Um Conto de Natal escrita por Brenda Armstrong, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 3
Capítulo 3




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Afinal, Harold estava certo. Havia insistido com Lothmann, e até considerado enviar um Patrono a um colega líder de esquadrão dos aurores, mas não havia conseguido nada. Aquela festa e sua segurança eram prioridade do Ministério e isso não mudaria até que ela acabasse sem nenhum caos e de acordo com o planejado.

Quando se voltou para Helena e Levy, estavam ambos quietos. Ela o olhou nos olhos como se estivesse apenas esperando a atenção dele:

—Não podemos deixar o homem solto por aí com esses objetos. Temos que fazer algo.

Tanto Harold quanto Levy pareciam querer discordar, mas Helena estava correta. O colar poderia não apenas prejudicar bruxos que estivessem por perto quando usado, mas também ser usado como uma armadilha.

—Mesmo se você estiver correta, Helena… não sei por onde começaríamos. - comentou Harold. - Eles… eles podem ser qualquer bruxo.

—Eu tenho uma coisa do ladrão. Um bilhete que caiu. - e estendeu sua mão pequena, o papel amassado equilibrado na palma.

Levy foi quem abriu e leu. Era apenas um endereço, que nenhum dos três soube apontar com clareza onde ficava. Parecia perto de um grande bosque, muito afastado de Londres ou qualquer outra cidade.

—Alguém pode estar em perigo. Temos que ir. - afirmou Helena, categoricamente.

Harold mordeu o lábio inferior.

—Não sei como faremos isso.

—Precisaremos nos preparar. - decidiu Levy. - Nos encontramos aqui em três horas.

Helena e Harold usaram o Flu da loja para chegar a suas casas, enquanto Levy foi ao fundo da loja, afundando-se entre papéis e mais papéis.

 

X-X

 

Quando os três se reencontraram na hora combinada, todos com mochilas de suprimentos e poções restauradoras, preparados para uma missão que nenhum deles nunca antes havia feito.

—Chequei os dados no ministério antes de vir. Nenhuma outra aparatação ilegal, o que quer dizer que nosso fugitivo só pode ter ido para uma propriedade privada. Agora não sei como descobriremos...

—Esse colar… tem uma assinatura mágica rastreável. - foi Levy quem o interrompeu. - Preparei o feitiço, mas não conseguirei realizá-lo sozinho. Se bem me lembro, passou em feitiços com um Ótimo, a melhor da classe, não foi, Helena?

Ela deu um pequeno sorriso encabulado.

—Vamos fazer.

Harold coçou a cabeça. Ainda parecia nervoso, e com certeza não poderia se arrepender mais de ter desejado que eventos não tediosos se seguissem na sua vida. Isso não era tedioso, mas… fato que estavam rastreando um comensal da morte.

Após cerca de vinte minutos, haviam conseguido um ponto. Era em uma das mais famosas alamedas da Londres Bruxa, local conhecido pelas mansões de famílias antigas, muitas das quais haviam se tornado puristas e apoiado o lado errado daquela guerra.

Levy trouxe do fundo da loja um mapa detalhado, e conseguiram identificar ali a mansão MacNair.

—O que isso pode ter a ver com o endereço do bilhete, não? - questionou Harold.

—Teremos que ver por nós mesmos. Precisamos aparatar para lá. - Levy parecia consideravelmente desolado, um nervoso na boca do estômago que não desaparecia de nenhuma forma.

—Não podemos entrar. - afirmou Helena. - Com certeza haverão alarmes.

Harold suspirou:

—Deixo dito que sempre me pareceu uma ideia péssima. Mas há uma forma.

—Explique logo, então! - pediu Levy.

—Estou trabalhando há anos com alarmes anti-aparatação. Posso… posso saber como silenciá-los temporariamente até que consigamos entrar.

—Por que não falou antes?

Harold estava lívido. Vincos de preocupação em sua testa, mas decidido de que não era por acaso que tinha sido colocado naquela situação. Há cerca de um mês, havia trabalhado em feitiços que balanceavam barreiras de propriedades privadas, inclusive uma propriedade naquela mesma rua. Seu trabalho havia permitido que os aurores entrassem e capturassem dois comensais da morte na residência Granville.

Apesar de cada família ter seus próprios métodos de proteger a propriedade, Harold sabia que as similaridades seriam suficientes para que ele conseguisse conter os alarmes. Apenas por tempo suficiente para que entrassem.

