Cold Pain escrita por ravenwlily


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Ois! Essa fanfic é um presente para a minha amiga secreta que pediu algo com momentos fofos de Jily e um pouco (ou muito hehehe) drama! Espere que gostem, principalmente quem eu tirei! ♡



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New York estava mais agitada do que de costume. A expectativa causada pelas festas de fim de ano pairava sobre o ar cortante da cidade e o barulho de uma área metropolitana que acabara de despertar preenchia os ouvidos de todos. Era impressionante o quão alegres e repletas de esperança a maioria das pessoas ficava nesta época do ano. Lily Evans adorava tudo isso.

O tilintar suave de um pequeno sino a tirou dos seus devaneios, fazendo-a voltar à realidade da cafeteira e afastar-se da janela do local para bebericar seu café e erguer os olhos. Ao ver quem havia chegado, um leve sorriso deslizou por seu rosto alvo, as bochechas coradas de frio.

O cabelo bagunçado de James Potter parecia ainda mais arrepiado naquela manhã de sábado, como se o vento tivesse resolvido brincar com o emaranhado de fios negros do rapaz. Assim que entrou, tirou o cachecol do pescoço, abriu a pequeno armário destinado a guardar os pertences dos clientes com a chave que um dos funcionários havia lhe dado e o guardou lá, o calor do ambiente logo chegando ao seu corpo e aquecendo-o da mesma forma que o cachecol havia feito.

Pôs a chave no bolso interno do casaco e olhou ao redor, sorrindo ao encontrar a ruiva de olhos verdes bebericando o próprio café. A caminho da mesa ao lado da janela, retirou o casaco, e logo em seguida o colocou no braço da cadeira. Assim que se sentou à frente da namorada, permitiu-se admirá-la realizando aquele simples ato de tomar uma bebida quente. Poderia passar horas olhando-a sem ao menos cansar-se.

“Oi.” Lily murmurou após tomar um longo gole do café morno. “Até que enfim.” Arqueou uma das sobrancelhas, divertida.

James entrelaçou seus dedos aos dela.

“Desculpe, o trânsito estava péssimo, e mamãe me ligou. Já percebeu o quão falante ela fica nessa época do ano?” Ele deu um sorriso triste. Lily apertou sua mão, sabendo ao que ele se referia. “Dois meses que ele se foi, Lils, e…” Sua voz havia começado a ficar embargada, então respirou fundo. “Ele sempre amou as comemorações de fim de ano. Para ele, eram o fechamento mais satisfatório de um ciclo, a conclusão compensadora de um trabalho cumprido… Acho que ela tenta compensar o tempo que não teve com ele conversando comigo. Sempre… Sempre disse que nós dois éramos idênticos.”

“E são.” Lily empurrou o polegar pela pele de James, afagando-o. “Os mesmos cabelos revoltos, o mesmo sorriso travesso, a mesma lealdade forte, a mesma tendência a melhorar todo e qualquer ambiente.”

James olhou para o carinho de Evans por alguns segundos.

“Às vezes penso que talvez trago infelicidade a ela.”

Lily interrompeu o afago imediatamente.

“Retire o que disse agora, James Potter.”

Ele piscou.

“Mas Lily-”

“Mas nada! Euphemia ama você e você nunca trouxe infelicidade a ela.”

“Eu a lembro dele, Lily. Eu sou a memória viva de que ele está morto.”

A voz de Potter estava baixa e carregada de culpa. Ocasionalmente a ruiva o pegava chorando sozinho pela morte do pai. “Se eu tivesse insistido mais em levá-lo ao hospital quando ele começou a sentir aquelas dores no coração, aquele desconforto em várias regiões do corpo… Se eu tivesse sido mais teimoso do que ele fora…” ele dizia. Aquilo a quebrava. A morte era recente e a terapia também. O apoio emocional era forte e marcante, mas a culpa não dava indícios de deixá-lo tão cedo.

“Seu pai teve uma ótima vida com boas pessoas. Euphemia sente a dor da perda, mas não se entristece por você lembrá-la disso.” Quando ele ameaçou interrompê-la, ela o cortou rapidamente com a mão livre em um aceno breve. “Fleamont viveu como sempre quis e teve uma família que amou com todo coração. Eu sinto muito por tê-lo perdido, era uma pessoa bondosa e incrível, e sequer imagino como você se sinta porque creio que deva ser pior na realidade, mas você não pode deixar essa culpa te consumir, James. Não foi culpa sua. Sua mãe sabe disso perfeitamente e certamente fica contente por ainda ter você com ela. Ela vai superar essa dor, por mais terrível que seja, e você também tem que fazer o mesmo.”

