When You're Ready escrita por PANINI NO NO


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Olha quem voltou??
Eeeeuuuuuuu!!
I ae? Como estão as coisas...
Eu estou ficando doente então...
Enfim.. Tenho que explicar umas coisinhas pra vocês antes do capítulo.
Assim, 1o que eu vou respoder vocês logo logo. Só preciso terminar umas coisas e os capítulos pra isso.
2o A fanfic vai ser curtinha com um planejamento de nove capítulos.
3o Pra quem não sabe, vou explicar uma coisa, eu faço medicina, então tempo é uma coisa rara, e o que eu tenho eu divido entre estudar, cuidar dos meus três catioros e fazer amigurumi. Eu escrevo fanfic quando da tempo e tenho inspiração. As vezes não é nessa ordem mais tudo bem...
Espero que estejam gostanto tanto da fanfic quanto eu gostando de escrever..
Se eu esqueci de mencionar alguma coisa, eu falo no próximo.
E SIM, ELA VAI SER PULADA DE ANOS EM ANOS, NUNCA DIRETO.

BJCs nas bochechas redondamente fofas.
Lele/Mel.



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1996

 

What if my dad is right when he says that you're the one
No, I can't even argue, I won't even fight him on it

Dez anos

Era uma tarde chuvosa de verão. O calor estranhamente havia ido embora, deixando que as gotas finas de chuva caíssem do céu acinzentado, mas que ainda assim, deixavam a luz do sol transpassar refletindo-se nas grandes vidraças da mansão Queen, o lugar que eu costumava chamar de lar.

Mas assim como o céu estava escuro por causa da chuva, o clima de dentro da mansão não estava muito diferente do daqui de fora. A nostalgia misturada a tristeza ao ver as gotas de chuva escorrendo pela janela nos dando uma sensação de perda de algo que ainda nem se foi, pelo menos ainda não. Era o que eu pensava enquanto olhava o grande jardim florido que minha mãe cuidava com tanto carinho, enquanto tentava não pensar no meu pai que estava em um dos quartos da mansão cheio de médicos ao redor dizendo coisas que eu não entendia. E que eu não queria entender. 

Robert Queen estava de partida, segundo a minha mãe. Ela tentava não fazer muito alarde da história toda, afinal, minha irmã ainda tinha um ano, era difícil pra ela entender que nosso pai iria embora. Mais não para outra cidade ou continente, mas sim existencialmente. Meu pai estava morrendo e eu não sabia o que fazer a respeito.

Eu estava triste, revoltado e inconsolável. Eu não queria ficar sem o meu pai. Mesmo que muito novo, eu já sabia o que a morte significava. Eu me lembro do meu próprio pai explicando pra mim o que isso significava quando o meu avô se foi.

E eu odiava a sensação de saber que eu nunca mais iria ver alguém importante pra mim de novo, alguém que eu amo. Saber que por mais que eu queira, eu só vou poder ter mais deles em meus sonhos e lembranças. Que essa pessoa iria pra nunca mais voltar.

Foram tempos difíceis quando meu avô morreu. Eu mal saía do meu quarto, e quando saía, era apenas pra brincar com o meu carrinho que ele tinha me dado. Carrinho esse que acabou quebrando por um descuido meu.

Porém, na mesma semana eu tive a sorte de encontrar a melhor amiga que um garoto pode ter na vida.

Felicity tinha se instalando na minha vida e na de Tommy desde o momento em que eu a vi na sua festa de aniversário de seis anos. Já se passaram quatro e desde então, nós três somos inseparáveis. Tudo o que acontecia nas nossas vidas, nós estaríamos lá para o que fosse preciso. Ela no seu jeito doce e cativante, me ajudou a sair dessa fase ruim, me ajudou a ter um motivo para levantar todos os dias da minha cama e sorrir.

Eu amava nossa amizade, faria qualquer coisa por ela, pra ver aquele seu sorriso em seu rosto, e sabia que ela faria o mesmo por mim sempre que fosse necessário.

Então não posso sequer dizer que fiquei surpreso quando a vi caminhar com cuidado entre as poças d’agua feitas pela chuva no caminho que dava em minha direção segurando um pequeno guarda chuva lilás.

