Vapor Aeris - O Mordomo de Rita escrita por L L Perazzo


Capítulo 1
A Cidade do Progresso


Notas iniciais do capítulo

Foi a primeira vez que tentei escrever na temática steampunk, um grande desafio, mas me diverti muito escrevendo e quem sabe não farei mais história dentro desse universo?
Espero que gostem do enredo e personagens, a proposta do desafio era misturar "máquinas e mágica".
Ponham seus óculos de latão, liguem as bicicletas a vapor e boa leitura!



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A aurora tomava a cidade aos poucos, e logo a nevoa da manhã se misturava com a fumaça que saía de cada chaminé que despertava junto a seus donos. O padeiro já caminhava ao lado de seu autônomo quadrúpede de engrenagens antigas e oxidadas, que apenas servia como uma enorme bandeja onde os mais variados pães descansavam à espera dos clientes. O alfaiate levantava suas cortinas para ver o frio sol que dificilmente conseguia atravessar o teto de nuvens de fumaça. Na catedral da praça central, senhoras já se encaminhavam para a missa da manhã. Cães e gatos corriam para as periferias em busca de comida. As tavernas se faziam silenciosas, só o grande relógio de cobre na torre que se sobressaía em meio ao silêncio matinal, ele badalava de forma triste para dizer que era hora de Vapor Aeris fazer jus ao título de cidade mais avançada do mundo.

Carruagens e bicicletas a vapor passavam de um lado para o outro da enorme cidade, as ruas começavam a cantarolar a canção dos paralelepípedos sob as rodas. As guildas de inventores já abriam suas portas e se reuniam para criar novas grandes invenções, abarrotadas de pequenas engrenagens. Os militares, membros da Brigada Aérea dos Zepelins de Cobre já faziam suas rondas, verificando cada entrada e saída de Vapor Aeris, enquanto sua a prefeita, Helena Redpot, tomava seu chá, cercada por sua guarda pessoal, no terraço de sua casa no centro. Rita Rivet já empilhava seus afazeres para o dia, apertando alguns parafusos de seu mordomo e ligando a fornalha da caldeira para derreter o cobre. Mais um dia comum na pacata cidade do progresso.

— Como deveria ser Vapor Aeris antes do mandato de Helena? — Perguntava Rita Rivet em seu enorme laboratório no porão da casa de seu pai.

Seu mordomo e única companhia durante o dia, jogou levemente a cabeça para o lado como se não soubesse do que a garota falava.

— Frank, algum dia você vai saber o que é uma conversa de verdade e vai me responder. — Ela sorriu docemente para seu homem mecânico em tamanho real. — Eu te fiz do melhor cobre, com as melhores engrenagens, seu coração bombeia óleo melhor que qualquer outro órgão biológico, dentro dessas pessoas que caminham livres lá fora...

Rita vivia apenas com seu pai, o Coronel dos Zepelins de Cobre, ele a criou presa em casa desde a morte de sua mãe,  quando a garota com seis anos de idade criou um pequeno robô autônomo, o Coronel Marco Rivet se deu conta que sua filha possuía um dom. Com isso o governo junto com o exército, confiscou a liberdade da criança, mantendo-a no porão para que inventasse e aprimorasse armas sob o pretexto de proteger a cidade.

A garota não sabia, mas Helena, a prefeita, havia usado todas as suas criações mortíferas para dizimar e expulsar a magia de sua cidade. Feiticeiros, magos, bruxos, foram todos mortos ou exilados. Suas casas tomadas e suas guildas destruídas. A simples menção a magia era passível de punição em praça pública. Após a limpeza sangrenta, em uma conversa com sua filha no jantar, o pai de Rita lhe contara que os magos haviam se voltado contra as pessoas indefesas e por isso foram expulsos e a magia fora proibida. Os jornais que a garota tinha acesso enquanto crescia, eram selecionados por seu pai e por vezes algumas páginas vinham rasgadas.

Rita jamais questionara, jamais se recusara a criar para seu amado pai, que a protegia do mundo lá fora. Mas seu coração queria ver mais. Queria saber como suas invenções ajudavam as pessoas, queira passear na praça, visitar a igreja, cumprimentar o padeiro. Escolher suas próprias roupas, brincar com os animais e voar em um dirigível de cobre.

— Ah Frank, quantas ideias eu não teria vendo a cidade com meus próprios olhos! — Ela andava pelo laboratório dourado, carregando tubos de ensaios e chaves de fenda tortas. — E quem sabe depois, eu poderia viajar pelo mundo... Ah! Canta para mim! — A garota deixou seus equipamentos em uma mesa de madeira e correu até seu mordomo. Com seus olhos brilhantes direcionados aos frios olhos de vidro moldados proporcionalmente na cabeça de metal do robô, ela pediu mais uma vez: — Frank, cante para mim. Cante A balada do Capitão Robert!