James ficou em silêncio, apenas ouvindo. A cabeça baixa, os olhos inescrutáveis. Lily sabia que ele estava digerindo o que havia dito.

Nos últimos meses, havia aprendido a ser mais forte por James. Havia sido a primeira a superar o choque causado pelo infarto de Fleamont porque sabia que o moreno precisaria dela. Os dois Potter eram demasiadamente apegados um ao outro.

Quando seu namorado falou, sua voz estava rouca. “Vou me lembrar disso. Prometo.” Então, ergueu o rosto e encarou-a com um sorriso brincalhão nos lábios, em contraste com as orbes douradas repletas de sofrimento. “Então, qual é a surpresa? O que preparou para mim, Lils?”

— —

O Central Park estava envolvido em uma confusão de diferentes aromas, sons e pessoas. Crianças com expressão arteira arremessavam pedras e mais pedras contra o lago congelado, cachorros de rua corriam atrás de carrinhos de bebê alegremente, vendedores de quiosques buscavam chamar a atenção de possíveis fregueses e pais estressados consultavam listas de compras e cupons fiscais com avidez e o mal humor estampado no rosto, ignorando as brincadeiras dos filhos.

Observando tudo aquilo ao lado da simples barraca onde se alugava patins de gelo enquanto Lily pegava dois pares, um para cada um deles, James chegou à conclusão de que queria que seu pai estivesse ali. Meneou a cabeça, buscando afastar o pensamento. Precisava se concentrar em outra coisa.

“James?” Evans rodeou o antebraço dele cuidadosamente com a mão, e o apertou de leve, o chamado baixo e preocupado.

“Estou bem, Lily.” Olhou-a, grato, a voz preguiçosa, e então a girou e a puxou contra si. As costas dela contra o peito dele.  “Prometo.” Completou quando as orbes verdes dela procuraram pelas douradas dele e o encararam com dúvida.

Lily mordeu o lábio inferior, sem desviar o olhar por cima do ombro, avaliando-o. James não se moveu, apenas manteve sua atenção voltada totalmente para ela, a intimidade pairando sobre os dois.

“Tudo bem.” Suspirou, por fim. “Aqui.” E lhe entregou o par de patins vermelho-sangue.

Captain.” James leu a lateral dos patins com um sorriso divertido, as letras em dourado reluzindo ao fraco Sol de inverno. “Curioso, não?” Ergueu uma das sobrancelhas para a ruiva. Lily revirou os olhos para ele, as maçãs do rosto corando furiosamente.

“Não tem nada a ver com o fato de você ter sido capitão no colegial. Foi uma escolha totalmente aleatória.”

“Nem com o fato de você ter me dado um beijo de boa sorte no último ano, antes de um dos jogos mais decisivos da temporada, e essa ser uma das suas memórias favoritas?”

Não!” Evans guinchou. Potter tentava não rir. “E eu nunca disse isso.”

“Realmente nunca me contou.”

“O que você está insinuando, James Potter?” Lily girou para afastar-se e encará-lo melhor, mas ele a prendeu contra si, o braço dela gentilmente flexionado em suas costas, o peito dele contra os dela. O moreno sorria, totalmente entretido com a face ruborizada da namorada.

“Nada, amor.” James mordeu o canto da boca, tentando evitar que uma risada escapasse dos lábios. Adorava deixá-la vermelha, adorava fazer qualquer mínima coisa com ela. Tinha o coração tão cheio de amor por ela, amava-a tanto, que doía.

“Me solte.” Exigiu Lily, cada vez mais corada com os olhares curiosos dos passantes. Algumas mulheres os encaravam maliciosamente — ela só não sabia se pela posição deles íntima deles, ou por James… como um todo, por assim dizer.

Uma das pessoas que a encaravam sugestivamente, Lily reconheceu mesmo à distância, era sua chefe, Andrômeda Black. Ótimo. a ruiva fechou os olhos, as bochechas pegando fogo. Não vou mais conseguir encará-la no escritório sem me lembrar disso.

