Deathlines escrita por PW, VinnieCamargo, MV


Capítulo 5
Capítulo 04: In Memoriam


Notas iniciais do capítulo

Escrito por MV



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Sentada em um colchão dentro de um dos quartos da chácara de Taylor, Anisah sentia o seu estômago embrulhar mais uma vez.

Na noite anterior, quando a iraniana descobriu sobre o fatídico destino de Tess, ela finalmente se quebrou por completo. Mesmo já aceitando que a probabilidade de encontrar Tess viva era baixa, ainda existia lá no fundo um pequeno lampejo de esperança de que sua Tess estava bem e a salvo. O que não aconteceu.

Depois da descoberta, ela sumiu. Precisava de um tempo para si, bem longe daquelas pessoas que ela considerava seus amigos, mas que pareciam simplesmente não se importar com o que vinha acontecendo. Como poderiam fazer o que estavam fazendo? Nem mesmo o Trent que perdeu o Cael parecia se importar!

A bebida ajudou Anisah no processo de tentar esquecer o ocorrido, mas também despertou na garota os desejos impensados de raiva contra a aparente indiferença de seus amigos. Quando voltou mais tarde para o hotel, descobriu que nenhum deles estava presente no local. Tinham saído e como sempre, nem sentiram minha falta… Minha presença nunca foi tão importante mesmo.

Entretanto Anisah sabia como encontrar Kara, que provavelmente estaria com Mina e Trent. Após conseguir hackear o celular da influencer não foi tão difícil descobrir a localização dela, em uma chácara não muito longe do centro de New Orleans.

Após ter liberado os vídeos nas redes sociais de Kara, a jovem entrou em uma espiral para baixo, com o excesso de bebida cobrando o seu preço. Anisah vomitou até não conseguir mais, e embora sob protestos, ela teve ajuda de seus amigos, já que a jovem sequer conseguia parar em pé para sair daquela casa.

Ela tinha realizado um ato que ultrapassou todos os limites da amizade e agora sabia que, cedo ou tarde, pagaria o preço disso. Contudo Anisah só queria agora sair daquele inferno de cidade logo no dia seguinte, deixando o rastro de destruição do Big Natchez para trás. Desde que pisara em New Orleans, Anisah sentiu se envolta em uma energia um tanto quanto pesada, que parecia um prenúncio de que aquela cidade seria responsável pelos piores momentos de sua vida.

— Toma um pouco mais de água. — Jimmy falou, aproximando um copo cheio do líquido transparente da jovem. Anisah olhou desconfiada para o rapaz, e pegou o copo em silêncio.

XXX

Assim que o loiro retornou para a cozinha, ele pode ver Mina e Trent sentados em alguns banquinhos de madeira, na frente de uma mesa. A oriental mexia no celular em silêncio, enquanto o descendente de indígenas batucava as mãos na madeira, absorto em seus pensamentos. Kara e Taylor não estavam entre eles, já que os dois tinham saído alguns minutos antes para andar pela propriedade. A jovem de cabelos rosados havia expressado a sua preocupação e falou que precisava, depois de todos os eventos ocorridos, espairecer sua cabeça um pouco.

— Eu acho que um de vocês deveria ficar lá com ela. Ela não está nada bem, acho que finalmente está percebendo o que fez.

Os dois se entreolharam, até que Trent falou:

— Pode deixar que eu vou lá.

Mina concordou com a cabeça, e assim que Trent deixou o ambiente, Jimmy se sentou ao lado da garota.

— E a Kara? Como que ela tá?

— Ah, tá devastada né. — Mina falou. — Como eu te falei, ela conseguiu excluir os vídeos mas provavelmente vai ter que resetar o celular. Sabe se lá se algum vestígio do vírus ficou ali.

— Eu ainda não acredito que a amiga de vocês fez isso… Tipo, o que ela tinha a ganhar?

— Você viu, Jimmy. Ela perdeu uma pessoa muito próxima e surtou completamente. É compreensível, a mente humana é algo que não se pode controlar, e a reação da Anisah frente ao que aconteceu foi a pior possível. Tem que se levar em consideração que ela estava alterada pelo álcool também. Sinceramente, ela fez algo muito errado, mas como a Kara mesmo falou pra mim, ela entende a situação que levou a isso.

— Eu acho que sei como ela se sente. Quando eu perdi a Kim também parecia que meu mundo ia cair... Nada mais importava pra mim. Se você me perguntar se eu superei, eu não saberia te responder.

— Não é algo que vai se resolver da noite pro dia. E como eu disse pra Kara, as pessoas tem modos diferentes de reagir a uma tragédia.

Jimmy concordou com a cabeça, e um silêncio um tanto quanto desconfortável se fez ali. Mina voltou a olhar para a tela do seu celular, este exibindo o seu feed do Twitter. Ela acompanhava em tempo real as reações do vídeo de Kara, que embora excluído, ainda rodava a internet.

Enquanto ela atualizava o feed, Jimmy falou:

— Tá todo mundo falando do vídeo dela né?

— É. A Kara tem não sei quantos milhares de seguidores no Instagram e no Twitter, ou seja, o vídeo se espalhou muito rápido.

— Não que isso sirva de consolo mas daqui a pouco a internet vai estar falando de outra coisa. As notícias hoje em dia voam, é tudo muito instantâneo. — Jimmy falou, pensando em sua própria profissão.

— A revolução das redes sociais. — Mina falou, abrindo um pequeno sorriso. Apesar de achar Jimmy um pouquinho estranho, também era isso que fazia ela gostar tanto do loiro. Jimmy não era alguém comum, isso estava claro pra Mina.

A oriental novamente olhou para o seu feed e ao clicar nos trending topics, percebeu que New Orleans continuava entre os assuntos mais falados da rede social. Curiosa, a jovem clicou na tag, apenas para abrir vários tweets que esperava ser a respeito de Kara, mas não eram. No mesmo momento, Trent retornava para a cozinha, trazendo um copo vazio.

— O que aconteceu?

— Você tinha razão, Jimmy. A internet já está em outro assunto… Parece que um cara ligado ao presidente morreu. Aqui em New Orleans.

— Credo, que isso? — Trent perguntou, se aproximando da mesa.

Mina rolou o dedo pelo pelo feed novamente e logo falou:

— Aparentemente ela era namorado da Melanie Watts.

— A filha do presidente? — Jimmy falou, espantado. — Aqui em New Orleans? Jesus… Essa cidade anda muito movimentada esses dias.

— O nome dela era Levi Sunderland. Engraçado, esse nome não me é estranho.

— Como que ele se chama? — Trent se aproximou de Mina, parecendo subitamente interessado. — Tem alguma foto dele?

Com os três em volta da tela do celular, a foto de Levi apareceu causando um certo choque no ambiente.

— Ah não… — Trent falou, assustado. — Não pode ser. Esse cara falou comigo ontem!

— Que? Como assim? — Mina perguntou.

— Foi na delegacia ontem! Ele estava lá… Ele veio me agradecer por ter avisado que o píer ia desabar, porque eu tinha salvado a vida ele!

— Você tá querendo dizer que…

— Exatamente. Ele tava no píer na hora do acidente e saiu por causa de mim.

Enquanto Jimmy ainda observava a foto de Levi Sunderland, a mente de Mina parecia raciocinar em algo que Trent já sabia do que se tratava.

Naquele momento, o rapaz pensou em Levi Sunderland e do homem falando que ele o havia salvado. Um arrepio passou pelo seu corpo no mesmo instante, e ele instintivamente tentou se lembrar da morte dele no píer, um flash de uma lembrança terrível em meio ao caos.

