Desventura Natalina escrita por Holanda


Capítulo 1
Capítulo Único




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Blake tocou a campainha da casa de sua namorada. A decoração de Natal da residência era bem divertida, as árvores do jardim haviam sido cobertas com pisca-piscas coloridos, havia um papai Noel de pano pendurado no teto como se o bom velhinho tivesse escorregado enquanto tentava subir na chaminé. Blake viu a guirlanda da porta balançar quando a mesma se abriu para revelar…

— Senhora Rose, feliz Natal. — Blake cumprimentou a mulher com feições tão parecidas com as de Ruby.

— Senhora? — Summer levantou uma sobrancelha. — Vou te perdoar desta vez apenas por causa do espírito de Natal.

Blake riu um pouco e antes que ela pudesse responder a mulher, a cabeça de Ruby apareceu por trás de sua mãe.

— Blake! — Ela exclamou contente e passou por baixo do braço de Summer para abraçar Blake, que a recebeu contente. — Tava te esperando! — Ruby disse zumbindo contra seu ombro.

— Me atrasei muito? — perguntou Blake, acariciando o cabelo bagunçado da namorada.

— Não, eu só estava ansiosa por esse momento.

— Ansiosa para passar o Natal longe de nós? — Summer falou divertida e Ruby se desvencilhou rapidamente dos braços de Blake e se virou para sua mãe.

— Não foi isso que eu quis dizer!

Summer riu de sua filha:

— Eu estava só brincando, sua boba. Vão logo antes que esfrie ainda mais.

Ruby assentiu e deu um abraço em sua mãe, depois segurou a mão de Blake e as duas caminharam na direção do carro da morena.

— Estou tão animada! — Ruby exclamou colocando o cinto de segurança.

— Vai com calma, Ruby. Não crie tantas expectativas. — Blake disse meio nervosa assim que começou a dirigir.

— Ah, qualé, Blake, eu sei que você está toda preocupada por eu estar indo conhecer seus pais pela primeira vez, mas vai por mim, não tem como dar errado. — disse Ruby toda confiante, mas Blake não estava tão segura.

Seus pais eram muito ocupados sendo diplomatas e aquela seria a primeira vez que Ruby os conheceria. Apesar de ela ter tido uma breve conversa com sua mãe antes por telefone, aquela seria sua apresentação oficial. Blake sabia como seu pai poderia ser “difícil” e seria mentira se ela dissesse que não estava preocupada em como sua família reagiria com o fato de Ruby ser humana.

Não que ela pensasse que sua namorada seria preconceituosa ou que sua família seria com Ruby. Mas a relação entre faunos e humanos sempre foi delicada e muita coisa podia dar errado. A mente de Blake não parava de repassar todas as possibilidades do que poderia dar errado naquela noite.

— Chegamos. — Blake anunciou com uma certa armagura.

— Uou! Que casa enorme!

Ela não esperava outra reação de Ruby.

— Sim, é uma casa bem grande, agora vamos entrando e acabar logo com isso… — A última parte foi dita em um sussurro inaudível.

Por sorte Ruby nada percebeu, ela estava muito encantada com a decoração de Natal do velho casarão onde a família de Blake vivia há três gerações. A casa parecia antiquada para aquele século, o jardim estava cheio de carvalhos centenários, a escadaria de pedra tinha um total de 15 degraus, a sacada grande lateada com colunas de madeira escura com uma porta dupla com extravagantes maçanetas de prata, aparentemente era considerada elegante… há cinco décadas atrás.

— A casa dos seus pais é bem legal. — Ruby disse enquanto subiam as escadas. — Você sempre reclama daqui, por quê?

— É uma casa muito grande para uma família tão pequena e meus pais estavam sempre fora, especialmente meu pai. — Blake falou cabisbaixa.

Ruby chegou perto e a abraçou colocando a cabeça no ombro da garota mais alta.

— Tava se sentindo sozinha? — Ruby perguntou com uma voz manhosa, Blake sorriu levemente enquanto suas orelhas felinas se achatavam em sua cabeça e ela encostou seu rosto no cabelo de Ruby e balançou em afirmativo. — Hum… agora você tem a mim e eu sempre vou tá com você.

