Malfoy escrita por SrtaGaladriel


Capítulo 1
Malfoy




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/772243/chapter/1

Astória Malfoy sentou-se calmamente na cadeira de balanço da varanda. Seus pés descalços tocavam a madeira fria, junto com a areia trazida pelo vento, e um sorriso terno marcava seu rosto cansado. A alguns metros, na areia, Scorpius Malfoy brincava acompanhado do pai.

Draco Malfoy sempre se orgulhou muito da aparência. Para ele, não existia nada mais importante que isso. Ternos caros, elegantes e alinhados, cabelo perfeitamente arrumado, sapatos lustrados. Mais hoje, ele estava uma bagunça: O terno havia sido substituído por roupas causais, as quais ele não estava acostumado, seus pés estavam descalços em contato direto com a areia e o mar, e seu cabelo revirado por causa do vento. Mais trazia consigo um sorriso gigante, mantendo seu foco no garoto a sua frente, tão concentrado na sua tarefa de divertir o garotinho que não via nada mais.

A vida ali era tão pacifica; A casa deles era de frente para o mar, onde eram maravilhados com aquela bela vista todas as manhãs, a casa mesmo pequena era confortável e aconchegante para a pequena família deles, Draco trabalhava em casa –coordenando a empresa da família a distancia – e sempre tinha tempo para eles, Scorpius cresceu num ambiente amigável e bom. Eles haviam construído uma vida nova.

Mas, até chegarem até ali, haviam percorrido um longo caminho. Astória lembrava-se de ter crescido numa casa enorme, grande demais para apenas quatro pessoas, onde as paredes brancas causavam arrepios, onde nem mesmo as lareiras conseguiam aquecer; Cresceu com pais distantes, sua mãe muito doente para cuidar de duas crianças, e seu pai tinha como bem maior o emprego. Daphne, sua irmã mais velha, era a única que realmente pareciam se importar com Astória. As duas eram muitos próximas, mesmo com dois anos as separando, gostavam se usar roupas combinando, dividiam o mesmo quarto, completavam a frase uma da outra.

Ainda na infância, ela descobriu que havia herdado muito mais que a aparência de sua mãe. Ela também havia herdado a maldição da família. Há muitos séculos atrás, alguém em algum lugar, havia amaldiçoado os Greengrass com uma maldição do sangue, fator que só afetava as mulheres Greengrass, tendo Daphne como a única a conseguir escapar disso. A maldição a afetava lentamente, cada dia um pouco mais que o anterior, afetado seus órgãos internos, sua coordenação motora, seu cérebro, sua magia. A consumia lentamente. A destruía aos poucos.

Mas, não havia o que ser feito. Astória sabia que, assim como sua mãe, avó, e todas as Greengrass  anteriores, estava fadada a isso. A maldição corria em seu sangue, e era seu fardo para toda a sua vida.

Tentou construir uma vida normal, moldando-se a maldição; Brincou com as outras crianças, mas se cansava mais rápido, sua magia demorou para aparecer – todos temeram que a maldição tivesse consumido sua magia antes mesmo dela aparecer o que tornava Astória um aborto – frequentou Hogwatrs, tentando esconder de todos sua condição, arranjou amigos, algumas paqueras, arranjou encrenca, tomou alguns decisões ruins e por fim, arrumou o amor da sua vida.

Ela e Draco se conheciam desde sempre. Como ambos vinham de famílias antigas, e faziam parte dos Sagrados Vinte e Oito, suas famílias muitas vezes se reuniam, obrigando Draco e Astória a conviverem. Mas, foi apenas depois da guerra, quando retornaram a  Hogwatrs, que Astória finalmente olhou para Draco com outros olhos. Diferente do Draco de três anos atrás, o novo Malfoy era menos orgulhoso, rude, e arrogante. Ele havia criado um novo caráter, sendo gentil com o próximo, dissipando o ódio da sua vida e aceitando as diferenças de sangue. Foi uma baita mudança para Draco, Astória admitia que tinha sido isso que havia encantado ela. Entre conversas amigáveis e sorrisos aqui e ali, Draco a chamou para um encontro. No começo, foi difícil. Muitos criticavam que ela, uma boa moça, estivesse saindo com um ex-comensal da morte. Mas, assim como Draco, ela também teve sua participação do lado das trevas, apenas não tinha sido marcada. Ela carregava o arrependimento e a dor, assim como Draco. Eles entendiam a dor um do outro. E foi isso que os aproximou bastante.

Quando as coisas foram ficando mais sérias, e os sintomas da maldição mais evidentes, Astória tentou recuar no seu relacionamento. Ela não queria arrastar Draco para sua vida, para sua maldição, não queria bagunçar sua vida e vê-lo sofrer por não poder ajudá-la. Seu pai havia sofrido por sua mãe, vendo-a ser consumida pela maldição,e isso quase acabou com ele.  Mas, Draco era um teimoso e insistente bruxo, e Astória percebeu que não importava o que fizesse, Draco continuaria ali por ela. O que a deixou sem opção, tendo que contar ao Malfoy sobre a maldição e o que causava em si. Draco levou algum tempo para processar tudo, Astória já tinha aceitado o fato de que ele podia desistir dela, quando, ele firmou-se do seu lado, garantindo que jamais a abandonaria, nem mesmo quando as coisas ficassem realmente ruins.