A boca do mordomo mecânico abriu com um pouco de dificuldade, um rangido distante poderia ser ouvido se estivesse próximo o suficiente. E da cavidade metálica saiu um som harmonioso e musical. Uma música alegre que a pequena Rita gravou do rádio uma vez que conseguiu captar a frequência certa. Era sobre a história de um capitão de um navio, que recrutava homens nos portos e os levava em grandes aventuras. Os lugares eram distantes e perigosos. Perigosos ao ponto de apenas o capitão sobreviver na volta ao porto.

— Você pode imaginar Frank, o tipo de criaturas que eles encontravam nas viagens? — A garota desceu seus óculos de latão e soldava parte de uma arma antiga em um novo propulsor a vapor. — Deveria ser muito assustador para alguns deles se matarem... Olhe Frank, terminei mais uma!

Rita batia o pé no ritmo da música e cantarolava quando não falava com seu companheiro. O sol já encaminhava para o topo da cidade e Rita trabalhando não se dava conta da hora, apenas comia quando, programado para isso, seu mordomo lhe trazia o almoço.

Perto do anoitecer ela olhou para a pequena janela que se encontrava no alto das paredes do porão, o por do sol trazia o mais belo brilho alaranjado.

— Frank! — Ela chamou e seu robô a encarou esperando as ordens. — Amanhã é meu aniversario de quinze anos! — Quase pulando de excitação ela correu para os braços de seu mordomo que a segurou no colo. — Pedirei ao Coronel que me deixe sair. Se você me acompanhar, tenho certeza que ele deixará. Você me faria companhia, Senhor Frank? — Ela encheu a boca com sarcasmo.

Com um aceno positivo Frank a respondeu. Mais uma vez, ele fora programado para isso.

Com o rosto coberto de fuligem e as mãos sujas de óleo, Rita subiu as escadas de latão, atravessou a cozinha, pegou o elevador e nunca o barulho das engrenagens sem lubrificação fora tão empolgante. Já em seu quarto, ela se banhou, penteou seus longos cabelos castanhos ondulados, que enquanto trabalhava ficavam trançados para trás. Pôs um vestido rosa de babados sem volume e limpou toda a sujeira aparente de seu mordomo, deixando seu paletó preto reluzente e o cobre de seu corpo brilhando no reflexo das luzes.

Já esperando a mesa, pontualmente as 19:10, o pai de Rita parecia impaciente. Sem notar qualquer mudança no humor habitual de seu pai, a garota sentou na outra extremidade da mesa. Seu mordomo ficava sempre a cinco passos atrás.

— Boa noite Coronel, como foi no trabalho? — Ela perguntou com um tímido e cauteloso sorriso.

— Como todos os dias. — Ele respondeu, seco e frio. Como todos os dias...

— Tem mais tarefas para mim? — Rita se serviu de uma sopa rala de vegetais. Odiava aquela sopa, mas era o prato que seu pai exigia que comesse. — Se não tiver, — Ela continuou. — gostaria de tirar um dia de folga para caminhar na cid-

— Está falando bobagens, Rita. — Ele a interrompeu levando uma colher de sopa a boca e sem demonstrar nada a engoliu. — Já falamos sobre sair e imaginei que com um cérebro tão incrível como o seu, teria entendido.

— Eu entendi pai, mas amanhã é meu aniversário... — A sopa já antes sem sabor se tornava ainda mais desinteressante. — Frank iria comigo. Eu estaria segura, prometo!

— Não precisa prometer, pois não irá sair! — Dizendo isso, o pai da garota levantou-se, pegou alguns papéis do colo e subiu as escadas para seu quarto.

— Boa noite, Coronel...

Com pesar e lágrimas nos olhos Rita voltou para seu quarto para chorar sobre o colo de metal de seu mordomo.

O aniversário da garota foi como qualquer outro dia na cidade de Vapor Aeris, e as semanas seguintes, mesmo com uma desconfiança no ar crescendo, também fora igual. O trabalho de Rita no laboratório crescia gradativamente. Todas as noites seu pai entregava mais pedidos, de armas ainda mais poderosas. E dia após dia Rita trabalhava para atender aos pedidos da prefeita Helena.