Nem sequer era uma surpresa ela estar aqui, já que ela tinha se tornado da família. Quase toda a semana ela dormia um dia na minha casa e no seguinte na de Tommy. Nós três fazíamos a festa do cinema da madrugada, assistindo filmes que nem poderíamos pela idade, mas que sempre desligávamos no meio, pois ficávamos com medo ou com sono.

Festas essas que desde quando meu pai descobriu que estava doente eu não tinha mais ânimo para fazer, ou mesmo ir. Felicity e Tommy compreenderam, mesmo comigo dizendo que estava tudo bem, que poderiam fazê-las sem mim, mas eles negaram veementemente. Era uma coisa que eu amava entre nós, o fato de que não mentirmos uns pros outros, lealdade acima de tudo. Mas assim como eu não queria contar o motivo de eu não querer ir nas nossas festas, eu também havia escondido algo deles, ou melhor, dela principalmente.

Há alguns dias o meu pai havia me chamado para nós dois termos A Conversa. De início eu fiquei com medo do assunto que ele queria comigo, pensei que ei tinha feito algo de errado, mas ele disse que não. E quanto mais o assunto evoluía, mas medo eu ficava de o meu maior segredo ter sido revelado. Mas a conversa foi boa para me esclarecer algumas coisas, e principalmente, a me ajudar a entender outras. Coisas sobre mim.

Mas eu sei não posso contar sobre isso para Tommy ou para Felicity. Principalmente para Felicity.

— Não acha que deveria entrar? Sei que está chovendo fraco, mas você está encharcado e precisando de um chocolate quente – Felicity fala parando a minha frente com seu melhor sorriso reconfortante – Você está bem? Precisa de algo? – Pergunta sorrindo minimamente e eu suspiro pesado.

— Além de meu pai não morrer? Não, obrigado. Eu estou bem – Digo irônico e ela mantem seu olhar carinhoso em mim me fazendo arrepender-me no mesmo instante – Desculpe.

— Tudo bem estar sobrecarregado com tudo o que está acontecendo, Oliver – Fala em um suspiro – Você sabe que pode contar comigo pra o que for necessário, não é?

— Eu sei, sorriso – Digo mais calmo – Eu diria pra você se sentar ao meu lado, mas está tudo molhado, então é melhor ficar de pé mesmo – Falo apontando pro meu lado no banco.

— Você ainda não me respondeu se está bem. E muito menos fez menção em se levantar. Devo imaginar que tem algo além do seu pai que está te incomodando? – Pergunta cautelosa e eu suspiro pesado olhando para meus sapatos encharcados não querendo mentir pra ela mais uma vez. Mas minha resposta não era exatamente uma mentira.

— Só coisas com o meu pai. Eu realmente não me conformo de Thea não poder ter a oportunidade de conhecer ele tão bem quanto eu, de poder viver com ele como eu vivi – Digo apertando meus dedos no banco tentando descontar a minha frustração no ato, mas é inútil. Escuto Felicity suspirar baixinho.

— Thea está assistindo em busca do vale encantado pela enésima vez. É a única coisa que está conseguindo deixa-la quieta - Diz com uma pequena careta mudando de assunto, me arrancando meu primeiro sorriso sincero da semana. Era por coisas assim que eu gostava de tê-la ao meu lado.

— Eu diria que ela até conseguiria ficar calma no seu colo, mas pelo o que eu vejo, você quem é o carregador de energia infinita dela, Sorriso – Falo divertido e ela revira os olhos.

— Muito engraçado – Fala irônica bufando – Agora é sério, você tem que sair dessa chuva, trocar de roupa e tomar algo quente. Você vai acabar ficando doente, e eu vou ter que ficar cuidando de você e o Tommy é quem vai cuidar da Thea – Diz e eu não consigo controlar minha cara de desespero.

— Acho que o meu nome foi requisitado – Tommy fala parando ao lado de Felicity tomando cuidado pra não deixar seu enorme guarda chuva preto levantar o pequeno dela – Eu sei que vocês me amam e não vivem sem mim, mas eu acho que ficar debaixo de chuva em um local aberto com guarda chuvas pontudos, não é o lugar mais adequado pra se ter uma conversa – Diz se fazendo presente, sendo que eu sequer havia visto ele se aproximar.

