Ele e Eu escrita por Thay Chan


Capítulo 22
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, gente! Então, voltei rapido! Espero que gostem! ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/773046/chapter/22

— COMO ESTÁ SE SENTINDO HOJE? – PERGUNTA papai, enquanto presta atenção na estrada. Está fazendo mínima de 10 graus essa manhã, e névoa cobre o ar lá fora. Não é névoa o bastante para nos impedir de sair de casa, mas é névoa o suficiente para deixar os motoristas mais cautelosos. Um Audi prateado pisca as lanternas dianteiras antes de nos ultrapassar. Desenho uma rosa no vidro embaçado de Dorothy com o dedo indicador.

— Bem – eu respondo, simplesmente. Não quero dizer como estou de verdade. Não quero dizer que sinto como se tivesse centenas de pedrinhas no estômago. Batendo umas nas outras, chacoalhando como bolinhas de gude dentro do vidro.

Encosto a cabeça na janela e observo o tempo lá fora. O céu cinza como poeira de grafite. As nuvens se movendo como ondas em mar aberto.

Penso no que aconteceu ontem pela enésima vez. Imagino o que Sasuke deveria estar fazendo naquele momento. Certamente não indo à uma consulta com um psiquiatra bipolar.

Papai passa todo esse tempo em silêncio, talvez tentando encontrar a melhor maneira de me dizer o que está pensando. Então quando acho que desistiu, ele começa, cuidadosamente, para testar o terreno:

— Kakashi pode ser difícil as vezes.

— Um pouco – digo, sem muito interesse. Não estou a fim de ter essa conversa agora. Começo a desenhar uma margarida ao lado das gotículas de água que outrora foram uma rosa.

— Sei que ele é diferente dos outros psicólogos que você já teve. Mas ele não é tão ruim. Pelo menos, não profissionalmente.

— Sim.

— Ele deve ser o melhor por um motivo, não?

— Provavelmente.

— Isso quer dizer que você vai dar uma chance a ele?

Termino a flor, ela tem pétalas estreitas e compridas, e já está começando a sumir.

— Pode ser.

 

Quando chegamos no consultório de Kakashi, somos recebidos pela recepcionista bonita, como sempre. Ela é educada e gentil, o que facilmente é notado como parte de sua personalidade amigável. Ela nos oferece café ou suco, acabou de sair, ela diz, e não sei de qual das duas bebidas está falando. Nós agradecemos e recusamos a oferta. Eu, enjoada de mais para ingerir qualquer coisa, papai, provavelmente por que não quer incomodá-la. Ela pede por favor, para ficarmos à vontade, e nos sentamos no enorme sofá azul-escuro, que de repente noto estar de frente para os quinze quadros que até semana passada não estavam ali.

— São novos? – papai também repara, nossas mentes parecendo conectadas.

A recepcionista bonita para de organizar alguns papéis sobre o balcão, olha para os quadros, sorri e diz:

— Sim, o Sr. Hatake comprou de um artista em ascensão. Dizem ser um promessa da arte. São lindos, não são? Quando os olho me sinto dentro deles, não sei explicar.

Eu olho mais detalhadamente para cada um dos quadros. Ela tem razão, eles trazem uma realidade surreal. Alguns me fazem pensar que estou dentro de um mundo paralelo. Tem um em especial que me deixa sem palavras, estou o analisando fixamente quando o interfone da recepcionista bonita toca. Ela atende, desliga e diz que já posso entrar. Respiro fundo. Seja forte.

Levanto, e dou dois toques na porta antes de entrar.

— Com licença – eu digo quando vejo Kakashi olhando pelas frestas das persianas da janela em frente a sua mesa. Ele se vira, me olha e indica o sofá de couro preto.

Me sento.

— O que está achando das aulas particulares? – simples assim, sem um bom dia, como você está? Ele arranca o band-aid em um movimento só.

Eu pisco. Ele está me observando atentamente, pescando cada pequeno detalhe, inclusive minha linguagem corporal. Faço um esforço para piscar de novo só depois de dez segundos.

— Acho que estou gostando – respondo. Oito. Nove. Dez. Piscar.

Kakashi começa a brincar com o anel de prata. Girando e girando com o dedão ao redor do anelar.

Ele me pergunta se estou gostando de todos os professores até agora, respondo que sim, claro. Ótimo, ele diz, e em seguida inicia uma série de perguntas sobre como eu estou lidando com a nova rotina. Quando a sessão está quase acabando, ele pergunta:

— O que achou dos quadros da recepção?

Levo um ou dois segundos para entender, não esperava que ele fosse tocar no assunto. Na verdade, já estava contando os últimos segundos para ir embora. Mesmo assim respondo com sinceridade:

— São muito bons.

— O pintor se chama Sai, começou a expor a pouco tempo.

— Legal – eu digo. — Ele é bom.

Kakashi assente, e então verifica o relógio de ouro no pulso.

— O tempo acabou. Está liberada – ele diz, e é quando percebo que não era apenas eu que estava me esforçando, mas ele também.

