Como posso ajudá-lo, senhor Black? escrita por LC_Pena, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Esta oneshot é um presente de Natal atrasado para a minha querida Lari Teefey, que ama esse casal aqui e pediu esse plot de presente, espero que curta, Lari!



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Primeiro dia.

Azkaban teria sido melhor.

Esse era um pensamento recorrente na mente de Bellatrix Black, a mais nova funcionária da Seção de Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas. Aquele trabalho era uma tortura em diferentes níveis, então a moça repassava uma lista dos porquês em sua mente todos os dias, sem parar, queimando mais uma data no calendário de seu cubículo:

— Só casos patéticos

— Só casos patéticos de gente estúpida, que são um desperdício de espaço

— Só casos patéticos de gente estúpida, que são um desperdício de espaço, usando coisas criadas por sangues-ruins

—  E Norman.

Como se conjurado dos recônditos mais obscuros dos seus piores pesadelos, Norman, seu vizinho de cubículo, se inclinou para trás na cadeira, o suficiente para conseguir colocar sua cabeça dentro de seu espaço pessoal, única coisa que supostamente ainda tinha direito naquela vida.

— Black, você está usando seu livro de penalidades mínimas para encantamento de brinquedos trouxas? —  O homem perguntou naquele seu tom irritante, de cordialidade profissional.

Preferia mil vezes o desprezo velado dos outros funcionários do Ministério.

Uma pessoa razoável teria perguntado “O que inferno você fez com o seu dessa vez, Norman, enfiou no rabo de novo?”, mas Bellatrix apenas pegou o volume e o jogou por cima do ombro, no chão do corredor, sem emoção, porque estava muito ocupada encarando os próximos 50 anos de sua existência condenada.

O livro fez um baque surdo, o que infelizmente significava que não tinha acertado as fuças de Norman, uma má notícia a qualquer tempo, se a perguntassem.

— Err... Obrigado, Black. —  Ele voltou para sua prisão, então as próximas duas horas foram um refrescante silêncio, com apenas barulhos de máquina de escrever e penas arrastando no papel, ocasionalmente alguns carimbos, mas isso era apenas nos bons e raros momentos.

Uma presença escura sentou na cadeira a frente da moça recém-formada em Hogwarts, demorou um pouco mais de tempo do que o considerado aceitável, mas Bellatrix finalmente arrastou seus olhos cansados para atender mais um dos bruxos que se humilharam brincando com artefatos impuros dos sangues ruins.

— Seção do Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas, bom dia, em que posso ajudá-lo? —  Assim que seu cérebro processou a camisa com estampa de algo que não conhecia - provavelmente uma banda trouxa - as correntes metálicas com caveira, cruz invertida e um pelúcio de prata pendurados e a tão infame jaqueta de couro, seu coração deu um solavanco poderoso.

Bellatrix sentiu sua garganta secar e o coração, o mesmo que tinha ameaçado parar dois segundos antes, agora batia rápido,  como se estivesse querendo ser ouvido por seu arqui-inimigo da vida inteira.

Sirius Black a encarava estupefato e como o conhecia muito bem, poderia dizer que, além da estupefação, ele estava ultrajado também.

— Bella?!?

Ah, ele não sabia que ela estaria ali, então aquela era uma surpresa absurda para os dois, graças a Morgana! O encarou como uma lebre pega por um lumus por mais um par de segundos, mas logo abriu um de seus sorrisos preguiçosos, que antecediam um bote bem dado.

— Senhorita Black, na verdade. Como posso ajudá-lo, senhor... —  A jovem puxou o arquivo que ele havia jogado desleixadamente em cima da mesa assim que chegou, com uma unha. Olhou o nome no título da pasta com uma expressão entediada. — Black?

Sirius respirou fundo, tão fundo que enviou oxigênio até para as pontas dos pés, porque de todas as pessoas no mundo para encontrar no Ministério, tinha que dar de cara justamente com sua maldita prima criminosa, Bellatrix “ só estou livre porque o meu sobrenome ainda tem algum poder" Black!