— É o que eu estou tentando fazer ele entender, mas tá difícil aqui – Felicity fala divertida e Tommy a olha surpreso.

— Que milagre é esse? – Tommy fala e eu reviro os olhos impaciente com mais uma das suas implicâncias diárias – Achei que o mais legal de todos era o obediente e eu o inconsequente.

— Já se passaram seis anos e você ainda não superou o fato que pra ela, eu sou mais legal que você? – Pergunto irônico tendo o prazer de arrancar aquele sorrisinho convencido do rosto dele que bufa enquanto me levanto.

— Isso é só por quê ela te jurou isso antes de me conhecer, se não eu é quem seria o mais legal. Você só seria o segundo rostinho bonito – Fala debochado dando de ombros.

— Claro, porque você seria o primeiro – E é a minha vez de revirar os olhos enquanto me aproximo de Felicity tirando o guarda chuva de suas mãos pra me colocar ao seu lado em baixo dele.

— Ok, depois vocês continuam com essa briga interminável de mais de quatro anos, agora é melhor entrarmos antes que a Sra. Queen venha te buscar pelas orelhas – Fala divertida, mas noto uma pequena nota de temor em sua voz.

— Atrás dele – Digo levantando uma sobrancelha pra Tommy, enquanto enlaço o braço de Felicity no meu que segurava o guarda chuva.

— A sua sorte é que a Raisa está fazendo chocolate quente – Fala nos dando as costas, caminhando em direção a mansão – O que é estranho dizer em pleno verão, mas essa chuva está de congelar os ossos – Resmunga caminhando mais rápido arrancando rizadas minha e de Felicity.

— Ele está chateado porque não pôde ir à casa dos Snow’s. Depois que a Caitlin disse que ajudaria ele a passar em química, ele não para de falar da vaga no time de basebol da escola.

— O que é compreensível, já que ele só não passa nem da primeira fase por causa das notas ruins – Digo e nós rimos mais ainda – Me desculpe por ainda agora. Eu sei que tem muita coisa acontecendo, mas ainda assim, não é motivo pra eu te tratar como ainda a pouco.

— Eu já disse que está tudo bem, Oliver.

— Não está não, sorriso – Digo parando bruscamente ainda irritado com... Tudo— Não é certo o que está acontecendo com o meu pai, não é justo eu ter que perde-lo. Ou eu agir como um idiota e te perder. Ou o Tommy, ou mais alguém...

— Você não vai me perder, Oliver – Fala firme me puxando pra um abraço apertado que nem eu mesmo sabia estar precisando – Não é justo o que está acontecendo, eu sei disso. Mas você não vai perder ninguém, nem o seu pai – Diz se afastando um pouco – Ele sempre vai estar com você.

— Obrigado – Digo sincero olhando em seus olhos. Essa era a melhor parte de tudo. Eu sabia que sempre ela estaria aqui. Um frio sobe à minha coluna quando lembro da conversa que eu tive com o meu pai à alguns dias e eu limpo a garganta quebrando nossa troca de olhares – Vamos logo entrar, já que agora você também precisa trocar de roupa – Falo divertido apontando para sua roupa que molhou em nosso abraço tentando não encara-la novamente e escuto sua rizada leve.

— Você tem sempre as melhores ideias – Fala em um suspiro e nós voltamos a caminhar silenciosamente em direção a mansão.

Ela sabia que eu precisava de espaço, ela me daria esse espaço. Mas isso não queria dizer que eu tinha que ficar sozinho.


~♡~

 

Depois de um banho, trocar de roupar e tomar um chocolate quente na cozinha, nós três fomos jogar um pouco na sala de estar. Ou melhor dizendo, nós quatro, já que Felicity fez questão de ir pegar Thea no quarto pra ela participar da nossa interação.

