O amor e a coroa escrita por Tamariskqueen


Capítulo 10
Anna


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas!!!
Vim na cara de pau de novo hehe.
Eu sei que não to postando com frequência, mas acho que todas as pessoas que fazem pré-vestibular conseguem entender minha falta de tempo. Realmente não tem sido fácil, mas não vou desistir da fic. Posso estar demorando um pouco mais pra postar, mas alguma hora vai kkkkkkk
Enfim, espero que gostem do capítulo.
Boa leitura ♥



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Estranheza.

Já haviam se passado cerca de duas semanas desde a conversa que tive com Peter e a sensação em meu peito ao acordar permanecia a mesma. Estranheza. Sentia falta dele, de nossas conversas pela manhã e pela tarde, de sua companhia, de suas risadas… Não foi como se durante essas semanas ele fosse o único pensamento em minha mente ou como se eu chorasse todas as noites como as personagens dos livros que eu sempre li. Mas era estranho. Estranho não ouvi-lo bater em minha janela ao amanhecer, ou estar no jardim ao entardecer e não encontrá-lo. 

Porém, sem dúvidas, o que mais me causava essa estranheza era o fato de querer vê-lo e evitá-lo ao mesmo tempo. Não me arrependi de ter pedido a ele esse tempo. Eu realmente precisava dele. Não havia progredido tanto assim em relação a meus sentimentos. Rinna passou essas semanas tentando fazer com que eu “olhasse em meu interior” e tentasse encontrar os meus “verdadeiros sentimentos por Peter”. Tentei fazer isso, mas não tive nenhum resultado significativo. Decidi, então, tentar focar minhas energias no meu trabalho e torcer para que as coisas se resolvessem sem minha intervenção. Eu sabia que esse não era o mais inteligente dos planos, mas minha energia já havia sido gasta mais que o suficiente por esse assunto.

Estava terminando de preparar meu cabelo quando minha mãe entrou no quarto. De cara, percebi que algo estava errado. 

Ela parecia a mesma. Seus cabelos castanhos que já mostravam sinais de grisalho estavam presos na habitual poupa, seu vestido verde escuro era parte tampado por seu avental branco perfeitamente colocado em seu corpo. Sua boca se curvava em um sorriso carinhoso e singelo, mas o segredo estava alí. No fundo de seus olhos cor de mel eu encontrei a tristeza. Ela tentava disfarçar o sentimento, mas ele estava lá. Fiz as contas em minha mente, não compreendendo como pude esquecer do dia de hoje. 17 de Novembro. O aniversário dele.

ー Bom dia, querida! Decidi passar aqui para ver como estava.

Minha mãe parecia torcer para que eu não me lembrasse do dia de hoje. Ela nunca gostou de falar sobre meu pai, e certamente não queria que eu a visse em um momento frágil como aquele. Mas antes que eu dissesse qualquer palavra, ela olhou no fundo dos meus olhos e percebeu, de uma forma que só ela era capaz, que eu havia visto aquilo que ela tentava esconder.

Uma pequena e teimosa lágrima escapou por seus olhos e percorreu o caminho por sua bochecha enquanto ela se sentava em minha cama. Com um gesto de sua mão, ela me chamava para me juntar a ela. Ficamos em silêncio por um tempo. Eu segurava sua mão direita e lutava, com todas as minhas forças, para não chorar. Precisava ser forte por ela. 

ー Ele era um homem muito bem-humorado.ー A voz de minha mãe saia meio embargada e sua mão apertava a minha ー Depois que você nasceu, ele começou a dizer a todos que você se parecia mais com ele do que comigo.ー Um pequeno sorriso parecia brotar em seus lábios e crescia à medida as palavras eram pronunciadas. Seus olhos viajavam como se ela estivesse assistindo a uma cena ー É claro que eu me negava a acreditar nisso. Nenhuma mãe gostaria de ouvir tal coisa. Mas hoje eu vejo perfeitamente. ー Ela já olhava para mim e suas mãos acariciavam meu rosto enquanto limpava uma lágrima que nem percebi ter derramado. Seu sorriso era sincero e enchia meu peito de alegria ー Você se parece comigo em muitas coisas. Temos os mesmos cabelos e os mesmos olhos, mas… Quando você sorri, é como se eu o visse. Quando você entra no quarto, vejo em você a mesma expressão que ele trazia quando chegava de uma viagem, ou de um dia de trabalho. Ao decorrer dos anos, descobri que ele estava certo. E isso me faz muito feliz. 

