Le Paon escrita por LaviniaCrist, mary788


Capítulo 7
Par les promesses


Notas iniciais do capítulo

Qual o tema da redação? XD



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Nathalie encarou o tablet por alguns segundos e pareceu ponderar sobre o que iria fazer. Uma pequena curva surgiu nos lábios dela enquanto cancelava a ligação.

— Ele vai ficar irritado com você — Gorila advertiu, mas não conseguiu reprimir uma risadinha abafada.

— Ele não pode ficar irritado comigo, estou demitida por hoje — ela encolheu os ombros.

— E é só por isso mesmo? — ao receber um aceno positivo, o motorista temporário continuou — Porque eu já vi ele fazendo coisas bem piores do que isso e você não ficou tão irritada...

— Tipo?

— Lembra daquele vilão com bolhas? Você teve um ataque de nervos por causa da altura e ele perguntou o motivo dos relatórios estarem atrasados... A mesma coisa com aquele vilão sereia e aquele outro que controlava as pessoas.

— Na verdade, ele não estava errado quanto a isso. Sou a assistente pessoal dele, imprevistos acontecem a todo o momento e eu preciso antecipar todos eles e cumprir com as minhas funções — apesar do ar robótico das palavras, ela parecia realmente acreditar nisso.

— Nathalie, se você trabalhasse só como assistente pessoal dele eu poderia até concordar — o grandalhão cruzou os braços — Se eu fosse você, já teria me demitido de verdade há muito tempo.

— Por que eu deveria? — a mulher ergueu uma das sobrancelhas, surpresa.

— Ele faz você andar por aí segurando um tablet com a cara dele, é ridículo — ele reprimiu uma risada — E usa você de escudo com o Adrien quando precisa avisar que “mais uma vez está ocupado demais para dar atenção ao próprio filho”; isso só para começar...

— Você também faz muito além da sua função.

— Mas eu gosto! — se defendeu — Gosto de dirigir, gosto de proteger o Adrien... por mais que ele dificulte bastante. Aturar o Gabriel o salário compensa.

— E por que no meu caso o salário não iria compensar também? E por que eu não iria gostar de fazer o meu trabalho? — ela encarou o outro um tanto mais irritada.

— Porque você suporta o Gabriel o dia inteiro! Tem dias em que eu nem vejo ele andando pela mansão, mas você fica o dia inteiro com ele... eu não sei como aguenta! E também...

— Também?

— Nathalie, eu entendo esse seu amor doentio com listas e coisas do tipo, mas realmente gostar de dedicar seus dias a isso não é um exagero? É sem graça.

— Claro que não é sem graça! Eu até troquei as células por blocos coloridos para ficar mais divertido e... — ela parou de falar — Eu... eu realmente gosto disso. É tão estranho assim?

— Considerando que você não é uma “velha dos gatos” de setenta e dois anos... sim, é estranho — Gorila ficou alguns segundos em silencio, depois continuou — Tem o Adrien, o que ajuda a equilibrar um pouco as coisas, mas você não costuma falar com ele.

— Você também não.

— Mas eu não posso, você sim — o grandalhão colocou as mãos no volante — Eu sei que não deveria estar me metendo na sua vida, mas não acha que está aguentando demais nesse emprego? Você até anda tendo crises de estresse...

Antes que ela pudesse tentar se justificar, o toque de chamadas interrompeu a conversa. Dessa vez não era o tablet, era o celular dela... sabendo que o superior deveria estar bem mais irritado do que o normal, Nathalie atendeu.

— Nathalie, nos espere na porta da frente, por favor — o tom dele não era bravo ou qualquer coisa do gênero, pelo contrário, ele parecia calmo... talvez até mesmo animado com algo.

— E por que eu deveria? Estamos demitidos, não podemos nem mesmo entrar no prédio — ela se justificou, pronta para encerrar a ligação mais uma vez.

— Adrien precisa ir para casa, por favor — pediu novamente.

Gabriel Agreste não pedia favores, ele não sabia pedir nada, só sabia mandar. Receber dois “por favor” seguidos e sem toque de deboche ou sarcasmo era algo surpreendente demais para Nathalie desconsiderar.

