—Você está bem? –Remus perguntou se sentando em sua cama e encarando James, que tinha um olhar distante e apavorado ao mesmo tempo.

—O quê?

—Está esquisito.

—Não se preocupe.

—Agora você está me assustando.

—Eu estou bem. –Respondeu para o amigo que, embora não parecesse nem um pouco convencido, resolveu deixá-lo em paz. Talvez mais tarde Potter estivesse disposto a contar o que havia acontecido ou falasse com Sirius a respeito, pensou.

Quando os outros dois amigos acordaram, Black começou a contar sobre o quanto Marlene estava estranha desde que havia começado com toda a obsessão pelo idiota do Zack Bennet e que ela havia cancelado o encontro da noite passada.

—Sabe como a McKinnon é, logo vai dispensar esse cara. –Peter tentou tranquilizar o amigo.

—Acalme-se, Padfoot, nós todos sabemos que mesmo que a Marlene não admita ela é apaixonada por você.

—Se fosse apaixonada por mim não teria me trocado e também não seria tão bom.

—Qual o seu problema?

—Eu já disse o meu problema, Moony. –Ele rebateu, finalmente notando que Potter não havia dito nada. –Quem não disse foi o Prongs. O que aconteceu?

—Nada, eu estou bem, já disse.

—E por que você está bem vai ficar no quarto o dia todo? –Ele questionou.

—Exatamente.

—Você e a Evans brigaram? –Peter tentou.

—Não.

—Não é o que parece.

Por fim ele desistiu de conversar com os amigos e entrou no banheiro, tomando o banho mais demorado de todos e saindo de lá apenas quando todos já haviam deixado o quarto.

...

Pela primeira vez em muito tempo, Lily se sentiu animada ao descer as escadas do dormitório. Levou os livros que precisava devolver para a biblioteca e seguiu para o grande salão, esperando finalmente vê-lo. Sabia que James e os amigos eram sempre os últimos a aparecer e a ansiedade de olhar para a porta esperando que ele entrasse estava quase a enlouquecendo.

Mas ele não apareceu.

Pela primeira vez em todos os anos em que estudava naquela escola, Remus, Peter e Sirius não chegaram acompanhados do insuportável capitão do time da Grifinória. Os garotos se sentaram próximos a ela, que não se conteve e logo perguntou:

—Ei, o que houve com o Potter?

—Acho que ele não está se sentindo muito bem, Lily. –Remus respondeu.

A garota balançou a cabeça assentindo. Tudo bem, James precisava de um tempo para pensar e processar tudo o que estava acontecendo. Ela entendia aquilo melhor do que ninguém, mas ainda sim não tê-lo ali nem que fosse para observá-lo de longe era ruim.

...

Peter voltou ao quarto após a primeira aula. Estava preocupado com James e o encontrou exatamente da mesma forma que haviam deixado: a expressão preocupada e pensativa em seu rosto, sentado em sua cama.

—Quer conversar? –Perguntou ao amigo, mas ele não lhe deu resposta. –Quer que eu chame o Sirius? –Disse com um pouco de rancor em sua voz. Não sabia porque, mas nunca ninguém conseguiu se aproximar tanto do Potter quanto o Black, nem mesmo Lupin.

—Não. –Respondeu, olhando para o amigo. Pettigrew balançou a cabeça e andou em direção a porta, parando quando ele o chamou. –Wormtail?

—Sim? –Voltou, pronto para fazer o que quer que ele pedisse.

—Gosta da Yaxley, certo? –Perguntou e as bochechas dele logo adquiriram um tom de vermelho intenso e seus olhos se arregalaram. –Está tudo bem, ninguém sabe disso, só eu.

—C-como você...? E-eu não. –Potter revirou os olhos.

—Se soubesse que vocês fossem ficar juntos, mas que ela fosse morrer, o que faria?

—O quê? Você está bem, Prongs?

—O que faria? –Insistiu.

—Está falando da Evans? Ela está doente? Por isso sumiu essa semana?

—Não, ela não está doente, foi só um sonho que eu tive. Se ela fosse morrer, o que faria?

—Eu faria o possível para salvá-la... Eu não sei mesmo, James.

—Mesmo que isso significasse se afastar dela?

—E-eu não sei. –Ele soltou o ar, cansado. –Quero dizer, se eu gostasse dela, o que não é verdade, talvez eu me afastasse. Supondo que eu gostasse muito dela, iria preferir que ela ficasse livre com outra pessoa do que presa a mim pra morrer.

—Foi o que eu pensei. –Murmurou. –Obrigado, Wormtail. -Ele balançou a cabeça, seguindo mais uma vez em direção a porta e sendo impedido de sair mais uma vez. –Pode chamar a Mitchell aqui, por favor?

...

Ele não apareceu em nenhuma das aulas, nem durante o almoço e ela estava começando a ficar preocupada. A ruiva então decidiu fazer o mesmo que ele. Juntou em uma bandeja várias coisas e seguiu em direção ao quarto de Potter para ver como ele estava.

