Oito anos, oito dicas e uma caça aos presentes escrita por Carol McGarrett


Capítulo 3
Parte Final


Notas iniciais do capítulo

E aqui termina essa minha loucura de final de ano!!
Espero que tenham gostado!!



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Das duas uma, ou não vai ter presente nesse ano, ou dessa vez meu pai se superou para escondê-los, porque não achei nenhum rastro de onde possa estar. E já meu aniversário. E é domingo e domingo significa poder ficar na cama até quando quero!

E como parece que nem meus pais nem meu irmão lembraram que dia é hoje, vou passar o dia todo aqui....

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Isso foi tão injusto! A pobrezinha estava se mordendo de curiosidade sexta-feira. Não gostei de fazer isso!! – Garcia reclamava enquanto entrava em nossa casa.

— Ora, PG, ela mereceu! No ano passado ela descobriu onde estavam os presentes. No Natal passado nos flagrou colocando os presentes debaixo da árvore e não acreditou na desculpa que demos, sem contar na Páscoa.

— Ha! A Páscoa foi divertida! Ela nem ligou se o coelho existe ou não... simplesmente soltou um sonoro, desde quando coelhos botam ovos? Ainda mais ovos de chocolate. – Derek interveio. – E tinha aquele olhar revoltado igual ao da Emily quando um unsub tenta bancar o espertinho com ela, sem contar a mão na cintura. – ele ria com gosto ao se lembrar da cena, literalmente que minha filha tinha feito na caçada aos ovos do FBI.

— E eu aposto que isso foi ideia sua, não foi Derek?

— Ei calma aí, mamãe coruja e vingativa. Não vai jogando a culpa em mim não, sua filha que não tem paciência para essas coisas! Não te lembra ninguém não?

— Já chega, Morgan!

— Falando em descobrir, como o Spencer vai fazer, ele vai trazer a namorada para finalmente a conhecermos ou vai esperar a Elena descobrir como ela é? – JJ estava ansiosa duplamente, já que tinha a remota possibilidade de conhecermos a futura Sra. Spencer Reid e pelo fato de que ela queria ver a reação da Elena.

— Afinal, onde estão os presentes, Emily? Eu não fiquei sabendo dessa vez. – Penelope disse pensativa.

— Aaron disse que ele tinha escondido em um lugar que ela nunca vai pensar em procurar. Mas não me contou onde era.

— Só quero ver a cara dela! – Morgan já estava pronto para encher a paciência da dorminhoca.

— Para ver a cara dela, ela tem que acordar e descer para almoçar, uma vez que ela já perdeu o café da manhã há muito tempo... Quem quer ter o privilégio?

Ninguém respondeu. Assim como ela era uma pestinha para descobrir as coisas, ela tinha um outro defeito. Levantava com um mau humor quando alguém ia acordá-la...

Mau humor por mau humor. Cara feia por cara feia, mesmo que temporária, a melhor pessoa para a tarefa era:

— Aaron, vai lá tirar a sua filha da cama. Hoje ela passou de todos os limites! Olha o hora!

— E depois dizem que ela puxou o lado mandão de mim.  – Ele me respondeu assim, enquanto subia as escadas.

— Vai deixar essa assim, Emily? – Rossi me provocou.

— Hoje passa. Por que ele está indo acordar a versão miniatura da cara feia dele, nesse exato momento.

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Não foi com a cara muito boa que ela desceu as escadas, mesmo depois de quase meia hora que eu a havia acordado. Mas o humor pareceu melhorar quando ela viu a equipe toda reunida na sala de estar.

Como combinado, ninguém daria os parabéns até que ela descobrisse onde os presentes estavam, mas para isso, ela teria que seguir o mapa de charadas que fizemos para ela.

E a primeira dica estava bem na porta da geladeira.

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— Bom dia, bela adormecida – mamãe me saldou – ou melhor, boa tarde, preguiça.

— Boa tarde, mãe. Pessoal... passei da conta para o domingo, né?

— Passou, agora vá tomar um copo de suco para que possamos pensar em almoçar, tudo bem?

— Sim....

Suco... isso foi estranho... mamãe nunca me deixa tomar ou comer alguma coisa tão perto assim da hora do almoço. Mas já que ela estava mandando...

Foi quando eu notei na porta da geladeira, parecia uma charada, começava com onde está, onde está.

Só podia ser brincadeira, achei que todo mundo tinha esquecido! Mas não, eles vão comemorar o meu aniversário do jeito que eles trabalham, me fazendo seguir pistas!!!!

Corri para a sala e olhei para cada um.

— Isso é de verdade? – disse mostrando o papel.

— Você achou que nesse ano, você descobriria o presente antes da hora? Se achou, estava muito enganada. – papai me disse.

— Então tá. Tenho que resolver isso aqui. Só uma pergunta...

— Sem dicas. – Mamãe interveio.