— Trent, já me desculpa pela pergunta… Mas ele morreu na sua visão? — Mina perguntou.

A mente do rapaz trabalhava para reconstituir as memórias daquela tarde e assim responder a pergunta de Mina, entretanto Trent percebeu que existia uma lacuna, um vazio.

— Mina… Eu acho que sim. Não tenho certeza.  — Ele levou as mãos a cabeça, coçando a mesma. Seus olhos mostravam desespero, porque ele já sabia o que estava acontecendo.

XXX

No dia seguinte.

Taylor caminhava pela propriedade, sentindo-se como uma criança novamente ao lembrar dos bons tempos da infância. Quando pequeno, o rapaz visitou aquela chácara várias vezes junto de sua família, fazendo aquele ambiente sempre estar atrelado a boas lembranças e memórias, ao contrário do restante de New Orleans.

Enquanto andava pela chácara, percebeu que uma bicicleta antiga estava apoiada ao lado da moto estacionada de Anisah, ambas encostadas em um portão fechado onde ficava a garagem vazia, esta logo de frente para a rampa que levava para a saída da propriedade. O rapaz até achou aquilo meio estranho, considerando que não tinha andado na bicicleta mas acabou deixando ela ali mesmo. Quando retornava para a casa principal, olhou para as altas cercas que separavam aquela chácara da propriedade ao lado, e então lembrou do que havia acontecido.

Taylor ainda estava assustado com o que tinha visto na noite anterior, principalmente por conta de toda a movimentação das ambulâncias e carros da polícia no local. Ele podia até estar sonhando, mas jurou ter visto alguns agentes do FBI na área.

Considerando que a filha do presidente estava ali era de se esperar que virasse assunto nacional.

O rapaz decidiu entrar na grande residência, e enquanto retornava para a casa SkullgrlM veio em sua mente. Quem diria que aquela garota estava realizando serviços para os Dippoli?

Ele ainda buscava saber como que Anisah tinha conseguido adentrar a chácara na noite anterior, mas essa não era sua principal preocupação a respeito dela. O grande problema era que Anisah sabia demais, e ele não poderia deixar a garota botar a boca no trombone e revelar os serviços que estava prestando a eles.

Embora Taylor soubesse que Anisah tinha noção de com quem estava mexendo, a iraniana já havia se mostrado um tanto quanto instável e impulsiva. E isso era um perigo constante.

Assim que adentrou o ambiente, notou Kara sentada em um sofá na sala de estar. Quando percebeu a presença do loiro, a garota ergueu os olhos e falou:

— Nossa, você já tá acordado? É bem cedo. Eu acabei pegando sua bicicleta emprestada para andar um pouco, tudo bem?

Ah, isso explica muita coisa.

— Relaxa, tudo tranquilo. — Taylor deu de ombros. — Eles ainda estão dormindo?

— A Mina tá sim. Eu acredito que o Trent também… E eu também dei uma olhada na Anisah, dormindo assim como os outros.

— Você tá melhor depois de ontem? — O rapaz perguntou, sentando-se ao lado da garota.

— Não sei. Eu fiz aquela live ontem a noite pra explicar o que tinha acontecido, mas você sabe como funciona a internet. Ainda vai demorar algumas semanas até essa poeira baixar totalmente.

— Pois é. Complicado.

Kara confirmou com a cabeça.

— A Anisah disse que queria ir embora hoje, e eu sinceramente… Não sei o que pensar sobre isso.

— Você queria conversar com ela?

Kara negou com a cabeça.

— Eu nem sei ainda se vou falar com ela, Taylor. Talvez essa não seja a hora, sabe? O que ela me fez me machucou muito… Mas acho que é melhor tudo se acalmar mais um pouco. O único problema é que estamos proibidos de deixar a cidade, e alguém vai ter que explicar isso para ela

— Concordo. Dê tempo ao tempo, Kara. Ela vai se arrepender logo, se é que já não está arrependida.

— A Anisah sempre foi meio assim, sabe? Ela tem um temperamento bem característico. Eu só não esperava que depois de tudo o que aconteceu as coisas descarrilassem a esse ponto. Eu pareço estar bem Taylor, mas por dentro estou desabando. A Tess, o Cael, a Sky… Eles não mereciam isso. — Kara falou, enquanto levava uma de suas mãos aos olhos, enxugando os mesmos antes que alguma lágrima ousasse cair.

Taylor então segurou na mão livre de Kara, atraindo a atenção da garota.

— Ninguém merecia aquilo que aconteceu. Eu não os conheci direito mas tenho certeza que eram pessoas incríveis, Kara. O ato de vocês fazerem um memorial para eles ontem só mostra isso.

Kara abriu um sorriso diante da última fala de Taylor, que falou:

— Vai ficar tudo bem, eu tenho certeza disso.

XXX

A minivan branca corria na rodovia, dirigida por Trent. Como o carro estava andando em uma velocidade considerável, gerava uma brisa que balançava os cabelos do rapaz, assim como de Cael, sentada ao seu lado.

— Eu fico feliz que você esteja bem. — Trent falou para o rapaz, que abriu um sorriso debochado. — É sério!

Cael balançou a cabeça e voltou a olhar para a pista, sem falar nada.

— Ainda bem que tudo aquilo do píer foi só um maldito pesadelo… Em breve isso tudo será passado.

— Como assim um pesadelo? — Cael perguntou.

— Cael, um pesadelo oras. Eu pensei que era real mas não era. Ainda bem, diga-se de passagem.

Cael soltou uma risada e depois olhou novamente para Trent. Foi nesse momento que o jovem percebeu que a íris do rapaz estava completamente negra.

— Você tem tanta certeza disso?

De repente, Trent pode ver por trás de Cael uma moto vindo em alta velocidade, pronta para se chocar contra o carro. Uma buzina forte e o rapaz gritou.

Trent piscou os olhos mais algumas vezes, até perceber que estava sentado em uma cama, respirando de forma ofegante. Aos poucos as memórias começaram a retornar e ele percebeu que tudo só tinha sido mais um pesadelo. Cael estava morto, ele sabia disso, havia visto o corpo do ex-namorado no necrotério. Mas então por qual motivo sua mente continuava a recusar a verdade? Será que era para protegê-lo de algo?

Foi aí que pensou no pesadelo e de como tudo terminou bruscamente em um acidente de moto. Mas que diabos o que aquilo queria dizer?

Trent caiu na cama novamente e então procurou pelo seu celular sob o criado-mudo ao lado, pegando o objeto assim que o viu. Os números na tela de bloqueio indicavam que eram 10 da manhã, mas Trent se pegou olhando o papel de parede que mostrava o rapaz dando um beijo na bochecha de sua avó enquanto a mais velha tirava a foto.

Na noite posterior ao desabamento do Big Natchez, Trent recebeu a ligação da senhora preocupada com o estado de vida do neto, dizendo que havia visto as notícias na televisão em tempo real. O rapaz logo tratou de aliviar a senhora, falando que estava tudo bem mas omitiu algumas informações, como a visão. Lacey não precisava se preocupar ainda mais.

Olhando para a foto da avó, lembrou-se de quando visitou a senhora no hospital, antes de sair de Los Angeles há alguns dias atrás, mas que já pareciam uma eternidade. Tudo o que Trent queria era libertar Lacey do hospital o mais rápido possível, queria que a mulher estivesse totalmente curada logo, mas aparentemente não podia apressar o tempo.