Felicity tinha sido a que mais esteve por perto desde que Thea nasceu. Eu não tinha ficado muito feliz com a chegada de uma irmã, mas ela me ajudou a ver as coisas boas de ter aquela coisinha implicante e petulante como irmã. Ela tinha acabado de completar um ano e já fazia nossa mãe arrancar os cabelos por suas travessuras. E aos poucos, aquele pequeno ser de cabelos escuros de olhos verdes me conquistou.

Não só a mim, mas como meus melhores amigos também. Tommy não desgrudava dela e vivia dizendo que iria lhe ensinar a como me deixar no limite. Já Felicity, vivia brincando com ela de qualquer coisa que que ela pedisse. Era só Thea a ver, que mesmo que estivesse chorando, ela colocaria um sorriso enorme no rosto e pediria colo à ela. Por vezes eu cheguei a pensar que eu estava perdendo a minha melhor amiga mais legal do mundo pra minha irmãzinha implicante, mas depois percebi que era ela quem tinha visto em Thea uma irmã. E eu gostava daquilo.

— Agora é a sua vez, Ollie – Tommy diz me entregando os dados do jogo.

— Quero ver se você consegue alcançar o meu nível de pontuação – Felicity diz olhando as cartas nas mãos de Thea que sorri pra nós dois como se ela entendesse que Felicity já havia ganhado o jogo.

— De você eu não sei, mas do Tommy eu sei que vou – Digo com uma piscadela escutando-o bufar. Mas antes mesmo que eu possa jogar os dados, minhas mãe chega na sala com um sorriso triste atraindo nossa atenção.

— Algo de errado, Sra. Queen? - Tommy pergunta e ela suspira pesado.

— Não é nada, crianças. Eu só vim pegar a Thea pra ela jantar e falar pro Oliver subir que o pai dele quer falar com ele agora.

— Tudo bem, eu já vou – Me levanto em um pulo já correndo em direção a escada pra ir falar com o meu pai.

Era estranho como aquele caminho que eu percorria todos os dias estava parecendo duas vezes maior do que realmente era. Quantos mais passos eu dava, mais o quarto parecia distante, e a ansiedade aumentava ainda mais em mim. Assim como a expectativa e o medo.

Medo.

Medo dessa ser a ultima vez que eu o via, a ultima vez que conversávamos, que eu poderia estar com ele. Mas eu tentava não deixar transparecer, eu tinha que ser forte como ele, ser o melhor possível pra nossa família assim como ele me ensinou.

Respiro fundo antes de passar pela porta de madeira escura do quarto e encontra-lo deitado na cama olhando em direção a enorme janela que dava para o jardim da minha mãe. Ele ainda parecia abatido, mas estava melhor do que nessa manhã, quando eu entrei aqui escondido pra ver como ele estava.

— Achei que iria demorar mais – Meu pai fala ainda olhando para a janela antes de se virar pra mim com um pequeno sorriso – Soube que a Felicity foi te resgatar da chuva. Não tem medo de pegar um resfriado? – Pergunta com uma sobrancelha levantada e eu sorri culpado.

— Eu estava pensando um pouco, nem percebi que estava chovendo – Digo dando de ombros me aproximando da cama – Mas sim, foi ela quem foi me chamar. E depois o Tommy foi dar suporte pra encher a minha paciência.

— É, eu vi aqui pela janela – Fala sorrindo, mas logo volta a sua postura séria – Aconteceu algo relacionado a nossa conversa de alguns dias enquanto você estavam conversando com ela? – Pergunta e eu sinto aquele habitual frio na espinha me atingir.

Ainda era estranho tocar nesse assunto, seja lá com quem fosse. Mesmo sabendo que meu pai me ajudou a dar uma direção para o que estava acontecendo, eu ainda me sentia desconfortável e no mínimo envergonhado por isso estar acontecendo da forma que está acontecendo.

— Não que eu tenha percebido – Digo em um fio de voz tentando ao máximo deixar aquele assunto por encerrado de uma vez por todas – Mamãe disse que queria falar comigo.

— Sim, é claro. Se aproxime – Pede apontando para o espaço vazio a sua frente na cama que é onde eu me sento – Eu sei que você não gosta da ideia que eu vou... Que eu tenho que ir. Mas essa é a ordem natural das coisas, meu filho, e daqui a alguns anos, você vai formar sua família, ter filhos, e vai ter que explicar isso pra eles. Explicar que nem tudo vai ser da forma que queremos, que uma hora, alguém que amamos vai partir, mas sempre vai estar conosco em nossos corações.