— Apenas o Adrien?

— Você não pode estar irritada o suficiente ao ponto de querer que eu vá para casa em um metrô ou coisa do tipo, Nathalie! — Gabriel ainda não soava irritado. Parecia desesperado, mas não irritado. Ele até conseguia manter o tom baixo.

— Estou irritada ao ponto de querer que você vá andando até desgastar completamente a sola dos seus sapatos, senhor — ela suspirou — Não é para menos, não acha?

— Ainda não acredito que você é tão ciumenta assim... — ele fez uma pequena pausa — E se eu te der um grampeador novo? Um suporte para fita adesiva combinando?

— Claro, compensariam perfeitamente todo o tempo que eu dediquei programando este desfile, resolvendo divergências e quaisquer outros empecilhos que pudessem arruinar ele, para chegar no grande dia e... — ela fez uma pausa, se controlando para não colocar a culpa em cima dele e soar estranho para Gorila — ... uma louca quase matar o Adrien. Deixei toda a minha preocupação reprimida e consegui realojar tudo para o dia seguinte, só para descobrir que eu nem ao menos iria poder participar porque precisei fingir que estava demitida! Tudo porque uma mulherzinha mimada quis! Eu não estou reclamando de não ter reconhecimento, estou reclamando de não ter tido a chance de pelo menos assistir tudo o que eu consegui fazer!

— Nathalie...

— Mas deve ser apenas ciúmes do meu chefe idiota e controlador com uma velha amiga que ajudou ele a sair de “um estudiozinho deprimente fazendo peças sem noção” anos atrás e joga isso na cara dele até hoje! Eu realmente não faço nada tão extraordinário como isso, nada além de cuidar de todos os seus problemas e não receber nem ao menos um...!

— Obrigado, Nathalie — ele desligou.

A assistente já estava com o rosto avermelhado, um dos primeiros sinais de que estava prestes a explodir. Gorila queria aplaudir a colega, mas sabia que só iria deixar ela ainda mais irritada.

— Para a porta principal — ela pediu entre os dentes, tentando controlar a raiva.

Demorou apenas alguns segundos para ela estar com sua habitual feição de desinteresse mais uma vez. Não estava calma, mas não deixaria Adrien se culpar de novo.

Ela saiu do carro como sempre e foi até a porta principal esperar pelos Agreste como se nada tivesse acontecido. Durante a volta para a mansão, Nathalie não falou absolutamente nada.

Quando chegaram, ela se contentou em observar o superior com desaprovação enquanto ele pressionava os botões do quadro dourado.

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Nathalie aproveitou seu tempo sozinha e cuidou de todas as pendencias que tinham se acumulado enquanto ela esteve fora, tudo isso enquanto acompanhava as desventuras que uma certa vespa causava.

Era sempre assim...

Ela sempre fazia todo o trabalho enquanto Gabriel dava poderes para alguma pessoa desequilibrada e colocava Adrien potencialmente em risco. Ele voltava algum tempo depois, irritado com o fracasso e descontava tudo nela. Com o tempo ela parou de se importar, considerou que era o efeito colateral de usar uma daquelas joias para o mal... como se criasse uma outra persona, como se Hawk Moth ainda estivesse ali, entranhado no corpo do Agreste.

— Eu não sou paga para isso... — Ela murmurou encarando a tela do computador, mostrando a caixa de entrada do e-mail completamente vazia — Talvez eu realmente precise mudar de emprego, algo mais digno do que ser assistente pessoal em horário integral e assistente malvada nas horas vagas — ela debruçou os braços sobre a mesa e apoiou a cabeça.

Agora ela estava encarando o grande quadro de Emilie. A loira estava imortalizada naquela pintura, sorrindo para o marido e para Nathalie enquanto eles trabalhavam.