Ela o olhava agora com desprezo e diversão, como se tivesse chegado a mesma conclusão horrível que ele:

Ela podia fazer da sua existência um inferno burocrático.

— Na verdade, senhorita, vejo que está muito ocupada, eu vou ali no outro guichê. —  Ele arriscou, mas assim que tentou puxar de volta sua pasta de documentos, a mulher espalmou a mão em cima, com um baque forte na madeira da mesa.

O som foi como uma martelada no peito de Sirius, a mão como uma estrela do mar terminava em garras vermelhas e o arrastar dos pergaminhos até ela, era como se a garota estivesse puxando seu coração para fora de si outra vez.

Ah sim, outra vez mesmo, infelizmente.

— Estou ocupada, mas ainda assim, atender aos nossos nobres cidadãos bruxos é a minha missão, então vejamos o que temos aqui. —  Ela falou com ironia e um sorriso cruel no rosto, abrindo a pasta para ler qual infração o primo havia cometido. — Ah, já vejo... Parece que alguém foi bem levado, hum?

Que mulher cretina!

Sirius rilhou os dentes, gostaria de não dar esse prazer a ela, mas nunca tinha sido muito bom em esconder seu mau gênio, ainda mais quando provocado por alguém de sangue Black. Remus dizia que era o combustível inflamado reagindo com mais combustível e se fosse Bellatrix então...

A garota continuou lendo todos os dados preenchidos no formulário como se fosse um romance erótico, dado o prazer com o qual ela saboreava as palavras. A qualquer minuto ia passar a língua nos lábios e gemer sensualmente, não era possível!

— Não foi tão grave assim e no fim das contas... —  O rapaz recomeçou, mas ela pediu para que se calasse com um dedo em riste, ainda não tinha lido tudo que precisava para dar seu parecer. Ele contou cinco segundo antes de tentar de novo. — Foi apenas um...

— Senhor Black, eu entendo que o senhor esteja ansioso para reaver o seu... Veículo? Porém eu preciso seguir os protocolos, preciso ter certeza de que esteja tudo nos conformes, para não colocar o senhor, os trouxas, mas principalmente o mundo bruxo em risco, o senhor entende, não entende?

Era o tom de falsa compreensão que iria fazê-lo queimar todo o Ministério com a força do seu ódio, estava decidido. Sirius respirou fundo duas vezes, antes de começar, pela enésima vez, a tentar pôr algum juízo na cabeça de Bellatrix.

— Olha, eu sei que isso parece divertido a curto prazo, mas pense bem, Bella, isso é apenas uma satisfação passageira, não seria melhor para nós dois se você me libertasse de uma vez e nunca mais olhássemos na cara um do outro, hum? —  Ele sugeriu com o que pensava que era um sorriso simpático, mas na verdade se assemelhava muito mais com a cara de alguém com constipação.

— Senhor Black, estou fazendo apenas meu trabalho e com certeza te prometo que farei tudo com a maior presteza ao meu alcance. —  A bruxa falou séria, de um jeito que até faria um inocente acreditar em suas palavras, mas Sirius a conhecia muito bem, infelizmente.

— Quanto tempo você acha que pode me segurar aqui, Bella? —  Perguntou cético e a bruxa só o respondeu com um sorriso predador.

***

Quinto dia

— Eu trouxe o protocolo três carimbado pelo setor de acidentes com criaturas mágicas, o protocolo seis, rubricado pelo chefe dos aurores e o certificado de inspeção da minha varinha, atestando que eu realizei o obliviate nos trouxas que me viram voando, na mesma noite do incidente. —  Sirius entrou no cubículo exausto, jogando os documentos em cima da mesa da bruxa de qualquer jeito. — Acho que isso cobre tudo, certo?

Era impressão sua ou a sonserina parecia mais bonita a cada dia que passava lhe torturando com um sorriso no rosto? Hoje a beldade Black, como ouviu um dos funcionários do setor chama-la no corredor, estava com os cabelos de cachos negros e volumosos metade presos, com alguns fios emoldurando seu rosto bonito.

Era injusto que Bella não parecesse tão feia por fora quanto era por dentro, o rapaz pensou irritado.