A menos que ele estivesse em New Orleans.

Ele sabia que iria se arriscar se fizesse o que ele estava pensando em fazer, mas se havia uma possibilidade de dar certo, ele tentaria.

XXX

Anisah pegou a sua jaqueta de couro pronta para vesti-la, mas percebeu ela ainda estava um pouco úmida. Logo depois olhou pela janela do quarto e percebeu que o sol não tinha saído.

— Faz sentido ela ainda estar assim. — Falou para si mesma. Porém ela não tinha tempo a perder.

Assim como prometido, Anisah daria a fora de New Orleans o mais rápido possível, mesmo sob os protestos de seus amigos. Ela só queria sair daquele ambiente tão tóxico para ela.

Estava completamente acabada, e cada minuto que passava naquele inferno a matava mais um pouco por dentro.

A garota pegou o capacete e suas chaves da moto, e logo saiu do quarto andando a passos lentos. Ela ainda não sabia qual seria a reação de encarar Mina, Trent e principalmente Kara depois de tudo o que fizera, mas tentaria se controlar. Dessa vez seria por Tess.

Apesar de que eles nunca ligaram pra ela…

Tentou esquecer Tess pelo menos por um instante. Seguir em frente seria um processo complicado mas Anisah teria que fazer isso em algum momento. O fim do luto chegaria e a garota tinha que estar pronta para enfrentar um mundo em que Tess não estava mais presente.

Mas enquanto esse momento não chegava, queria guardar um pouco da garota consigo da algum modo.

A iraniana respirou fundo, andando cabisbaixa, até chegar no cômodo onde o memorial havia sido feito no dia anterior. A sala havia sido limpa, mas as fotos ainda estavam em uma pequena pilha sobre uma mesinha. A iraniana correu naquela direção e começou a folhear os registros fotográficos.

Fotos do grupo inteiro eram o que não faltavam ali. Também existia uma foto de Kara, Mina, Sky e ela juntas em alguma festa. A garota riu involuntariamente ao ver a sua cara na fotografia.

Tenho certeza que estava muito bêbada nesse dia.

Outra foto surgiu nas suas mãos, dessa vez com somente Trent e Sky abraçados, os rostos deles denunciando que haviam bebido um pouco além da conta. Na outra foto, Trent também aparecia, mas dessa vez com Cael. O mais velho estava com a cabeça apoiada no ombro do visionário, que fazia um cafuné na cabeça de Cael.

A próxima foto a atingiu em cheio. Era ela e Tess juntas se beijando, sentadas em um banco de algum bar. Não se lembrava de quando havia tirado aquela foto e muito menos do local, contudo as olhar o registro sentiu como se estivesse junto de Tess novamente. Era quase como se a garota estivesse ali naquele ambiente.

Olhou ao redor da sala, e percebeu ela ainda estava vazia. Anisah balançou a cabeça, afastando algumas ideias da mente e guardou a fotografia consigo, em um dos bolsos da jaqueta de couro.

Alguns barulhos de vozes chamaram a atenção de Anisah, sendo que elas vinham do andar inferior. A garota respirou fundo e então se dirigiu para as escadas da casa.

Entretanto, Anisah não estava disposta a conversar com ninguém.

XXX

Melanie girava o anel de noivado entre seus dedos, fixando o seu olhar penetrante no objeto feito a partir de um belo diamante.

Sentada na cama de casal da casa que havia adquirido com Levi, a jovem colocou seus cabelos loiros para trás, enxugando mais uma vez as lágrimas que insistiam em cair. Melanie Watts então se levantou e encarou seu reflexo no espelho.

A maquiagem do dia anterior ainda estava borrada em seu rosto, enquanto feias olheiras surgiram embaixo de seus olhos claros. O seu cabelo estava completamente bagunçado e os seus olhos completamente vermelhos de tanto chorar.

Ela ainda não acreditava no que tinha presenciado naquela noite e tentava não se lembrar do corpo do seu noivo pendurado na espada do soldado feito um boneco de pano. Todas as boas memórias que tivera com Levi foram completamente destruídas em questão de segundos, junto com a bandeira rasgada, que depois caiu sobre o seu corpo pendurado como um manto feito pela morte.

— Por que Levi? Por que você fez isso comigo? — Melanie falou para si mesma, enquanto olhava o anel de diamante.

Foi então que, como se estivesse tomada por uma raiva súbita, a garota segurou o anel de diamante e jogou com força na direção do outro canto do quarto. As suas mãos tremiam de nervoso, misturada com o luto que se avultava em torno dela.

A garota então soltou um novo grito, mas dessa vez não de choque, mas sim do mais puro ódio.

XXX

— Alguém sabe se a Anisah já acordou? — Mina perguntou, enquanto tomava um gole da sua xícara de café e passava a mão em Cho, sentada no seu colo. Ao seu lado, Trent estava sentado, bebendo um copo de água ainda com cara de sono, enquanto Kara estava na frente dos dois.

— Aparentemente não. — Kara falou, um tanto quanto seca. — Vocês sabem que precisamos conversar com ela, não é?

— Sobre aquilo da ordem federal de restrição, né? — Trent falou, enquanto dava um gole na água. — Jesus, ela vai surtar mais ainda.

— Isso até vai ser bom. Nós precisamos ter uma conversa urgente com a Anisah sobre as atitudes dela. — Mina falou.

Kara e Trent concordaram no mesmo instante, e então o rapaz falou:

— Vou ser sincero com vocês duas. Eu prefiro não estar nessa conversa. Eu já tô sentindo que minha mente está prestes a explodir. — Trent falou, passando a mão nas têmporas, enquanto sentia uma dor de cabeça se formar.

— Trent, nós vamos precisar de todos lá. Você sabe bem disso, não adianta fugir.

Um silêncio desconfortável se fez presente naquele cômodo, até o momento em que ouviram um som que se assemelhava a um portão sendo aberto dentro da propriedade.

— O que está acontecendo? — Mina perguntou. — Esse som veio daqui?

As peças logo se juntaram na mente de Kara que se levantou, falando:

— A ANISAH!

XXX

Com o portão já aberto, Anisah subiu em cima de sua moto que estava encostada próximo da porta fechada da garagem da casa.

Acima da garagem se erguia uma parede não tão alta, de coloração alva. Mais pra cima, apenas existia o telhado da casa e uma calha que descia para o chão, carregando a água acumulada de chuvas. Anisah logo colocou o capacete e com as chaves já no contato, acelerou o veículo. A garota chegou a perceber uma pequena mancha de óleo no chão mas não ligou para tal detalhe.

Acelerando a moto, a garota subiu a rampa de cimento que dava acesso para a rua rapidamente até o momento em que ouviu gritos.

XXX

Tema: Way Down We Go

— Anisah, o que você está fazendo? — Mina falou, cobrando explicações.

A garota revirou os olhos dentro do capacete e então retirou o mesmo, deixando suas madeixas castanhas caírem sobre o rosto.

— Não parece óbvio pra você? Estou indo embora como falei.

— Pelo amor de Deus, Anisah. Para com isso. — Kara falou. — Por favor, desce daí, vamos conversar um pouco.

— Eu não tenho nada pra conversar com vocês. Pelo menos, não agora.

— Anisah, essa nem é a questão. — Trent disse. — Nós precisamos ficar juntos.

— Juntos? Que engraçado vocês falarem isso quando nem se deram conta de que eu tinha desaparecido.