— Aposto que vai achar ele um completo idiota quando voltar e eu contar tudo o que ele fez... — ela suspirou — Lamento, mas a senhora virou a causa honrosa do maior vilão de Paris — a voz saiu com certo pesar enquanto ela se levantava — Às vezes eu me pergunto se a polícia iria considerar que o senhor Agreste não passa de um homem desesperado para conseguir a família de volta... não que eu vá denunciar ele! Só... posso usar como ameaça? Até parece que funcionaria, se nem mesmo a... — e, antes que ela pudesse concluir, ouviu o barulho do elevador.

Nathalie se calou e deu alguns passos para ficar mais próxima do quadro. Manteve as mãos atrás das costas, pronta para questionar Gabriel sobre a desistência a desistência.

Demorou apenas alguns segundos para que a pequena escotilha secreta se abrisse e o Agreste emergisse até ficar no mesmo nível do solo que ela. Ele não moveu um músculo, conseguia sentir o olhar acusador de Nathalie sobre si.

— O senhor disse que ia parar — a voz saiu com desaprovação.

— Não posso desistir, Nathalie... — ele abaixou a cabeça, acenando de um lado para outro como se repreendesse a si mesmo por quebrar a promessa — Eu morro de saudade dela — justificou.

— Eu entendo... senhor.

Aquele “senhor” não saiu como todos os outros que ela falava praticamente em todas as frases: tinha um toque de desprezo. Ela não entendia, era difícil demais entender como alguém que só estava preocupado com a família conseguia preferir ser um vilão do que agir de outra forma, principalmente quando quem mais sofria era Adrien – só uma criança que quer a atenção do pai.

Antes que pudesse falar qualquer outra coisa da qual se arrependesse, ela saiu do ateliê e se encostou na porta.

Suspirou pesadamente enquanto tentava pensar no que fazer.

Se ele tinha quebrado a promessa, ela também poderia quebrar. Poderia ir embora daquele lugar e fingir que não sabia de nada, que Emilie estava desaparecia e que Adrien tinha uma vida feliz. Suas crises de estresse com certeza teriam um fim.

— Nathalie? A voz doce de Adrien vinda ainda ao longe fez com que ela abrisse os olhos, bem em tempo de ver ele descendo as escadas e correndo para ela — Nathalie, está tudo bem?

— Claro... — ela forçou a recompor a postura, deixando escapar um sorriso discreto pela preocupação dele — Quer falar sobre o desfile?

— Não, não agora. Eu queria pedir a sua ajuda para uma coisa... — ele olhou em volta de um jeito que beirava o de uma criança prestes a fazer travessuras — ... mas o meu pai não pode saber.

— Ele não vai.

.

.

.

Adrien estava ansioso, andando de um lado ao outro do quarto.

As redações que precisava fazer eram para o dia seguinte, mas ele mal tinha conseguido escrever um parágrafo sobre seu pai e sobre sua mãe. Conhecia os dois como seus pais, mas não fazia ideia de como fazê-los soar como “heróis”, tão pouco estava disposto a copiar as informações profissionais deles de um site qualquer – seria patético demais não conhecer esse lado. Sobrava apenas uma fonte segura...

— Eu ainda não acredito que pediu ajuda para aquela robô! — Plagg flutuava atrás dele, indignado ao ponto de estar segurando uma fatia de queijo há minutos e estar focado demais reclamando ao invés de comer — Eu disse que poderia ajudar falando sobre Brie, Camembert e até sobre a família de Marie Harel... MAS VOCÊ PREFERE FALAR SOBRE O SEU PAI!

— Não vou fazer a minha redação falando sobre queijo, Plagg! — Adrien encarou o pequeno kwami — E ele é meu pai...

— Queijo é mais interessante, de qualquer jeito.

— Com certeza a Nathalie sabe de algo interessante sobre ele e sobre a minha mãe — dessa vez, o rapaz disse em um tom esperançoso — Aposto que vou conseguir escrever as vinte linhas sobre os dois.

— Não quero arruinar sua esperança, mas acho que ela só deve ter ido pegar a cópia da agenda deles dos últimos anos... Como ela iria saber algo interessante!? — finalmente, Plagg comeu a fatia de queijo fedorento — É melhor falar sobre queijo.

— Já disse que não, Plagg!

— Então sobre o ChatNoir!

— Eu não posso falar sobre mim mesmo, acabaria contando demais e...