A sonserina encarou os documentos, conferindo que ele havia conseguido tudo que ela havia solicitado, até mesmo as coisas mais descabidas, como o protocolo para as criaturas mágicas - a motocicleta poderia ter acertado um tronquilho, a região em que ele foi visto pelos trouxas era cheia deles, não era? - e a segunda via dos NIEM dele de dois anos atrás.

Teria que se dar por vencida, infelizmente, já estava prestes a dar ao primo traidor do sangue as boas novas, quando Norman, seu dementador particular, colocou a cabeça para dentro de seu cubículo novamente.

— Black, você viu o... Ei, esse é o novo formulário B72 para infrações de veículos mágicos com tecnologia trouxa? —  O rapaz se aproximou, pegando os pergaminhos verdes nas mãos. Bella revirou os olhos, sem que o homem visse.

— Não, esse é o B45, de veículos trouxas com encantamentos. —  Falou entediada, antes de conseguir tomar fôlego para expulsa-lo do seu espaço.

— Ah, mas não pode ser! A menos que... Sim, sim... Veja, Black, este aqui é o formulário do ano passado, estamos usando uma papelada nova, porque, com o fim da guerra, alguns artigos das leis foram revistos. —  Ele falou apontando para o ano do documento e Bella pela primeira vez ficou interessada no que o homem estúpido tinha a dizer.

— Tem certeza disso? —  Perguntou, o encarando com seus grandes olhos negros cheios de um deleite muito alarmante para Sirius.

— O que isso significa? Não muda nada na minha situação, não é? Foi só uma moto vista por um grupo de adolescentes trouxas, a queda do bunda mole do Voldemort não afeta nada nessa área, não é? —  Ele perguntou com esperança, Bellatrix o encarou com um ódio profundo pelo epíteto usado contra seu falecido mestre e Norman apenas maneou a cabeça, com gravidade.

— Temo que afete muito. Afetou tudo que diz respeito aos trouxas, as regras estão ainda mais severas no que se refere à eles agora. —  Falou, consertando seus óculos, olhando Bellatrix como se estivesse com pena por todo o trabalho perdido. — Creio que precise refazer o preenchimento, infelizmente.

— Ah, não é possível! —  Ela falou com cinismo, se levantando e ficando muito próxima do homem, que foi forçado a sair do cubículo para lhe dar espaço para se movimentar. — Deve ter algo no manual que nos ajude a aproveitar algum material do que já foi preenchido, não?

Sirius estava com as duas mãos tapando o rosto agora, tinha trocado seu horário de almoço por cinco dias seguidos lá no centro de treinamento dos aurores para bosta nenhuma? Merlin só podia estar brincando com a sua cara!

Bella se virou de costas, com a saia um pouco amarrotada e levantada, envolvendo deliciosamente sua bunda redonda, o que o maroto pôde apreciar entre os dedos, mas nem de longe compensou pela frustração que ela o estava fazendo passar nos últimos dias.

— Você pode tentar dar uma olhada no manual de substituições, mas temo que não haja muito o que fazer... —  Norman respondeu contrito, então a moça ajeitou a sua saia de secretária comportada de volta para o lugar, antes de olhar para Sirius com determinação.

— Não se preocupe, senhor Black, não vou descansar até encontrar uma brecha para que possamos libera-lo o mais rápido possível. —  Falou com convicção, deixando Norman impressionado com seu comprometimento com o trabalho.

O sorriso cruel só para ele foi o suficiente para fazer Sirius gemer em agonia internamente.

Merlin, a mulher iria acabar com sua vida!

***

Nono dia.

— Estive lendo exaustivamente os protocolos e manuais do nosso Setor e infelizmente Norman tinha razão, vamos precisar preencher a documentação novamente. —  Ela falou com calma, depois de dois dias, fora o final de semana, mas Sirius já estava ciente disso, era o pior cenário e ele não esperava nada diferente de Bella. — Mas tenho boas notícias: o senhor não vai precisar de uma nova via dos seus NIEM, essa obrigação foi retirada dos protocolos!