 

Mais tarde naquele dia, depois de duas aulas cansativas, tomo um banho, visto algo confortável e preparo um suco de laranja natural. Faço uma quantidade suficiente para três pessoas. Para caso papai sair do escritório. Ele quer agradecer Sasuke pela torta de pêssego, mas pode ser que ele não consiga parar de escrever, pego por uma epifania de escritor, ele avisa. Depois me sento no sofá e folheio uma revista científica que estava na mesa de centro, esperando dar 5:00 P.M.

Ponteiro menor no cinco, ponteiro maior no terceiro tracinho após o dez. 4:53 P.M. Como o tempo pode passar tão devagar? Algumas palavras são pegas ao acaso por milésimos de segundos. Genes, em uma página. Animais, em outra. Extinção. Herbívoro. Então olho de novo para o relógio. 4:56 P.M.

Mal se passaram três minutos. E se ele não vier?

Afasto o pensamento e continuo a pegar conjuntos de letras, dessa vez formando frases pela metade. "O homo sapiens é o...", "A nova planta carnívora encontrada é uma espécie...", "O habitat em questão..."

4:58 P.M. Você está conseguindo. Não pode parecer tão ansiosa quando ele chegar. Vai parecer esquisita. Nós sabemos que você é, mas ele não precisa saber.

Certo.

"O renomado cientista Adolpho Carter descobriu uma importante informação sobre a Era Paleozóica no último ano. Sabe-se que..."

A campainha toca. Fecho a revista e a coloco no lugar. Esfrego as pernas cobertas pela calça de flanela, nervosamente. Olho novamente para o relógio. Cinco, em ponto. Ele veio! Ele veio! Vá logo, antes que ele desista e vá embora!

Me levanto. Olho pelo olho mágico. Dessa vez não vejo uma linda torta, e sim o rosto de um menino bonito e comum. Abro a porta. Ele sorri.

—Oi – ele diz.

—Oi – eu digo.

Ele indica a torta e pergunta de que sabor acho que é. Frango, eu respondo. Ele finge tristeza e pergunta como eu sabia. Eu só sabia, eu digo. Então eu peço para ele entrar. Ele entra e nos sentamos na mesa de jantar como da última vez. Ele pergunta como foi meu dia. Bom, eu acho, melhor do que pensei. Ele sorri e acena, e então muda de assunto. Pergunta sobre o trabalho de papai.

— É legal – respondo. — Ele é muito bom – e era mesmo, e não estava falando só por que eu era filha dele.

Sasuke toma um gole do suco. Diz que está realmente muito bom. Nem doce, nem azedo. Perfeito, é a palavra que ele usa. Fico satisfeita.

— Um dia você pode me mostrar o trabalho dele? – pergunta, esperançoso.

— Claro – eu digo, então me levanto e coloco um pano de prato limpo sobre a torta de frango. — Tem certeza que não quer?

— Sim, estou sem fome. Além do mais, essa é de vocês. E você também não comeu.

É verdade, eu não comi. Mas não por que não estava com vontade, e sim por que estava com o estômago embrulhado. Um enjôo diferente do que o que senti mais cedo.

— Eu vou esperar para comer com papai, ter essa experiência ao mesmo tempo que ele. Ver se as expressões que ele faz são as mesmas que as minhas. Seria como olhar no espelho, talvez. Mas não diga que a sua mãe que não comi, por favor. Não quero que pareça que não gostei.

— Minha mãe iria entender se eu dissesse à ela o motivo. Na verdade, iria ficar lisonjeada. Mas eu não vou falar nada, com a condição de que amanhã você me diga o que achou assim que der a primeira mordida por mensagem de texto.

Eu pisco.

— Está me pedindo...

— Seu número de telefone? Sim, estou. Se vamos ser amigos, isso é natural.

Na verdade, é, sim.

Eu me afasto da pia, onde estava escorada, e falo para Sasuke:

— Só espera um pouco aqui que eu já volto.

— Ok – ele diz confuso.

Subo as escadas para o andar de cima, correndo. Entro no meu quarto e procuro o celular que papai tinha me dado no ano passado, e que eu raramente usava. Acho-o na terceira gaveta do armário. Ligo-o, checo-o para ver se ainda funciona. Aparelhos negligenciados também podem parar de funcionar, li isso uma vez na internet. Felizmente, esse ainda está com vida. Coloco-o no bolso e encontro Sasuke no andar de baixo.

Dou meu número para ele, que decorei antes de descer. Ele salva meu nome, Sá, ele me mostra. Fique atenta, mandarei uma mensagem a qualquer momento para você me salvar também, ele diz logo antes de se despedir.

Mais tarde naquela noite, ele manda:

Durma bem, Sá. não esquece de me ADD :)

E é o que faço, salvo seu nome com um sorriso. É o primeiro amigo na minha lista de contatos. Papai não conta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, o q acharam? Espero q tenham gostado! Bjs ;*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ele e Eu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.