Manhãs escrita por Me Myself and I


Capítulo 1
La vie est belle


Notas iniciais do capítulo

Espero que goste!



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“I used to be an adventurer like you once... Then I took na arrow to the knee...” Ouvi o par de risos vindo da sala e revirei os olhos distraidamente.

Enquanto fechava as duas bolsas cor de rosa e me virava para selecionar o almoço do armário, notei Luke entrar na cozinha e abrir a geladeira furtivamente.

— Na-a-ah. – tirei o achocolatado da mão dele e apontei para um dos banquinhos. – Você sabe muito bem que esse é pra sua irmã. Vamos, eu fiz ovos mexidos pra você. Saímos em 15 minutos.
Luke não fez nada além de resmungar e sentar em frente a seu café da manhã, derrotado.

Vi ele botar sua bolsa azul clara ao lado das outras duas com cuidado e lentamente começar a comer.
Coloquei o copo do outro lado da mesa, notando meu filho observando o achocolatado com uma expressão de derrota.

— Silena! Vem tomar seu achocolatado! – disse, voltando para trás de Luke e começando um cafuné como forma de consolação. Seu cabelo estava começando a ficar grande, prestes a cobrir seus olhos.

Voltei a atenção para a porta do cômodo ao ouvir pezinhos correndo, bem a tempo de ver minha caçula entrando a toda na cozinha. Ela pulou no banquinho e virou a bebida doce avidamente, mas desacelerou ao notar meu olhar reprovador.

Notei Luke soltar um risinho em sua direção quando Silena abaixou o copo para revelar um bigode marrom.

— Bom dia, filho. – Percy disse, ao passar pela porta, segurando os dois pratos que antes continham ovos mexidos.

Luke apenas soltou outro resmungo, voltando a atenção para seu próprio café da manhã, ainda pela metade.

Meu marido passou por mim com um olhar questionador. Apenas fiz os gestos da palavra “castigo” com a boca, e ele acenou com a cabeça, uma expressão compreensiva no rosto.

— Lik, o papai tava me mostrando o jogo mais legal! – Silena começou seu falatório costumeiro, chamando a atenção de seu irmão com o apelido que ela tinha dado a ele – Qué sabê como é? É assim ó...

Deixei de prestar atenção na conversa, apenas observando os dois interagindo. Ambos tinham tanto em comum comigo e Percy, mas eram completamente diferentes um do outro, e as vezes eu ficava tonta observando-os.

Si, agora com quatro anos, era a criança mais energética que eu já tinha visto, o que havia puxado do pai. Seus cabelos negros e lisos, cortados logo acima de seus ombros, eram outra semelhança com Percy. Apesar disso, a garotinha possuía um rosto delicado, com um nariz um pouco arrebitado e olhos grandes, como eu.

Luke, por outro lado, era quase o completo oposto. Mechas loiro claro, cor de areia seca, que ele havia puxado de seu avô, e cacheadas como as minhas. Seu nariz era um pouco mais largo e pontudo, como o do pai, e sua boca mais fina.

Com oito anos, seus traços de bebê estavam lentamente começando a desaparecer. Suas bochechas estavam começando a perder a gordura e seus braços e pernas estavam se esticando. Provavelmente acabaria alto como o pai, ao contrário de Silena, que era baixa pra sua idade. Luke tinha uma natureza calma, que havia puxado de mim. Quando bebê, passava boa parte do tempo observando as coisas, ao invés de agir, e quando chorava se acalmava assim que era carregado. Percy costumava brincar que se todos os bebês fossem como Luke poderíamos ter dez.

Ambos estavam vestidos em seus uniformes, Silena com um tutu roxo e collant, e Luke com o short e a camisa do estúdio, ambas pretas. Percy havia ficado um pouco chateado quando demos a opção de fazerem balé ou natação e ambos escolheram a dança, mas se sentiu um pouco melhor quando Silena decidiu acompanha-lo nas aulas de natação uma vez por semana “pra não deixá o papai tiste”.

Senti as mãos de meu marido descerem lentamente pela minha cintura, de forma carinhosa, e virei a cabeça em sua direção. Sorri para seu rosto tranquilo, vendo seus olhos passarem das crianças para mim, preguiçosamente. Eram verdes, bem como os de Silena e Luke, fato que me agradava muito. Adorava olhar para aquelas imensidões da cor do mar, tão lindas e tão mais interessantes que meus olhos cinza.

Sorri contra seus lábios quando eles encontraram com os meus, me sentindo engolfada pelo seu cheiro familiar e pelo calor que emanava de seus braços tatuados, que agora me circundavam.

A cena inteira era deliciosamente doméstica, e me senti relaxar, recostando as costas no peito de Percy.

Fui arrancada de meu estado sonolento ao ouvir o alarme no pequeno relógio ao lado da geladeira. Percy apoiou a cabeça na curva do meu pescoço e soltou um som de descontentamento.

