Chatos, ordinários e dramáticos escrita por Kiki


Capítulo 2
O Trem




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“Odeio Hogsmeade” disse Albus revoltado segurando sua autorização assinada nas mãos.

“Como pode odiar um lugar que não conhece?” Harry questionou com um quê de diversão.

“Porque eu sei que estará cheio de alunos de Hogwarts”

Albus Severus Potter, o segundo filho do grande herói Harry Potter, era parecido com seu pai em cabelos, olhos, talvez o jeito de andar e nada mais. Albus tinha um gênio difícil de lidar na opinião de Harry, ultimamente tudo que o filho lhe dizia vinha acompanhado de uma certa raiva ou ironia. Ginny declarava que era apenas uma fase, Harry tentava concordar e ter paciência.

Entretanto, muito além da personalidade de Albus, a diferença mais gritante entre ele e Harry era a forma como cada um vislumbrava Hogwarts. Para Harry a escola foi seu porto seguro, uma esperança em sua vida horrível com os tios. Já para Albus era a pior coisa que lhe aconteceu, com todo o tom dramático possível.

Albus não se dava bem com as outros alunos da escola, nem mesmo com os de sua própria casa: Sonserina. Para os sonserinos, Albus Potter era uma anormalidade na casa da serpente, a coisa mais bizarra que aconteceu em mil anos de história. E para o resto de Hogwarts, ele era um sonserino.

Para piorar, Albus não era bom em nada. Ele não jogava quadribol, na verdade, mal conseguia se equilibrar em uma vassoura. Não era bom em poções, feitiços ou qualquer outra aula. Bem diferente de seu único amigo, Scorpius Malfoy, que era tão amado em Hogwarts quanto Albus, mas, pelo menos, ele era um dos melhores alunos da sala. Nem mesmo isso Albus conseguia naquela escola.

Irritado por ter que retornar mais um ano e pensando que ainda teria mais quatro pela frente daquele inferno, Albus amassou a autorização de Hogsmeade e apontou sua varinha.

Incêndio!”

Um feixe saiu da varinha do garoto e acertou no papel fazendo-o ficar em chamas imediatamente. Albus ficou encarando o papel escurecendo sob o vermelho e a fumaça subindo. Ele estava surpreso consigo mesmo, não era exatamente sua intenção que o feitiço funcionasse. O fogo chegou próximo da pele de sua mão e, com um ai, ele soltou a bolinha que terminou de queimar caída no chão.

“Mas que idiotice” suspirou Harry decepcionado com a atitude do filho.

Harry começou a falar e falar. O garoto mal escutou o pai, tudo que ele queria era escapar para longe. Portanto, assim ele fez na primeira oportunidade, correu para longe a procura de seu amigo.

Não foi uma missão tão difícil encontrar os cabelos platinados de Scorpius entre a multidão de pessoas na plataforma. Albus parou diante do amigo que estava sentado sobre seu malão e mantinha a cabeça baixa.

“Hey” Albus o comprimentou de forma alegre.

Ele recebeu um simples olhar inexpressivo do amigo. Albus varreu o olhar ao redor em busca dos pais de Scorpius, ou pelo menos o pai. Mas não havia ninguém com ele.

“Você veio sozinho?” perguntou

“Meu pai já foi. Eu estava te esperando.” Scorpius respondeu com a voz mais desanimada que Albus já tinha escutado vindo dele.

“Está tudo bem?” ele se viu na obrigação de perguntar diante da aura angustiada que vinha do outro garoto.

“Minha mãe…” Scorpius engoliu em seco e Albus pensou ter visto seus olhos brilharem molhados.

“Ela piorou?”

“O pior a que se pode chegar.”

Toda a encantadora energia otimista que costumava emanar de Scorpius estava apagada naquele momento. Albus reparou como, daquela forma, frio e apático, Scorpius parecia mais do que nunca uma cópia de Draco Malfoy.