— Anisah, por favor, não começa de novo. — Kara falou, como se suplicasse para a garota ouvi-los. — A questão é séria aqui.

— Vocês não entenderam. — Anisah falou, ainda na moto. — Eu sou grata ao que vocês fizeram pra mim nessa noite. De verdade. Mas eu só quero sair desse lugar, New Orleans é muito tóxica pra mim. Só quero esquecer que um dia esses dias aconteceram.

— O que acontece é que você não pode sair de New Orleans, Anisah. Nenhum de nós pode. — Mina falou, e depois olhou para Trent. — Fala pra ela, Trent.

A oriental olhou para o mais novo ali, que exibia uma face de incredulidade enquanto apontava para si mesmo.

— Fala o que é, Trent. — Anisah falou. — Não tenho o dia todo.

O rapaz engoliu em seco e então falou:

— Nós temos uma ordem de restrição, Anisah. Estamos proibidos de sair da cidade até concluírem as investigações do píer, e o negócio é sério. São normas federais.

Foi como se o ar estivesse parado naquele momento em que Anisah digeria aquelas informações. Estamos proibidos de sair da cidade.

A iraniana respirou fundo antes de chutar o pedal de apoio da moto e descer do veículo, sem ao menos desligá-lo, deixando seu capacete pendurado no guidão. Anisah desceu a rampa, com um brilho renovado nos olhos, mas não era positivo. Era raiva, sentimento a consumia mais  e mais a cada minuto passado em New Orleans.

A garota parou na frente dos três, olhando-o atentamente e então falou:

— Vocês estão me dizendo que eu estou proibida de sair desse inferno?

— É, mais ou menos isso. — Mina falou.

— Não, não, não! Vocês só podem estar brincando comigo!

— Anisah, eu não sei se você sabe, mas o seu amigo teve uma visão de que o píer ia cair e isso está envolvendo…

— Kara, eu não quero saber! Eu não quero saber o que ele fez ou deixou de fazer, eu só quero sumir desse lugar! Mas agora eu não posso fazer isso, sabe por que? Por culpa de um surtado como o Trent. — Ela falou, olhando para o rapaz.

— Anisah, não fala assim. — Trent falou. — Poxa, eu salvei vocês.

— Salvou o caralho, Trent! Você acha que eu não sei que você só estava pensando em salvar sua pele quando saiu correndo desesperado? Confessa, você nem estava aí pra gente. Como de costume, digo de passagem.

— Anisah…

— E bem, como você sabe, a Tess não saiu a tempo e muito menos o Cael. No fim, você salvou as vidas de quem gostaria ou só se importou com você mais uma vez?

Trent fechou os olhos diante da lembrança dos corpos mortos no necrotério, enquanto sentia sua cabeça explodir.

— Sinceramente, se fosse pra sofrer o que eu estou sofrendo, eu preferia estar morta nesse momento.

— Anisah, não fale isso! — Mina comentou.

— Falo sim, porque é isso que eu queria. Eu preferia mil vezes estar sobre numa maca de necrotério a estar aqui nessa merda de lugar.

Naquele instante, Trent respirou fundo e se aproximou da garota.

— Anisah. Tudo vai se resolver e…

— Não encosta a mão em mim. — Anisah falou, resoluta. — Desculpa se eu não consegui ver a morte de forma tão tranquila quanto você, mas acho que esse é o preço que se paga por ser uma… Aberração. — A iraniana cuspiu a última palavra, deixando Trent em completo choque. — Agora se me dão licença, eu vou sair dessa cidade e ninguém vai me impedir.

Anisah deu as costas para o grupo, que ainda estavam chocados com as palavras da garota, digerindo lentamente aquela confissão terrível.

— Se você já tinha decidido que ia embora, por que veio fazer esse showzinho todo, Anisah? — Trent falou, cerrando os dentes.

— Como? O que você falou? — A garota se virou, já na metade do caminho da rampa.

— Isso mesmo que você ouviu. Por que você veio fazer esse showzinho seu? Por que queria despejar mais uma vez seu ódio em alguém?

— Despejar ódio? Você me faz rir.

— E você também me faz rir quando fica bancando a boa samaritana como se você realmente estivesse se importando com os outros. — Trent respondeu.

— Com vocês nem ligando pra minha Tess fica fácil…

— Tá vendo? De novo falando da Tess, que inclusive é muito compreensível. Mas por acaso você se importou com a morte do Cael? Ou com a da Sky?

— Óbvio que…

— Não. E depois de tudo isso você ainda me vem falar que queria estar morta? Se eu soubesse disso, então tinha te deixado morrer lá mesmo!

— Como ousa…

— Você mesmo falou, Anisah. E tem mais, meu anjo. Eu não quero disputar aqui quem está sentindo mais dor, mas você já percebeu o tanto de merda que tá acontecendo comigo? Pois é.

— Olha, você não fale dessa maneira comigo!

— Você acabou de me chamar de aberração na cara dura, Anisah! Ouve o que você tá falando antes de cobrar dos outros o que você mesma não faz!

Anisah parou estática diante do que Trent havia falado, absorvendo aquelas palavras lentamente, enquanto Jimmy e Taylor saíam de dentro da casa, tentando descobrir o que estava acontecendo.

— Eu cansei de ouvir seus lamentos, Anisah. Te ajudei o máximo que pude, você sabe disso. — Trent falou, enxugando algumas lágrimas que insistiam em aparecer. — E mesmo assim você vem e pisa em mim feito um inseto. Você quer ser cega e fingir que nós também não estamos afetados pelo o que aconteceu? Ótimo, pode ser. Mas não venha me culpar pelo o que eu não tenho controle. Se eu pudesse, óbvio que tinha salvado a Tess.

Trent respirou fundo naquele instante, e sentia como se tivesse descarregado um caminhão de emoções.

— Já chega. Deu pra mim. Faça o que você quiser Anisah, mas depois não volte pedindo perdão. — O rapaz falou, dando as costas para o grupo. Quando o rapaz encarou Taylor e Jimmy olhando para ele a distância, sentiu uma leve brisa passar pelo seu corpo.

Atrás dele, os gritos vieram.

XXX

Quando Mina percebeu o que estava prestes a acontecer, soltou um berro alto.

— ANISAH!

A iraniana ouviu um som de metal raspando pelo chão, e ao se virar na direção do som percebeu que a sua motocicleta descia a rampa, em rota de colisão com ela, puxada pela força da inércia. Anisah não tinha percebido, mas no momento em que chutara o pedal para trazer estabilidade para a moto, o mesmo não havia ficado totalmente preso. Como a parte de trás da moto ainda estava sobre a rampa, foi questão de tempo até a estabilidade dela se perder.

O tempo parecia ter parado naquele instante. Enquanto Anisah observava a roda da moto descendo em sua direção, sentiu alguém a puxando e quando percebeu, estava no chão. Um barulho ensurdecedor de metal sendo amassado pode ser ouvido quando a motocicleta atingiu a porta da garagem, exatamente onde a bicicleta estava, entortando completamente a mesma. O impacto do choque fez a parede tremer no momento em que a roda bateu na calha, fazendo uma das telhas cair sobre o encanamento externo, quebrando o mesmo. Entretanto, uma parte da telha ainda ficou presa, ameaçando cair.

A outra metade da telha caiu com força na direção do chão, batendo na chave da motocicleta no caminho. O choque fez um pedaço se quebrar e a chave da moto ser finalmente desligada.

