Bakugou estava com fome. Ele não conseguiu comer todo o seu almoço hoje porque ele teve que correr. Ok, ele não teve que correr, mas ele fez mesmo assim. O que realmente aconteceu foi que Katsuki escolheu almoçar depois de todos da classe A. Por quê? Bem, ele estava seriamente evitando Jirou.

Por algum motivo de merda ele não conseguia tirar a porra dos olhos da garota se ela estivesse por perto. Foi fodidamente difícil de fazer isso na sala de aula, porém foi preciso, ele tinha que estudar. Por que caralhos ela tinha que ter sido posta para sentar do lado dele?! Que seja, o fato é que, desde que Katsuki se tornou hiperconsciente que Jirou é uma garota, ele pode, talvez, quem sabe, é uma hipótese não testada, mas talvez, e só TALVEZ, Bakugou ache interessante a ideia de ser mais do que amigo da garota.

Ele decidiria isso depois, não é importante agora. O que importa é que tem a porra de um cara chamado Gramount abrindo um buraco fodido embaixo da cidade HÁ MESES e só agora esses idiotas que se dizem heróis descobriram. Aparentemente, isso é culpa do Deku, aquele nerd de merda não tinha o que fazer e se meteu em uma parte desse túnel do caralho durante os estágios. Pelo que deu para entender, esse Gramount é só uma toupeira gigante com delírios de grandeza e quer fazer todo mundo afundar na porra do subsolo da cidade.

E para piorar as coisas, o cara com cabelo de sorvete disse que se esse filho da puta realmente conseguir terminar o maldito túnel, ele não vai só foder com a cidade. A nuvem de poeira que o desabamento vai causar pode deixar o país inteiro preso por uma semana. Ou seja, geral vai morrer porque um idiota não consegue lidar com a sua vida de merda.

Deku estava lá também. Como o estágio dele começa pela manhã, o horário dele vai até às 4 da tarde. Ao que tudo indica, ele só sairia no fim do turno de Bakugou. Havia um plano irritantemente detalhado que Katsuki desconfiava do dedo do Deku nele. Eles teriam que invadir o túnel pela área norte até a região oeste, onde tem 80% de chance da toupeira estar. Eles mostraram todo o cálculo da probabilidade, de acordo com umas marcas idiotas nas formações dos túneis que indicavam os mais antigos iniciando no sul em direção a oeste e blá blá blá.

A pior parte é que eles precisavam ser sorrateiros. Se a toupeira ao menos soubesse que eles estavam lá, ele poderia explodir a porra toda e adeus mundo cruel. Katsuki não gostou nem um pouco do plano. Uma coisa que ele não se animava em fazer era ir com calma. Seria muito melhor avançar rapidamente sem dar chance de esse imbecil fazer alguma coisa.

Ainda assim, aqui estava ele, junto com o Cabelo de Merda e o Balofo, invadindo o túnel com essa Garota Vagalume iluminando o caminho e usando um comunicador para avisar o outro grupo se eles achassem a Toupeira antes deles.

Parecia que eles estavam andando há uma eternidade, e deram tantas voltas e mais voltas que Bakugou não tinha a menor ideia de onde estava. E isso o deixava inquieto. A única coisa que ele sabia era que estava indo para Oeste, guiados por uma bússola pré-ajustada para não sofrer interferência das rochas.

— Quanto tempo falta? – Ele bufou impaciente.

— Não temos como saber, pode estar perto ou longe – Respondeu Fat Gum.

— Então porque não vamos mais rápido? – Katsuki resmungou estalando os ombros para afastar a tensão.

— Não sabemos se tem armadilhas nos túneis, muito menos se tem algum sistema de vigilância, bro – Kirishima pôs a mão no ombro de seu amigo e sorriu com a meia luz do túnel.

— Se a Orelha tivesse aqui, ela podia descobrir onde essa Toupeira idiota está – Bakugou se ouviu balbuciando.

— Orelha? – Fat Gum ergueu uma sobrancelha.

— Uma amiga nossa – Kirishima respondeu – Ela tem umas habilidades de rastreamento muito boas.

— Silêncio – A garota à frente deles pediu e estendeu a mão.

Bakugou preparou-se para atacar e olhou ao redor, tentando encontrar seu adversário. Então o túnel começou a tremer levemente e um pouco de terra deslizou em seus rostos. Os três olharam para cima, esperando um ataque e nada aconteceu. Até que o rádio chiou e Fat Gum o atendeu rapidamente. Fazendo a voz de Midoriya ecoar pelo local fechado.

— Equipe 1, achamos Gramount, repito, achamos Gramount.

O som de pedras rolando foi a última coisa que eles conseguiram ouvir. Bakugou não perdeu tempo, ele correu em linha reta, abrindo caminho pelos muros de terra com suas explosões. Se eles estavam indo para Oeste, então tudo o que ele tinha que fazer era não desviar do caminho.