Mas numa tarde silenciosa, de sua casa que ficava afastada da cidade perto da colina, Rita pôde ouvir o primeiro tiro dado de um canhão que ela sabia que fora criação sua. Mesmo sem permissão para sair de seu laboratório até que chagasse a noite, ela subiu as escadas, tomou o elevador e foi para a torre de observação.

Com a enorme luneta, ela viu feixes de luz, fumaça tremeluzindo no céu, casas em chamas, navios aéreos e todos os tipos de dirigíveis, de Zepelins de Cobre a dirigíveis negros com veios iluminados que corriam entre a costura.

Uma empregada da casa do Coronel preocupada com a menina foi a seu encontro.

— Senhorita! — Gritou a senhora de cinquenta anos ofegante. — É proibido para a senhorita estar aqui! Seu pai me matará.

— O que está acontecendo lá embaixo na cidade? — Rita segurou o avental da senhora. — Meu pai está lá! O que são aqueles navios?

— Senhorita, eu não posso contar...

— É uma ordem! Você me deve obediência! — Rita odiava usar aquele tom, mas o desespero e a surpresa se juntavam com sua insaciável curiosidade, fazendo sua educação dissolver como sal na água.

— Senhorita... Não conte a seu pai... – A empregada pensou, estreitou os olhos, por fim suspirou em rendição. — São feiticeiros, estão querendo trazer a magia de volta a Aeris, pretendem matar a senhora Helena Redpot. Mas vamos, venha, precisamos descer.

— Obrigada e espero que me perdoe pelo tom que usei.

Com aquele pouco de informação e o conhecimento que seu pai lhe passara Rita imaginou que os usuários de magia mais uma vez estavam ali para matar inocentes.

Dias se passaram e sempre que podia Rita escapava até o observatório, cada dia a situação da cidade piorava, pessoas fugiam, dirigíveis queimavam até o chão, as casas queimavam junto a eles. Destruição era apenas o que se via.

O pai de Rita passou a mandar os pedidos de armas mais fortes com mais frequência por dia, e com os dedos cortados, sufocando sob sua máscara, seus olhos lacrimejando perto do vapor da caldeira, mesmo protegido por seus óculos de latão. A pequena garota não dava conta de tanto trabalho. Até que por fadiga numa tarde, ela desmaiou.

Deitada inconsciente no chão de seu laboratório, Rita não viu quando sua propriedade fora invadida por três feiticeiros, que montaram um plano na expectativa de achar algo para barganhar com a prefeita Helena. Os piratas renderam a empregada trancando-a em um quarto, vasculharam toda a casa, até achar o laboratório de Rita.

Sem esforços, entraram e encontraram a garota desmaiada. O calor lá dentro era sufocante, e até mesmo os invasores começaram a suar. Dentre os três havia uma feiticeira de aparência jovem que trazia uma bolsa de água consigo. Ela se abaixou para ajudar a menina, enquanto seus companheiros olhavam estarrecidos para o mordomo mecânico que observava cada passo que davam.

— Lívia, olhe para essa coisa. — Um deles, o mais baixo falou. — Quem construiu isso?

Barulho de engrenagens soaram, tic’s e tac’s dentro do mordomo moveram seu braço, e respondendo à pergunta do homem desconhecido, ele apontou para a sua criadora.

— Como é possível? — O outro homem falou em espanto. — Ela nem deve ter dezesseis.

— Devemos leva-la até o capitão! — Exclamou o mais baixo.

E com cuidado a feiticeira aninhou a garota no colo. Era tão esguia e magra que não fez muita diferença no ritmo dos feiticeiros ao subirem as escadas. Logo atrás, Frank os acompanhava em silêncio.

Em seus planadores de núcleo mágico e propulsores de cristal, eles se acomodaram junto a garota e seu fiel robô. A vela na frente reluzia ao ganhar altura. Cortando o ar sem dificuldade eles foram até o navio principal. O grande e negro dirigível com veias, por onde um líquido brilhante e multicolorido passava.

Já recobrando a consciência Rita se viu sendo ajudada a subir a bordo. Segurando a mão de seu mordomo, ela percebeu no mesmo instante o que estava acontecendo. Os piratas a sequestraram para usar seu cérebro contra seu pai e cidade.

— Jamais irei ajuda-los a matar inocentes! — Ela gritou com toda a coragem que conseguiu reunir.

Risadas de deboche foram ouvidas por todo o convés.

Da cabine do capitão, ele surgiu. Em seus vinte e cinco anos de pura sabedoria e destreza o capitão dos feiticeiros era uma visão para aqueles que o admiravam.

— Capitão, trouxemos a filha do Coronel Rivet. — Disse o homem mais baixo. — Aquela coisa ao seu lado, foi criação dela!

