Crescendo - Shirbert escrita por Sabrina
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Minhas "férias"
Por Gilbert Blythe
Não sei se posso chamar exatamente de férias. Passei todos os dias trabalhando e estudando. Meus únicos momentos de diversão foram as festas para as quais fui convidado, dois aniversários na casa dos Cuthbert.
Gilbert terminou de ler e olhou ao redor. Parou em mim e deu aquele sorriso irritante de lábios fechados. Me senti constrangida, sem saber o porquê. Desde minha conversa com Marilla, dias atrás, eu não conseguia mais agir normalmente com ele. O pior de tudo é que nós tínhamos aulas extras com a Srta. Stacy e sempre íamos embora juntos. Aquela era a parte mais desconfortável e incomoda do meu dia. Eu temia por ela a cada hora que se passava.
— Só isso? – disse a professora. – Acredito que foi informado de que o número mínimo de linhas é dez, e você não chegou nem a cinco, Gilbert.
Ele olhou pra ela, com seu ar divertido de sempre. – Escrevi coisas pessoais demais. Não gostaria de ler para a turma, mas também não me importo que a senhorita leia, professora, desde que seja só a senhorita.
— Preciso conferir a quantidade de linhas e corrigir os erros – ela estendeu a mão. – Me dê aqui.
Gilbert entregou a ela. Todos observamos com curiosidade enquanto os olhos de Srta. Stacy passeavam pela folha e um sorriso se abria em seu rosto.
— Entendo – disse ela. – Sim, isso é ótimo. Mal posso esperar para que ponha em prática! Precisa me contar assim que o fizer!
Eu queria não ter ficado curiosa. Queria mesmo. Mas a primeira coisa que fiz quando eu e Gilbert deixamos a escola, após as aulas extras, foi perguntar:
— O que você escreveu na sua redação?
Ele me olhou, surpreso. – Sabia que essa é a primeira vez em dias que você me faz uma pergunta que não seja sobre como vai a fazenda, os estudos ou Bash e Mary?
Baixei os olhos, constrangida. Ficamos em silêncio por um longo período. Era sufocante a terrivelmente doloroso não saber o que dizer. Eu odiava aquela sensação e não estava acostumada com ela.
— Você não parece você mesma quando está quieta – comentou Gilbert, em algum momento. – Nunca pensei que fosse dizer isso, mas poderia, por favor, tagarelar sobre alguma coisa? Qualquer coisa?
Um sorriso me escapou dos lábios, e eu logo tratei de ficar séria, me repreendendo.
— Se preferir, podemos competir em soletração – disse ele. – O que acha? Sei que tem saudades disso.
Senti o rosto ficando vermelho ao lembrar como ele soube disso: pela minha boca, quando li pra turma toda e em voz alta que sentia falta de soletrar com ele. O que eu tinha na cabeça quando escrevi aquilo? Pior: quando li pra todo mundo?
— Sim – falei, embora não conseguisse sequer encará-lo. – Vamos competir.
— Ótimo. Te desafio a soletrar extraterritorialidade.
Semicerrei os olhos. Ele estava me desafiando?
— E-X-T-R-A-T-E-R-R-I-T-O-R-I-A-L-I-D-A-D-E.
Gilbert sorriu. – Muito bem, Cuthbert, não esperava menos de você.
— Agora quero ver você soletrar otorrinolaringologista.
Ele franziu as sobrancelhas. – Onde você aprende essas palavras?
— Lendo – dei de ombros. – Anda, sua vez.
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