Meu encontro com o Wolverine escrita por lslauri


Capítulo 8
Capítulo VII - E esse sou eu…




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Ele caminhou mais pausadamente até onde eu estava, trazendo duas xícaras com a bebida e, provavelmente, imaginando quais palavras ia pronunciar. Assim que estendeu uma das xícaras para mim, puxou um dos “puffs” de modo a ficar sentado na minha frente.

“‘cê sempre teve essa intuição “afiada” e esse comportamento que -na maioria das vezes- é confundido pelos outros como “permissibilidade”? - olhando-me diretamente e me fazendo parar um pouco a respiração, antes de questionar:

“Não imaginava que essa conversa seria sobre mim… Mas vamos lá: na minha crença espiritual isso é chamado de empatia e, bem, desde que me entendo por gente eu a tive sim… E meu comportamento já me trouxe -como você pôde presenciar- muitos problemas, mas nunca um tão “cabeludo” assim…” - tomei um gole do cappuccino e tive que demonstrar o quanto aquilo estava bom, com um sonoro “hum” e uma cheirada mais profunda dentro da xícara.

“Na verdade, não é só sobre você, saca?... Esse tipo de “habilidade” que parece normal, ou sem importância mas que compõe nossa vida é aquilo que nós chamamos de “super humano”” - ele também tomou um gole da sua bebida.

“”nós” quem?...” - eu questionei, levantando uma sobrancelha e não acreditando naquela ladainha…

“A organização que eu trabalho, Li. A mesma que foi usada pra alavancar o termo “mutante”, manja? Eu também tenho algo de “super humano” e fiquei muito surpreso ao, no primeiro momento que nos encontramos, ‘cê ter aludido a algo que fazia sentido total e, algumas horas depois, ter me chamado de “super herói”, não que eu me veja assim, mas é desse modo que nos pintaram nos “comics”, né?” - dando um último gole maior e apoiando a xícara no chão, esperando alguma reação minha.

“Está me dizendo que você é um mutante, o mesmo que tem esqueleto de adamantium e que se chama Wolverine? Está tirando um sarro da minha cara porque eu disse que gostava dele, é isso?!” - apoiando a xícara no chão também, mas levantando o corpo e me virando pra porta. “Eu não sei qual a graça doentia de “brincar” com algo assim, sr. James, mas eu estou indo embora, não vou ficar aqui pra ver, ok?”

Ele também se levanta, sem fazer menção de me impedir, mas andando atrás de mim e dizendo “Adamantium não existe, guria! Foi um metal inventado pra HQ e tu sabe disso… Pensa no mais básico, pensa nas possibilidades, vai?... Me dá uma chance!” - e parando de me seguir ele completa: “Por que eu teria todo o trabalho de te apoiar e defender pra depois sacanear assim contigo? Não é lógico, né?”

Aquelas últimas palavras chamaram minha atenção. “pensa no básico”

“O básico que eu consigo pensar são sentidos super aguçados, capacidade de se curar mais rápido ou até mesmo garras de osso, você tem algum desses fatores, sr. James? E se tiver, por que o fato de eu saber seria “crucial””? - parei de ir para a porta, voltando meu corpo na direção dele, sem contudo me mover e cruzando os braços.

“Bom, os dois primeiros itens são meio difíceis de provar, né? Eu poderia dizer que ainda tem um pouco de cheiro de lavanda em você; que você balbuciou palavras de agradecimento enquanto dormia no seu quarto, mas percebe que te deixariam na mesma incredulidade, né? Pois são coisas que eu poderia ter conseguido por outros meios, ou mesmo inventado; agora… As garras de osso são algo que eu posso mostrar pra você, se estiver pronta pra ver. O que me diz?” - apontando novamente pro sofá e virando-se na direção do “puff”.

A parte da lavanda me surpreendeu, mas como ele disse, o uso do banheiro é coletivo e os sais de banho estão lá, pra todo mundo ver. Se eu falo dormindo, jamais poderei saber, a não ser acreditar na palavra dele. Agora, a curiosidade que me preencheu a alma quando ele comentou das garras, foi quase como um imã potentíssimo que me fez descruzar os braços caminhar na direção do sofá, sem esperar um segundo convite.

Sentei-me e ele esticou o antebraço de modo paralelo à mim, deixando a mão esquerda apontando para onde seria o quarto da cabana, a outra mão estava apoiada na coxa e, então, dos metacarpos começaram a surgir pequeninas pontas afiadas, não de ossos, mas de algo mais parecido com dentes, de um branco que, a princípio, saía um pouco avermelhado pelo sangue do romper a pele, mas que depois ficava alvo.

Levei minhas mãos à boca, misto de surpresa e contentamento. Depois, instintivamente, minha mão direita se dirigiu àquelas garras, ele havia mostrado as três pontas, mas somente continuou a ejetar a que estava entre o dedo indicador e o médio.

“Elas parecem marfim!...” - foi o que consegui balbuciar e ele assentiu com a cabeça. “E são lindas!” - olhando nos olhos dele, pude perceber um leve rubor e um sorriso nervoso seguido da retração das garras e profunda análise de como eu estava, tentando perceber além da minha expressão de surpresa com olhos perscrutadores. Como eu não retirasse minha mão direita de cima da mão esquerda dele e não esboçasse nenhuma reação ele quebrou o silêncio:

“‘tá tudo bem?” - colocando a mão direita sobre a minha.

“Vo-você é real?... Ou eu estou naqueles sonhos que imitam a vida?” - procurando alguma resposta naqueles olhos azuis.