Eu não tinha palavras. Simplesmente não poderia expressar o que se passava dentro de mim. Estava tão feliz que minha mãe estava finalmente falando sobre ele comigo e, ao mesmo tempo, triste por não ter conhecido esse homem que me parecia tão incrível e que me amava tanto. 

Minha mãe tirou algo do bolso de seu vestido e colocou em minha mão. Era um colar. Uma corrente de ferro com um pingente em formato de uma rosa. Era lindo. E diferente de qualquer colar que eu já tivesse ganhado ou visto no vilarejo.

ー Mãe, o que é isso?

ー Seu pai planejava dar em seu aniversário de 21 anos, mas acho que esse é o melhor momento para te entregar.ー Ela se levantou, colocou meu cabelo para o lado com delicadeza e posicionou o colar em meu pescoço enquanto o prendiaー Quando você nasceu, seu pai ficou extremamente feliz. Diferentemente da maioria dos homens, seu sonho era ter uma menina. Ele pegou uma de suas medalhas e pediu ao ferreiro que a derretesse para fazer esse colar. ー Após soltar o colar e ajustar novamente meus cabelos, minha mãe se posicionou em minha frente e segurou em minhas mãos para que eu levantasse também ー Tenho certeza que seu pai estaria muito orgulhoso da mulher que você tem se tornado, filha.

***

Passei o resto do dia pensando em meu pai e segurando involuntariamente a pequena rosa que pendia em meu colo. Cumpri todos os meus deveres, mas minha mente estava completamente em outro lugar. Ela havia estacionado naquele homem. Um homem que eu não conhecia e que por muito tempo não ocupava meus pensamentos. 

E lá estava eu. Sentada em minha cama tateando o colar que ele planejava me entregar e tentando imaginar quais eram os traços que compartilhávamos e que nos faziam tão parecidos. Em minha mente eu tentava, sem sucesso, formar seu rosto. Sabia tão pouco sobre ele… Olhos castanhos, cabelos pretos e um belo sorriso eram, sem dúvida, uma descrição muito vaga. Era impossível imaginá-lo.

Estava frustrada...

Um barulho de tímidas batidas na porta me acordou de meus devaneios. Rinna estava parada, apoiada no batente. Suas roupas, sempre impecáveis embora fosse o fim do dia. Seus cabelos negros estavam meio soltos das tranças que compunham um de seus penteados elaborados que eu me recusava a aprender a fazer. Seus olhos grandes e castanhos me fitavam com atenção e certa preocupação. Deve ter notado o quão distante eu estava no decorrer do dia. Fiz um sinal com a cabeça para que ela entrasse e se acomodasse. 

Obviamente não demorou para que começasse a perguntar. Rinna sempre foi uma garota direta.

 ー Anna, você está bem? Tem andado estranha o dia inteiro.

Respirei fundo antes de falar.

ー Hoje é dia 17 de novembro. ー Rinna demorou dois segundos para entender de que se tratava e, por fim, me direcionou um olhar compreensivo e um sorriso carinhoso ー Minha mãe falou comigo sobre ele…

ー Sério? Você sempre me diz que ela detesta tocar nesse assunto.

ー Acho que ela precisava desabafar… ー Me demorei por alguns segundos antes de tirar o colar de baixo de minha roupa e mostrar a ela ー Ele queria me entregar isso quando eu fizesse 21 anos. Minha mãe disse que achou que esse era o melhor momento para me entregar.

Os olhos de Rinna focaram no pingente, admirados.

ー Oh meu Deus, é lindo, Anna. Ele devia te amar muito…

Nunca gostei muito de falar sobre meus pais com Rinna. Os pais dela morreram quando era apenas um bebê, então ela foi deixada em um orfanato por uma vizinha. Ela nunca teve a chance de conhecê-los e, mesmo que me dissesse que não se importava com eles ou que não precisava desse tipo de coisa, eu sabia que ela desejava ter experimentado esse amor. 