—Mas para isso, vou ter que ficar do lado de fora da casa. Preciso ver os alarmes ou não conseguirei segurá-los com magia.

Levy se levantou, andando em círculos pela loja.

—Ótimo, ótimo. Não poderia ser melhor. O que raios nós vamos fazer quando entrarmos, Helena? E se ele estiver lá, armado, ou usando o colar? É verdade que o colar dá um impulso, pelo menos por um breve tempo. Para não falar no anel…

 

X-X

 

As inúmeras críticas de Levy haviam sido todas pertinentes, quanto a isso não havia discordância. Mas estavam sem opções. Foi assim que Harold acabou na famosa alameda, pela segunda vez na sua vida pisando naquele solo mágico que abrigava famílias poderosas há mais de quinhentos anos. Avistou a residência MacNair, muito bonita, de longe. Era no estilo gótico, com arcos ogivais em todas as muitas janelas, e um jardim incomparável à frente, com diversas plantas exóticas, mágicas e não mágicas.

Checando duas vezes para garantir que ninguém estava na rua - o que era altamente improvável naquele horário -, se aproximou dos portões e ergueu a varinha, enviando o sinal combinado para Helena e Levy antes de iniciar a execução dos feitiços de contenção que havia ajudado a elaborar, mas nunca usado.

Helena e Levy conseguiram vê-lo quando aparataram no jardim, bem perto à porta de entrada da residência. Haviam contado que passar pela porta seria outro pequeno desafio, que estaria trancada com algum feitiço chique e precisariam desvendá-lo ou anulá-lo. Mas quem quer que havia passado por ali tinha tanta pressa que deixara a porta aberta.

Em completo silêncio, entraram na sala, mobiliada com sofás de couro escuro e uma mesa de centro, a lareira apagada. Sobre a mesinha, uma garrafa pela metade do famoso Blackburn.

Helena ouviu passos no andar de cima e segurou Harold pelo braço. Naquele momento, foi difícil esquecer que aquele era o homem que quase a havia matado há poucas horas na Travessa do Tranco. Mas expulsou os pensamentos. Era verdade que amava sua profissão de medibruxa e era melhor nela do que em qualquer outra coisa, mas naquele momento, era importante que conseguisse se focar naquilo. Mais do que ninguém reconhecia o trabalho dos aurores, e sabia que se eles três não conseguissem conter aquilo, pessoas dariam entrada em hospitais machucadas em seu núcleo mágico pelo poder daquele colar. As magias de perturbação dos núcleos mágicos eram do pior tipo, causando danos muitas vezes irreversíveis.

Segurou apertado o braço de Levy, apontando para cima, de onde vinham os passos.

Levy havia enfeitiçado ambos com um feitiço de desilusão, para que fosse mais difícil de serem vistos e tivessem chances melhores. Conhecia bem o tipo de pessoa sem escrúpulos com quem estavam lidando. Seu trabalho exigia discrição, mas os MacNair haviam sido clientes assíduos. Aquela sacola estava embalada toda a semana, a ser entregue a um mensageiro de Lucius Malfoy que deveria buscá-la no dia seguinte, véspera de Natal. Levy se questionou se teria sido através dos Malfoy que os MacNair descobriram sobre o item e conseguiram invadir a loja. Se é que haviam sido eles.

Subiram silenciosamente os degraus da escada, mas mal haviam terminado e podiam ouvir duas vozes vindo de um escritório cujas portas estavam fechadas. Levy segurou Helena, indicando com a cabeça que deveriam apenas ouvir e aguardar.

—Você tem certeza que quer se colocar nessa posição, Cormac? O Lorde… pode muito bem estar mesmo morto, você sabe.

—Esse contato que descobri pode ter informações. Bellatrix… Bellatrix iria até ele após os Longbottom, se não houvesse sido presa.

—Bellatrix sempre foi uma fanática sem limites, você sabe.

—Bellatrix sempre foi fiel! O que, diga-se de passagem, você não parece nesse momento.

—Discordo do seu plano de ação. Se colocará em uma posição de exposição.

—Não vejo como. Os aurores estão todos terminantemente proibidos de deixar a festa do Ministério, e os poucos que não estão lá estão em missões muito longe de onde pretendo ir.

Passos. Alguém parecia andar dentro da sala.

Levy e Helena terminaram de subir os degraus, entrando em uma sala bem à frente do escritório onde os irmãos (identificados por Levy) conversavam, deixando a porta aberta porém ficando atrás da parede.

