o livro publicado e virado um sucesso primeiro nacional e depois internacional: tudo isso antes dos meus 18 anos. Com a maioridade e contra a vontade dos meus pais eu me escrevi em um curso rápido de literatura, redação e escrita em Nova York que melhorou muito meu estilo e acabou chamando a atenção do meu atual agente. Dois anos depois eu já havia publicado dois livros e estava atualmente trabalhando em um projeto divertido com outros autores jovens, além de publicar vez ou outra colunas e artigos para importantes jornais e revistas ao redor do mundo, sempre com um tom irônico e divertido que se tornou minha marca registrada. Eu tinha grandes sonhos a realizar ainda, e portanto evitava a todo custo me envolver em polemicas e fofocas, tentava ser sempre o mais discreta possível evitando me tornar o estereótipo que mundo tinha das brasileiras. Contar ao mundo que eu havia exagerado em uma matéria colocaria toda a minha carreira em dúvida e mandaria minha credibilidade para o espaço.

A segunda opção era no mínimo controversa, no entanto caso eu topasse só traria benefícios para a minha carreira, além de tecnicamente não prejudicar nenhum dos envolvidos. Claro que eu topei a segunda opção.

Então, novamente a Austrália e após um descanso merecido em Londres, minha mente estava desperta o suficiente para passar todo o tempo de voo até a Melbourne lendo e relendo cada linha do contrato que eu havia assinado em um momento de fraqueza. Descansada e desperta, me dei conta de que a maior parte dos meus medos haviam sido irracionais e que se tivesse pedido um tempo pra pensar poderia ter negociado uma estratégia bem menos... drástica.

Em resumo básico, eu me comprometia a acompanhar a banda durante seis meses e ficaria responsável por escrever um espécie de diário de viagem contanto como tinha sido minha experiência convivendo com os garotos. Claro que todo o material passaria por uma criteriosa avaliação e foi inclusive sugerido a ideia de usar escritores fantasmas, ideia que eu descartei de cara. Todas as minhas ações a partir dali seriam milimetricamente calculadas até mesmo minhas roupas, a imagem a ser passada era a de uma jovem escritora apaixonada por One Direction que após um desagradável incidente, de fã virou amiga pessoal dos meninos, que tiveram a ideia de me convidar para a turnê. É claro que o conto de fadas não estaria completo se não tivesse um romance falso no meio, e é claro que teria que ser com o integrante mais desejado (porque se as fãs não me aprovassem, eu iria ter o ódio eterno de cada uma e de um jeito ou de outro ninguém iria acreditar na minha palavra). Essa última parte não foi dita durante a reunião (ou talvez tenha sido e eu estava cansada demais para reparar), mas estava muito claro pra mim: eu havia feito uma grande confusão entre as fãs e a banda, e agora iria consertar isso.

—Garota Styles, como vai? – A voz rouca e animada me trouxe de volta para o presente e eu sorri ao ver Jamie Lawson parado me olhando curiosidade, a entrevista do Malik já havia acabado e agora passava um programa qualquer de variedades.

— Olá, James, bem e você? – falei olhando para o inglês que parecia me analisar atentamente, de todos os artistas que fizeram as aberturas dos shows do 1D, James havia sido meu favorito (depois do McBusted é claro). O fato dele ser mais velho e estar sempre calmo e confiante me fazia relaxar no bastidores durante a sua apresentação e suas músicas tinham um tom mais conceitual e folk, ao contrário do estilo pop e animado dos meninos: pra mim era uma boa combinação.

—Estou bem, seu namorado me enviou para ver se você não havia derretido em lagrimas – o comentário foi pontuado por um olhar intenso e penetrante.

—Estava apenas me lembrando de como essa loucura toda começou – respondi e sentindo que as lagrimas podiam voltar a qualquer momento – Eles ainda estão passando o som?

—Estão sim, como se fosse a primeira apresentação – James sorriu na última palavra e passando os braços pelos meus ombros foi me levando de volta para o palco. Os bastidores agora estavam mais calmos. Era o terceiro show na Arena de Sheffield e a maior parte das estrutura já estava pronta, com exceção de pequenos detalhes, se fosse em qualquer outra ocasião, os quatro estariam envolvidos em alguma aventura na cidade e deixariam para fazer uma passagem rápida do som meia hora antes da apresentação.

