Crescendo - Shirbert escrita por Sabrina


Capítulo 4
Juntando as peças


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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***

 

 

Gilbert

Eu não esperava por aquela redação. Na verdade, a última coisa que eu esperava era ouvir Anne lendo algo que escreveu contando sobre mim de forma tão... não sei qual palavra usar para descrever, mas pareceu que ela gosta de mim. E pareceu que tínhamos uma relação diferente e melhor do que a que realmente temos. Eu não consegui esconder o sorriso quando ela terminou, nem tentei. Era bom ser reconhecido. Achar o livro da Jane Eyre foi difícil. Anne falou sobre ele algumas vezes quando íamos pra casa após a escola, e quando recebi o convite de seu aniversário, logo me lembrei dele para presente. Infelizmente, não tinha o bendito do livro na livraria, pois já tinham vendido todo o estoque. Tive de encomendar de fora, e quase achei que não chegaria a tempo da festa. Ajudar na reconstrução do clubinho dela e convencer Bash a fazer o mesmo também foi complicado. Temos muito trabalho na fazenda, sem falar dos meus estudos. As poucas horas preciosas do meu dia em que eu poderia estar descansando, ofereci a Anne como se não me custassem nada. E ainda ofereci as de Bash.

No entanto, o mais difícil e complicado de tudo foi dançar com ela. Primeiro porque Anne dançou com quase todos os convidados da festa. Toda vez que eu ia me aproximar, outro já estava lá fazendo uma reverência. Fiquei de tocaia esperando, fingindo que prestava atenção na conversa de Mary e Rachel. Era fácil, pois a última não parava de falar e não parecia ter necessidade de conferir se eu estava mesmo ouvindo. Então de repente a música finalmente parou. Jerry fez uma reverência a Anne e disse algo em francês. Eu estava pronto pra dar o primeiro passo em direção a ela quando Bash passou na minha frente e a convidou pra dançar, me olhando zombeteiro. Eu semicerrei os olhos.

— Ele só está implicando com você – disse Mary.

— O que? – Rachel franziu a testa. – Quem está implicando comigo?

— Ninguém – respondi. – Por favor, continue o que dizia.

— Ah, bem... como eu ia contando, aquela desastrada da Betthany deixou o bolo tempo demais no fogo e quando...

Parei de prestar atenção. Assim que a música terminou e Bash se afastou de Anne, me apressei em direção a ela. Meu amigo riu enquanto passava por mim, e o ouvi murmurar “cuidado pra não parecer tão desesperado, Blythe”. Eu murmurei um discreto “vai se ferrar” de volta. Alcancei Anne e olhei ao redor pra checar se tinha outro vindo.

— Podemos dançar? – perguntei.

— Que apressado... – ela sorriu, mas aceitou minha mão estendida. – Geralmente você é mais educado que isso.

— É que está um pouco difícil conseguir uma dança com você.

— Sou a filha dos anfitriões, o que você esperava?

— Menos concorrência, talvez?

Ela riu novamente e começamos a girar pela sala de sua casa. Já havíamos dançado outras poucas vezes. O único tipo de festa que os moradores de Avonlea costumam dar é de aniversário, raramente um baile, e eu sempre fazia questão de dançar uma vez com Anne quando estávamos na mesma festa. Nessa, dancei duas. Achava que ela nem tinha reparado, pelo modo como se distraiu contando sobre a leitura do livro que lhe dei e de sua estadia na casa da tia de Diana, uma senhora chamada Josephine. Por isso me surpreendi quando ela leu em sua redação que foram duas vezes. Mas o que achei mais curioso em todo aquele texto foi o modo como ela falou de mim... tão naturalmente, e ainda só disse coisas boas. Nada de “ele me irrita” e “ele é convencido demais”, coisas que costuma me dizer às vezes, quando está brava comigo.

É impressão minha ou Anne está passando a gostar de mim? Sorri com aquele pensamento, e foi quando ela me olhou. Desviou o olhar constrangida, como se estivesse fazendo algo errado. Em seguida, Ruby saiu da sala chorando, e ela e Diana foram atrás. Foi então que eu juntei as peças.

 


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