James acompanhou seu olhar e riu baixo. Lily desferiu um tapa forte em seu braço com a mão livre, a expressão fechada. Odiava ruborizar em público, e ele sabia, portanto, a provocava de propósito. Como reação, Potter apenas gargalhou mais alto. A ruiva queria esganá-lo.

“Gostaria que soubesse que, intencionalmente ou não, eu adorei sua escolha de patins.”

“Sim, sim.” Lily resmungou.

Ao vê-la desviar as orbes verdes dele mas sem largá-lo, James se inclinou e beijou o canto dos seus lábios. Ela suspirou.

“Você não consegue mesmo me deixar ficar brava com você, não é?”

“Não.” Ele retrucou, os olhos brilhando. Lily balançou a cabeça, sorrindo de leve, e o puxou pela mão em direção a um dos bancos perto do lago congelado, onde vários casais patinavam, uns pela primeira vez, outros seguindo alguma tradição de Natal.

James e Lily levaram alguns bons minutos calçando os pares e se equilibrando em cima deles sem cair (muito). Quando chegaram ao lago, estavam suados mas riam tanto que isso não importava. As maçãs do rosto deles doía e, apesar de ter estado constrangida momentos antes — o que, após pensar melhor, não havia sido grande coisa —, Lily não poderia sentir nada além de alívio por James ter gostado da ideia e estar se divertindo.

Passaram horas ali, deslizando pelo gelo e dançando sobre o lago em uma espécie de dança eclética, mas lhes parecem meros minutos. Estavam tão distraídos em seu próprio mundo, esquecidos dos problemas da vida adulta e das angústias que os bombardeavam constantemente, que um casal de desconhecidos teve que chamá-los e fazê-los voltar à realidade. A pista de patinação iria fechar e eles precisavam ir embora. James e Lily os olharam constrangidos, porém felizes, e os agradeceram.

Crianças iam e vinham ao parque, brincando e jogando pedras contra o lago. Muitos dos responsáveis por elas simplesmente ignoravam e continuavam a falar ao telefone ou a conferir as compras de Natal.

Mais a frente, o responsável pela pista, Hagrid, discutia fervorosamente com o funcionário público de New York City, Filch, que tinha sido nomeado para fiscalizar o bom estado de entretenimentos gratuitos como aquele. Frases como “O gelo não está totalmente seguro para patinar!” e “O lago está congelado! Congelado, senhor!” eram repetidas de modo quase incansável por Filch e Hagrid, respectivamente, para fazer o outro lado compreender. Alguns casais concordavam com Hagrid, outros — que saíram antes do horário de encerramento — apoiavam o argumento de Filch, dizendo que viram rachaduras em algumas partes do gelo.

James e Lily acompanhavam o alvoroço ainda à distância no meio da pista.

O som abafado de pedras contra o gelo parecia ecoar em alguns pontos. O atrito dos patins dos casais remanescentes dilacerava a pista. As rachaduras aumentavam. Ninguém notara… Até que Filch provou que estava certo.

Além de o gelo não ser muito espesso, o que significava também que não era seguro, o lago era extenso, e as rachaduras se espalharam rapidamente.

Tudo aconteceu tão rapidamente que Lily mal pôde acompanhar. O gelo fissurou abaixo deles, e, por reflexo, James a empurrou de lado, fazendo-a cair distante do buraco que o engoliu. Ele nem sequer teve tempo de tomar fôlego antes de mergulhar nas águas extremamente frias do lago e sentir o frio penetrar fundo em seus ossos, a temperatura muitíssimo baixa consumindo sua energia e diminuindo seu ritmo cardíaco. Antes de afundar, seus sentidos conseguiram distinguir estímulos do ambiente: os gritos de Lily, os sons de atrito causados por patins de gelo e cores contrastantes — o azul que o rodeava e os cabelos ruivos de Evans.

Então, ele apagou.

— —

O corpo de Lily tremia de nervosismo por completo. Estava no meio de uma batalha interna e em uma bagunça de sentimentos e emoções — ao mesmo tempo que gostaria de tirar satisfação com os responsáveis pela pista e pelas malditas crianças, também queria ficar ali, esperando notícias de James, qualquer notícia. Ela batia seus pés freneticamente contra o chão da sala de espera em claro sinal de impaciência, torcia suas mãos em indício de pura preocupação e seu coração doía de angústia.