— Só quero saber quantas são!

— Oito.

— Oito? Uma para cada um de vocês ou uma para aniversário que já fiz?

— Qual vocês escolhe?

— As duas!! – Disse gritando, pois matei a primeira charada. Era a letra de Jack, e, tendo em vista que ele passou um tempão no quarto dele, aposto que a segunda dica está lá.

E estava. Como marcador de página de um livro de física. O livro que ele não desgrudou desde sexta-feira.

Próxima dica, letra do tio Spenc. Dizia algo sobre fazer o impossível... Eu lembro dessa citação. Era do livro de Sherlock Holmes, O Signo dos Quatro: “Quando você elimina o impossível, o que sobrar, por mais improvável que possa ser, deve ser a verdade.”  

Sir Arthur Conan Doyle... tanto mamãe quanto papai leem... então deve ser um dos livros que estão no quarto deles...

Certo. Duas já foram, faltam seis. E a próxima, era com a letra da Tia Penelope. Algo sobre sempre ver o lado belo da vida. Ver o belo, assim dizia:

“A beleza é a única coisa preciosa na vida. É difícil encontrá-la - mas quem consegue descobre tudo.” Charles Chaplin

 

Mas o que seria? Parei e olhava pela janela. O belo, e levando em conta que tia Pen adora cores e flores... o jardim!!

Corri escada abaixo quase batendo no Jack.

— Mais uma, Elena?

— Sim! A terceira!

— Onde?

— Jardim! E só para constar, a sua dica foi fácil! Lei de Newton?! Dois corpos nunca ocupam o mesmo lugar no espaço? Ora irmãozão, achei que seria mais difícil!! – Provoequei.

— Espere no próximo ano!!! – Ouvi ele gritar!

Corri porta afora só para me ver perdida. Nosso jardim não era tão grande, mas não tinha nada à vista... a menos que...

A árvore. Sim! Papai vive falando que não é para subir nela!

E olha ela aqui! Eita!  Essa foi dolorida. Veio com tombo e tudo! Mas vamos lá!

Letra do Tio David... acho que dele nem preciso ler...

“Cozinhar é simultaneamente uma brincadeira de crianças e um prazer de adultos. Cozinhas com zelo é um ato de amor.” Craig Claiborne

A dica só poderia estar em foi lugares: ou nas panelas ou no pote onde ficava o macarrão. E bingo! Escondida embaixo da panela própria para cozinhar o macarrão, lá estava.

E a dica era a letra da Tia JJ. Vamos lá! Era sobre amizade:

 “Amigos são a família que nos permitiram escolher.” – Jess C. Scott.

Amizade, família... difícil esse! Mas não posso perguntar nada. Que local da casa temos a família e os amigos juntos?

Mas é claro! Onde que todos estavam quando acordei? Na sala de estar! Mas onde na sala. Entrei igual a uma tempestade e olhei para eles.

Quantos? – Tio D perguntou.

— Achei cinco.

— E o que você está fazendo aqui, se ainda faltam três? – tio David continuou.

— A quinta dica me trouxe para cá... Mas aqui tem tanta coisa...

— De quem era? – Tio Spenc.

— Da tia JJ. Mas duvido que foram vocês quem esconderam... o que sobra. Olhei da mamãe para o papai e voltei. Papai nem piscou, mas mamãe, ela olhou para algum lugar na estante de livros... mas nessa estante só tem livros para o Jack e para mim...

Amizade... O Pequeno Príncipe.

— Até que foi rápida!! – Parabéns!

— Não acabou ainda, e olha só tio D. Esse garrancho aqui é seu!

Ele me olhou torto.  Eu só sorri e peguei o papel.

Ter sobrinhos é dádivas recebidas por Deus que nos permitem retornar a infância e partilhar de momentos únicos e intensos. Ter sobrinhos é receber a oportunidade de amar sem limites um novo ser que acabara de nascer e se permitir todas as loucuras e excessos sem culpa, por ter a certeza de só por hoje nada fará mal. É fazer vista grossa, permitir as brincadeiras apenas para ter o prazer de vê-los sorrir.” (Susilene Thomson).

Sobrinhos, brincadeiras, loucuras e excessos sem culpa. Tio D, sempre quando vem, faz o estrago aqui em casa. Não tem um único lugar onde a bagunça é moderada. Como aquela vez que ele cismou que iria nos ensinar a jogar futebol... a bola foi parar dentro do escritório do papai... Minha próxima parada!

Mas onde aqui.... tem tanta coisa. Tanto papel... Mas só um lugar onde eu gosto de ficar... olhei para o puff que papai colocou em seu escritório só porque gostava de ficar sentada perto da janela lendo enquanto ele trabalha, faço a mesma coisa com mamãe. Então só pode estar aqui...