Quando Anisah percebeu, Kara estava sobre ela, olhando a garota assustada. No momento em que percebeu a moto começando a descer, Kara foi rápida o suficiente para puxar Anisah antes da iraniana ser atingida em cheio pela moto e consequentemente esmagada pelo impacto.

— Você… — Anisah não conseguiu completar a frase, ainda chocada. A garota se sentou a tempo de ver que um dos bolsos da sua jaqueta tinham se aberto, derrubando a fotografia de Tess próximo da moto e da bicicleta destruídas. Próximo a fotografia, uma poça de óleo se formava.

Mina logo se ajoelhou próximo das garotas, com Taylor, Jimmy e até mesmo Trent se aproximando. Anisah respirava de forma ofegante, e então Kara falou:

— Meninos, algum de vocês! Vai buscar um copo de água!

Os três se entreolharam e pela troca de olhares Trent acabou sendo escolhido. O jovem correu para dentro de casa no mesmo instante em que Anisah se levantava, batendo nas roupas para tirar o pó.

— Senta um pouco Anisah! Respira! — Mina falou, se levantando.

— Não… Não tem necessidade. — Ela falou, completamente anestesiada, já andando na direção da moto destruída e da poça de óleo para pegar a fotografia. A garota pegou a foto nas mãos, com metade dela manchada de óleo. Era a parte onde Tess estava.

Olhou para a sua moto e percebeu que nada se salvaria ali. As rodas estavam completamente tortas, o tanque havia estourado, o capacete jazia quebrado atravessado pelo guidão amassado. Já a bicicleta de Taylor atrás dela se misturava a moto, completamente destruída. O banco havia sido quebrado, o guidão havia entortado para cima e a corrente se soltou, agora caída no chão.

Naquele instante, ouviu um som estranho vindo de cima. A garota olhou para o telhado, a tempo de ver a outra parte da telha caindo em sua direção. Em um último segundo, a jovem pulou para o lado, exatamente onde o vazamento de óleo acontecia.

Anisah se desequilibrou, enquanto ainda segurava a foto, e escorregou com o corpo caindo na direção dos veículos retorcidos. A telha estourou no chão no mesmo momento em que o pescoço de Anisah entrou no guidão torto da bicicleta de Taylor, saindo do outro lado e esfacelando algumas vértebras no caminho. Sangue começou a sair em profusão do ferimento, enquanto a garota perdia os sentidos.

Muito sangue começou a sair de sua boca, assim como o líquido rubro que descia do guidão anteriormente branco. Kara soltou um grito, assim como Mina, ambas horrorizadas com a cena.

Jimmy tapou os olhos instintivamente enquanto Taylor acabou correndo de volta para casa, sentindo seu café da manhã retornar. Trent, que voltava do interior da casa com o copo, parou, observando a cena em choque. Pouco depois, o copo de vidro atingiu o chão, estourando em pedaços.

No mesmo momento, a foto escorregou das mãos de Anisah, caindo ao lado da poça de óleo. Pouco depois, três gotas de sangue caíram sobre o rosto de Anisah na foto, pintando aquelas memórias com a cor da morte.

XXX

Horas depois.

O clima na delegacia do centro de New Orleans não era dos melhores.

Após a cena que testemunharam mais cedo, a ambulância acabou sendo chamada apenas para constatar o óbvio: não havia salvação, Anisah já havia partido. Junto das ambulâncias vieram carros da polícia, para quem alguns dos jovens deram depoimento.

Até perceberem a presença de Trent ali entre eles. O visionário já tinha se tornado uma figura conhecida dentro do posto policial, e quando todos perceberam, estavam sendo levados para a delegacia central, próximo a região mais célebre da cidade: o French Quarter, e não muito longe do Hotel Andorras.

Trent novamente foi interrogado por mais tempo e depois que saiu, contou para as meninas o que tinha acontecido. Além de tentarem descobrir o que ele estava fazendo lá, ainda ousaram perguntar se ele tinha alguma relação com a morte de Levi, ocorrida justamente na propriedade ao lado da chácara.

— E você falou o que pra eles? — Kara perguntou ao rapaz, preocupada.

— Falei o que eu sabia e o que estava fazendo ontem na hora da morte do Levi. Ele chegaram a me perguntar se eu tinha um álibi…

Então Mina acabou também sendo interrogada, seguida de Kara, justamente perguntando se Trent estava com elas no dia anterior. O tempo corria acelerado e quando perceberam, já estavam naquele posto policial a horas. Depois foi a vez de Taylor ser interrogado.

Por algum motivo desconhecido para eles, Taylor estava a mais tempo que o previsto dentro da sala. Como os que deram o depoimento já estavam liberados, Trent e Mina conseguiram dar uma saída rápida para comprar alguns lanches e trazer para Kara e Jimmy, que decidiram ficar na delegacia, esperando Taylor sair da sala.

Quando os dois já tinham saído, Kara respirou fundo mais uma vez, sentindo-se totalmente acabada. A ficha de que Anisah tinha morrido ainda não tinha caído para a garota e mesmo com as terríveis desavenças que tiveram nos últimos dias devidos aos surtos da iraniana, Kara ainda tentou salvar a jovem.

Ela até tinha conseguido na primeira vez, apenas para falhar minutos depois.

— Não é a toa que Anisah queria ir embora desse lugar. — Kara falou. — Eu ando me sentindo muito estranha ultimamente.

— Estranha como? — Jimmy perguntou, sentado ao lado da garota.

— Não sei te explicar. É uma sensação meio agourenta, sabe?

— New Orleans tem isso mesmo, Kara. Essa cidade foi construída na base da tristeza e da tragédia, ela carrega um peso muito forte. — Jimmy falou. — Eu lembro quando o Katrina passou por aqui, eu tinha uns 10 anos, sabe? Ainda era uma criança.

— Deve ter sido horrível, Jimmy. — Kara respondeu.

— Foi horrível. Todas aquelas imagens que passaram na TV por semanas, o povo se abrigando no Superdome, são cenas que eu acho que nunca vou me esquecer. Mas a cidade conseguiu se reerguer né?

— Até acontecer esse acidente no píer. — Kara completou, desolada. — Meu Deus, o que está acontecendo?

XXX

— Aqui tem um lugar, Trent. — Mina falou, indicando uma mesa do lado externo. Os jovens estavam em um McDonald's localizado bem perto da delegacia, comprando os lanches para levar aos que ficaram no posto policial. Contudo Mina havia falado com o rapaz um pouco antes, dizendo que queria conversar em particular com ele, fazendo com que os dois comessem seus lanches ali mesmo.

Trent puxou a cadeira na frente de Mina, enquanto deu um suspiro cansado, olhando para o seu lanche diante dele. O rapaz não havia comido nada o dia inteiro mas continuava sem fome, parecia que nada iria manter-se no seu estômago depois de ver Anisah morrendo de forma tão brutal.

— Você não vai comer nada? — Mina perguntou, preocupada.

— Não estou com muita fome. Mas vou. — Ele disse, comendo um pedaço do hambúrguer. Trent geralmente achava muito saboroso o lanche mas agora, sentia como se estivesse comendo borracha.

— Trent… Aquilo que aconteceu, não foi culpa sua. Você sabe disso. — Mina falou, olhando nos olhos negros do jovem.

— Será que não foi culpa minha mesmo? Será que no fim das contas a Anisah realmente não estava certa?

— Para de pensar nisso, Trent. Você fez o que achou certo naquela tarde no píer.