— Bakugou! Você vai acabar desabando tudo! – Kirishima gritou seguindo o amigo.

Podia parecer que Bakugou simplesmente ignorou seu amigo. Contudo, o loiro começou a focar suas explosões em diâmetros suficientes para apenas abrir um espaço capaz de permiti-lo passar. Kirishima o seguiu em todos os momentos. Demorou apenas alguns poucos minutos para que eles encontrassem uma câmara enorme, com mais de 15 metros de altura e 600 m² de extensão, uma coluna gigante com um diâmetro de 20 metros sustentando tudo.

Midoriya estava batendo em um caralho de um monstro de terra que se reconstruía a cada maldito soco. Bakugou encontrou o Trapo Velho sustentando a coluna enquanto mais quatro pessoas davam cobertura para que aquela coisa peluda que Katsuki supôs ser a Toupeira jogava pedras e mais pedras na direção deles. Bakugou escolheu por espancar aquele verme e partiu para o ataque.

Alguém poderia ter avisado que havia minas de terra ao redor dele, seria mais fácil desviar delas se Bakugou soubesse disso. Em todo caso, ele continuou mirando na toupeira. Estava muito escuro, ele só conseguia ver o Deku porque o nerd brilhava no escuro. Alguns heróis haviam largado lâmpadas fluorescentes pelo caminho e havia também a luminosidade das explosões de Bakugou.

Em todo caso, era óbvio que a toupeira não estava sozinha. Aquele monstro de terra era na verdade uma armadura, e seja lá quem for o imbecil que concordou com essa ideia maluca da toupeira de afundar a cidade, Katsuki também ia explodir.

De repente, tudo começou a tremer e o Cara de Terra começou a crescer e, puta que pariu. Ele começou a quebrar o teto. Eles iam morrer soterrados, certeza. Até a Toupeira se desesperou.

— Que merda você fez, Deku? – Bakugou rosnou antes de recolher todos os que conseguiu para o mesmo ponto e começou a destruir os malditos escombros enquanto aquele nerd de merda tentava parar o crescimento do Monstro de Terra.

Os outros heróis também estavam destruindo os escombros que caiam. Contudo, ficou claro que aquilo havia aberto uma cratera no centro da cidade, e agora havia pessoas caindo também. Best Jeanist começou a resgatar as pessoas com pressa. Assim como Fat Gum e os outros heróis, Bakugou e Kirishima se focaram em deslocar os escombros e a limpar a área.

Midoriya havia ignorado o vilão para focar no resgate dos civis, o que significa que agora eles tinham uma PORRA DE UM GIGANTE DE TERRA DE 45 METROS para derrubar.

— Deku! – Bakugou gritou voando para o monstro – Eu pego a cabeça!

Não foi preciso mais nada para Midoriya entender o que seu amigo quis dizer. Ativando o Full Crow, o garoto voou para o abdômen do vilão enquanto Bakugou ativava uma de suas granadas na direção do rosto.

— Morreeeeeeee!

Com uma grande explosão que escureceu o céu, Katsuki explodiu a cabeça do monstro enquanto Deku abria um rombo no tronco do mesmo. A poeira pulverizada que cobriu as cabeças dos heróis os fez acelerar a evacuação da área. Havia pessoas feridas e crianças perdidas, só 12 heróis não eram suficientes para dar conta de tudo isso.

O lado bom foi: Aquilo não se regenerou. O lado ruim? Isso continuou se movendo mesmo sem a cabeça. Katsuki havia sido lançado para longe com o choque de sua própria explosão, porém ele não demorou a voltar. Midoriya estava abrindo buracos e mais buracos com socos e chutes. Porém os braços continuavam destruindo tudo ao redor. Usando sua segunda granada, Bakugou destruiu um braço do monstro, fazendo cair grandes pedaços em cima de meia dúzia de casas. Não foi sorte elas estarem vazias, Bakugou calculou o tempo exato de causar a explosão para que os destroços fossem lançados em uma área já evacuada. Ele viu Kirishima sair dali com duas crianças e depois seguiu para o outro lado, o que significava que ali não havia mais ninguém.

Midoriya estava tomando cuidado em destruir o monstro de cima para baixo, deixado as pernas intactas, para que eles pudessem afetar a menor área possível quando derrubassem o monstro de vez.

Infelizmente, no meio de toda essa confusão, todos se esqueceram de Gramount. O vilão voltou a cavar a terra e Midoriya vacilou quando baixou a guarda ao perceber que o monstro estava perdendo o equilíbrio.

