The first snowflake escrita por Luna Lovegood


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Hello!

Eu não poderia deixar um Natal passar em branco, não quando essa é a minha data comemorativa favorita. Então, entrando no clima de celebração e gratidão próprio dessa época, e para pelo menos fechar esse ano de 2018, marcado por tanta coisa ruim, com algo bom, eu trouxe este presentinho para vocês.

“The First Snowflake” nasceu da ideia de pegar algo corriqueiro na vida de muitas famílias e transformar em uma história sobre o amor, que não importa quanto o tempo passe, o quanto as pessoas mudam, o amor é sempre capaz de unir as pessoas, isso e claro um pouquinho da magia do natal! Como sempre, é uma história simples, mas feita de coração, espero que apreciem.

Eu quero dar de presente para 5 pessoas... Luna, como assim tanta gente? Bem, eu sou uma escritora só, então vocês vão ter que dividir esse presente ;) Laura, Mirelequeen, Karol e Raykel, muito obrigada por terem recomendado “Chasing Cars”, todo o carinho, elogios, palavras de incentivo e surto de vocês significou o mundo para mim! E claro, a Dwda, que sempre beta quase tudo o que escrevo, e merece um presentinho de natal por tudo o que fez por mim (principalmente me aturar!).
No mais, desejo um feliz e abençoado natal a todos vocês!

Beijos no coração ♥



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It was the first

Snowflake to fall

Before the storm

No one noticed

It as it fell

All by itself

It wasn't long before it

Began to melt

 

It felt special

All on its own

Out in the cold

But when all of

The other snowflakes

Began to fall

The little snowflake just became

Lost in the storm

And suddenly it didn't feel

Special at all

(The First Snowflake - The Boy Least Likely)

Felicity Smoak

Os primeiros flocos de neve caíram naquela tarde.

Eu colocava os biscoitos recém assados na cornija acima da lareira para que esfriassem um pouco, quando os vi através da janela. Flutuando sem destino ao serem levados pela forte ventania daquele inverno. Inconscientes da sua real importância e o quanto sua simples chegada mudaria tudo.

Era curioso que nenhum dos canais de tempo conseguiu prever isto. A onda de frio já era de se esperar, a temperatura havia despencado nos últimos dias. Mas, neve? E justo na véspera de natal?

Era quase irreal.

Eu sei que não parecia importante. Neve no inverno? A maioria das pessoas que mora mais ao norte dos Estados Unidos já está acostumada. Em todo lugar nevava. Exceto aqui. Eu ainda me recordava da última vez que nevou em um natal em Star City. Há seis longos anos e então nunca mais um floco de neve ousou dançar por aqui... Não controlei o sorriso nostálgico acompanhado de uma leve ardência no nariz, algo que sempre antecedia a minha vontade de chorar, enquanto as lembranças da última vez em que nevou se apoderaram de mim. Foi a única vez em que beijei alguém sob o visco, que senti meu coração ficar tão quente que faria qualquer floco de neve derreter apenas com meu sorriso feliz.

Foi também a primeira vez em que chorei em um natal.

E desde então, eu chorei em todos os outros.

— Mamãe, mamãe! – o chamado teve o dom de levar a lembrança agridoce embora por um breve momento, e passei as mãos rapidamente em minhas bochechas úmidas, apagando qualquer evidência daquela memória. Ela me assolaria mais tarde, quando eu estivesse sozinha na sala com uma xícara de chocolate quente na mão e pensamentos perdidos enquanto olhava para o nada. - Aquilo é neve? – Uma Maya muito animada descia as escadas correndo em euforia, desviando com destreza das caixas ainda empilhadas no meio do caminho. Passou por mim como um furacão, subindo e ficando de pé no sofá e colando o rosto na janela, sua respiração quente deixando o vidro embaçado.

— Parece que sim. – Sorri, me aproximando.

— Mas nunca neva! – ela arguiu sem tirar os olhos da janela, completamente encantada com o que estava vendo. - Você disse que fazia mil anos que não nevava! – ri de seu exagero. Maya tinha cinco anos e se orgulhava de saber contar até trezentos e trinta e dois, mas a noção de tempo ainda era algo em que estávamos trabalhando.