—Já noto que não conseguirei mudar sua opinião. - declarou um deles.

—Definitivamente não, irmão. Pode apenas me apoiar.

—Não farei isso. É o momento de nos escondermos, Cormac. De justificarmos atos perante o Ministério e sobrevivermos. Acha que nossa família durou 15 gerações sendo imprudente?

—Você está sendo covarde, Walden! Covarde!

—Estou sendo sensato e você sabe disso.

—Covarde! - ouviram o estampido de uma bota no chão e a porta do escritório se abriu.

 

X-X

 

—Com licença senhor, o que está fazendo?

A voz fez Harold pular de um susto. Era uma jovem, aparentava não mais que vinte anos e usava apenas um vestido longo, apesar do frio terrível. Ele se certificou de que o feitiço se mantinha de pé antes de se virar para ela:

—Eu… estou esperando por um amigo.

—Não é o que parece, senhor. - a voz era tão inocente, havia certamente algo estranho ali, mas Harold não conseguia identificar o quê exatamente.

—Sou… sou do Ministério. - tirou seu distintivo do bolso.

—Certamente que o Ministério não tem permissão para agir em propriedade privada. - falou, como se as palavras não fossem suas, de tão mecânicas que soaram. Sua voz tinha um tom de máquina, e parecia que raspava contra sua garganta.

—Estou aqui na rua, um espaço público, como pode notar.

—É, mas seus amigos não.

Harold mordeu o lábio inferior tão forte que quase sangrou.

—Senhor, espero que entenda que não posso deixar que isso continue.

—Você não precisa… pode simplesmente dar meia volta e ir embora.

—Infelizmente não, senhor, não posso. - a jovem puxou a varinha de um bolso próprio no vestido e apontou contra ele, disparando um estupefaça seguido de vários outros feitiços. Harold, em desespero, soltou o feitiço que mantinha o sistema de alarme da casa intacto e começou a duelar com a jovem, rebatendo seus feitiços.

—Por que está fazendo isso? Pare! Pare!

 

X-X

 

Assim que a porta fora aberta, o sistema de alarme da Casa disparou. Cormac desceu as escadas tão rápido que só não viu Helena e Levy, ambos completamente em choque, porque nunca imaginou que os invasores já teriam entrado na casa. Walden correu até a janela do escritório, que dava vista para o jardim, e viu dois bruxos duelando frente aos portões da mansão. Desceu correndo as escadas atrás do irmão.

Assim que o som das botas nos degraus cessou, indicando que ambos estavam já no andar debaixo, Helena saiu de seu esconderijo improvisado e entrou no escritório.

—Tem que estar por aqui. - sussurrou. - Se apenas conseguíssemos recuperar a sacola… - começou a mexer na pilha de livros sobre a mesa.

Levy havia ido até o outro lado da mesa de mogno, checando as estantes e gavetas, quando avistou o duelo que se dava lá fora.

—Helena, temos um problema! Temos um problema! - a puxou.

Além do duelo que já se dava, o pobre Harold esquivando cada um dos feitiços, agora aquele que devia ser Cormac corria até eles pelo jardim, e estava tão perto, tão perto, que Harold podia ser atingido por um feitiço seu a qualquer momento.

—Creio que tenham dois. - a voz veio da porta do escritório, onde Walden MacNair, reconhecido por Levy, apontava a varinha para Helena, seu feitiço de desilusão desfeito.

—Eu peguei, eu peguei, vamos Levy vamos! - ela gritou.

Levy, que não havia sido identificado ainda, acertou um feitiço que petrificou Walden. Em sua própria residência, a capacidade de resistir à magia dos donos era muito mais forte, e não levou um minuto para que ele conseguisse já mover um pouco a cabeça e as pontas dos dedos.

Helena estava com a sacola da Borgin e Burkes em mãos, e Levy segurou-a pelo braço, prontos para desaparatar, quando Cormac MacNair apareceu na porta do escritório.

—Não tão cedo. - comentou, um sorriso sádico em seu rosto. Tinha a varinha apontada para Helena e sussurrou “crucio” com um prazer cruel.

Ao mesmo tempo que Levy se jogou sobre ela, desaparatando os dois para fora da mansão um segundo antes que fosse de fato atingida, Cormac enfeitiçou e recuperou a sacola.

Fizeram apenas um brevíssima parada nos portões, para que Levy pudesse enganchar o braço de Harold e tirá-lo dali o mais rápido possível.


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