Elas chegaram no topo da escada na frente da porta.

— Obrigada. — Blake disse beijando rapidamente os lábios de Ruby e se afastando logo em seguida para olhar seus olhos prateados brilhantes que a fitavam com tanto carinho.

Ela respirou fundo e abriu a porta da casa de seus pais.

 

~**~

 

Blake sabia que era uma má ideia desde o começo. Ela não deveria ter trazido Ruby justamente na ceia de Natal. Que idiota ela era.

A casa estava especialmente cheia naquela noite, a festa de Natal dos Belladonnas não chegava a ser um “evento” na cidade, mas o grupo de amigos de seus pais era mais do que o bastante para ocupar todos os assentos da grande mesa de jantar.

Se não fosse o bastante Ruby ficar nervosa em ambientes sociais ainda tinha o agravante de todos serem faunos e ela ser a única humana. Blake viu claramente pela linguagem corporal de sua namorada que ela estava andando no limite. Não ajudou também o fato de muitos dos seus familiares e amigos na mesa a olharem de forma diferenciada e isso estava jogando os nervos da própria Blake para a borda.

— Então, Ruby — Sua mãe, Kali, começou. —, Blake nos disse que você cursa engenharia na Beacon.

Ambas notaram todos os olhares se virando na direção de Ruby, que engoliu a seco.

— Sim. — respondeu claramente desconfortável.

— E já tem algo em mente após os estudos? — Continuou Kali. Blake percebeu que sua mãe estava tentando fazer com que Ruby se sentisse mais relaxada.

— Uou, sim! Estou em um emprego de meio período e meio que meus chefes já me falaram que querem me contratar oficialmente depois de me formar. — Ruby disse agora toda animada.

— Isso é animador. — falou Ghira agora um pouco mais interessado. — Em qual empresa você está trabalhando?

Blake ficou imediatamente tensa, ela sabia muito bem o que aconteceria caso Ruby falasse a verdade e mesmo assim, não teve o manejo de avisar a sua namorada antes. Quando pensou em tocar a mão de Ruby para alertá-la, já era tarde.

— Na companhia Schnee de Mineração.

Blake fechou os olhos com força, ela queria não ficar com raiva de sua família quando todos lançaram olhares julgadores para Ruby, mas era impossível. Todo fauno sabia da má fama que aquela empresa tinha, vez por outra aparecia notícias nos jornais sobre escândalos envolvendo faunos em condições de trabalho insalubre, até o CEO da companhia apareceu em um vídeo caseiro proferindo vários xingamentos racistas.

Não dava para culpar nenhum fauno por odiar aquela empresa e tudo que estivesse ligado a ela. A própria Blake já foi dessa forma, mas conheceu Ruby e tudo mudou muito em sua vida desde então. Ela iria proteger sua namorada.

— Então você trabalha em um empresa racista? — Ghira falou entre os dentes. — Você sabe de todas as coisas horríveis que a Companhia Schnee já fez?

— Pai! — Blake gritou repreendendo seu pai. Ela imediatamente segurou a mão de Ruby sobre a mesa. — Ruby é uma mera funcionária, não tem nenhuma ligação com as coisas que a cúpula de uma multinacional faz! — Ela disse firme e olhando seu pai nos olhos.

Ghira franziu o cenho e quando pareceu que ele iria responder, Kali cobriu sua mão com as suas e sorriu para sua filha e Ruby.

— Claro que nós sabemos disso, não precisa ficar preocupada com essas coisas, tenho certeza que Ruby é uma boa pessoa, confiamos no julgamento de Blake. — Sua mãe sorriu e isso pareceu dissipar parte da tensão que se abateu sobre a mesa de jantar.

Seu pai soltou um suspiro pesado e voltou sua atenção de volta para a comida e Blake viu todos seguirem seu exemplo. Ela quase respirou aliviada, mas então lembrou-se de verificar Ruby.

— Você está bem? — Ela perguntou baixinho.