— Eu não sei nem se eu precisava daquilo da primeira vez, Bella. —  Ele falou sem emoção, porque a mulher já tinha acabado com todas as suas esperanças de reaver sua moto a tempo do recesso de Natal.

Ela o olhou com curiosidade, então decidiu que precisava acender um pouco o fogo do grifinório, se queria manter aquilo divertido por mais algum tempo. Jogou sua trança embutida por cima do ombro e soltou um suspiro que deveria soar frustrado.

Na opinião de Sirius tinha soado sexy para caralho.

— Olha, eu não tenho permissão para fazer isso, mas... Você gostaria de dar uma olhadinha na sua moto? —  Ela falou se inclinando para frente, como uma menina travessa. Se apoiou completamente em cima da mesa para verificar se tinha alguém sentado nos guichês ao lado, mas acabou perto demais de Sirius, com o movimento. — Posso fazer esse favorzinho para você.

O homem engoliu em seco, porque ter Bella em uma dose diária, homeopática, diria, era uma coisa, mas ter ela tão perto, com aqueles olhos negros o encarando com inocência - falsa, muito falsa, claro! - a boca bem desenhada e o cheiro...

Tinha perdido um pouco de sua sanidade na adolescência sentindo o cheiro daqueles cabelos em seu nariz sensível de animago, até mesmo nos lugares em que a garota nunca estivera presente. Bella o olhou nos olhos, então desceu o olhar para sua boca, mordendo de leve os lábios.

Sirius pensou, não pela primeira vez, que deseja-la, sem poder tê-la... Talvez fosse melhor ser jogado em Azkaban com as chaves atiradas ao mar!

— Por que... Por que você faria isso por mim, Bella? —  Ele perguntou baixo, a fazendo voltar para sua cadeira, máscara de funcionária profissional de volta no rosto, como se o que quer que tivesse acontecido entre eles já tivesse passado completamente.

— Veja isso como um incentivo para não esmorecer na sua luta. —  Falou com cinismo, mas então sorriu de leve, um sorriso traiçoeiro, mas estranhamente convidativo. — E então?

— Ok, eu topo, mas sem truques! —  Ele ameaçou, se levantando de pronto, fazendo Bella o admirar sem nenhum pudor, de baixo para cima. Assim que acabou a inspeção, ela se levantou também.

— Sem truques, prometo.

Deu a volta para sair de seu cubículo, Sirius a esperou no corredor, até que finalmente estivessem cara a cara depois de um ano, sem nenhuma mesa - ou guerra - entre eles. A diferença de altura não parecia influenciar em nada no pé de igualdade que se encontravam agora.

— Siga-me, senhor Black. —  A sonserina caminhou a frente, sem dar satisfações a nenhum dos colegas que por ventura encontravam pelo caminho.

O efeito que Bella causava nas pessoas era estranho, as mulheres pareciam temê-la, tentando se fundir as paredes do corredor, já os homens davam sorrisos assustados, como se fossem garotos começando a descobrir as mudanças da puberdade.

Isso até ela finalmente passar por eles, então todos, sem exceção, davam aquela checada filha da puta na bela imagem que era a jovem vista por trás. Sirius revirou os olhos para o nível do pessoal que era contratado pelo Ministério, mas voltou a prestar atenção a ação a sua frente, ao ver Bellatrix mudando de postura estranhamente.

— Senhor Burke, como vai? —  A bruxa falou simpaticamente, enquanto o homem a olhava com interesse, segurando o elevador para que ela e Sirius entrassem.  — Soube que sua esposa está se recuperando bem do nascimento dos gêmeos, sim?

— De fato, Gertrude já está muito melhor, obrigado por perguntar, foram dias difíceis... Mas e sua família, senhorita Black? Vai muito bem, imagino, ouvi dizer que o jovem Regulus Black foi  nomeado como novo assistente do assessor do Ministro, verdade? Cargo de muita responsabilidade para um rapaz tão jovem...  —  O homem bigodudo perguntou simpático e antes que essa criatura gentil que havia invadido o corpo de Bella respondesse, Sirius se intrometeu na conversa.