Todos olharam para Frank com surpresa.

— O Frank não é uma coisa! — Rita gritou pegando até mesmo o capitão de surpresa. — Ele é meu amigo!

Apertando ainda mais a mão do robô, Rita se encolhia a cada minuto com o medo que a consumia.

— Ela, é provavelmente a responsável pelas armas do exército de Vapor Aeris, — Falou a feiticeira. — junto com a guilda de inventores é claro.

— Façam um anúncio dizendo que estamos com a garota. — Disse o capitão sem tirar os olhos de Rita e Frank. — Menina, qual o seu nome? — Ele sorria gentilmente.

— Rita Rivet! — Ela disse mais alto do que realmente pretendia. — Esse é meu mordomo, Frank. Faça uma reverência por educação, Frank.

O robô se curvou para o pirata.

— Não é necessário. — Ele estendeu a mão para apertar a da garota. E relutante ela retribuiu. — Me chamo Edgar North, filho de um bruxo com uma cigana. Há muito tempo moravam em Vapor Aeris, mas foram mortos por Helena Redpot.

Um silêncio se fez presente no convés. Apenas o barulho de canhões era ouvido ao longe.

Soltando a mão da garota o capitão se dirigiu ao mordomo e com o mesmo gesto ofereceu sua mão em cumprimento. O robô imitando sua criadora apertou a mão do feiticeiro.

Passando a outra mão pelos cabelos negros, ele fixou os olhos verdes nos olhos do homem mecânico.

— Prazer em conhece-lo Frank, você é uma criação magnífica. — Soltando as mãos e virando-se para Rita ele prosseguiu sua história: — Você disse que matamos inocentes, mas sabe da verdadeira história?

Rita relutante, porém, um pouco mais confiante contou tudo que sabia. E ao fim de suas palavras o que restou foram lágrimas de ódio em boa parte dos presentes. Capitão Edgar segurou com pesar seus óculos de latão pendurados no pescoço…

— Rita, — o pirata pousou a mão na cabeça dela. — vejo que esteve trancada por muitos anos. Fora alimentada com mentiras e talvez mesmo que te conte a verdade você jamais acreditaria.

— Tente. — Ela disse com um brilho de curiosidade no olhar. — Eu sempre soube que faltavam fatos, não posso confirmar que acreditarei em tudo que disser, mas quero ouvir tudo que tem para dizer.

E sentando-se no convés empoeirado junto a garota, o capitão contou toda a luta, a ira de Helena, a aversão da prefeita pela magia, o medo que sentia daqueles que a usava, as famílias que morreram por suas mãos e o reencontro dos refugiados além das montanhas, que com o passar dos anos ganharam os céus, dominaram a magia de ataque e planejaram a tomada de Vapor Aeris para devolve-la aos tempos em que engrenagens e cristais mágicos trabalhavam em conjunto.

Quando terminou de contar a história, o capitão esperou a reação de Rita, ela permanecia pensativa, como quando estava imaginando o que criar em seguida.

Mas não houve muito o que dizer depois, dois planadores a vela atracaram. Deles duas bruxas jovens com roupas de couro saíram gritando.

— Eles querem ver a garota, Capitão! — Disse uma.

— Dizem que está mentindo! — Concluiu a outra.

— É um truque. — Edgar pensava para si. — Não deixem Rita muito exposta, eu sei o que estão tramando. – Dizendo isso ele se virou e foi em busca de suas armas na cabine.

Rita subiu em um planador junto a Frank e novamente estavam ganhando os céus. Agora ela podia ver o que acontecia ao seu redor. O vento no rosto, o por do sol que acabava, as luzes que acendiam na cidade logo abaixo. O horizonte era tão lindo, lágrimas escorriam de seu rosto.

Velas douradas e brilhantes passavam por ela enchendo ainda mais seus olhos. Por que escondiam um mundo tão lindo dela? Por que tinha que ficar sempre presa em um buraco?

— Frank, olhe todo esse mundo. Um dia você vai apreciar um momento assim, como faço agora! — Ela gargalhava de braços abertos enquanto seu planador, guiado pela feiticeira que a ajudara antes, voava em direção a frota dos Zepelins de Cobre.

Cara a cara com o dirigível de Helena Redpot, Rita viu a prefeita em suas botas até depois do joelho, seus cabelos negros presos perfeitamente atrás da cabeça, os lábios vermelhos representavam a sede de sangue em seus olhos.

Disparos de armas de fogo, criadas por Rita, vieram em sua direção e atingiram a feiticeira de seu planador no ombro, a mulher caiu para trás segurando o local atingido.