— Felicity disse a mesma coisa pra mim, mais cedo – Digo com a voz embargada já deixando as lágrimas caírem livremente por meu rosto.

— O que só prova que ela é uma garota muito inteligente – Diz sorrindo orgulhoso – Ela, assim como a sua irmã e a sua mãe, e até o Tommy que você insiste em chamar de chato estarão aqui pra você, pra o que você precisar.

— Ela falou isso também – Falo e ele ri brevemente.

Como eu disse, ela é muito inteligente – Diz sorrindo e suspira pesado – E é mais ou menos sobre isso que eu também quero falar com você.

— Sobre ela ser mais inteligente do que eu e o Tommy juntos? – Pergunto confuso por ele tocar nesse assunto tão óbvio e escuto a gargalhada alegre dele.

— Não, porque isso eu já sei desde quando você a trouxe aqui pra brincar – Fala com um sorriso nostálgico – Tem algo que eu deixei com a sua mãe, algo muito importante que você vai dar pra Felicity.

— Por quê o senhor mesmo não entrega? Ela está lá em baixo brincando com a Thea – Digo confuso e seu sorriso aumenta ainda mais.

— Por mais que eu queira ver aquela garotinha que é um pequeno gênio, isso é algo que só você pode dar à ela. Mas não vai ser agora, vai ser daqui a alguns anos, quando você lembrar da nossa conversa, dessa conversa você vai entregar isso a ela, entendido? – Fala e eu fico ainda mais confuso.

— Eu posso saber o que é?

— Você vai saber – Fala se deitando maia confortável na cama – Agora me conte, como está o Tommy e a tentativa dele de entrar no time de basquete da escola? Soube que ele é muito bom em errar a cesta – Comenta e nós rimos.


~♡~ 

 

Não se passaram três dias depois daquela conversa estranha com o meu pai, para em uma manhã ensolarada o clima ficar escuro novamente em nossa casa. Mas dessa vez não pela apreensão de uma partida sem data definida, mas sim pela confirmação que nunca mais teríamos aquela pessoa na nossa vida.

Robert Queen morreu ao lado da mulher que amava enquanto dormia. Quando percebemos, já era tarde para fazer algo. Os médicos até tentaram, mas disseram que ele não sofreu. E isso foi um consolo pra nós, pelo menos ele não estava mais com dores ou vendo sua família se quebrar aos poucos.

Minha mãe organizou um grande velório a altura do maior empresário da cidade, com pessoas que eu sabia que não gostavam do meu pai, mas que vinham falar dele como se fossem melhores amigos de décadas.

Ela também me fez discursar pra eles. Mas eu não era bom com palavras, e muito menos sabia o que dizer pra eles. Na verdade eu só queria ficar sozinho pra sentir a impotência tomar conta de mim. Mas é claro que não me deixaram ficar sozinho, principalmente Felicity que ficava a todo tempo comigo dizendo que iria me ajudar com o discurso.

Mas além de saber que ela estava ao meu lado por isso, eu sabia que ela não queria me deixar sozinho pra me perder no meu mundo de solidão. Ela me conhecia bem o suficiente pra saber que era isso que eu fazia quando ficava triste com algo. E eu a conhecia bem o suficiente pra saber que ela não me deixara nessa sozinho.

E ela não deixou.

Ela fez questão de me acompanhar no meu discurso, de tentar me animar me ao cinema pra ver o novo filme do Free Willy, ou mesmo pra me trazer a lição de casa e me ajudar com as questões de matemática. Sempre com a Thea em seu enlaço e conversando com a minha mãe. Tommy também vinha todo dia passar um tempo comigo, nunca me deixando sozinho. Sempre me dando apoio para o que eu precisasse. Mas eu já estava ficando sufocado.

Eu precisava de espaço para pensar um pouco, espaço para processar tudo, pra entender tudo. Mas ninguém me deixava fazer isso, e eu já estava ficando no limite e estava a ponto de explodir com primeira pessoa que viesse a minha frente.