— Parece que papai Noel quis fazer uma surpresa. – Sentei-me no sofá, acariciando suas costas - Um presente especial. Está feliz com a neve? – Maya sacudiu a cabeça freneticamente confirmando, e então parou. Ambas as mãos se espalmando contra o vidro, minha pequena suspirou, o sorriso desaparecendo de seu rosto e a tez se tornando pensativa demais para uma menininha de apenas cinco anos.

— Talvez esse natal seja especial. – ela falou baixinho, juntando as mãos como se fizesse uma prece. – Talvez, apenas talvez...

— Maya... – chamei seu nome desejando que ela olhasse para mim, fiquei preocupada com seu tom estranhamente ansioso. Grandes olhos azuis voltaram-se para mim com culpa.  - Tem alguma coisa que queira me contar? – sondei, meu sentido mãe estava apitando.

— É a primeira vez que neva. – repetiu, ainda com aquele misto de alegria e deslumbramento em sua voz - Posso ir lá fora brincar? – Minha primeira reação teria sido um sim, eu não queria privar minha filha de nada que a fizesse feliz... Mas parecia errado eu ser a única testemunha do seu primeiro sorriso quando sentisse a neve, do primeiro boneco de neve que ela faria, ela não era apenas minha.

Seus momentos felizes não deveriam ser apenas meus.

— Você acha que consegue controlar um pouquinho a animação até seu pai chegar? -  Eu notei o “oh” perfeito em sua boca, o protesto em forma de choro pronto para sair e então me adiantei. - Eu só quero que estejamos todos juntos nesse momento especial para você, ursinha.

. Eu gosto quando a gente tá tudo junto. – determinou, como se fosse simples assim abrir mão de algo que se queria tanto. Quase como se valesse a pena perder algo agora para ganhar algo melhor depois. — Acho que é melhor esperarmos o papai. – Estranhei, Maya não era uma criança birrenta, porém ela sabia ser teimosa e cabeça-dura quando queria algo.

E ela queria neve.

Mais do que tudo, eu sabia o quanto ela queria correr pelo jardim e abrir a boca tentando pegar flocos de neves. Queria fazer um boneco de neve e o chamá-lo de Olaf, e claro, cantar todas as músicas de Frozen enquanto fazia isso.

— Tem algo errado. – constatei.

— Só ansiosa para receber meus presentes – abriu o mais belo sorriso que já vi e todas as preocupações desapareceram momentaneamente da minha mente, me lembrando o quanto o sorriso dessa pequena me fazia feliz. O mundo poderia estar desabando ao meu redor, mas se ela sorrisse para mim, eu sabia que tudo ficaria bem. Costumava ser assim com o pai dela também, bastava um sorriso e... – Esse vai ser o melhor natal de todos os natais! Eu tenho certeza disso, mamãe! – ela pulou do sofá de uma só vez, e parte de mim ficou alerta e preocupada que ela tivesse se machucado. Mas ela apenas continuou a saltitar, evidentemente animada com o natal.

— Eu desejo que cada natal seja sempre o melhor para você.  – Eu ri ao vê-la se colocar nas pontas dos pés para alcançar os biscoitos decorados que fizemos juntas naquele dia mais cedo. Para o papai Noel. Pensei que poderia esconder dela, mas aquela garotinha farejava as gotas de chocolate.

Papaivaigoxardoscoitox — Maya embolou as palavras, mordendo dois biscoitos de uma vez e falando ao mesmo tempo.

— Tente comer um biscoito de cada vez, e fale apenas depois de já ter mastigado. – ajoelhei-me no chão a sua frente, limpando um pouco dos farelos de biscoito em sua roupa e face. Abaixei suas mãos e peguei um dos biscoitos, obrigando-a a fazer uma coisa de cada vez.

Maya me olhou com uma impaciência que eu conhecia bem, enquanto mastigava ruidosamente. Seus olhos desafiavam-me num claro “Por que não posso fazer duas coisas que eu gosto ao mesmo tempo? Comer e falar?”