Com surpresa em dobro, Rita ouviu a voz da prefeita na boca de seu mordomo, que captava as ondas transmitidas pelo exército de Vapor Aeris. Chiando em sons de metal a prefeita dizia:

“Não gastem munição com a escória! Matem a garota Rivet! Matem a garota!”

Sem acreditar no que ouvia, Rita ficou parada segurando o leme do planador sem saber o que fazer.

Instantes depois Capitão Edgar pulou em seu planador e tomou o controle. Levando Rita para longe dos tiros. Em um mini avião de cobre um homem do exército passou atirando e por pouco não acertou a cabeça de Rita.

Aquele que mirava no brilhante cérebro da menina Rivet, era o coronel da brigada dos Zepelins de Cobre, Marco Rivet, seu o próprio pai. De volta ao dirigível negro, sem conseguir segurar tamanha traição, Rita desabou sobre seus joelhos.

— Ele vai atirar na própria filha? – Alguém gritou do meio do navio aéreo.

— Eles não querem que fiquemos com a inteligência dela. — Edgar falou, observando Rita de joelhos. — Valorizam mais sua inteligência do que sua vida. Frank tem mais sentimentos que toda a raça da Helena Redpot. Vamos nos retirar, não poremos a vida dela em risco. Ela não estava de acordo em dar sua vida por nós, como nos dispomos a fazer.

Houve uma comoção e depois todos consentiram.

Baixando seus óculos de latão até os olhos, acomodando-os bem para vedar a entrada de ar, Rita levantou do chão.

— Vivi presa. Era errado. — A garota começou a sussurrar e logo aumentou a voz. — Fabriquei armas para matar inocentes. Foi errado. Eles me impediram de ver o mundo. Também estava errado. Agora preferem tirar minha vida para não barganharem com feiticeiros... Imperdoável... Prefeita Helena, imperdoável! Coronel Rivet...

— Imperdoável! — Frank reproduziu a voz da garota por sua boca mecânica.

Todos apenas observavam.

— Isso mesmo Frank, imperdoável.

Rita tomou um planador para ela, ordenou que Frank subisse na borda do navio. Levou uma das mãos até lateral de seus óculos e com um toque ela ligou o interruptor-alavanca.

Por um segundo nada aconteceu.

Então todas as juntas de Frank estalaram. Seus olhos de vidro ficaram vermelhos. De suas costas saíram asas de cobre e ouro movidas a vapor. Por todo o seu corpo canhões e outras armas mortais forma se destravando. Um arsenal completo estava agora dominando o que Rita chamava de mordomo. Aquele que era seu único amigo.

Com apenas um aceno de mãos, Frank voou na direção da cidade e dos Zepelins de Cobre.

Ao lado do robô a garota gritou:

— Seus alvos são os dirigíveis, Helena e... o meu pai. — Rita deu meia volta e ficou observando o caos que seu mordomo fazia, da popa do navio.

Edgar segurou os ombros da menina que não tirava os olhos do desespero do exército e sua prefeita sanguinária.

Os tiros de Frank tinham precisão cirúrgica. Com seus olhos ele derreteu, através de feixes de calor, toda a frota de dirigíveis. Com apenas dois dedos ele disparou contra o pai daquela que o criara e mesmo tentando escapar do mordomo, a prefeita que pulara de seu zepelim foi pega no ar e teve seu coração travessado por uma espada de ouro.

De volta ao navio com a guerra vencida, Frank se ajoelhou perante Rita, mostrando sua missão cumprida. Abraçada ao homem de metal, ela implorou para ficar com os piratas.

— Se me deixar ficar prometo que serei útil, apenas me mostre o mundo. — Sua voz saía falhada.

Edgar gargalhou.

— Jamais usarei sua inteligência para meu beneficio Rita, seria uma honra para nós se ficasse. — A tripulação dava vivas na medida do possível. — Você, seu amigo e sua sede por conhecimento são mais que bem-vindos a minha tripulação!

Rita abraçou o capitão que a acolheu como um membro da família.

E por anos a garota Rivet viajou pelos céus. Conhecendo todos os mundos que ouvira em suas histórias, aprimorando suas invenções e se inspirando. Aprendeu a usar magia e ainda procura uma forma de fazer seu mordomo sentir, de fazê-lo viver, faze-lo livre. Como ela era agora.


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Notas finais do capítulo

Já podem desligar as bicicletas e abaixarem os óculos de latão, respirem fundo e me digam, gostaram?
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Bjs de metal e vapor ♥ Até a próxima!



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