  E colado debaixo da almofada preta está a penúltima dica. A letra é da mamãe, e nela está escrito o seguinte:

Listen baby, ain't no mountain high/ Ain't no valley low, ain't no river wide enough baby/ If you need me call me no matter where you are/
No matter how far don't worry baby/Just call my name I'll be there in a hurry/You don't have to worry

Eu conheço essa letra! É da música que a mamãe cantava para mim, quando eu não conseguia dormir ou tinha um pesadelo e que agora ela está me ensinando a tocar no piano! Eu amo essa música! Ain't no mountain high enough do Marvin Gaye & Tammy Terrel!! E só tinha um lugar onde a última dica, a dica de papai poderia estar! No meio das partituras do piano!!

Passei correndo pela sala direto para o piano, quase derrubando o banco quando pulei em cima para procurar a partitura que queria. Por que quando nós queremos algo, é sempre o último? Que coisa! Passei por todas as folhas e lá estava, presa na última, na partitura de Ain’t  no mountain high enough, a dica com a letra de papai.

Li, reli e descobri de onde vinha, do meu livro preferido! E eu chorei tanto quando acabei esse livro, não sei se foi porque foi o primeiro livro que terminei quando já tinha aprendido a ler, ou porque era o meu preferido, ou só porque o final é realmente triste. Mas As Crônicas de Nárnia, vale cada página. E no pedaço de papel estava escrito:

E à medida que Ele falava, já não lhes parecia mais um leão. E as coisas que começaram a acontecer a partir daquele momento eram tão lindas e grandiosas que não consigo descrevê-las. Para nós, este é o fim de todas as histórias, e podemos dizer, com absoluta certeza, que todos viveram felizes para sempre. Para eles, porém, este foi apenas o começo da verdadeira história. Toda a vida deles nesse mundo e todas as suas aventuras em Nárnia haviam sido apenas a capa e a primeira página do livro. Agora, finalmente, estavam começando o Capítulo Um da Grande Historia que ninguém na terra jamais leu: a história que continua eternamente e na qual cada capítulo é muito melhor do que o anterior.”

Eu me lembro do papai lendo este último parágrafo comigo... eu chorei tanto que a última página do meu livro tá toda manchada de lágrimas! Lembro que foi um dos poucos fins de semana que nada aconteceu, que ele e mamãe ficaram o tempo todo em casa. Foi um bom final de semana...

Mas o que ele queria dizer com isso. Sei que é meu livro. Que essa é a oitava dica. Sei que meu livro estava no meu quarto e foi lá que eu terminei de lê-lo. Mas o meu destino final não poderia ser lá, poderia? Não... eu... eu não olhei dentro do meu quarto! Como no último capítulo do livro, Nárnia é um país dentro de um país, basta olhar com atenção! Eu olhei em todos os lugares onde era possível que eles escondessem os presentes, só não olhei para onde eu sempre ficava! Quer esconder algo de alguém, coloque bem à vista!

Sai do cômodo onde ficava o piano e corri até a sala. Quando parei, olhei para cada membro da minha família e disse:

— Eu não acredito que vocês fizeram isso! Não acredito!  - Disse sorrindo e corri escada acima, pegando o vislumbre do sorriso de cada um antes de saltar dois degraus de cada vez.

Pude ouvir os passos de todos atrás de mim, e tenho certeza que tia Penelope tinha o celular pronto para gravar a minha reação. Mas quer saber a verdade. O presente ou os presentes, já pouco importavam... Eu estava tendo o melhor aniversário da minha vida! Por que em cada uma daquelas dicas, em cada um dos pedacinhos de papel que eu agora carregava, tinha um pouquinho de cada um dos membros da minha família, e com eles uma memória da minha vida, que eu queria que nunca mais se apagasse. Queria manter para sempre, assim como o tio Spenc consegue guardar tudo!

Parei na porta do meu quarto, que estava fechada, um claro indicativo que mais alguém entrou ali, pois tenho certeza que a tinha deixado aberta quando sai assim que acordei.

Respirei fundo e, quando tomei coragem de virar a maçaneta, vi que a verdadeira festa estava ali!

Tinha balões, presentes, mas faltava algo.

Corri para cada um deles, dei um abraço de agradecimento, não pela surpresa em si, mas porque eles mereciam e eu tinha que dizer para cada um que os amava!

Eu não podia pegar todos pelas mãos ao mesmo tempo, mas se eu puxasse um, todos viriam, e foi o que eu fiz.

Agora sim, balões, presentes e toda a minha família. Melhor aniversário de todos. Que os próximos sejam assim também!


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Notas finais do capítulo

As citações estão todas em itálico por, obviamente, não me pertencerem.
Recomendo a leitura do três livros mencionados, O Pequeno Príncipe, O Signo dos Quatro e As Crônicas de Nárnia!
Para quem quiser escutar a música que a Emily canta para a Elena, segue o link:
https://www.youtube.com/watch?v=-C_3eYj-pOM
Muito obrigada por lerem!!



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