Mas esse show era muito especial, era o último show da turnê On the Road Again, e mais do que isso: o último show antes da pausa da banda. Havia um clima de despedida no ar, e embora todos sorrissem e prometessem manter contato eu sabia que não iria ser bem assim. A razão pela qual o One Direction arrastou uma legião de fãs era a mesma pela qual seria difícil os quatro se reunirem novamente: se tratava de personalidades completamente diferentes umas das outras. E não só como pessoas, mas as próprias identidades musicais eram divergentes. A Modest! Conseguiu conciliar essas diferenças sufocando os meninos e ditando cada passo, cada nota e cada aspecto de suas vidas, mas eu sabia que assim que estivessem livres disso tudo, seria muito difícil traze-los de volta.

James me soltou quando chegamos na beira do palco e se afastou indo conversar com o vocalista da Augustana, a outra atração de abertura. No palco os meninos riam de alguma coisa enquanto se mexiam sem parar, atrapalhando a vida de um fotografo que se esforçava para capturar os últimos momentos. Do outro lado, meu sangue gelou ao avistar Will Hasting, o diretor de marketing da Modest! Responsável pelos garotos. Oficialmente, meu contrato com a Modest! havia se encerrado a quase um mês, e portanto eu não tinha mais motivos para viajar com a banda ou obedecer seus manager. No entanto, depois de meses tendo cada passo meu ditado pelo Will e sua equipe com a ameaça silenciosa cada vez que cometia um deslize de estar comprometendo minha carreira, era difícil não me sentir intimidada por vê-lo tão próximo.

Desviando o olhar de Will, olhei pra frente para a enorme estrutura que logo estaria repleta de fãs e seus gritos, era difícil saber que possivelmente era a última vez que veria aqueles quatro junto sem um palco. Senti as lagrimas voltarem com força e segurei firme dessa vez, ouvi alguém chamar meu nome e sorri ao ver Harry se aproximando:

—Que tal eu ganhar um pouco de atenção da minha namorada? - Me aproximei ainda sorrindo ele me envolveu pela cintura segurando meu rosto com a outra mão e me beijando de forma carinhosa. Ouvi o barulho da câmera batendo uma foto e algazarra que os meninos faziam ao nosso redor, mas tudo parecia distante, quase em outro planeta. Os beijos do meu namorado sempre me aqueciam de dentro para fora, passei as mãos pelos seus cabelos que estavam enormes (um dos atos de rebelião contra a gestão), e suspirei baixinho quando ele rompeu o beijo com selinhos carinhosos. Abri os olhos encarando seu rosto ainda com os olhos fechados, acariciei seu rosto maciou e ele me deu um beijo carinhoso na palma.

—Harry e garota Styles – a voz sarcástica e autoritária do Hastings nos tirou de nossa bolha e meu namorado o encarou firme enquanto eu me escondia em seu peito. – Fez um belo trabalho senhorita Albuquerque, soube que o livro já está com a segunda tiragem esgotada.

—Obrigada Will – Respondi, tentando tornar meu tom de voz o mais firme possível. Harry não disse nada, embora suas mãos passassem carinhosamente pelas minhas costas em um apoio silencioso.

—É realmente uma pena, que não queira assinar conosco por mais seis meses. Temos ideias fantásticas para a promoção do seu livro e divulgação do seu trabalho. – Harry me apertou um pouco mais e eu me senti furiosa por estar novamente sendo alvo das propostas da agencia que quase me levou a loucura em seis meses.

—Eu agradeço mais uma vez pela oportunidade, mas não obrigada. – Will sorriu como se previsse exatamente essa reação, ele estendeu um cartão que eu peguei de forma automática e se afastou. Olhei pra cima e encarei Harry que olhava contrariado Will se afastar, parando vez ou outra para dar ordens a algum membro do staff.

—É inacreditável como eles não desistem – falei irritada, me separando do moreno e rasgando o cartão em duas partes. Harry riu e voltou a me abraçar, ignorando os pedaços de papel que caíram no chão.

—Sabe o que eu acho realmente inacreditável? – olhei pra ele intrigada - ser o único que aparentemente ainda não leu o seu livro.

—Você não precisa ler Hazza, você viveu tudo que está lá – fiquei na ponta dos pés para dar um selinho no garoto de olhos verdes que fez bico.

—Nem tudo o que está lá aconteceu de verdade – ele pontou suspirando, de todos os garotos Harry e Zayn eram os que mais tinham problemas em aceitar todas as interferências da Modest!.

—Assim como nem todas as verdades estão lá –ele me olhou surpreso pela afirmação – Você e eu por exemplo, somos um capitulo a parte.

— Garota Styles, você sabe mesmo como usar as palavras – sorri, e automaticamente me lembrei da primeira vez que eu ouvi aquele apelido. 


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