— Meu irmão sempre teve uma excelente lábia, nunca duvidamos que ele iria longe, talvez um ministro ele mesmo um dia, quem sabe? —  Falou cínico, estendendo a mão para cumprimentar o senhor surpreso. — Sirius Black, prazer em conhecê-lo e o senhor é...

— Caractacus Burke... O Segundo. —  Ele completou com um sorriso cúmplice para Bella, depois olhou para o rapaz novamente, o cumprimentando com um aperto forte. — Ouvi falar sobre o senhor também, senhor Black, vi nos jornais que foi um dos responsáveis pela queda do lorde das trevas, embora não tenha visto nenhuma foto publicada, perdoe-me por não ter te reconhecido de primeira.

— O chefe achou melhor nos expor ao mínimo, mas não posso levar todo o crédito... Lily Evans foi aquela quem lançou o feitiço derradeiro no maldito, eu só fiz... Trabalho burocrático, praticamente. —  Falou com uma humildade fora de lugar, se referindo a todos os comensais que ele e James contiverem para a Inominável em treinamento usar alguma magia misteriosa, mas eficaz, no lorde das trevas.

Tinha sido uma grande noite, a despeito de todos os colegas mortos para conseguirem aquele resultado histórico.

— Bem, fico feliz de ver os Black se saindo bem, diferente de muitas grandes famílias que se afundaram junto com aquele lunático. —  O homem falou com um sorriso difícil de decifrar, mas olhou de um jovem a outro antes de descer em seu departamento, que a voz feminina do elevador havia anunciado. — De qualquer sorte, espero você, senhorita Black, para nossa entrevista na sexta-feira, às 14 horas, sem atraso.

— Não me atrasarei, senhor Burke, até mais. —  Ela falou com um tom dócil e Sirius sorriu irônico, entendendo tudo.

— Senhor Black... Até mais ver. —  Burke saiu no nível cinco, no Departamento de Cooperação Internacional em Magia que, se Circe abençoasse, seria o próximo local de trabalho de Bellatrix Black.

O elevador se fechou e Sirius maneou a cabeça com diversão.

— Ele só quer te comer, Bella, nenhum homem com o mínimo de raciocínio lógico colocaria uma ex-comensal no Departamento de Cooperação Internacional em Magia, pode tirar seu hipógrifo da chuva. —  Falou sarcástico e a mulher continuou encarando a série de botões do elevador a sua frente, dessa vez descendo finalmente. — Você não tem futuro lá.

— Eu sei bem o que ele quer e com uma mulher recém parida de gêmeos, ele pode ter a vontade por alguns meses, até que eu finalmente consiga minha transferência para a França. —  Ela falou com malícia, batucando de leve o sapato no assoalho desbotado do elevador do Ministério. Mais duas pessoas saíram em seus andares antes de Sirius lhe fazer uma pergunta, curioso.

— E o que tem na França? Lestrange, aquele covarde? —  Falou com deboche. A mulher sorriu com arrogância por sobre o ombro.

— Isso não é dá sua conta, não é mesmo? Ah, aqui estamos. —  Bella falou com falsa animação e Sirius levantou uma sobrancelha para o lugar estranho onde estavam. — Bem vindo ao depósito de artefatos apreendidos pelo Ministério!

— Que lugar sinistro, me pergunto que tipos de coisas estranhas eles tem guardado aqui. Sua decência, talvez? —  Sirius falou irônico, vendo o pequeno duende checando nomes em um pergaminho infindável, que se enrolava em sua mesa, seguia para baixo e se arrastava um pouco mais pelo chão.

Pacotes de todos os tamanhos flutuavam de uma prateleira a outra e alguns duendes podiam ser vistos subindo e descendo escadas nas estantes abarrotadas com volumes a espera de seus antigos ou novos donos ou quem sabe ainda um passeio no incinerador no subsolo?

Bellatrix se aproximou da criatura, que a olhou por cima de seus oclinhos quase triangulares.