Então Albus compreendeu o que ele quis dizer. Era óbvio que nada além daquela hipótese poderia ter deixado seu amigo naquele estado. Albus murchou se sentindo mal por ter o cumprimento de forma tão animada. Agora parecia a atitude mais insensível do universo.

“Pensei que me mandaria uma coruja” Albus sussurrou com um tom mais acusatório do que planejava.

“Eu não consegui” Scorpius se justificou e passou a manga da blusa pelo rosto, provavelmente enxugando uma lágrima que escapou.

“Tudo bem, tem algo que eu possa…”

“Vá ao enterro” ele disse tão prontamente que Albus assentiu de imediato

“Ok” respondeu apenas para reforçar diante do olhar ferido que recebia das orbes cinzas e tempestuosas.

 

***

 

Ron e seu bando de criança chegaram na plataforma 9¾. Bastou andar um pouco ao redor do trem para avistarem os Potters. Lily parecia estar sob um feitiço de agitador de tanto que pulava animadamente. Em contraste, Harry e Ginny pareciam um pouco abalados com algo. James se demonstrava alheio a situação, indiferença devia ser um mal de adolescentes.

Lily os avistou de longe e com um enorme sorriso foi correndo direto para Hugo. Ela o envolveu com o abraço mais forte que conseguiu. Diante da felicidade dela, o menino não pode deixar de retribuir, por mais que ainda estivesse de mal humor. Lily largou o ruivinho e se jogou em Roxy da mesma forma fazendo a garota cambalear. Ao se virar para Rose, Lily foi mais contida e deu um abraço menos agitado, ela sabia que sua prima não era muito fã de contatos físicos. Exatamente como abraçou Rose, Lily abraçou Fred que teve que se curvar um pouco para retribuir dando batatinhas simpáticas nas costas dela.

E por fim, faltava uma pessoa que já aguardava de braços abertos e um sorriso enorme. Ron abraçou a sobrinha com muito carinho, chegando até a erguer do chão lhe arrancando risadas.

“Me solta, seu bobo” Lily protestou e foi colocada no chão.

“Vocês todos indo para escola. Estou tão orgulhoso” Ron fez carinho na cabeça da menina bagunçando suas madeixas ruivas.

“Não exagera, Ronald” Ginny revirou os olhos.

Os outros haviam se aproximado da agitada troca de abraços assim que Lily saiu correndo.

“James, ajuda os meninos guardarem as malas no vagão” pediu Harry.

“Ok”

Depois de mais uma rodada de abraços e despedidas Fred e James ajudaram os mais novos a levarem as malas para o trem e depois desapareceram nos corredores. Rose procurou suas amigas deixando os calouros sozinhos.

Lily, Hugo e Roxy procuraram um vagão vazio e se instalaram nele.

“Onde está Albus?” perguntou Hugo notando que não havia visto o primo na plataforma.

“Em algum lugar… saiu sem se despedir, parece que ele e papai discutiram.” respondeu Lily

“Sobre o que?” perguntou Roxy.

“Para ser sincera eu não sei...eles estão discutindo muito ultimamente” Lily deu de ombros no final.

Hugo olhava pela janela do expresso. Ele podia ver seu pai acessando e ele acenou de volta. O expresso apitou começando a dar as últimas chamadas. Hugo se agitou preocupado.

“Hugo, está tudo bem?” Lily percebeu seu tremor de perna.

“Não! Cadê o Louis? O trem já vai sair”

“Lá está” Roxy apontou para um garoto de onze anos e cabelos claros acompanhado por uma jovem alta e esbelta.

Hugo saiu do vagão feito uma bala. Atravessou no meio das pessoas dentro do trem indo na contramão do fluxo  e desceu na plataforma.

“Hugo! O que está fazendo?” Ron perguntou ao ver o filho, cogitando a possibilidade dele estar fugindo.

Hugo não deu resposta porque no mesmo instante Louis e Dominique se aproximaram ofegantes. O expresso tocou o que seria seu último aviso.