Trent confirmou com a cabeça, dando um gole no refrigerante gelado.

— Você sabe sobre o que eu queria conversar, né?

— Óbvio. — O rapaz disse enquanto pegava uma batata. — Agora são três. Três pessoas que eu tirei do píer estão…

— Mortas. — Mina completou a frase, vendo que Trent ainda tinha dificuldade em falar a última palavra.

—  Você… Você realmente acha que aquilo está acontecendo? — Trent perguntou para Mina, referindo-se aos papéis que vira na noite anterior sobre um caso parecido com o seu.

— Eu não tenho certeza Trent. — Ela disse, colocando as mãos sobre a mesa. — Mas se estiver… Eu não sei o que fazer.

— Sinceramente, nem eu. Mas não é possível. Por que isso foi acontecer justamente comigo? As peças não se encaixam!

— Escuta. Eu pesquisei um pouco mais sobre aquele caso de Cancún e descobri mais algumas coisas. Se estivermos nessa mesma situação, o que eu realmente não quero acreditar, talvez isso ajude de alguma maneira.

— O que você achou?

Mina fez uma pausa dramática e então disse:

— Sabe aquelas mortes eu tinha falado? Então, através da fonte eu consegui eu descobri que as mortes ocorreram na exata ordem que eles deveriam ter morrido na visão. Um por um, peça após peça, parece que essa tal entidade que provocou os acidentes conseguiu reverter a situação.

— Entidade? — Trent perguntou, enquanto sentia sua mente explodir por dentro novamente.

— Eu também não sei explicar. Parece ser algo muito mais profundo do que a gente imagina.

— Merda. — Trent falou, enquanto sua mente trabalhava a mil.

A princípio, aquela história que Mina havia contado não fazia sentido algum para o jovem, e Trent sequer acreditara naquilo. Mas as provas estavam aparecendo em sua frente. Em um período de 12 horas, mais dois sobreviventes havia falecido, incluindo sua amiga.

Eram tantos problemas, tantas tribulações que Trent enfrentava que ele não sabia mais como estava de pé. A visão do píer, as mortes de Tess e Cael, a apresentação fracassada que terminou na morte de Sky. A doença de sua avó, ser um suspeito de ter destruído o píer, a morte de Levi e agora de Anisah, que tinha brigado com ele pouco antes de seu fim.

E para melhorar, agora estavam sendo aparentemente perseguidos por uma entidade sobrenatural.

Sentia sua cabeça explodindo de dor de cabeça, pesadelos constantes, péssimas noites de sono. Com tanta informação sendo processada ao mesmo tempo, o jovem estava distraído nos últimos dias, vinha perdendo a fome e quando a ansiedade atacava, praticamente engolia vários cigarros para tentar se acalmar novamente. Trent estava se afundando em um buraco pessoal, submergido em traumas que insistiam em aparecer e tudo isso podia ser visto em sua face, que a cada dia ficava mais exausta e cansada.

Era uma viagem que seria para relaxar a sua cabeça depois de um semestre complicado da faculdade, mas agora tudo o que Trent queria era voltar pra sua faculdade de biologia.

Mas ainda não podia. Tinha assuntos pendentes em New Orleans, e queria resolvê-los. Isso incluía visitar um lugar em especial que era bem perto de onde estavam.

Do lado de fora da lanchonete, já alimentados, Trent chamou a oriental:

— Mina, eu vou ter que fazer umas coisas a mais aqui perto. Se quiser pode voltar.

— Que coisas a mais, Trent? — Mina perguntou, desconfiada. — Eu pensei que voltaríamos juntos.

— Então… Eu vou ter que passar numa farmácia aqui perto. É só virando naquela rua ali na frente. — O rapaz apontou com o dedo. — Minha cabeça tá estourando de dor de cabeça, vou comprar algum analgésico.

— É só isso? Eu vou com você.

Jesus, o que eu faço? Mentira nunca foi meu forte.

— Eu também vou ter que procurar um lugar pra comprar cigarro, Mina. Eu sei que você não gosta.

Mina olhou para o jovem como se estivesse o julgando.

— Então você vai comprar um negócio pra melhorar sua saúde e outro pra estragar ela.

— Acabamos de sair de um McDonald's, Mina.

A garota levou a mão até às têmporas, balançando a cabeça.

— Tudo bem. Vai lá fazer as suas coisas, daqui a pouco te encontro na delegacia. Por favor, tenha juízo. Não podemos ficar muito tempo fora.

— Beleza então. Daqui a pouco a gente se vê. — O rapaz falou, se despedindo da oriental. Foi aí que Mina percebeu que o rapaz parecia estar um tanto quanto apressado.

Trent, você mente muito mal.

Em dado momento, o rapaz olhou para trás e viu Mina retornando para o posto policial, na outra direção. Deu um suspiro aliviado, sabendo que havia convencido a garota. Na realidade, ele não havia mentido para Mina já que realmente iria fazer o que tinha dito.

Somente tinha omitido um detalhe importante.

Quando Mina olhou para trás novamente, notou que Trent já tinha virado na rua que tinha falado. Foi aí que a garota deu meia volta e começou a andar na direção que ele tinha ido.

XXX

Dentro da bolsa de Kara, o seu celular começou a vibrar incessantemente, chamando a atenção da jovem que agora estava sozinha dentro da delegacia. Jimmy tinha acabado de sair para ir ao banheiro e logo estaria de volta.

Quando a moça pegou o aparelho, notou que não conhecia o número que ligava para ela. A garota pensou em qual decisão deveria tomar e por fim, acabou atendendo a ligação.

— Alô? Quem fala?

— Kara Colt, é você mesma?

— Eu gostaria de saber primeiro com quem estou falando…

— Mil perdões! Eu sou Belinda Twine, apresentadora do Médium Days. Acredito que deva conhecer meu programa…

— Conheço bem, inclusive. Como conseguiu meu número, Belinda?

— Isso não vem ao caso agora, Kara. Como você é uma personalidade da internet, ter você em meu programa seria interessantíssimo já que está em New Orleans, não é mesmo?

Maldita vida pública que eu tenho. — Pensou.

— Por favor, me conte mais. Ainda não entendi exatamente o seu convite.

— Lembre-se que meu programa tem umas das audiências mais elevadas em programas de médiuns na TV! E estou te propondo uma entrevista comigo a respeito do acidente no píer Big Natchez, dedicarei uma programa inteiro apenas para esse assunto. Modéstia a parte, outros convidados já toparam e…

— Mas não era uma entrevista exclusiva?

— Sim, eu farei uma entrevista com você! Mas ela será uma das entrevistas do dia do programa, existirão…

— Mil perdões Belinda, mas não me interesso. Na realidade, nem sei direito se é você mesmo ou se é alguém querendo me passar um trote, então por favor, não me ligue mais.

Kara já iria desligar o celular quando a voz de Belinda surgiu do outro lado da linha.

— Você tem certeza disso? Aqueles seus vídeos estão fazendo muito sucesso. E aparentemente você tem uma conexão especial com um dos tópicos da nossa conversa. O garoto da visão.

As peças do quebra-cabeça logo se uniram em sua mente. Ela estava falando de Trent e dos vídeos vazados por Anisah. Lembrar dos vídeos não era somente lembrar de todo aquele caos do Big Natchez mas também era relembrar do fim terrível de Sky, e agora o de Anisah também, ambos ocorridos diante dos seus olhos.