Mas como tudo na minha vida estava desabando, não era difícil de se esperar que eu não fizesse o mesmo com as pessoas que eu amo. Mesmo que não fosse a minha intenção.

Eu estava sentado na cama do meu quarto olhando pro nada, apenas pensando em tudo o que estava acontecendo, era a minha primeira vez sozinho nessas semanas e também era a primeira vez que eu podia respirar. Eu estava começando a pensar nas últimas conversas que eu tive com o meu pai, de como eu queria que elas pudessem ser de outro jeito, que tudo fosse de outro jeito, quando Thea invadiu meu quarto no seu pequeno “anda já” pink querendo brincar.

Eu não estava com paciência pra isso. Eu só queria ficar um tempo sozinho. Mas ela não entendia, ninguém me entendia. Então quando eu fui tentar fazê-la entender que eu não estava no clima, acabei fazendo-a chorar. Minha mãe veio na mesma hora pro quarto acompanhada de Raisa ver o que estava acontecendo, mas Thea não parava de chorar e aquilo estava me deixando irritado, e juntamente com as perguntas insistentes da minha mãe e eu acabei explodindo tudo de uma vez. Gritei que eu odiava minha vida, odiava ter que dividir meus amigos e minha família com Thea, e mais do que tudo, odiava o fato do meu pai ter me deixado sozinho sem ao menos saber como eu tenho que viver agora sem ele.

Eu me odiava ter gritado com elas, odiava ter explodido daquela forma, odiava ter falado coisas que não eram verdades pra mim. Mas eu odiava ainda mais o fato de que eu não podia fazer nada pra mudar nada disso. Então eu simplesmente corri de lá e fui procurar algum lugar pra ficar sozinho, pra poder respirar fundo e criar forças pra seguir em frente. Ou ao menos tentar.
Não sei ao certo quanto tempo eu estava aqui no meu terceiro lugar favorito dessa enorme mansão, mas depois de ter esfriado a cabeça, eu estava com medo de voltar. Eu tinha dito coisas que me arrependia, e tinha medo de como a minha mãe me trataria quando eu voltasse. Eu sei que não fui justo, sei que fiz besteira. E olhar as pedras quicando na água antes de afundar quando eu as jogasse, me ajudava a por os pensamentos no lugar. Mas não me ajudavam a criar coragem.

— Acho que depois de quatro horas sozinho, você já está bem mais calmo – Ouço a voz de Felicity atrás de mim e fecho os olhos respirando fundo.

— Minha mãe ligou pra sua ou é a sua visita diária pra saber se eu estou bem? – Pergunto irônico querendo me estapear mentalmente no segundo seguinte por ter voltado ao modo defensivo tão rápido apenas com uma pergunta.

— Na verdade, eu vim te entregar a sua prova de história e te dizer que a Sra. Darbus quer saber de quem você colou pra tirar um B+, já que ela me separou de vocês dois na hora da prova – Fala em um tom neutro e se senta ao meu lado em baixo da grande figueira na frente do lago.

— Eu não colei. Eu só prestei atenção na aula – Digo em um suspiro pesado voltando a lançar as pedras na água.

— Tem algo a mais que queria me contar? – Pergunta pegando algumas pedras ao seu lado e jogando-as também.

— O Tommy colou da Caitlin, mas ela ainda não sabe disso – Falo tentando parecer descontraído, mas ela só revira os olhos e joga uma pedra na água.

— Quando você quer ser um chato, você consegue ganhar até do Tommy – Resmunga suspirando pesado – Vou ter que arrancar o curativo de uma vez ou você vai me contar o que foi aquela explosão com a sua Irmã de mais cedo?

— Achei que tinha vindo pra entregar meu teste – Falo pela primeira vez olhando em seu rosto, mas ela continua olhando pro lago.

— Foi o que eu vim fazer – Fala irritada – Até eu abrir a porta e sua mãe quase me expulsar da sua sala me mandando vir falar com você.

— Moira Queen sabe ser persistente quando quer.