— Viemos verificar o item TR459700/890-143 —  Ela leu o código em um pergaminho, tirado do pequeno bolso de sua blusa de seda elegantemente arrumada dentro de sua saia de couro negro acima dos joelhos, pouco usual para um ambiente de trabalho.

— Pela parte de quem?

— Black, Bellatrix, do Setor de Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas. —  A moça bateu o sapato de leve, impaciente, enquanto o duende verificava sua permissão em um dos muitos arquivos de metal espalhados pelas paredes.

— E o senhor ao seu lado, quem é? —  O duende de nome Gus perguntou, após verificar a papelada que havia flutuado para suas mãos, sim, a bruxa tinha mesmo permissão para tal solicitação.

— Black, Sirius, auror em treinamento, encarregado de checar as condições do item. —  Ela falou sem emoção, recebendo um olhar duro do duende. — Também achei indignante eles duvidarem de seu trabalho, mas ordens são ordens, não é mesmo?

— Corredor 45, seção 63, prateleira 36, procurem pelo código do item. —  O duende falou com tédio, encarando principalmente o auror que ousava duvidar de sua capacidade de manter seus itens em segurança. — Avise no Quartel que da próxima vez só poderão entrar com uma solicitação formal e por escrito, com a assinatura autenticada do Chefe dos aurores.

— É só uma conferência, não viemos fazer nenhuma retirada. —  Sirius sorriu marotamente, entrando na mentira inventada pela prima. O duende continuou o encarando, sem piscar.

— Considerem-se avisados. —  A criatura voltou a encarar sua papelada e Sirius fez uma careta divertida, porque era o tipo de recado que ele nunca iria dizer para o Chefe e que futuramente poderia render alguma encrenca para um colega desavisado.

Bellatrix se encaminhou para o corredor indicado, sendo seguida de perto pelo grifinório incomodado com o tamanho dos pacotes etiquetados e empilhados, algumas vezes um em cima do outro, nas prateleiras abarrotadas do depósito.

— Por favor, me diga que vocês não fizeram um feitiço de redução na minha moto! —  Sirius implorou, mas só recebeu o barulho de saltos no chão de vinil do lugar como resposta. — Bella, isso vai acabar com as engrenagens, eu vou ter que recalibrar o motor todo!

— Da próxima vez você pense nisso antes de se exibir para um bando de trouxas, não culpe a mim, culpe a si mesmo. —  Ela falou procurando a seção certa, assim que a encontrou, convocou a escadinha de madeira mais próxima, subindo os degraus como se não fosse nada demais fazer isso com uma saia justa de couro.

— Você não pode apenas convocar o pacote não, Bella? —  Ele falou entre o muito culpado por estar encarando a bela bunda da maldita ex-comensal da morte - se é que ela podia ser considerada ex - e o encantado com a visão.

O encantamento estava ganhando de lavada a disputa em seu cérebro.

— Posso, se você estiver disposto a lidar com os familiares que irão vir verificar a quebra de protocolo. —  Ela havia parado, aparentemente tinha encontrado a tal prateleira 36. — Ah, aqui está. Agarre!

Ela tirou o objeto da prateleira e não deu muito tempo para Sirius perceber o que estava acontecendo, ele pegou o pacote atirado mais por reflexo do que qualquer outra coisa. Seus braços e peitos ficaram doloridos, mas ainda assim o homem abraçou o embrulho como se tratasse de um velho amigo.

— Minha preciosidade, o papai sentiu tanto a sua falta! Tive que ficar aparatando por aí como um selvagem, você acredita? —  Ele sussurrou para a caixa e assim que Bella desceu todos os degraus, o encarou como o louco de pedra que ele era. — Não me olhe assim, a culpa é sua de eu ainda não poder sair daqui com minha moto!

— Eu era a motociclista ou um dos trouxas que viu você voando parecendo um dragão moribundo e atrapalhado? —  Ela perguntou sarcástica, sendo encarada com ódio.

— Era um monte de adolescente trouxa fumando maconha, se eu tivesse dito que eles tinha imaginado a coisa toda, teria dado no mesmo! —  Ele falou com irritação, removendo o invólucro e suspirando ao ver a versão mini da sua amada moto. — Não podiam ter reduzido apenas dois terços do tamanho?