— Eu já disse que não estou interessada. E você, Belinda Twine, não tente incluir ele no seu programa. Ele não é mais uma aberração para você poder explorar no seu show de horrores. Passar bem.

Assim que desligou o celular, passou a mão pelos seus cabelos rosados, bufando de raiva. Com o canto do olho, percebeu Jimmy retornando com uma cara assustada.

— Está tudo bem, Jimmy? Você parece que viu um fantasma.

Jimmy sentou ao seu lado e falou:

— Eu nunca mais falo de como essa cidade é assombrada, parece que atrai…

— Do que você tá falando?

— Bem, eu tinha acabado de ir no banheiro e estava lavando as mãos tranquilamente, que que de cabeça baixa. Eu juro pra você que na hora que eu ergui a cabeça, eu enxerguei algo naquele espelho. Algo que não estava naquele banheiro.

— Mas o que era afinal? — Kara perguntou, desejando a resposta de forma urgente.

— Era um corvo, Kara. Empoleirado sobre a cabine do banheiro. — Jimmy falou, se arrepiando. — E pra melhorar, as luzes ainda piscaram antes de eu olhar pra trás e não ver nada.

— Não tinha nada lá então? — Kara perguntou assustada.

— Nada. Tudo vazio. Sinceramente, eu não sei o que isso quer dizer, mas boa coisa não é.

XXX

Trent encarou o pequeno portão negro, aberto para que o público entrasse no cemitério secular. A entrada era um tanto quanto modesta para um dos principais pontos turísticos da cidade e que guardava tantas histórias e memórias. O pequeno portão pintado de preto era simples, apenas carregando uma pequena cruz sobre ele, sendo que este ficava entre duas pilastras brancas e Trent notou que algumas placas de bronze desgastadas pelo tempo estavam presas nestas pilastras. Trent conseguiu ler em um das placas “Saint Louis Cemetery Number One”, e ele sabia que estava no local certo.

O jovem começou a andar pelo cemitério, observando as lápides de mais diferentes formatos ao seu redor. Trent sacou o celular no mesmo momento, abrindo uma foto do mapa do St. Louis Cemetery, localizando até onde ele deveria ir.

Trent não sabia se o que estava prestes a fazer daria certo, mas se desse, significaria encontrar sua avó em casa quando retornasse para Los Angeles, sã e salva. Ele já tinha perdido muitas pessoas importantes nos últimos dias e não queria que Lacey também partisse.

Trent não se surpreendeu que o cemitério estivesse movimentado naquela tarde nublada, mas parecia que quanto mais ele se aproximava do seu destino, adentrando o cemitério, o fluxo de pessoas diminuía. Ele olhou para as tumbas ao seu redor, e notou que elas se tornavam maiores e aparentavam ficar mais velhas. Em certo ponto, ele chegou a passar ao lado de um grande buraco no chão, onde aparentemente existia uma tumba no passado.

Uma brisa gelada passou por ele, balançando os seus cabelos arrumados em uma franja na testa. No céu, conseguiu observar um corvo batendo suas asas negras e se arrepiou involuntariamente.

Trent virou em um corredor e percebeu que estava diante de um caminho um tanto quanto estreito. Um pouco mais a frente, o seu destino.

O túmulo de Marie Laveau.

XXX

Angelita olhou para o cartão de Belinda Twine e depois desviou seu olhar para a televisão em sua frente, sintonizada em um canal de notícias local.

Pouco ainda se sabe sobre o que causou a morte de Levi Sunderland esta noite, aqui em New Orleans. Mais cedo o político compareceu a um memorial dedicado às vítimas do acidente no píer Big Natchez, e chegou a discursar…

Angelita desligou o aparelho, levando as mãos ao rosto. Ela se lembrava de ter visto Levi Sunderland no Big Natchez pouco antes do acidente, mas não sabia que o rapaz havia saído do píer assim como ela e Daniel tinham feito.

Angelita ainda se lembrava de ter visto um cara surtado dizendo que o píer ia cair, e algumas garotas ao redor tentando o acalmar. No calor do momento, Angelita viu o rapaz ainda segurar o pulso de outro cara antes de sair em disparada na direção da terra firme junto de suas amigas. Quando passou por ela e Daniel, o rapaz acabou esbarrando no homem e sujando sua camiseta de cerveja. A reação do homem já alterado pela bebida foi de pedir explicações, contudo foi solenemente ignorado por todos.

E enquanto o grupo corria para fora do píer, viu mais dois homens caminhando atrás, incluindo o cara que teve o pulso apertado pelo jovem surtado. Daniel ainda xingava o rapaz e quando Angelita percebeu, o homem corria atrás do grupo de amigos. Naquele mesmo instante Angelita pode ouvir a buzina do navio se aproximando do píer e não pensou duas vezes em correr atrás de Daniel.

Pouco depois, os dois viram tudo desabar diante de si, assim como o rapaz tinha previsto.

Angelita pegou o celular e olhando para o cartão, digitou os números impressos ali, respirando fundo em seguida.

— Alô? Quem fala?

— Belinda Twine? É a Angelita Andorras. Eu queria saber se aquela oferta ainda está de pé.

XXX

Tema da cena: House of Memories

Como aquela região do cemitério estava vazia, Trent não esperava encontrar ninguém naquele corredor, mas se enganou. Uma senhora de cabelos vermelhos olhava para a tumba e não parecia perceber a presença de Trent se aproximando devagar.

Subitamente, a mulher arrumou a bolsa que carregava a tiracolo e se virou, quase batendo de frente com Trent.

— Me desculpa, senhora.  — Trent falou, colocando as mãos na frente do corpo.

— Tudo bem, foi só um susto. — A senhora falou gentilmente enquanto olhava o rapaz. — Veio visitar Marie Laveau jovem?

Trent meneou com a cabeça, um pouco desconfortável.

— Eu estava conhecendo aqui o cemitério, é um ponto turístico bem visitado… Aí me falaram dela.

— Ah sim, você é um turista. — A senhora falou, gesticulando. — Presumo que tenha vindo para aquela babilônia de dias atrás.

— Babilônia?

— É, o Mardi Gras. Com o perdão da palavra, acho que aquele festival perdeu totalmente a antiga essência dele. Hoje aquilo está mais para uma Sodoma e Gomorra. Uma pena. Mas bem, não irei ocupar seu tempo.

— Não, tá tudo bem. — Trent falou, embora por dentro estivesse ficando ainda mais desconfortável. — Pode ficar tranquila.

— Antes de ir embora… Você sabe quem foi Marie Laveau? Arrisco dizer que nunca existiu uma pessoa tão emblemática nesta cidade.

— Eu fiz meu dever de casa antes de vir pra cá. A Rainha do Voodoo, não é?

— Muito mais do que isso, pequeno rapaz. Esta mulher é a guardiã de New Orleans, uma grande feiticeira cujos atos ainda ecoam por esta cidade. É impossível separar New Orleans de Marie Laveau.

Trent se arrepiou novamente. Ele já tinha percebido a aura mística daquela cidade, mas ter como guardiã a rainha de uma religião considerada por muitos como magia negra trazia um significado a mais para o título de cidade mais assombrada dos Estados Unidos.

— Fique a vontade. — A mulher segurou a bolsa com força. — Não esqueça que você pode fazer um pedido para Marie, quem sabe não se realize.

— E funciona? — Trent perguntou, embora já soubesse a resposta. Óbvio que funciona, eu tenho provas.

— Depende da situação. Mas tente. — A mulher falou. — Já estou enchendo sua paciência, posso perceber. Aproveite sua estadia aqui em New Orleans, jovem. A propósito, meu nome é Delilah.