— Não mude de assunto, Oliver. Eu achei que a sua implicância com a Thea já tinha acabado – Diz chateada.

— Acabou, de verdade. Foi só que... – Suspiro pesado tentando não explodir de novo – Eu só queria ficar um tempo sozinho – Expliquei – Eu queria pensar um pouco, colocar as coisas, os pensamentos em ordem. Mas a Thea queria brincar, eu não estava com vontade, eu pedi pra ela voltar depois, sorriso. Eu juro que eu pedi. Mas você conhece aquela criaturinha insistente, quanto mais eu dizia que não, mais ela insistia. Eu acabei gritando com ela, depois com a mamãe e a Raisa. Não foi minha intenção, eu só queria ficar um pouco sozinho, mas... Eu não a odeio, nem de perto eu sinto isso. Eu amo minha irmã, amo minha família. O que eu odeio é não ter mais o meu pai – Digo e sinto minha garganta fechar.

— Tudo bem, Oliver. Eu acredito em você – Fala olhando pra mim com aquele seu pequeno sorriso tão cheio de sentimentos.

Ficamos em um silêncio confortável enquanto jogávamos pedras na água apenas pra vermos elas quicarem e logo depois afundarem. Era estranho como pequenas coisas sempre me faziam tão bem. Eu não precisava estar no parquinho mais legal ou do brinquedo mais caro pra me sentir feliz, eu só precisava estar com meus amigos pra me sentir assim. E eu já estava assim. Ou quase.

— A Sra. Darbus realmente acha que eu colei? – Pergunto curioso e ela ri levemente.

— Digamos que você tirar uma boa nota, principalmente em história não é lá algo que se acontece todos os dias – Diz com uma piscadela e nós rimos.

— Ela falou algo sobre o Tommy ou foi só comigo?

— O Tommy estava lá pra receber a prova dele, mas pela cara que ele ficou quando foi falar com ela e pela cara que o Sr. Merlyn estava quando foi busca-lo hoje, eu acho que é só com você que ela está com dúvida.

— Ele está muito ferrado – Falo e nós gargalhamos – Aconteceu alguma coisa de interessante na escola, hoje?

— Bom, você lembra daquele garoto da aula de ciências, Barry Allen? Nós fizemos dupla hoje na aula, e ele me contou que vai sair um novo filme de animação, Toy Story. Ele perguntou se eu queria ir com ele – Fala e suas bochechas ficam levemente coradas. Não gostei nada disso.

— Já lhe falei que eu não sou muito fã desse tal de Allen – Digo um pouco irritado ouvindo-a bufar.

Mas era a verdade, eu não gostava nada desse Barry Allen. E pra não dizer que é implicância minha, o Tommy também não o suporta. A nossa tortura é ter que fazer aula de matemática com ele, sempre sendo o quarto mais inteligente da turma e querendo ficar amigo da minha melhor amiga. Ele e aquela cara de coitado não me desciam de modo algum.

— E foi por isso que eu recusei.

— Que bom! – Digo não escondendo minha contestação ao saber de sua recusa.
— Tire esse sorriso do rosto. Só porquê eu não vou ver com ele, não quer dizer que eu não vou ver o filme. Que por sinal você e o Tommy iram me levar – Fala de olhos cerrados e eu bato continência só pra irrita-la um pouco mais.

— Sim senhora.

— Idiota – Fala entredentes me fazendo gargalhar.

— Nada palavras feias, sorriso – Digo com uma piscadela e ela bufa.

— Ok, acabou a brincadeira. Já tá na hora de eu ir pra casa e de você ir pedir desculpas pra sua mãe e pra sua irmã – Diz se levantando e eu sinto minha espinha gelar por ter que ir enfrentar minha mãe.

— O que acha de eu ir dormir na sua casa hoje? Assistimos esse seu filme chato e comemos pipoca a noite toda – Proponho ainda sentado e ela me olha analítica.

— Primeiro, Toy Story vai ser o melhor filme de animação da história, então não vai ter nada de chato, guarde o que eu estou falando. Segundo, amanhã eu tenho teste de geografia e eu tenho que estudar mais um pouco – Fala responsável e eu não consigo não revirar os olhos. Ela era a melhor aluna em todas as matérias, sabia de coisas que o professor sequer tinha passado e ainda queria estudar mais pra prova, quando todos sabíamos que ela iria tirar um A sem ao menos se esforçar.