— Não.

— Vou ter que aumentar para o tamanho real para checar se ela ainda está intacta. —  Ele avisou a mulher a sua frente, que deu de ombros, pouco preocupada.

— Vá em frente.

Sirius executou o feitiço, então sua moto preencheu uma boa parte do estreito caminho entre as estantes do depósito. Começou a analisar a engenhoca trouxa como se essa fosse realmente muito preciosa e ele muito atento a detalhes...

— Esse arranhão não estava aqui antes. —  Ele acusou, apontando para alguma área próxima à roda traseira.

— Tenho certeza que estava. —  Bella respondeu entediada, sem nem dirigir um olhar para onde ele apontava. Sirius continuou sua inspeção como se não a tivesse ouvido.

Mexeu, tirou e recolocou várias partes do veículo trouxa e quando finalmente se deu por satisfeito, limpou as mãos nos jeans escuros que levava com tanta rebeldia e contra qualquer senso de estética bruxa.

— Parece que está em um nível razoável, será que eu consigo libera-la antes do dia 23? —  Ele perguntou com esperança, afinal Bella tinha sido tão prestativa hoje, a sorte poderia continuar a seu favor, certo?

— Acho difícil, principalmente porque muitos setores estão começando a deixar as novas entradas de protocolos para o ano que vem... —  Bella deu de ombros, como se não pudesse fazer nada para ajuda-lo, além do que já estava fazendo.

— É uma pena mesmo, se desse tempo, iria te mostrar como é ter uma coisa poderosa como essa entre as pernas. —  Falou malicioso e assim que a mulher levantou as sobrancelhas para a vulgaridade da resposta, ele riu do seu jeito canino de sempre. — Me referia a moto, calma! Ate porque a outra coisa você já experimentou.

— Sim, me lembro de ter sentindo cócegas interessantes em algum momento da minha adolescência. —  Ela falou com desdém, olhando da moto para o dono com pouco entusiasmo.

— Você só tem 18 anos, Bella e tenho certeza que sentiu muito mais do que cócegas naqueles dias... —  Ele se aproximou da mulher, que olhou aquela aproximação fingindo pouco interesse. — Mas falando sério, não tem nem um pouco de curiosidade para subir em uma moto?

— Acho que já preenchi minha cota experimentando coisas inferiores por uma vida inteira, então não, obrigada. —  A Sonserina falou com desprezo, arrancando um riso amargo do primo.

— Uau, por que eu ainda me surpreendo com uma resposta dessas? —  Ele perguntou com um tom cínico e um sorriso pior ainda. — Só me tire uma dúvida, Bella, você achou mesmo que seu lorde fosse ganhar a guerra?

— O lorde morreu, mas a causa não. —  Ela falou com um sorriso venenoso, que em outra jovem de 18 anos pareceria inadequado, mas em Bellatrix Black se encaixava perfeitamente. — Calma, não precisa alertar seus chefes, eu não sei de nada, apenas...

— Apenas o que, garota? —  Sirius perguntou irritado e por que não dizer? Decepcionado. — O que você pensa que sabe?

— Eu sei que pessoas morrem, mas causas não, porque não se pode apagar incêndios sem apagar a chama que sempre sobra entre as cinzas. —  Ela filosofou com graça, depois deu de ombros, conformada. — Sonserina, Grindewald, Voldemort... Você irá combater o próximo grande bruxo das trevas antes que tenhamos cabelos brancos, guarde minhas palavras.

— Isso é uma ameaça?

— Ora, primo, já passamos do tempo das ameaças. Não, entenda isso como um aviso. —  Bella inclinou a cabeça, como se estivesse encarando uma criatura que não entendia de todo. — Ou você acredita mesmo que o mundo bruxo pode continuar se escondendo atrás do sigilo?

— Os trouxas não são inferiores, Bella, então pode ter certeza que, onde houver uma guerra, eu estarei lá para lutar do lado certo. —  O grifinório falou com seriedade, arrancando um sorriso melancólico da prima.