Antes que ele conseguisse terminar sua explicação, Nathalie bateu duas vezes na porta antes de entrar. Por sorte, ela presava a privacidade, caso contrário o kwami não teria tido chances de se esconder. Ela parecia um tanto quanto esbaforida - deveria ter subido as escadas correndo – e segurava uma caixa nas mãos.

— Lamento a demora, deu um pouco mais de trabalho para encontrar do que eu imaginava — ela respirou fundo, retomando finalmente a postura profissional e estendendo a caixa para Adrien — Acredito que tenham coisas que você vá querer ver aqui dentro.

Com um tanto de receio, o loiro segurou a caixa e foi até o sofá. Ele abriu como se estivesse prestes a desarmar uma bomba por tamanho zelo, mas bastou ver o que tinha dentro para que um sorriso enorme brotasse no rosto dele.

— Fotos! São fotos! — a voz saiu cheia de animação, enquanto ele tirava algumas para ver mais de perto — Parecem ser antigas... Nathalie, como conseguiu isso?

— Algumas eu ganhei, algumas eu tirei escondida e outras eu peguei emprestadas e nunca devolvi — ela respondeu como se os meios fossem completamente plausíveis.

O rapaz parecia focado demais nas fotos de seus pais do que naquela explicação. Ele olhou tudo rapidamente, como se estivesse com medo de Nathalie tomar a caixa de novo antes que ele pudesse ver com atenção. Quando chegou na última, ele olhou para Nathalie novamente.

— Você e minha mãe... Vocês se conheciam antes! — ele afirmou, mostrando a foto de um anuário escolar — Vocês eram amigas? — quando a assistente acenou positivamente, os olhos de Adrien ficaram ainda mais brilhantes — Nathalie, por que nunca disse!? Você deve saber tudo sobre ela!

— Na verdade, devo saber menos que você... — ela comentou com o olhar triste, se aproximando dele e segurando a foto — Estudamos juntas há muito tempo e... — ela indicou na foto quem eram: Emilie bem no centro da foto, sorrindo e apoiando as mãos no ombro de uma garota bem mais tímida que estava sentada no banco, Nathalie — Bem, depois do colégio é difícil manter contato. Nos encontramos de novo na faculdade.

— Então... Essa da foto é você? — ele apontou para uma moça séria enquanto uma outra moça, loira, fazia orelhinhas de coelho — Vocês estudaram juntas de novo?

— Não... — Nathalie suspirou, procurando alguma outra foto — Mas ficávamos juntas sempre que podíamos — ela sorriu, pegando uma foto do Grand Palais com uma moça loira bem na frente — Até que...

— Que? — Adrien aguardou a resposta ansioso, mas Nathalie apenas entregou uma sequência de fotos e esperou que ele visse por si mesmo.

Era Emilie entrando no prédio, parecia estar acontecendo algum tipo de evento. Tinham fotos dela experimentando um chapéu, rindo; puxando Nathalie para aparecer na foto; ela abaixada ao lado de um homem loiro.

— Esse é o meu pai!? — Adrien perguntou surpreso, sem conseguir acreditar que aquele homem com o rosto completamente vermelho de vergonha enquanto tentava recolher papéis caídos no chão era o inquebrável Gabriel Agreste.

— Exatamente, mas voltando ao que importa... — ela disse em uma tentativa de desviar do assunto enquanto procurava por mais uma sequência de fotos.

— Nathalie, por favor, conta como eles se conheceram — o loiro segurou as mãos dela, estava com um olhar suplicante, impossível de resistir.

.

Estava acontecendo um grande evento sobre moda no Le Grand Palais. Emilie adorava esse tipo de coisa, adorava quase tanto quanto tirar fotos, o completo oposto de Nathalie.

— Experimenta um chapéu! — a loira ria, colocando um dos mais chamativos que tinha em um dos estandes.

— Já disse que não — Nathalie respondeu enquanto tirava uma das fotos.

— Mas Nathalie... — ela colocou outro chapéu, fazendo uma pose para a foto dessa vez — Qual a graça de vir até aqui se só vai ficar olhando?