— Tão responsável – Digo irônico e ela me lança sua melhor carranca.

— E terceiro, você odeia dormir em uma cama que não seja a sua, você fez a tia Rebeca comprar um colchão igual o seu pra quando você vai dormir na casa do Tommy. E agora vem com essa de que quer dormir na minha casa? – Fala incrédula – Se eu não te conhecesse, diria que você está com medo de pedir desculpas.

— Eu não tô com medo – Digo em desdém e ela me olha descrente – Ok, eu estou com medo. Satisfeita? – Pergunto irônico e ela ri.

— Agora eu estou – Diz estendendo a mão pra mim que a aceito me levantando – Vamos logo antes que a sua mãe mande a tropa Tommy pra te resgatar – Fala divertida e eu a abraço pelos ombros e começamos a caminhar em direção a mansão.

Não vou negar, a cada passo que eu dava, mais nervoso eu ficava. Tinha algo em meu peito que estava apertando cada vez mais e não conseguia passar. Eu estava apavorado! Eu tinha que ser forte, eu prometi isso pro meu pai, não foi?

Então porque eu estava com tanto medo?

— Está tudo bem? – Felicity pergunta me fazendo perder o resto do ar que eu não sabia que estava perdendo até agora.

— E se ela não me perdoar? E se ela ficou com tanta raiva de mim que não me quer mais como filho? E se el–

— Ei, se acalma. Ela vai te perdoar, sim. Ela é sua mãe! – Me interrompe tentando me acalmar. Mas está difícil.

— Eu disse que odiava a minha irmã e a minha vida.. Ela nunca vai me perdoar depois disso. Por quê eu tinha que ser tão idiota? – Pergunto me afastando de Felicity e começo a andar de um lado pro outro nervoso.

— Você não é um idiota, Oliver. Pelo menos não por completo – Divaga e é a minha vez de lançar uma carranca irritada.

— Isso era pra me ajudar ou só pra me fazer ficar pior?

— Oliver me escuta – Fala me puxando pelas mãos me fazendo ficar de frente pra ela – Foi errado você gritar com elas e falar besteira. Mas você está arrependido e quer pedir desculpas por isso – Diz e arregala os seus lindos olhos azuis parecendo assustada – Você quer, não é mesmo?

— É claro que eu quero. É só que...

— Então é só o que importa. Ela vai entender, ok? Ela também está sofrendo, assim como você, e ela precisa de você pra ajuda-la a passar por isso. Ela precisa do Oliver filho e irmão.

— E se eu não for o suficiente? E se ela precisar de mais e eu não puder oferecer? Eu só tenho dez anos, sorriso! Como eu vou ajudar ela a cuidar da casa, da Thea, da empresa? Eu sequer sei a matéria de matemática da escola, quem dirá cuidar da minha família? – Falo jogando toda a minha insegurança em cima dela que me lança o seu sorriso mais doce antes de me puxar pra um abraço reconfortante.

— Você vai conseguir, você sempre consegue. Não vai ser na primeira pedra no seu caminho que você vai desistir – Diz e eu a aperto ainda mais contra mim.

— E se no final, quem precisar de ajuda for eu?

Se esse dia chegar, o que eu duvido pois eu sei que você é forte o suficiente, eu vou estar aqui pra te ajudar. Até que não precise mais – Fala deitando sua cabeça em meu ombro e eu faço o mesmo no dela sentindo a paz e a calmaria invadir meu peito.

— Sorriso?

— Hun?

— Promete que sempre vai estar comigo? – Pergunto pegando uma de suas mãos na minha sem quebrar o abraço.

— Eu sempre vou estar com você, Oliver – Diz enlaçando seu dedinho ao meu selando nossa promessa.

E eu sabia que ela seria pra sempre.


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Notas finais do capítulo

I ae? Gostaram? Sim? Não? Comentários? Sugestões? Dúvidas? Sou toda ouvidos. Ou teclado...
Até em breve



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