Respirou fundo, buscando controlar os batimentos cardíacos acelerados de ansiedade, e viu Remus sentar-se na cadeira ao seu lado, tão preocupado quanto exausto como ela.

“Onde está Sirius?” Lily murmurou. De repente, percebeu que falar também lhe era doloroso.

“Saiu com Marlene e Alice para esfriar a cabeça.” Remus a avaliou, o cenho enrugado, a expressão compreensiva. “Black e McKinnon quase voltaram ao parque para discutir. Alice e eu os impedimos e os convencemos a ficar longe daqui por um tempo. Você deveria seguir o exemplo deles.”

“Não.” Ela ficou ereta, os olhos verdes incendiando de determinação. “Não vou sair daqui, Remus. De jeito nenhum. E nem você seria capaz de me convencer.”

“Está aqui há horas, Lils.” Ele falou em tom baixo. “Se houver alguma notícia, eu te ligarei.”

“Eu não vou.” Evans teimou, e Lupin sabia que a ruiva não cederia tão facilmente.

“James odiaria saber que você está sem comer e descansar o suficiente, e você sabe.”

“Ele quase morreu de hipotermia.” Lily falou com o coração apertado e a voz carregada de dor. “Não vou deixá-lo nem por um segundo.”

O ar frio da noite entrou pela porta recém-aberta. Arrepios desceram pela coluna de Evans, e ela notou que os pelos do braço de Remus se eriçaram. O aquecedor ligado do The Mount Sinai Hospital condensou as partículas congeladas que vieram de fora.

“E se ele não receber alta ainda nesta madrugada?” Remus olhou diretamente para ela, as orbes da cor de caramelo imploravam a Lily que ela descansasse. “São três da manhã e sequer pregou os olhos. Precisa dormir.”

“Ele está certo, ruiva.” Sirius havia sido uma das pessoas a entrar ao hospital. Quando desviou seu olhar do de Remus, Lily percebeu que Alice e Marlene também tinham retornado. Longbottom trocou um olhar com Lupin e foi em direção à bancada da recepção, provavelmente para saber de James, se haveria alguma notícia recente da qual ainda não tinham sido informados.

“Obrigada, pela jaqueta, Black.” A loira devolveu a peça de roupa ao dono, e, se Lily tivesse prestado mais atenção, teria notado o olhar demorado que ambos trocaram. “Vamos, ruiva, levanta.”

Lily piscou. Sabia que estavam preocupados com o estado dela, quase tanto quanto estavam com o de James, mas não pôde evitar sentir uma chama de raiva acender em seu peito. “Não.”

Marlene revirou os olhos, já acostumada àquela característica da melhor amiga. Sirius achou graça, mas então percebeu uma palidez anormal no rosto de Lily e sua expressão ficou repentinamente séria.

“Evans, . Se tivermos alguma notícia, qualquer mínima notícia, nós te avisaremos. Eu juro.” Lily ameaçou teimar com ele, mas ele a ergueu da cadeira firme e pacientemente pelo pulso, fazendo-a encará-lo de modo inescrutável. “É uma promessa, Lily. Faça isso. Pelo Prongs, mas acima de tudo por você. Você merece ficar bem também.”

Marlene o encarou orgulhosa, e Remus tinha um brilho divertido nas orbes ao deslizá-las da loira para o Black. Lily assentiu, relutante, praticamente convencida, porém o médico que estava encarregado de James, Ted Tonks, aparecera no corredor, fazendo até Alice — que estava mais adiante — sobressaltar-se com o coração apertado e os sentidos em estado de alerta.

“Amigos, familiares e, hm, namorada de James Potter?” Lily sentiu seu coração parar de bater por um instante. “Os batimentos cardíacos dele estão voltando ao normal…”

Evans não pensou duas vezes. Sem ouvi-lo concluir o que viera informar, afastou-se e cruzou o corredor em direção ao quarto de James.

— —

Lily estava sentada em uma das cadeiras para visitantes no quarto do hospital de James, as mãos entrelaçadas como em uma prece silenciosa, a cabeça baixa em sinal de pura dor. Ouvira, do corredor, Remus convencer o médico a fornecer as informações que ele trouxera consigo aos que estavam do lado de fora do cômodo e a deixar a ruiva permanecer dentro dele, apesar dos protestos e da relutância notável do profissional.