— Você quem me arrastou para cá! E eu não tenho dinheiro nem para respirar perto dessas coisas... — a morena se defendeu, registrando as risadas que a outra dava.

— Aposto que vou conseguir fazer você sorrir em uma foto hoje!

— Eu não posso sair nas fotos já que eu quem estou tirando elas.

— Podemos sair as duas! — a loira sugeriu, tomando a câmera entre as mãos e tentando fotografar ambas ao mesmo tempo — Aposto que vai ser a melhor foto.

— E eu aposto que saímos as duas cortadas! Ainda bem que ninguém está prestando atenção na gente — Nathalie comentou com certa graça, pegando a câmera de novo — Aqui está mais vazio do que eu imaginava...

— É porque é um evento para os estudantes de moda, não tem nenhum nome realmente reconhecido aqui... ainda.

— Na próxima, eu escolho onde vamos... — era claro o desagrado dela, principalmente por saber o verdadeiro interesse de Emilie — E com certeza será um lugar onde não vai ter a menor chance de alguém transformar você em uma modelo internacionalmente reconhecida da noite para o dia.

— Você é má... — a loira murmurou fingindo estar irritada, mas logo em seguida voltou a sorrir — Ei, Nathalie...!

Antes que ela pudesse terminar, deu uma trombada em um rapaz que parecia estar com muita pressa. Ele caiu sentado no chão, deixando todas as folhas de desenho que carregava se esparramarem, Emilie só não caiu também porque Nathalie a segurou.

— ... Desculpe — ele nem ao menos encarou as garotas, parecia atordoado demais enquanto tentava recuperar os desenhos.

— Deveria olhar por onde anda! — Nathalie disse irritada, cruzando os braços e lançando um de seus famosos olhares e desaprovação.

— Ele não fez por mal... — Emilie, por outro lado, se abaixou e começou a ajudar ele a pegar os papéis — Meu nome é Emilie e aquela é minha amiga, Nathalie. Qual o seu nome?

— Me chamo... — e, assim que ele encarou os grandes olhos verdes, perdeu completamente as palavras e deixou os papéis que tinha em mãos caírem de novo — Me... er... Cha-amo... — o rosto ficou completamente vermelho — Ga-ga...

— Ga...? — a loira sorriu, achando toda aquela timidez graciosa.

— Gabriel! Até que enfim! — uma outra loira surgiu do nada, praticamente o puxando pelo colarinho da camisa — Os avaliadores já estão chegando na nossa bancada e... — ela parou de falar, encarou Nathalie e levantou os óculos de sol — Que roupinha mais brega, querida.

— Audrey, espera só um pouco, os desenhos... — por mais que tentasse se livrar das garras da amiga, foi tudo em vão. Audrey continuou o prendendo enquanto analisava Nathalie de cima abaixo e depois fez o mesmo com Emilie, por fim, o soltou e agarrou a outra loira — Obrigado — ele murmurou, ajeitando a camisa e tentando recolher os desenhos.

— Você serve para o que precisamos! — e, sem dar mais nenhuma explicação, Audrey saiu arrastando Emilie pelo braço.

— Será que você não pode esperar nem dois segundos!? — o rapaz terminou de juntar os desenhos e foi atrás delas.

.

— E você ficou parada lá? — Adrien encarou os olhos azuis, surpreso por Nathalie nem ao menos ter ido atrás deles.

— Fiquei.

— Por que?

— Porque... Eu não sei — a mulher acabou soltando uma risada discreta — Eu nunca entendi o motivo de ter ficado lá, parada, mas acho que alguma coisa dentro de mim me mandou esperar e não ir resgatar a minha amiga daqueles dois.

— E não se arrepende? — o garoto pareceu ainda mais surpreso.

— Não... — a voz dela soou tranquila, enquanto ela pegava uma foto mostrando uma Audrey bem mais jovem e com roupas chamativas, pendurada no braço de Gabriel e, ao lado dos dois, Emilie usando um vestido azul — Todos comentaram sobre a modelo linda que eles arranjaram no dia. Acha que já tem o suficiente para a sua redação?