—  Sempre tão corajoso... Mas não foi o que perguntei. —  Ela disse nostálgica, com um sorriso triste no rosto. — Acho que irei sentir falta disso em Paris, ouvi dizer que os bruxos franceses são elegantes demais para ceder aos seus instintos mais básicos e tolices do gênero.

— Ainda bem que você sabe que lutar pelo que é certo é instintivo, talvez algum dia você ceda a isso. —  Ele falou sem acreditar realmente em suas palavras, mas ainda estava muito perto da garota para não tentar uma última coisa. — Está indo mesmo para Paris, Bella?

— Em alguns meses, se tudo der certo, claro. Por que pergunta? —  Ela questionou de cenho franzido, intrigada com o tom baixo dele.

— Porque assim não vou me sentir culpado de fazer isso mais uma vez. —  Sirius terminou de falar, segurando o rosto da sonserina, trazendo-a para si antes que ela pudesse contestar ou reagir contrariamente.

Ele preferia os cabelos de Bellatrix soltos, cheios, se entrelaçando entre seus dedos, mas a trança teria que bastar, de alguma forma os fios rebeldes ainda conseguiram se libertar das amarras o suficiente para fazer suas mãos - mesmo que de olhos fechados - saberem que era mesmo ela.

Bella correspondeu o beijo com o mesmo ímpeto, com a mesma fome, como se estivesse esperado aquilo há anos, desde a última vez que se agarraram escondidos no cais dos barcos dos primeiranistas de Hogwarts.

Um pigarro alto fez o casal se separar como se tivessem encostado em uma superfície em chamas. Não deixava de ser verdade, mas Bella nunca se perdoaria por ter sido flagrada por um duende em uma situação tão indigna!

— Já terminaram a inspeção no item? —  Ele perguntou sem esboçar nenhuma reação além do olhar de recriminação inerente a todos os duendes. Sirius se inclinou para a moto, dando tapinhas na altura do tanque de combustível.

— Tudo certo aqui, obrigado por perguntar. —  O maroto falou confortável, porque não era a primeira vez que era flagrado em uma situação comprometedora. — Devo diminuir o item novamente ou...

— Eu cuido disso, podem se retirar. —  O duende falou hermético, então Bella passou olhando para ele, com toda sua superioridade sonserina. Sirius sorriu para a criatura mágica com toda a sua falta de vergonha na cara de sempre.

Assim que os Black entraram no elevador e a porta se fechou para longe do depósito, Sirius resolveu quebrar o silêncio que estava no lugar, com apenas os dois subindo os andares do Ministério.

— Então você vai se mudar para Paris... —  Ele deixou a frase pairar entre eles, como quem não quer nada.

— Assim espero.

— E os burocratas dos outros setores já estão diminuindo o ritmo de trabalho para sair em recesso... —  Eram constatações, mas de certa forma demandavam algum tipo de resposta da garota.

— É uma prática comum, ouvi dizer. —  Bella respondeu sem demonstrar muita emoção, ainda que o cabelo tivesse alguns fios fora do lugar, um dos botões da blusa estivesse aberto e a boca estivesse tão vermelha quanto a cor da blusa de seda.

Sirius podia atestar que a boca dela era tão macia quanto.

O rapaz apertou outro botão no painel, que se iluminou ao lado daquele que Bella tinha apertado antes e seguiria para o Setor de Mau Uso dos Artefatos dos trouxas. A mulher o olhou, intrigada.

— Então volto para ver essa papelada aí depois, não temos que ter pressa, não é mesmo? —  Ele disse malicioso, mas o tom havia soado baixo e razoável. Bella sorriu para a tentativa. O andar dele chegou e a porta se abriu. Ele saiu e continuou a encara-la, dessa vez do saguão principal e movimentando do Ministério, demandando uma resposta.

— Até mais, senhor Black.

A porta se fechou entre eles, mas ambos sabiam que não tinha sido para sempre.

Ainda.


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Notas finais do capítulo

Final em aberto, mas a pedido de Ly Anne Black, farei um epílogo, pq tenho vergonha na minha cara!



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