Ruby balançou a cabeça como se estivesse em outro mundo e lhe sorriu dizendo que estava tudo ótimo. Mas Blake notou que seu sorriso não era completamente genuíno e ela se sentiu mal ao pensar que Ruby estava passando por tantos constrangimentos por causa de sua família.

— Ruby, querida, experimenta o purê de beterraba, fui eu que fiz. — Sua mãe falou e Blake logo percebeu que ela estava tentando melhorar o clima desviando para assuntos mais mundanos.

Parecia que havia dado certo, alguns minutos depois até seu pai estava rindo de alguma lembrança engraçada que sua mãe estava contando sobre sua infância. Blake nem se importou com o constrangimento que ela normalmente sentiria.

Ruby gargalhou alto:

— Eu juro que nem notei que Blake era um fauno quando nos conhecemos, foi meio que tipo “oh, nossa, você tem orelhas de gato, como eu não vi isso antes?”.

Kali riu e Ghira tomou a palavra olhando para a sua esposa de forma carinhosa.

— Blake nasceu com a característica fauno da mãe, porém suas orelhas são bem menores e podem se confundir com o cabelo.

— Nasceu com a característica da mãe? Quer dizer que o senhor também é um fauno? Mas o senhor parece humano, não vejo nada animal.

— O que está dizendo? — Ghira se levantou com um tom de voz acima de uma oitava. — Não está vendo que eu sou claramente um fauno!

— Ghira! — Kali repreendeu o marido quando ele colocou um pé em cima da mesa fazendo todos os utensílios balançarem.

Ruby olhou os dedos dele que apareciam pela abertura do chinelo que ele usava, inicialmente ela achou que ele estava usando meias felpudas, mas então seus olhos brilharam em compreensão:

— Patinhas de gatinho! Seu pai tem patinhas de gatinho!

Por um longo e extremamente constrangido minuto, todos olharam para a cena com expressões chocadas. Ghira ficou de boca aberta e de olhos arregalados como se não acreditasse no que acabara de ouvir, Blake achou que ele teria um surto a qualquer momento e de repente, sua mãe começou a rir muito alto. Todos voltaram seus olhos para a senhora Belladonna e os seus convidados começaram a rir junto com ela.

Ghira olhou em volta constrangido e logo puxou seu pé de volta ao chão, bufou alto e deu as costas saindo da sala.

— Ghira, espera querido! — Kali gritou e correu atrás do marido. — Não fique bravo, foi apenas uma brincadeira.

Blake se levantou de seu lugar, mas parou antes de seguir atrás de seu pai, ela olhou em volta da mesa e seus parentes ainda estavam brincando e rindo da situação, foi quando ela notou a cadeira de Ruby vazia.

Para onde ela foi?

Ela olhou em volta atrás de sua namorada e viu apenas um flash vermelho passando pela porta da frente. Blake correu atrás dela.

— Ruby? — Ela a encontrou sentada nos primeiros degraus da escada abraçando as próprias pernas e com a cabeça enterrada em seus braços. — Ruby? Você está bem? — Blake se sentou bem a seu lado.

— Eu tentei, Blake, mas não teve jeito, eu estraguei tudo. Me desculpe.

Ela disse com uma voz embargada que fez o coração de Blake apertar de uma forma dolorosa. Ela só queria embrulhar sua namorada em um abraço e dizer que tudo ficaria bem.

— Você não estragou nada, para começar, eu deveria ter te avisado sobre não falar da empresa e é minha culpa não conversar com você sobre minha família. Se você já soubesse, nada disso teria acontecido. — Ela acariciou as costas de Ruby para acalmá-la.

— Você acha que eu fui preconceituosa? Eu queria pedir desculpas. — Ruby fungou um pouco, Blake podia dizer que ela estava fazendo um esforço para não deixar nenhuma lágrima cair.

— Não pense isso! — Blake disse firme. — Eu sei o que é sentir o preconceito de verdade na pele, e você nunca foi preconceituosa, Ruby!

Blake se aproximou mais dela e passou um braço ao redor de seus ombros a puxando para perto.