ー Eu queria tanto saber mais sobre ele… Às vezes me pego pensando e tentando imaginar como ele era. Me acha maluca?

ー Claro que não. Eu também costumava imaginar os meus pais. Tentei descobrir mais sobre eles quando era criança. Falei com meus vizinhos, mas eles me disseram que meus pais não eram daqui e que não sabiam muito sobre eles. A curiosidade é normal. Se eu pudesse, sem dúvidas, iria a procura de informações sobre minha família. ー Rinna permaneceu alguns segundos olhando para as mãos antes que continuasse ー Mas você está bem? Quer dizer, hoje parece ter sido um dia e tanto…

Após um suspiro respondi:

ー Me sinto estranha… Não que isso seja algo ruim ou bom, é só estranho.

ー Bom, tenho que me limpar e ajudar Alina a costurar um vestido que ela rasgou, mas posso voltar mais tarde se não quiser ficar só. Também não estou me sentindo tão bem. Acho que comi alguma fruta estragada.

Dei uma risada de sua expressão incomodada.

ー Não vai precisar. Ficarei bem. Você quer que eu prepare um chá ou algo do tipo?

Sua cara de desgosto foi evidente.

ー Não, não. Prefiro não comer nada por agora. ー Comentou rindo enquanto ia em direção à porta ー Se precisar de algo, vá correndo até o meu quarto. Não sofra sozinha, como se não tivesse nenhuma amiga.

ー Combinado.

Depois da saída de Rinna, me encostei na janela por uns segundos, observando as estrelas brilhando no céu limpo, antes de me esgueirar pela mesma e seguir o conhecido caminho até o jardim. Não tive medo de encontrar Peter por lá. Não o encontrei no jardim em nenhum dia dessas semanas. Enquanto me aproximava, mais me enchia do aroma familiar e me acalmava pela brisa leve e constante que balançava as mechas soltas de meu cabelo. Não conseguia ver as flores, já que carregava apenas uma lanterna, mas já sabia exatamente por onde passar para não ser pega até chegar ao nosso jardim. 

Ao passar atrás dos arbustos e adentrar o ambiente, vi a silhueta do príncipe. Não o que eu estava evitando, mas Archie. Estava sentado no banco de seu jeito desleixado e que destruiria a coluna de qualquer pessoa enquanto olhava para mim. Não conseguia ver seus olhos direito, mas sabia que aquelas órbitas verdes estavam direcionadas para o meu rosto. Sua lanterna estava no chão, apagada. 

Sem me conter, perguntei:

ー O que está fazendo aqui?

Me aproximei um pouco mais e pude enxergar melhor sua expressão. Dava aquele sorriso de lado costumeiro e fazia um gesto com a mão para que eu me sentasse.

ー Oi pra você também. E também senti saudades. 

Dei uma risada enquanto me colocava ao seu lado e deixava todos os bons modos de lado cruzando as pernas em cima da cadeira. Deixei minha lanterna na frente do banco, olhando para a frente e tentando distinguir algumas flores em meio à escuridão. 

ー Olá, Archie. E não há motivos para saudades. Nós nos vimos ontem.

ー Não. A serviçal Anna colocou vinho no copo do príncipe Arthur ontem. Isso não é o mesmo que nos vermos realmente.

ー Isso não faz muito sentido, mas tudo bem. ー ri um pouco e me virei para olhar para ele, que ainda sorria para mim ー Não respondeu minha pergunta, Arthur.

Sabia que ele não iria gostar de ser chamado pelo nome. Nunca gostou. Todos os que tinham intimidade com ele o chamavam pelo apelido desde criança. Archie fez uma careta e cutucou meu braço com o cotovelo.

ー Não me chame de Arthur, é estranho. Parece até que está brigando comigo. ー Revirei os olhos e o cutuquei de volta. Realmente parecíamos duas crianças ー Estou aqui porque precisava de ar puro e precisava pensar. Gosto do silêncio e da calmaria da noite. Além do mais, estava te esperando.