— Vocês já têm que ir? O que vai ser de mim, sozinho nessa casa grande por três horas, sem nada além de um Xbox e um sofá confortável? – enquanto Percy reclamava em voz baixa vi Luke indo desligar o alarme e botando os pratos na pia. Logo depois, ele pegou a mão de Silena e começou a guiá-la para o banheiro, prestando atenção em cada palavra que ela dizia.

Senti meu coração apertar de uma maneira boa ao ver o relacionamento dos dois e voltei a atenção para meu marido, que ainda resmungava contra o meu pescoço.

— Buuu, crianção. – me desenrosquei dele de maneira cuidadosa e fui arrumar a mesa. Ele me mandou uma expressão magoada e começou a me ajudar.

Com a visão periférica observei seus movimentos. Nos quinze anos em que nos conhecíamos, ele havia mudado bastante. Seus ombros largos e anatomia definida porém magra haviam se desenvolvido por causa dos constantes treinos de natação. Os piercings que ele havia tido ao longo dos anos, na boca e depois na sobrancelha esquerda, já não estavam lá, apenas as orelhas furadas agora testemunhas de seus anos mais rebeldes.

Suas tatuagens haviam se multiplicado também. Aos 16 anos, quando nos conhecemos na Goode High School, Percy tinha apenas duas: um pequeno tridente, em homenagem a seu pai, e o contorno de um barco a vela, ambas no seu antebraço.

Agora seus braços estavam quase completamente cobertos, e algumas outras decoravam sua barriga e peito.

Me lembro como se fosse ontem de como as tatuagens haviam sido o que me atraiu para ele, de ver o olhar chocado de todas as minhas amigas e dele próprio quando eu havia me sentado em sua mesa no lanche para conversar. Em uma semana estávamos namorando, e apesar da descrença de todos os nossos amigos quanto ao nosso futuro, a bailarina e o punk acabaram indo juntos para a universidade, e alugando o primeiro apartamento sozinhos logo aos 19 anos.

Nosso relacionamento sempre se moveu rapidamente. Talvez por isso ninguém tenha ficado muito surpreso quando eu engravidei de Luke com apenas 22 anos, e decidimos nos casar.

Percy deixou de nadar profissionalmente e arranjou um emprego no aquário para usar seu diploma de biólogo, além de dar aulas de natação voluntariamente no centro esportivo no Brooklyn. Eu continuei a dançar profissionalmente após o nascimento do Luke, mas também comecei a ensinar balé duas vezes por semana para complementar o dinheiro. E com o tempo nos arranjamos, e quase 5 anos depois nasceu Silena, e nos mudamos para uma casa mais nos subúrbios de Nova Iorque.

— Pensando na noite passada, Beth?

Percy balançou as sobrancelhas na minha direção enquanto colocava os pratos no escorredor. Estava prestes a responder quando ouvi as crianças voltando para a cozinha, prontas para sair.

— Vamo vamo vamo – Silena chegou pulando e batendo as mãos gorduchas – ou vamo se atrasá. – ela disse com sua voz de bebê.

Ela e o irmão passaram pela mesa pegando suas respectivas bolsas e foram para a sala, a voz de Silena preenchendo o silêncio e diminuindo um pouco enquanto eles se afastavam. Percy me mandou um sorriso malicioso, ainda esperando uma resposta a sua pergunta.

— Pra sua informação, ao contrário de você – pausei minha frase me inclinando na ponta dos pés e pressionando um beijo rápido na sua bochecha – nem todo mundo é pervertido. – sussurrei na sua orelha e dei uma pequena lambida para provocar.

Ouvi sua risada alta quando me virei e peguei minha própria bolsa, conferindo para ver se estava tudo em ordem, sapatilhas, chaves, celular, grampos, caderninho, meia-calça.

—Faz o almoço por favor, já separei algumas coisas. – fui em direção à sala ao ouvi-lo soltar um “aham” bem humorado.

— Vamos, amores?

Abri a porta da frente e observei Silena saltitando em direção ao carro, sendo seguida de perto por Luke.

— Será que a tia Piper vai deixá eu ficá descalça hoje? – ouvi minha filha ponderar enquanto seu irmão a levantava para o assento.

— Pra que ficar descalça durante a aula? Isso suja o pé! – Luke exclamou.

— Você só tá falando isso por que a mamãe não deixa você ficá descalço na sua aula. – Silena replicou.

— Boa sorte com os alunos! – ouvi Percy gritando ainda da cozinha – E bom ensaio!

— Obrigada!

Fechei a porta e fui em direção ao carro.

— Mãaae, diz pra Silena que você não se importa de eu ficar descalço durante a aula.

Sorri.

A vida é boa.


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que alguém se inspire a escrever mais histórias com Percy punk, por que eu acho que ele fica muito maneiro assim. Eu sei que nessa história é mais a aparência dele que é punk, não a personalidade, por que achei que simplesmente não caberia no contexto, mas isso não significa que ele não aja assim o resto do tempo. Obrigada por lerem. :)



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