— O meu pai é muito orgulhoso, ele só ficou envergonhado, só isso. Ele gosta de manter a posse de cara durão e quando você falou aquilo foi um golpe no ego dele.

— Me desculpe… — Ruby murmurou mais uma vez abaixando a cabeça, mas Blake segurou seu queixo a forçando a levantar e a olhá-la nos olhos.

— Daqui a um tempo, vamos estar todos rindo disso. Acredita em mim, não é?

— Até seu pai? — Perguntou Ruby.

Blake riu e enxugou com os dedos uma pequena lágrima que se formou no canto do olho da namorada.

— Sim. Até o meu pai, quando conhecer ele melhor vai ver que não é tão assustador quanto ele gosta de parecer.

Ruby riu um pouco e Blake a puxou ainda mais até que elas estavam abraçadas, Ruby riu ainda mais quando a fauna começou a beijar seu rosto lhe causando cócegas. Ela terminou roçando seus narizes e depois lhe dando um beijo casto nos lábios.

— Que tal nós voltamos? — Blake disse depois que se afastou um pouco. — E eu vou dar uma bronca no papai por ele ser tão grosso e mal humorado.

Blake se levantou trazendo Ruby consigo. Ainda em um meio abraço de lado, elas caminharam de volta para a entrada da casa.

— Se bem que conhecendo minha mãe, aposto que ela deu um belo sermão nele. — A fauna disse e ambas riram.

— Eu achei que tinha estragado o Natal, mas acho que não foi tão ruim. — Ruby disse. — Quer dizer, teve um Natal que a Yang colocou fogo na casa.

Blake riu.

— Falando nela… Como será que Yang está se saindo com a família da Weiss?

 

~**~

 

Em outro bairro da cidade, dois carros dos bombeiros estavam parados na frente de uma mansão, o fogo estava praticamente extinto depois de uma hora e meia de trabalho dos combates de incêndio. Na calçada, a família dona daquela residência luxuoso estava no frio esperando que fosse seguro novamente.

— Era para ser um Natal tranquilo, mas você tinha de provocar um incêndio? — Weiss falou com os braços cruzados e olhando para sua namorada que estava sentada no chão com o rosto escondido entre as mãos.

— Foi um acidente… — Yang murmurou com sua voz saindo abafada por entre seus dedos. — Você acredita em mim, não é? Eu não colocaria fogo em sua casa de propósito. — A loira levantou o rosto para a namorada e Weiss lhe deu um olhar severo, mas depois sua expressão se suavizou e ela soltou um suspiro.

— Claro que eu acredito em você, Yang, mas sua inocência não deve mudar muita coisa. — Weiss virou a cabeça para olhar seus pais e seus dois irmãos todos olhando de forma julgadora para o casal.

Yang acompanhou sua linha de visão e quando viu o jeito que os Schnees estavam a olhando, ela tinha certeza que eles estavam pensando seriamente em chamar a polícia para levá-la presa. A loira gemeu e voltou a enterrar seu rosto entre as mãos. Ela definitivamente estragou tudo.

De repente ela sentiu a mão de Weiss em seu ombro e Yang levantou o olhar para se encontrar com os da namorada.

— Honestamente? Não acho que esse incêndio causou muita diferença no que eles pensavam de você. — Yang fez uma expressão abatida com as palavras dela. — Mas eu não dou a mínima para o que eles pensam.

Elas sorriram uma para a outra e Weiss fechou a distância entre elas com um beijo rápido.

— No mais, esse com certeza foi um Natal inesquecível. — Weiss terminou sorrindo e olhando quase divertida para a sua casa parcialmente queimada.

— Eeeh… apesar de não ter sido meu primeiro incêndio natalino.

— O QUÊ? — Weiss se virou para ela parecendo chocada.

—Heheheheh, melhor esquecer isso. — Yang disse embaraçada.

— Espere só um instante, Yang Xiao-Long! Me explique isso direito!

Yang se levantou e começou a se afastar.

— Eu juro que também não foi proposital.

— YANG!!!

 

~FIM~

 


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