— Acho que sim, mas... — ele olhou para a assistente com o mesmo olhar suplicante — Me conta mais sobre eles, Nathalie?

— Contar o que? — sabendo que não iria conseguir resistir ao pedido, ela tomou um pouco mais de liberdade e se sentou ao lado dele.

— Qualquer coisa! — o loiro sorriu.

— Teve o dia do casamento...

.

Apesar de ser uma cerimônia simples, tudo estava decorado com flores brancas e vários outros detalhes delicados que traziam uma atmosfera primaveril ao jardim, apesar de ser outono.

Haviam vários convidados esperando ansiosamente pela entrada da noiva, incluindo o próprio noivo: Gabriel Agreste. Falar que ele estava em pânico seria pouco, já que Emilie havia desaparecido misteriosamente há mais de vinte minutos junto com uma das madrinhas.

As duas não fugiram e tão pouco pensaram em algo do gênero. Ambas estavam trancadas no banheiro feminino tentando resolver um imprevisto de última hora.

— Ele deve achar que eu desisti! — Emilie disse em tom choroso, se controlando para não deixar as lagrimas borrarem a maquiagem.

— Claro que não, toda noiva atrasa! — Nathalie tentou confortar a amiga, terminando de grampear as últimas partes de uma das saias do vestido que tinha soltado — Mas na próxima vez que for passar por uma porta, tenha certeza absoluta de que a saia não ficou para trás...

— Eu não fiz por mal! — a loira se encolheu — Não sei o que faria sem você...

— E eu não sei o que faria sem o meu grampeador... — ela sorriu, terminando o último ponto — Prontinho!

— Finalmente! — Emilie comemorou, se olhando no espelho e dando uma voltinha — Agora vá lá e avise para começarem, por favor.

— Só se você prometer não rasgar outra parte do vestido até a lua de mel — a morena cruzou os braços, sorrindo de canto.

— Nathalie! — uma loira muito vermelha a repreendeu — Vai logo, antes que ele desista de mim...

— Ele nunca vai desistir de você!

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Nathalie parou de contar a história. Ela não conseguia continuar depois daquela frase... Gabriel realmente nunca desistiu dela, nem nunca iria desistir. Entretanto, levando as circunstancias em questão...

— Nathalie? — a voz de Adrien a despertou dos pensamentos.

— Sim?

— Por que você levou um grampeador para um casamento? — era nítido que ele estava tentando não rir com aquilo.

— Porque eu fui a organizadora de tudo, imaginei que poderia ser útil para grampear alguma parte da decoração... ou o vestido da noiva — ela respondeu em um tom divertido.

— Você é sempre eficiente — o rapaz sorriu, procurando alguma outra foto que pudesse ter uma história divertida, encontrando uma em que ele dormia no colo do pai enquanto Emilie os cobria com uma manta — E essa foto?

— Essa só é adorável...

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Era um inverno frio e, como suscetível em invernos, haviam pessoas resfriadas.

Por mais que a senhora Agreste encarasse a saúde do filho como principal prioridade, ela não conseguiu evitar um resfriado. Como forma de reparar, ela passou tanto tempo cuidando do pequeno que acabou sofrendo do mesmo mal, sobrando para Gabriel cuidar dos dois.

Ele passou a noite em claro, revezando entre o trabalho acumulado e os enfermos da casa, checando a temperatura e se estavam bem o tempo todo e, só então, dedicando alguns minutos ao trabalho.

Quando o dia começou a clarear, ele já não aguentava mais subir escadas ou ir de um quarto para o outro. Aproveitou que Emilie dormia parecendo estar melhor, ele dedicou os cuidados ao filho. Levou o pequenino até o ateliê, ficando com ele no colo enquanto terminava os últimos esboços que precisava.

Nathalie chegou não muito depois disso e ficou curiosa ao ver a Agreste descendo as escadas com um cobertor nos braços. Ela não disse uma palavra sequer, apenas acompanhou a loira até o ateliê e conseguiu entender o que estava acontecendo.

Emilie colocou o cobertor sobre os dois, se aconchegando ao lado do marido logo em seguida.