A enfermeira, Madame Pomfrey, estava em um pequeno quarto, mais ao fundo. Quando viu Lily entrar, ansiosa, apenas balançou a cabeça em concordância e acenou para a cama de James.

Os flashbacks passavam por sua mente, rápidos, as memórias embaçando e a preocupação sufocando-a.

O primeiro sorriso que ele arrancou dela (a crueldade de Petúnia e as lágrimas de Lily eram demais para o James adolescente suportar calado. As piadas dele eram péssimas, ela sabia, mas eram tão ruins que chegavam a ser boas, e, por fim, Lily riu em meio às lágrimas derramadas na biblioteca do colégio.)... o primeiro beijo (ele estava com a expressão tão concentrada para aquele jogo, as orbes tão determinadas, e ela estava tão nervosa por ter decidido lhe dar um beijo de boa sorte. Marlene disse que era desculpa para sentir os lábios dele contra os dela, mas Lily decidiu ignorá-la.)... O primeiro encontro e a primeira vez deles (ambos tão ansiosos que mal puderam acreditar em como tudo aconteceu tão naturalmente, um calor confortável subindo pela barriga e preenchendo o peito. James teve tanto cuidado e foi tão carinhoso e amoroso que Lily simplesmente quis chorar de paixão.)... A última risada dele (um sussurro rouco ao pé do ouvido dela, um murmúrio de agradecimento. James havia lhe agradecido por tudo. Absolutamente tudo.)

Um soluço escapou por seus lábios rosados de frio e então ela se deu conta de que estava chorando.

Lily se sentiu tonta. A perspectiva de perdê-lo era avassaladora. O medo percorria suas entranhas e a ansiedade a consumia, ao passo que a dor juntamente à preocupação penetravam fundo em seus ossos. O aquecedor estava ligado, mas a ruiva sentia que estava lá fora, nas ruas congeladas de New York, sem nenhum agasalho ou roupa suficientemente quente. O frio a corroeria por dentro, o vazio ocupado por James em seu coração ameaçando tomar conta dela por completo. As lágrimas grossas pareciam fogo em sua pele, traçando um caminho de angústia pelo rosto alvo de Evans. O silêncio profundo que pairava sobre o ambiente hospitalar foi cortado por uma voz rouca e familiar, fazendo Lily erguer os olhos rapidamente, mas sem limpar as lágrimas. Sua mente parecia estar causando-lhe alucinações.

“Lily?”

Ela quase chorou de alívio. “James?” murmurou com a voz entrecortada. Ele sorriu, piscando para se acostumar à luminosidade sutil do quarto e enxergar a namorada o melhor que conseguia sem os óculos. Sua aparência estava fragilizada e a vivacidade que emanava, fraca. “Hey.”

Ela abriu a boca, mas nenhum som saiu dela. Não conseguia acreditar. Depois de dias sem dormir ou comer direito, sem ir pra casa, sem deixá-lo sozinho — como se sua presença fosse ali causar um milagre natalino, como se ela pudesse mais do que seguir as orientações médicas... aí estava ele. Sorrindo para ela com o cenho enrugado de clara preocupação, como se não tivesse passado sabe-se-lá-quantos-dias (Evans não estava contando, de qualquer maneira) no hospital por cair no lago congelado do Central Park, onde patinavam, e quase ter morrido de hipotermia. Não fora culpa dele, é claro. Lily recordava-se bem de ter Alice segurando Marlene para impedi-la de tirar satisfação com o responsável da pista e os pais dos garotos diabólicos que jogaram pedras contra o gelo e pularam fortemente contra ele. Remus não estava muito diferente da Fortescue — fazia o mesmo com Sirius. Lily sorriu com a lembrança, o rastro de gratidão e amor contrastando com seu choro agora mais fraco.

“Hey, não chore.” James falou baixinho, alcançando uma das mãos dela e puxando a ruiva mais para perto de si. “Vou ficar bem.”