“Alô, atrasildos!” Ron brincou.

“É culpa da Domi” disse Louis entre goladas de ar. “Fica de namorico na plataforma...”

“Cala a pouco, Lou!” Dominique ficou tão vermelha quanto seus cabelos.

Os adultos ajudaram os sobrinhos a colocarem as malas dentro do expresso antes que ele começasse a andar. Quando tudo estava em seu lugar, Dominique estalou um beijo no rosto do irmãozinho e com um “Te vejo mais tarde” sumiu.

Hugo guiou Louis até o vagão onde as meninas estavam.

“Oi, Lou” Ambas as garotas comprimentaram quando eles chegaram.

“Oi!” Louis acenou de volta e se jogou ao lado de Hugo no banco.

O trem andava e a paisagem corria no horizonte. Hugo tirou um celular trouxa e começou a jogar algo que envolvia tiros e espaçonaves. A porta do vagão se abriu e Albus meteu a cabeça para dentro. Ele vinha acompanhado por Scorpius que parecia acanhado e encarava o chão.

“Achei você” Albus falou para Lily ignorando a presença dos primos “Tome! Acabei ficando com o seu dinheiro do lanche”

Ele estendeu a mão para ela com algumas moedas. Lily as pegou e olhou confusa com a quantidade.

“Não é só quatro para cada um?” Ela perguntou uma vez que seus pais não os deixavam comer muito doce.

“Fique com o de James também, entregue para ele se o ver ou gaste tudo se quiser. Eu não ligo”

“Ok, Alby!” Lily agradeceu.

Esse era o momento que Albus deveria se virar e ir embora, mas ele ficou por um tempo. Olhando a irmã de um modo estranho, seus olhos brilhavam com o que se podia chamar de esperança. Lily aguardou que ele falasse, mas não veio.

“Algo errado? “ perguntou por fim e ele saiu do estupor.

“Boa sorte na seleção”

“Valeu!” Lily sorriu e ele retribuiu.

“Tchau”

“Tchau” Lily respondeu e em seguido virou para o garoto que seguia seu irmão de olhos baixos “Tchau, Scorpius”

“Er-ah... tchau, Lilian” ele respondeu surpreso antes de sumir atrás de Albus.

“Você é louca?” Roxy estava de olhos arregalados  “Não deveria falar com ele.”

“Scorpius? Ele é amigo do Alby, eu só disse tchau!”

“Mas você sabe o que dizem sobre ele...que é filho de Voldemort”

“Por favor, não me diga que acredita nisso!” Hugo revirou os olhos para a prima.

“É o que dizem” ela encostou a cabeça no vidro da janela se aconchegando no banco.

“Também dizem que tomar suco de abóbora com os cadarços desamarrados da dor de barriga.” Louis rebateu com a velha superstição da sua avó.

“Ora, tanto faz.” Roxy bocejou e fechou os olhos.

“Hugo! Você sabe que essa coisa não vai funcionar em Hogwarts, certo?” Lily indagou reparando o celular na mão dele pela primeira vez.

“Eu sei. E só para distrair, odeio viagens longas” respondeu sem tirar os olhos do aparelho.

“Você pode desfalecer como a Roxy” Louis disse cutucando o garoto ao seus lado e indicou a menina adormecida no vidro do trem

Ela batia a cabeça contra a janela conforme os balanços da máquina nos trilhos. As outras crianças riram. Roxy tinha um histórico de adormecer como um urso hibernando em questão de segundo.

“Ouvi meu nome” ela resmungou sonolenta. Eles riram outra vez.

“Onde escora, dorme” brincou Louis.

Roxy agitou a perna para dar um chute em Louis, mas não se deu ao trabalho de abrir os olhos e acabou acertando em Hugo.

“Hey!” ele exclamou.

“Desculpa, Hugo” murmurou quase inaudível. “Considere que foi pro Lou.”

Assim seguiram viagem.


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Notas finais do capítulo

comentem lindos



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