Assim que saíram de Hogwatrs, eles se casaram e se mudaram para a casa de veraneio dos Malfoy. Astória amava a praia, mas ela sabia que o único motivo deles terem vindo morar ali era por que Draco não queria expor sua maldição a todos, ela sabia que Draco faria qualquer coisa para protegê-la.

Foi no quinto ano de casados que Astória decidiu que queria ter um filho. Foi difícil convencer Draco de ter um herdeiro. O Malfoy sabia os perigos que isso trazia: A maldição podia seguir adiante, se tivessem uma menina, e exigiria muito esforço da senhora Malfoy ter um bebê o que resultaria numa saúde ainda mais frágil. Porém, Astória desejava ter um bebê, seu bebê. Queria carregar em seu ventre, amamentar, segurar em seu colo, ajudar nos primeiros passos, queria sentir a sensação de ser mãe. E quando Draco aceitou, não demorou muito para ela engravidar e nove meses depois –durante uma tempestade –nasceu Scorpius Hyperion Malfoy.

Astória lembrava-se da sensação mágica que sentiu ao segurá-lo pela primeira vez. De como chorou quando viu seu garotinho. De como seu peito se expandiu com o amor intenso por seu bebê, seu filho e de Draco. E mesmo quando sua saúde ficou bastante abalada, ela jamais se arrependeu, faria tudo de novo , independentemente do quanto isso lhe custou.

Observando os dois homens da sua vida, Astória sorria com o caminho que sua vida havia trilhado. Parando para repensar suas decisões, razões e cada momento que viveu, Astória estava satisfeita com tudo. Até mesmo os caminhos tortos a trouxeram alegria, no fim da estrada. Não se arrependia de nada, havia vivido uma vida satisfatória –mesmo que curta.  Havia sido criada por pais ótimos, mesmo que ambos tivessem pouca participações em sua vida, uma irmã companheira, havia aprendido a ser uma bruxa melhor e a ser uma pessoa melhor em Hogwatrs, havia conhecido e se apaixonado por um único homem, Draco, havia conhecido a sensação de ser mãe, de segurar um bebê em seus braços e saber que aquele era seu filho, havia visto Scorpius dar seus primeiros passos, ouvido o falar, o viu ir a Hogwatrs. E mesmo sabendo que, assim que partisse, perderia muitas coisas do filho e do marido, Astória estava feliz com tudo que viveu até ali.

Ela não queria alarmar os dois Malfoy, mas ela sentia que a hora estava chegando.  Ela sentia, em cada parte do seu corpo, que estava prestes a partir. Havia ouvido muito sobre como as pessoas sentem quando estão prestes a morrer. Alguns sentem um frio incomodo, outros uma sensação acolhedora de calor, até mesmo dizem que é possível sentir a morte lhe buscando com um singelo beijo. Astória Malfoy sabia que estava perto do fim;

E por isso, ela tentou tornar o dia melhor, querendo que Draco e Scorpius lembrassem de hoje com carinho e não com dor. Havia se arrumado, algo que não gostava de fazer, pois detestava sua aparência, tinha usado seu vestido favorito –que ficava largo por causa do seu corpo magro demais – arrumado seu cabelo –que outrora brilhantes num loiro vivo e longo, hoje estavam finos e opacos – destacado os olhos - que já não tinham mais aquele brilho da juventude –e pitando os lábios secos e rachados. Mesmo detestando admitir: Havia se transformado num fantasma da antiga Astória.

Havia feito o café da manhã, algo que não fazia a tempo por causa do corpo cansado e frágil, preparado o prato favorito de ambos, depois havia dado uma volta na praia acompanhado dos dois Malfoy, ido a Villa bruxa perto da casa para compras, onde almoçaram no seu restaurante favorito, depois tinham ido ao mundo trouxa assistir a um filme qualquer, e quando retornaram, Astória tinha se retirado para cumprir sua ultima missão;

Enquanto os dois Malfoy brincavam na areia, ela havia escrito cartas a ambos; Se despediu, lamentou que tivesse que partir cedo, pediu para eles viverem sem arrependimentos e que não ficassem tristes demais com sua partida, pois em qualquer lugar que estivesse, ela estaria olhando por eles. E claro, deixou claro que os amava mais que tudo.

—Mamãe, mamãe –Scorpius chamou rindo alto enquanto Draco o girava

Astória acenou sorrindo com certa tristeza. Sentiria falta do filho,do marido, de vê-los se divertindo, sentiria falta da sua pequena família. Ela os amava, com todas as forças!

Ela sentiu um toque frio tocar seu ombro, com um suspiro, ela entendeu o que aquilo significava – mesmo que não compreende-se como entendia.

— Já está na hora, não é? –Astória perguntou num sussurro rouco observando sua família – Eles ficaram bem, sei que sim.. acho que estou pronta para partir.

A sensação aumento, e gradativamente, ela fechou os olhos. Não se arrependia de nada, e arranjaria um jeito de cumprir sua promessa, ela olharia por sua família, onde quer que estivesse; Ela estava pronta para partir, sabia que aquele dia chegaria - ele vinha para todos -e no seu caso, viria mais cedo, porém não temia. Ela aceitava, abraçava, seu destino.

  Astória Malfoy acolheu a morte como uma velha amiga.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Malfoy" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.