— Trent. — Ele disse, apertando a mão gélida da mulher. — Foi uma prazer, senhora.

— O prazer foi todo meu. — Delilah respondeu, antes de abrir um sorriso enigmático e se virar no caminho pelo qual Trent viera.

O túmulo de Marie Laveau era na realidade uma grande tumba que se assemelhava a uma casinha branca desgastada pelo tempo, criando uma aparência ainda mais macabra para o local. Em toda sua extensão existiam inscrições realizadas na estrutura, os famosos “XXX”, muitos já apagados pelo tempo. Segundo a história contada, desenhar os XXX era a última etapa do processo que deveria ser realizado para que seu pedido fosse atendido por Marie Laveau.

No chão, várias flores secas estavam espalhadas, assim como cera derretida originária de velas que ali foram acesas a muito tempo. Trent não pode deixar de perceber que a tumba parecia uma espécie de santuário e que Marie era mais do que uma guardiã para New Orleans.

Era uma santa.

O rapaz percebeu que existia um degrau separando os túmulos da calçada de cimento em que estava e colocou o pé exatamente sobre esse degrau, agachando-se em seguida. Foi aí que percebeu que existiam muitas outras coisas além de velas e flores no chão. Canecas, beads, bitucas de cigarro, conchas… Até mesmo um boneco de vodu. Oferendas dadas para Marie em agradecimento a algum milagre que tinha feito.

De repente o rapaz ouviu um som estranho vindo de trás dele. Trent se levantou assustado, enquanto sentia uma estranha presença tomar conta do ambiente. Aquele cemitério tinha uma energia muito carregada, o que só deixava as coisas mais sombrias.

Quando se virou, um corvo estava parado sobre o túmulo, o observando. Onde já tinha visto isso antes?

O corvo parecia atrair a atenção do jovem, que se mostrava estranhamente interessado no animal, olhando-o atentamente. Naquele instante, ele sentiu a mesma brisa fria que  passara por ele antes da morte de Anisah.

— O que…

O corvo grasnou mais uma vez antes de alçar vôo na direção de Trent, como se estivesse pronto para atacá-lo. Inesperadamente, um outro corvo surgiu de uma direção que Trent não havia visto e voou na direção do primeiro pássaro.

Com o rosto sendo atingido pelas batidas das asas, Trent começou a se debater tentando afugentar as aves. Ao andar para trás para se afastar ainda de olhos fechados, sentiu o seu pé pisando em falso no degrau da calçada.

O rapaz perdeu o equilíbrio e então caiu em direção ao chão de cimento, batendo a cabeça com força no piso. A visão de Trent escureceu no mesmo momento e o vazio tomou conta da sua mente.

XXX

Mina andava no meio do St. Louis Cemetery, ainda procurando por Trent. A garota havia o seguido escondido pelo local até acabar se perdendo no labirinto de túmulos e lápides.

Para Mina, cemitérios nunca haviam se passado de locais de descanso eterno e para onde todos iriam após a morte. A garota curiosamente se sentia bem nesses locais, mas algo no St. Louis chamava sua atenção. Era um clima estranho.

Talvez seja estar no cemitério da suposta cidade mais assombrada dos país.

Mina balançou a cabeça, enquanto afastava os pensamentos a respeito do sobrenatural. A garota sempre fora muito cética e buscava achar uma explicação científica para tudo, portanto não acreditava no que ela chamava de lendas.

No mesmo momento, percebeu um corvo passando sob sua cabeça seguido de outro. A garota instintivamente sentiu um pequeno arrepio, e virou em um outro corredor do cemitério.

Foi quando percebeu o corpo de Trent caído no chão.

— TRENT! — Ela gritou, correndo desesperada na direção do corpo inerte do amigo. O seu primeiro ato foi checar o pulso do jovem estendido e Mina respirou um pouco mais aliviada ao perceber os batimentos cardíacos dele. Então ela sacou o celular pronta para ligar para Kara e a ambulância, enquanto virava o corpo desmaiado do rapaz, colocando sua barriga para cima.

Foi aí que percebeu que o rosto de Trent estava banhado de sangue, que descia de algum corte que ele sofrera na testa. Derrubadas no chão, estavam algumas das oferendas feitas a Marie que tinham sido atingidas pelo corpo desmaiado do rapaz, como algumas velas, vasos e o boneco.

Mais a frente, no exato local onde a cabeça de Trent havia batido, uma pequena poça do líquido rubro secava.

Tess. Cael.

— Alô? É do 9-1-1? Eu tenho uma emergência aqui…

Sky. Levi.

— Como assim o Trent sofreu um acidente? Mina, me explica direito essa história!

Anisah. New Orleans.

— Entra no carro, Kara! Eu e o Jimmy te damos uma carona até o hospital.

Marie Laveau. Mardi Gras.

— Agora é esperar. Os médicos disseram que não é nada grave...

Big Natchez. Acidente.

— Mina, você mais do que ninguém sabe qual é meu medo. É melhor estarmos prontas.

Morte.

XXX

Tema da cena: Babylon

Quando abriu os olhos, a luz forte surgia com força, fazendo o jovem piscar algumas vezes antes de se acostumar com o brilho. Trent sentiu uma forte dor na região da testa e levou as mãos até lá, percebendo que havia algo ali.

Um curativo?

— Trent! — Mina falou, entrando na sala onde ele estava, seguido de Kara e um enfermeiro que tinha vindo avisar as duas.

— Meu Deus! Trent, você tá bem? — Kara perguntou para o garoto.

— Aparentemente… Estou numa cama de hospital, então eu acredito que não. — Trent falou, esboçando uma risada.

— Nós estávamos muito preocupados. — Mina falou. — Inclusive depois você vai ter que explicar por que estava no cemitério aquela hora. Mas isso é pra depois.

— Sim, o cemitério… — Trent falou, com um olhar distante.

— O Taylor e o Jimmy estão lá fora também. Você deu um puta susto na gente. — Kara falou.

— Taylor e Jimmy… Quem?

— Como assim quem? O Taylor e o Jimmy, oras.

— Calma Kara, ele deve estar cansado. O choque foi forte, quem sabe ele…

— Onde estão os outros? A Sky, a Anisah, o Cael…

— Trent? — Mina perguntou, exibindo preocupação no rosto. — Calma.

— Trent, deixa eu te perguntar uma coisa. — Kara falou. — Você sabe onde estamos?

— Em New Orleans? Isso não é óbvio? Nós viemos pra cá no Mardi Gras… E… Estávamos no píer, não sei.

— Qual é a última coisa que você se lembra?

— Isso que eu falei. O píer… — Trent forçou a mente um pouco, mas era exatamente aquilo. Eles estavam no Big Natchez e de repente, estava numa cama de hospital. — É a última coisa que eu lembro. Deve ter sido a bebida.

Mina e Kara se entreolharam no mesmo momento, percebendo o que tinha acontecido, enquanto Trent olhava confuso para as duas. Tudo estava desabando.

A amnésia de Trent, sequela causada pela meningite que o rapaz tivera quando criança, atacava novamente. E dessa vez, no pior momento possível. Todas as memórias a respeito dos últimos dias tinham sido completamente esquecidas.

Incluindo a visão do acidente no píer, também levada na enxurrada de memórias que haviam desaparecido da mente de Trent.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Não esqueçam de comentar. As reviews são muito importantes para a continuidade do projeto.



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