Parada diante do quarto dele, Evans começou a questionar se estava tomando a decisão certa e antes que desistisse, pois ele havia feito o mesmo por ela, respirou fundo e esticou a mão para bater, mas a porta se abriu. Lily entrou, se deparando com algo que quebrou seu coração em vários pedaços, fazendo um barulho tão alto que era quase insuportável.

James e Leslie juntos, aos beijos.

A garota estava em cima dele e ele a puxava para si como se precisasse dela. Ele não a viu ali, já que estava de costas para a porta, mas Leslie viu e sorriu vitoriosa ao notar as lágrimas se formando nos olhos da outra.

—Me fale sobre a Evans. –Mitchell mandou antes que a Evans saísse, tirando os óculos dele.

—Não tenho nada para falar.

—Achei que vocês estivessem juntos.

—Você se importaria se estivéssemos?

—Não.

—Foi o que eu pensei.

Pronto. Aquilo era demais para ela. Lily deu as costas em um enorme esforço e saiu, fechando a porta evitando fazer barulho. Seu corpo estava pesado e ela queria gritar. Então tudo o que ele havia dito era uma mentira? O que estava acontecendo afinal?

—Hey Lily. –Remus disse quando ela quase bateu de frente com ele. Segurando a bandeja para que ela não derramasse tudo. Quando viu as lágrimas escorrendo pelos olhos da ruiva logo se preocupou. –Ei, está tudo bem? O que aconteceu?

—Nada, eu só... Eu preciso ir. –Respondeu, saindo apressada. Não queria que nenhum dos dois a encontrassem ali naquele estado, segurando uma bandeja que ela havia preparado preocupada que ele não tivesse comido.

Era uma idiota por acreditar que havia conhecido o verdadeiro James Potter. Não, aquela era apenas mais uma das máscaras que ele usava para impressioná-la. A máscara que havia funcionado perfeitamente para fazê-la se apaixonar e também para quebrar seu coração.

Aquela noite não significara nada para ele? Porque mesmo sabendo que eles não tinham nada, ela se sentia traída por ele ter jogado tudo o que compartilharam naquele momento no lixo. Mas talvez Leslie estivesse certa.

Remus não a deixou sozinha. Ele a seguiu de perto mesmo que ela ignorasse todos os seus chamados. Quando a garota deixou tudo aquilo na cozinha ela o encontrou parado na entrada com uma expressão preocupada.

—O que o Prongs fez? -Ele perguntou e ela secou o rosto, forçando o sorriso.

—Ele não fez nada, dessa vez a culpa é totalmente minha.

—Eu não acredito em você.

—Não deveria estar do lado dele? Ele é o seu melhor amigo.

—Exatamente por isso sei quando ele está fazendo coisa errada. Além disso, você é minha amiga também.

—Eu nunca deveria ter criado esperanças de que um dia daria certo entre nós. É impossível.

—Espera... Vocês estão juntos?

—Não. –Ela respondeu rápido, arregalando os olhos. Mas depois soltou o ar e cruzou os braços, admitindo mesmo que não quisesse. –Eu não sei se estávamos juntos. Quero dizer, nos beijamos algumas vezes ontem, mas hoje eu percebi o quanto tudo isso é um erro.

—E o que a fez ter essa certeza?

—Por que não pergunta ao Potter? –Ela disse e logo mudou de assunto. –Me acompanha até a biblioteca? Não entendi muito bem o que o professor de defesa contra as artes das trevas passou hoje.

—Claro. –Remus sorriu, acompanhando-a.

Estudaram até a garota conseguir se distrair o suficiente para focar sua atenção em outra coisa que não fosse tudo o que havia visto naquele quarto. Ela havia entendido a matéria perfeitamente e então resolveram dar uma olhada nos outros conteúdos que seriam cobrados ao longo do ano.

—Evans! Eu estava te procurando! –McKinnon apareceu, parecia confusa.

—Minha nossa, Lene, perdi a noção do tempo. –A ruiva se desculpou olhando para o relógio da biblioteca e notando que haviam perdido as outras aulas do dia sem nem ao menos perceber. –Remus, me desculpe, não queria prendê-lo aqui por tanto tempo.

—Não, tudo bem, fico feliz que esteja melhor. –Ele sorriu docemente.

—Hey, Lupin, sabe por que o Black está estranho comigo?

—Como assim? –Questionou e ela se sentou na mesa com eles.

—Hoje mais cedo fomos até o armário de vassouras e estávamos nos beijando, mas quando comecei a tirar...

—Informação demais. –Evans e Lupin interromperam juntos.

—Ele disse que tinha algo para fazer e saiu! E depois ele se sentou com o Pettigrew na aula de adivinhação.

—Talvez ele estivesse ocupado. –Lily falou, dando de ombros.

—Claro, ele tinha coisas melhores para fazer do que transar no armário de vassouras. –A loira ironizou.

—Informação demais, McKinnon. –Remus resmungou e ela revirou os olhos.

—Ele disse alguma coisa pra você?

—Você sabe que não. Por que não pergunta a ele o que está acontecendo?

—Ele não vai me dizer.

—Talvez você devesse parar de procurar alguém diferente para se apaixonar e abrir logo os olhos para o que está bem na sua frente. –Evans murmurou e ela revirou os olhos.