Com um golpe rápido demais para alguém tão grande, o Monstro de Terra conseguiu derrubar Midoriya no chão e estava prestes a esmaga-lo com os pés. Se não fosse por Bakugou aparecer e gerar uma explosão de quase um minuto inteiro. O loiro sabia que aquela coisa ainda era grande demais para ser derrubada de uma vez. Sua única escolha para não causar mais feridos era transformá-lo em poeira, ou ao menos em pequenos destroços.

Midoriya ficou impressionado com o poder de Katsuki. Seus olhos se arregalaram enquanto observou seu amigo gritar uma sentença de morte para seu adversário. Porém, a oscilação da terra o fez lembrar-se de Gramount e o garoto de cabelos verdes correu de volta para a cratera aberta. Midoriya o acertou com um chute usando 25% de seu poder. Talvez tenha sido um pouco exagerado, mas ele não teve escolha, se o homem-toupeira conseguisse terminar seus túneis, o resto da cidade iria desabar.

Um pouco cansado. Midoriya ouviu as explosões de Bakugou cessarem, ele olhou de volta para a luta e percebeu que ainda haviam destroços grandes o suficiente para esmagar uma casa. Izuku viu uma mancha loira espetada caindo no ar e correu o mais rápido que pôde. Alcançando Katsuki a poucos metros do chão, Midoriya carregou seu amigo inconsciente para longe dos destroços desabando. Ele não conseguiu escapar de todos e um deles acabou acertando sua cabeça.

A próxima lembrança de Midoriya é de acordar em uma cama de hospital. Não tem ninguém acordado ali além dele. Contudo, Izuku reconheceu o cabelo espetado de seu amigo na cama ao lado. Katsuki ainda estava dormindo, algumas faixas nos braços, arranhões limpos no rosto e uma bata de hospital.

Deku olhou para si mesmo e viu que também teve suas roupas trocadas. Isso o fez pensar a quanto tempo estava ali. Sua cabeça doía um pouco com o movimento e seus músculos estavam cansados. Ele voltou a dormir.

Mais tarde, o que Izuku descobriu ter sido 4 horas depois de acordar, o garoto recebeu uma visita do médico e foi informado do que aconteceu. Depois que eles derrubam os vilões, os heróis os encontraram sob alguns escombros e os levaram para o hospital mais próximo. Isso aconteceu no dia anterior. Os dois ficaram de observação o dia inteiro. Midoriya teve uma contusão, por isso teve que ser dopado e medicado rapidamente. Katsuki foi dopado por outros motivos, quando o loiro acordou, seus braços estavam completamente exaustos, ele excedeu todos os limites de sua individualidade e ele sequer conseguia erguê-los. Bakugou entrou em pânico e começou a gritar e ameaçar a todos de morte, foi preciso drogá-lo para que o acalmassem. Com sorte, os dois seriam liberados ainda no domingo, ao final do dia.

Não demorou muito para que Bakugou acordasse depois da visita médica. Os heróis profissionais vieram checar os dois e acabaram acordando o loiro. Bakugou já conseguia mover os braços embora eles ainda estivessem trêmulos. A escola foi avisada e Aizawa também veio vê-los. Caso os dois estivessem em péssimas condições, eles seriam liberados dos primeiros treinos da semana. A objeção de Bakugou foi a única coisa que o garoto falou durante todo esse tempo. Katsuki argumentou que “a velha beijoqueira poderia resolver o problema”. Depois disso, ele voltou ao seu estranho silêncio.

Midoriya ficou preocupado, Bakugou tinha aquela expressão desapontada e chateada que ele raramente exibia. Por isso o garoto de cabelos verdes resolveu puxar conversa.

— Katchan... – Ele chamou baixinho – Eu, ahn... queria agradecer você, por ter me salvado. – Bakugou nem sequer se moveu e Midoriya repensou a ideia inicial – Se não fosse você ter derrubado aquele cara, eu não poderia avançar no Gramount.

Os dois ficaram em silêncio por um curto período de tempo. Midoriya imaginando o que poderia animar o outro garoto.

— Eu não derrubei ele, eu perdi – Bakugou quebrou o silêncio, assustando um pouco Midoriya – E você teve que me salvar. De novo.

A voz de Bakugou continha uma fúria fria. Aquela que Deku sabia que não era direcionada a ele, e sim ao próprio Bakugou.

— Você que nos salvou Kachan, - Midoriya lembrou-o com a voz solene – Se não fosse você, todos nós estaríamos mortos agora.

Era verdade. Se Bakugou não o tivesse salvado, ele não conseguiria impedir Gramount de desabar a cidade inteira. E ele ainda lembrava muito bem da projeção negativa que eles receberam antes da missão.

Bakugou não parecia concordar com ele, o garoto franziu o cenho e afundou-se na cama, olhando para os braços trêmulos por um tempo além do saudável. Izuku realmente queria ajudar seu amigo, mas agora ele sabia que ele precisava era de um tempo sozinho.