Lily mordeu o lábio inferior que tremia, e desviou o olhar do dele. O sorriso desapareceu de seus lábios, como se nunca houvesse existido. “Eu sei.” Potter franziu mais o cenho, perguntando-se o que estaria de errado. Olhou ao redor. Os dois estavam sozinhos. “É que-” Ele mirou-a novamente. Ela buscou fôlego, ainda sem encará-lo, as lágrimas voltando a cair. “Eu... eu achei que ia perder você.” disse num murmúrio fraco, encarando-o, enfim. “Como... como eu acordaria sem você ao meu lado? Como eu faria compras sem você fazendo brincadeiras com os legumes? Como eu comeria, dormiria, faria qualquer coisa em paz sendo que você é o meu porto seguro? Como eu retomaria minha vida sem você nela?”

“Lily...” James ameaçou interrompê-la, mas ela foi mais rápido e o cortou, balançando sua cabeça levemente e entrelaçando seus dedos aos dele. “Uma vez, você me disse que por mais que me amasse e eu fosse apaixonada por você, nenhum de nós deveria não prosseguir nossas vidas normalmente se algo acontecesse, seja lá o que fosse esse algo. Eu concordei. Concordo. Você estava certo. Mas nada, absolutamente nada, James, seria o mesmo sem você. Você é parte de mim, da mesma forma que eu sei que sou parte sua. O vazio que seu lugar ocuparia em mim nunca, nunca, seria preenchido. Eu amo você. De coração e alma, com todo coração e alma.”

Ela nunca havia dito aquilo para ele, e ele sabia. Por mais que James dissesse frequentemente que a amava, Lily nunca tinha lhe dito o mesmo. Em partes, porque não tinha certeza do que sentia; e, por outro lado, James a fez jurar, por tudo que fosse mais sagrado, que ela só deveria o responder assim, com toda essa carga sentimental, se ela realmente sentisse.

E ela sentia.

James a encarou, pego totalmente de surpresa. Sabia como ela se sentia, como se fosse incapaz de prosseguir a vida sem alguém que ama muito e, caramba, ele a amava tanto. Amava cada pequeno detalhe de Lily, cada ação e reação do corpo dela, cada qualidade e cada defeito — o melhor e o pior.

De repente, seu peito doeu e seu coração apertou. James não soube o que dizer, então deixou que suas ações falassem por si próprias. Puxou-a contra si e a beijou, ignorando todos os protestos do seu corpo de não se mover.

Suas mãos estavam nas costas dela, deslizando pelo tecido de algodão em um carinho firme, e os dedos dela no cabelo dele, enroscando-se nos fios negros e puxando-os de leve.

James e Lily teriam continuado se o estado de Potter permitisse algo mais ousado e Madame Pomfrey não tivesse pigarreado em alerta. Evans se afastou envergonhada, as bochechas coradas, mas os olhos brilhando.

James não estava muito diferente — um sorriso serpenteava por seu rosto pálido de frio.

“Senhor Potter, sinto interromper seu… momento de afeto com a senhorita… Evans, certo? Mas o médico precisa avaliá-lo.”

“Sim, sim.” Lily murmurou, afastando o cabelo ruivo do rosto e tentando deixá-lo de um modo mais apresentável. “Hm, Pomfrey, há alguma chance de James receber alta ainda hoje?”

Ela pensou um pouco.

“Talvez. Tonks vai querê-lo sob observação, mas se Potter continuar com esse ritmo de melhora, existe grande possibilidade de ir para casa antes do esperado.”

Lily acenou em compreensão.

“Obrigada. Bem… eu vou esperar lá fora. Talvez vá para casa, ou…”

“Vá para casa.” James a interrompeu, repentinamente sério. “E nem pense em ficar por minha causa. Você precisa dormir.”

Lily mordeu o lábio inferior, contendo um leve sorriso, e foi em direção à porta. Parou com a mão na maçaneta.

“Amo você. Fique bem.”

James sentiu seu peito aquecer mais um pouco. Quando ela estava prestes a sair, disse, a voz carregada de certeza.

“Também amo você. Você tem meu coração para sempre.”


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Notas finais do capítulo

E é isto, meus consagrados ♡

Me digam o que acharam, a opinião de vocês é muito importante para mim!!!

Agora, sobre minha amiga secreta... bom, eu já a vi algumas vezes na timeline do Twitter, mas não a conheço muito bem. De qualquer forma, ela colocou na fichinha que iria amar qualquer coisa que fosse bem escrita, então torço para você ter gostado dessa fanfic, Thaís (@ThaBMedeiros)!!! ♡



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