—Eu sei que vocês não entendem, mas o que acontece entre mim e ele é algo físico, sempre foi e sempre vai ser. –A loira dos cabelos rebeldes e o rosto coberto de sardas rebateu.

—Porque você quer.

—Porque nós dois queremos. –Ela corrigiu a amiga.

—Aposto que se deixasse de vez esse Zack ele voltaria correndo.

—Não vou deixar ninguém, ele não é meu namorado. Por favor, Evans, você acha mesmo que Sirius Black quer algo além de sexo?

—Sinceramente eu acho. –Lily cruzou os braços.

—Não sei porque ainda insisto em tentar explicar a nossa relação para você.

—Só você não vê o que ele sente. Ou então finge que não está vendo.

—Oh eu vejo o que ele sente. Atração, tesão... essas coisas.

—Você é...

—Inacreditável, eu sei, Black acha também. –Marlene completou, fazendo a outra revirar os olhos.

—Obrigada por tudo, Remus, agora vou tentar enfiar um pouco de juízo na cabeça dessa maluca.

—Tudo bem, vejo você na ronda. –Ele respondeu, rindo enquanto as duas saíam.

Encontrou James no saguão de entrada acompanhado de Peter e Sirius. Nenhum deles parecia de bom humor. E o fato de que Black estava fumando apenas comprovava o que ele conseguia mascarar muito bem com aquele sorriso sarcástico, mas não daqueles três: ele estava a ponto de explodir.

—Posso falar com você? –Perguntou, se dirigindo ao Potter, que balançou a cabeça assentindo, se afastando.

—O que foi?

—Quero que me responda uma coisa.

—Manda.

—Você ficou maluco?

—O quê? –O outro questionou.

—Por que diabos está afastando a Evans?! –A pergunta, acompanhada do tom mais irritado do amigo, fez Potter revirar os olhos. –Estou falando sério, James, sempre quis uma chance com a garota e agora que ela finalmente parece interessada você simplesmente decide que quer estragar tudo?!

—É o que eu faço, estrago coisas, não é novidade pra ninguém. –Ele deu de ombros, falando como se não fosse nada. Remus decidiu ignorar.

—Ela viu você e a Mitchell. Sabia disso? E demorou quase quatro horas pra me falar porque estava chorando. Só quero que entenda que tudo o que vai conseguir sendo um idiota é afastá-la e em algum momento vai afastá-la tanto que ela não vai voltar.

—Ótimo. Já acabou? –Respondeu, lhe lançando um olhar entediado.

—James, o que está acontecendo? Sabe que pode confiar em mim, pode me dizer qualquer coisa. –Remus falou, mas quando o capitão do time da Grifinória ficou calado, ele soltou o ar cansado. –Eu sei que gosta dela, então se precisar de alguma coisa pode falar comigo.

—Sabe qual o problema, Lupin? Eu não gosto dela, nunca gostei. Confesso, sempre me senti atraído pela Evans, ela é maravilhosa, mas vocês assumiram que eu sentia algo e eu sempre neguei quando me perguntavam. Eu não sinto nada, só queria ficar com ela e fiquei. Acabou. –Ele disse firme. Quando Remus percebeu que os olhos do amigo estavam fixos em outro ponto atrás dele, se virou, encontrando Lily parada ouvindo tudo.

—Eu odeio você. –A ruiva murmurou, usando toda a sua força de vontade para tornar aquelas palavras verdadeiras, mas apesar da raiva que sentia, isso não aconteceu.

Evans o encarou por mais um tempo, sem limpar as lágrimas que escorriam de seu rosto. Queria que ele visse. Que olhasse bem para o que havia feito, assistisse o estrago para, quem sabe, pensar de novo antes de quebrar o coração de outra pessoa.

Mas ele já havia quebrado o seu próprio. Ele estava em pedaços, completamente destruído depois daquilo. Ele, no entanto, não demonstrou. Apenas lutou conta o impulso de puxá-la de volta quando ela lhe deu as costas.

Remus o encarava irritado, decepcionado e preocupado. Quando James tentou dar as costas ao amigo ele o puxou de volta. Não estava com cabeça para ouvir o que Lupin tinha a dizer, mas ele nunca o deixaria ir embora em paz depois daquilo, então forçou sua melhor expressão neutra e se preparou.

—Eu não acredito em você.

—Não estou pedindo para acreditar. –Rebateu, simplesmente. –Pode se enganar o quanto quiser, Moony, não vai mudar a verdade.

—Se essa for a verdade então você não a merece.

—Por que você não fica com ela, então? –Com isso, Potter deu as costas ao amigo, indo até Sirius. Ele e Remus o encaravam parecendo assustados, mas não falaram nada.

James pegou um cigarro do amigo e o acendeu. Geralmente não fumava, mas naquele momento sentia como se fosse o que mais precisasse. Estava feito e não havia como voltar atrás, Lily Evans o odiava e ele nunca havia se sentido tão mal na vida, mas pelo menos agora ela estaria a salvo para viver uma vida longa e feliz ao lado de outra pessoa.