Nathalie, sem conseguir resistir todo o carinho contido naquela imagem, registrou uma foto discretamente, em uma promessa silenciosa de compartilha-la com Emilie mais tarde. Depois, saiu como se nada tivesse acontecido e conseguiu remanejar a agenda de ambos para que tirassem um dia de descanso.

.

Nathalie terminou de contar com o rosto escondido nas mãos. Se lembrar daquelas coisas doía no mais profundo dela... doía porque era ela contando ao invés de Emilie, era ela quem estava relembrando um passado não tão distante dos Agreste onde eram uma família feliz, um passado que Gabriel estava lutando constantemente para trazer de volta, apesar do jeito errado.

— Não disseram uma palavra?

— Não foi preciso... — ela suspirou com um sorriso bobo nos lábios, tomando coragem para finalmente erguer a cabeça — Às vezes, quando se convive com uma pessoa por muito tempo, não é preciso palavra alguma para entender o que ela quer.

— Acho que sei como é... — o rapaz sorriu, lembrando-se de sua parceira e grande paixão: LadyBug.

— Tenho certeza que sim — a mulher sorriu, se levantando — Eu preciso fazer algumas coisas agora.

Sem ser preciso mais palavras, Adrien colocou as fotos cuidadosamente na caixa e estendeu para Nathalie, se surpreendendo quando ela empurrou levemente na direção dele. Ela deu um sorriso triste, tentando não olhar diretamente para o rapaz.

— Pode ficar com as fotos, não tem motivos para eu guarda-las — Nathalie suspirou, ficando de costas e apertando mãos de uma forma nervosa — Eu preciso ir agora, Adrien.

— Mas... e a redação? — o rapaz perguntou um tanto esperançoso por mais histórias.

— Adrien... — a assistente respirou fundo, pareceu pronta para falar mais alguma coisa e, logo em seguida, desistiu e deixou os braços relaxarem ao lado do corpo — Eu realmente preciso ir... — foi tudo o que ela disse como justificativa, antes de sair do quarto em passos apressados.

Uma vez sozinhos no quarto, Plagg finalmente saiu de seu esconderijo e voltou a flutuar pelo quarto. O kwami parecia estar pensando em algo interessante o suficiente para que ele não pedisse mais queijo, até que finalmente falou algo:

— Ela anda armada com um grampeador — a afirmativa fez Adrien dar algumas risadas, até que ele continuou — Quer uma prova maior de que ela é um robô?

— Quero... — o loiro desafiou enquanto encarava o gatinho flutuante por alguns segundos, depois voltou a atenção totalmente para a caixa de fotos. Não demorou até que ele desse um sorriso acompanhado de olhos brilhantes e começasse a comemorar pelo quarto — Eu já sei sobre o que vai ser minha redação! Como eu não pensei nisso antes!? Era óbvio demais! Eu vou escrever as vinte linhas com certeza! Não... Trinta linhas! Quarenta!

— Você vai é fazer trabalho extra atoa... — o kwami murmurou, desistindo de pensar em mais alguma prova e indo para o esconderijo de queijos — E sobre o que vai ser? Algum fotógrafo?

— Não! — o loiro caminhou até a mesa de estudos junto a caixa de fotos.

— Essa tal de Audrey?

— Não...

— ChatNoir?

— Já disse que não, Plagg! — ele se jogou na cadeira, começando a digitar rapidamente o esboço da redação.

O gatinho negro pousou na cabeça dele, observando a tela com uma cara de desgosto quando leu o nome no centro da página. Ficaria uma redação muito mais interessante se o tema fosse o inventor do Camembert, sem dúvidas.

.

.

.

Gabriel ainda estava encarando para Emilie, imortalizada em uma pintura que tentava trazer apenas uma parte do brilho que ela tinha. Ele ficou lá, parado, desde que voltou de mais um fracasso como HawkMoth.

Já fazia quanto tempo? Horas, talvez? Não importava, ele precisava ficar ali.

Não tinha coragem para se desculpar pessoalmente com ela, não estava pronto para encarar a esposa em um sono profundo e contar que quebrou a promessa no mesmo dia e ainda falhou. Entretanto, a dor de falhar não era maior do que a dor da falta dela.