Me espantei um pouco com aquela resposta. 

ー Como assim? Como sabia que eu estaria aqui? Normalmente venho no fim da tarde.

Seus olhos viajaram até os meus com carinho. Comecei a entender o que ia dizer antes mesmo que proferísse as palavras.

ー Sei que dia é hoje. ー É claro que ele sabia. Nunca esqueceu desse dia desde que contei a ele e a Peter. Eles costumavam me dar bolinhos de morango nessa data todos os anos até a adolescência para que eu me alegrasse um pouco. ー  Achei que talvez precisasse conversar. Se não quiser, tudo bem. Mas se precisar desabafar, estou aqui. Sempre estou aqui.

Archie se movimentou delicadamente e colocou o braço em cima do banco, atrás de mim, sem me tocar ainda. Sabia o que aquele gesto significava. Ele queria que eu soubesse que podia abraçá-lo. Queria mostrar que realmente estaria ali para o que eu precisasse.

Não demorei para escorar meu corpo no seu. Seu calor era o equilíbrio perfeito para a brisa que continuava passando por nós. Ele colocou seu braço ao redor do meu corpo e não disse mais nada. Não era necessário dizer. Depois de um tempo daquela forma, comecei a lhe contar sobre a conversa com minha mãe e sobre o colar. Archie não me interrompeu. Continuou com o leve movimento de seus dedos em meu braço. Ás vezes me apertava um pouco mais. Um lembrete de que estava me escutando. Depois que terminei de falar, continuamos em silêncio por um tempo. Archie foi o primeiro a cortá-lo.

ー Nunca pensou em pesquisar mais sobre ele? Alguns dos soldados certamente deviam conhecê-lo. Você me disse que ele tinha algumas medalhas… Soldados condecorados normalmente são muito conhecidos.

ー Não tenho certeza de quantas medalhas são, mas não sei se devo procurar. E se ele não for como imagino? Não sei bem o que é pior.

ー Acho que você vai se arrepender se não fizer isso. Acredite em mim, você não quer viver com arrependimentos. 

Pensei por um momento. Aquilo fazia bastante sentido, na verdade. Eu precisava tirar essa dúvida da minha mente. Segurei, involuntariamente o colar. Como alguém capaz de presentear uma filha com algo tão bonito e valioso pode ser assustador?

ー Você tem razão… Mas não faço ideia de por onde começar. Não sei nem a quem perguntar ou onde procurar.

Archie me apertou um pouco mais, sorrindo enquanto olhava para as flores em nossa frente. Voltei a olhar para as mesmas, tentando, novamente distinguí-las em meio às folhas e sombras. Recebi um leve beijo no lado de minha testa, enquanto Archie começava a falar:

ー Nós vamos dar um jeito, pequena. Nós vamos dar um jeito.

 

***

Quando cheguei no meu quarto e pulei a janela, meus olhos já pesavam. Estava tarde e meu dia tinha sido cheio. Troquei de roupa rápido, ansiosa para dormir e começar um novo dia. O dia em que Archie e eu começariamos nossa procura.

Coloquei minha lanterna na mesinha ao lado de minha cama e já estava deitando quando percebi algo. Parecia um pequeno pacote branco, mas quando o peguei, notei que era algo embalado em um lenço. Abri lentamente, tentando entender como aquilo havia parado alí. Quando ví o conteúdo da embalagem, finalmente percebi o que significava. O bilhete que estava grudado no lenço, com uma letra que eu já reconhecia facilmente, tinha palavras breves, mas extremamente cheias de significado.

“Sinto muito pelo dia de hoje. 

Espero que esteja bem.

—- Peter”

O cheiro era delicioso. Não acreditava que ele havia feito isso. Havia anos que não me dava esse presente. Fui dormir com uma sensação estranha. A saudade que eu já sentia me apertou um pouco mais. Adormeci ainda sentindo o gosto e o cheiro do bolinho de morango e segurando a rosa que pendia em meu colo, me lembrando de que o amor trazia coisas boas de vez em quando.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Já estou ansiosa kkkkk. Tem muitas coisas importantes vindo nos próximos capítulos...
Beijos ♥



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