“Acho que tu é a primeira que não grita, saca? E ainda por cima as chama de lindas e diz que ‘tá num sonho… Viu como no fundo ‘cê sempre soube que isso podia ser real? Pelo mesmo motivo de, provavelmente, ter algum dom psíquico também! Eu sou muito real e, com certeza, se isso fosse um sonho, tu acordaria depois desse choque, não acha?” - ele sorri, dando “tapinhas” na minha mão enquanto falava.

“Qual seu verdadeiro nome? Como eu devo te chamar? E eu ainda não saquei qual a “crucialidade”…” - removendo a mão debaixo da dele e secando as duas na calça, pois elas estavam suadas demais!

“Essa parte ´tá certa nas HQs, meu nome é James mesmo, James Howlett, como ‘cê intuiu quando nos conhecemos; não tenho codinomes, mas sim o apelido de Jimmy, daí fica a teu critério. O Wolverine e o Logan só existem nos quadrinhos, sinto desapontar…”

Voltei a pegar a xícara e terminei de tomar meu cappuccino. A minha mente tinha aberto um novo mundo que eu não conseguiria, e não consigo, colocar em palavras! Imagine um mundo onde algumas pessoas realmente pudessem ser heróis ou heroínas? Onde elas pudessem fazer a diferença para os outros por diferenças genéticas que existissem nelas? Que massa!

“Quanto a ser crucial ‘cê saber sobre mim, era pra, na verdade, tentar te inserir nesse grupo também, informando que essa tua empatia e capacidade de tratar as pessoas como se as conhecessem desde sempre não são comuns e, portanto, fazem de você alguém como eu, não diria em menor ou maior escala, apenas diferente, certo? Pra você acreditar mais em si, confiar nesse sexto sentido. Pela “conversinha” que tive com John (e explicou o que aconteceu durante a noite) ele vai se apresentar na polícia amanhã cedo e todo o seu processo andará mais rápido e, com isso, você poderia ser minha ‘parceira temporária’ na busca do ser que ‘tá amedrontando as redondezas e, ao que parece, matou uma pessoa hoje… Eu sou muito de ação, precisaria de alguém mais “sensitivo”, ‘cê me entende?” - explicou pausadamente, com um olhar muito “pidão”, querendo que eu aceitasse de pronto tudo isso.

“Ah, James, eu não sei…. Participar de algo assim, tão grande… Estou achando que é demais pra mim, que você não está levando em conta as minhas dificuldades, enfim, ‘tá botando muita fé em algo que eu não tenho certeza de conseguir realizar… Eu não sou mutante, não tem como eu ser!.. E não sei se consigo, Jim… Posso te chamar assim?” - eu não conseguia retribuir o olhar dele e, portanto, comecei a olhar para o fundo da xícara e soltei um: “Desculpa…” - bem baixinho.

Por alguns minutos, nenhum dos dois falou mais nada, apesar da minha mente continuar fervilhando, pensando nas possibilidades, nas capacidades, no fato de eu nunca saber se não tentar, mas eu poderia morrer tentando… Ou ele teria como garantir que disso eu não morreria? E mesmo se garantisse, como eu poderia acreditar? Meu Deus! Isso é muito legal! É uma chance pra vida, pra fazer a diferença! Você vai “amarelar” num momento desses, Liura?

Foi então que eu senti uma leve tontura, até voltei a olhar para o James e levei a mão livre para o lado do corpo, segurando firme no sofá, foi algo bem rápido, antes da voz suave e alegre de uma mulher invadir minha mente, a mesma voz que já havia dito para eu ter cuidado:

“Olá, Liura! James pediu minha ajuda como forma de mostrar que ele não estava mentindo pra você e aqui estou eu. Sou a esposa dele, meu nome é Rosie e, como você está vivenciando, sou telepata.” - Fiquei aturdida, tanto pela experiência quanto pelo nome, o quanto as HQs usaram da vida real?

“Isso é possível? - Verbalizei, esperando uma resposta de qualquer um deles. E os dois responderam “sim, claro!”, completou James: “Se mesmo experienciando isso você ainda nos achar impostores, eu posso conseguir alguém que atravessa paredes, ou até um outro que se teleporte, Li!...”

“Hum... Bom dia, Rosie, é um imenso prazer conhecê-la. Mas depois de tudo que mostraram, vocês conseguem entender os motivos pelos quais eu me acho totalmente dispensável nisso tudo?? Vocês já são um “time”, já têm tudo acertado e são os verdadeiros heróis… Eu sou só uma turista de férias!” - comentei mentalmente, enquanto percebia que James também recebia minhas palavras em sua mente, graças à Rosie.

A voz feminina voltou a aparecer, de modo muito sutil: “Eu vou deixá-los conversar, Liura… Eu entendo suas dúvidas e também compartilho de alguns apontamentos,  especialmente aquele que diz sobre nunca saber se não tentar, garota… Mas respeitamos, acima de tudo, sua decisão… Adeus!”

“É… ‘cê pode ‘tá certa… Esse é um defeito meu, saca? Sempre que eu vejo alguém com maiores possibilidades, vivendo uma vida “normal”, eu me questiono o quanto essa pessoa gostaria de poder fazer diferente. Se ninguém chegar em você e falar que determinadas atitudes e comportamentos são raros, ‘cê vai passar a vida inteira achando que é normal ser assim… Mas algo me que diz que tu não é esse tipo de pessoa, ‘tô certo?” - e sorriu abertamente, estendendo a mão e me convidando para levantar.


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