Seus pensamentos profundos de culpa foram interrompidos pelo som da porta sendo aberta.

Bastou ele encarar sobre o ombro para ver Nathalie, se acomodando em sua cadeira e começando a digitar algo. Ela ainda estava triste, mas parecia igualmente determinada.

— Nathalie? — ele murmurou, virando-se completamente para ela.

— Ocupada — respondeu, sem parar sua digitação nem um momento.

— Posso saber com o que? — ele arqueou uma das sobrancelhas — Algo relacionado ao trabalho?

— De certa forma, sim — finalmente, a mulher deixou a tela do computador de lado e encarou o superior — Prometi a senhora Agreste que ajudaria você, não importa como.

As feições dele tomaram uma conotação de surpresa, para em seguida ele franzir o senhor e se aproximar dela. Ele parecia não estar acreditando naquelas palavras, principalmente que Nathalie fosse ajuda-lo como vilão.

— Como pretende fazer isso? — Gabriel perguntou quando já estava invadindo o espaço de trabalho dela, tentando observar o que ela tanto digitava.

— Farei um plano do mal, senhor — ela respondeu, continuando a digitar linhas e mais linhas do que parecia ser algum código — Vou precisar de alguns dias até que tudo esteja pronto, mas HawkMoth finalmente vai vencer os heróis de Paris e trazer a senhora Agreste de volta.

— Sabe que não posso escolher, exatamente, quem eu vou akumatizar... — ele suspirou.

— Sou boa em controlar variáveis... — ela sorriu de canto discretamente, finalmente deixando o teclado de lado — Vamos trazer Emilie de volta.

— Sempre foi contra o meu método, o que fez você mudar assim? E o que está planejando?

— Não posso permitir que essa família continue se afundando... — Nathalie encarou o quadro dourado, pensando em todo o tempo que Emilie estava perdendo ao lado deles — Vai saber o que estou planejando no momento certo, eu só preciso que você confie em mim.

— Eu confio em você mais do que até mesmo em mim — ele olhou para o quadro também, em dúvida se realmente queria a assistente envolvida em tudo aquilo. Sabia que já estava sobrecarregando ela — mas...

— Eu só preciso que você confie em mim — a voz dela saiu determinada, mais determinada do que qualquer outra vez que ele se lembrasse.

— Se é o que quer... — ele suspirou, encarando os olhos azuis e tentando decifrar alguma coisa do que ela estava planejando — ... Eu confio — disse convicto, afinal, Nathalie era sinônimo de eficiência.

— Obrigada, senhor — ela deu um sorriso discreto, voltando a digitar.

Gabriel suspirou, deu alguns passos em volta da mesa e se apoiou na bancada, observando o quadro de Emilie novamente. Agora ele já não sentia mais tanto peso pela culpa, parte dele estava tomada de esperanças e vigor mais uma vez... e curiosidade.

— Não vai mesmo me contar o que está planejando?

— Não.

— Nem se eu te der um porta fita-adesiva?

— Nem.

— E que tal uma bela prancheta?

— Mais uma pergunta e eu uso o meu grampeador para manter você de boca fechada, senhor — ela ameaçou, sem parar de digitar seus códigos secretos nem um segundo sequer.

— Sendo assim, vou voltar ao trabalho... — por mais que tentasse, ele não conseguiu omitir a diversão na voz. Não duvidava que Nathalie realmente chegasse a tal extremo, mas não deixava de ser engraçado quando ela falava coisas daquele tipo de um jeito tão profissional.

— Ótima escolha.

.

.

.

Horas mais tarde, Nathalie encarou com satisfação a página que tinha acabado de criar. Era algo simples e sofisticado, perfeito para atrair vítimas do temível vilão parisiense.

Se ela teria que refazer seu banco de dados novamente, nada melhor do que adicionar relatos das próprias vítimas de akumatização. Afinal de contas, quem melhor do que elas mesmas para explicar o que desencadeou sentimentos tão fortes?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
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Caso queiram ler mais:
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