— Eu disse que acho que papai vai gostar dos biscoitos que fizemos.  – ela finalmente conseguiu dizer ao terminar o primeiro biscoito, e então lhe entreguei o segundo.

— Claro que vai, são os favoritos dele. – falei distraída, quase perdendo a forma como os olhos da minha filha brilharam ansiosos na minha direção, voltei a me sentar no sofá puxando Maya para o meu colo – A receita da sua avó Donna é a melhor, e seu pai costumava passar na casa dela apenas para roubar esses biscoitos... Eu sempre levava alguns para ele durante o treino de futebol também... – A memória de um outro tempo me atingiu com toda força, me fazendo sorrir e deixando o coração tão quente quanto biscoitos recém assados. – Eu ainda não sei se as líderes de torcida me olhavam torto por causa de todo o açúcar e glúten que eu levava, ou porque seu pai, que era a estrela do time, sempre parava o que estava fazendo e corria para mim me girando em seu colo, me beijando em agradecimento aos biscoitos que eu lhe dava.

— Você assava os biscoitos especiais da vovó, mesmo não sendo natal? – me encarou com assombro e deleite. Hoje em dia eu raramente assava aqueles biscoitos e me senti culpada porque minha filha (assim como o pai, os amava), mas eles sempre me traziam uma sensação de vazio dentro do estômago, não importava quantos biscoitos eu comesse, minha alma jamais estava alimentada.

— Sim. – admiti em meio uma pequena risada, me forçando a apreciar esse momento com minha filha, talvez os biscoitos pudessem ter outras lembranças felizes... – Sabia que seu pai tem o mesmo jeitinho especial que você tem, de me convencer à deixa-la comer mais biscoitos do que deveria...? Todo esse charme irresistível... – toquei-lhe a ponta do nariz fazendo-a me dar o grande e lindo sorriso que fazia meu coração dar cambalhotas. 

— Será que papai ainda vai demorar muito? – me perguntou, e eu apenas suspirei, direcionando o olhar para o relógio na parede, que marcava cinco da tarde. Ele não estava atrasado. Ele nunca se atrasava, mas para Maya ele sempre se adiantava.

— Ele vai chegar logo. – respondi usando um sorriso forçado para esconder o buraco que havia se aberto no meu estômago, já trazendo aqueles sentimentos conturbados que a presença de Oliver sempre provocava. Eu odiava a situação em que estávamos, entretanto, não havia outro meio. Mas também havia aquele efeito borbulhante que ele causava em mim, desde quando eu era apenas uma adolescente impressionável. – Ansiosa para a festa de natal desse ano? – tentei focar em outra coisa, mantendo meu pensamento longe do pai da minha filha.  

— Não. – ela trancou os lábios em um biquinho, só o desfez depois de pegar um biscoito que ela havia escondido no bolso e o levar a boca. Pequena sorrateira.

— Não quer ir à festa? – Eu conhecia minha pequena, havia algo a incomodando e nesse ponto ela era muito parecida comigo, eu precisava ir aos poucos, insistindo até que ela se sentisse confortável e revelasse o problema.

— Vovó vai me fazer usar um vestido com mangas bufantes cheio de laços. – ela bufou e revirou os olhos impaciente. – Esses vestidos pinicam, a meia calça aperta e me atrapalha a fazer xixi, e eu não consigo correr com aqueles sapatos de boneca! – Reclamou indignada, me fazendo rir de sua postura com braços cruzados e boca cerrada, típica atitude de quem estava pronta para comprar uma guerra por causa de um vestido pomposo.

— Mas querida, sua avó só quer que você esteja linda no natal. – expliquei o mais gentilmente que pude, tentando entrar em um acordo. Não havia como uma criança entender que ela estava indo para uma festa elegante e que deveria usar a sua melhor roupa.

 Maya, nos altos dos seus cinco anos me lançou um olhar afiado.

— Papai sempre diz que sou linda, mesmo quando estou suja de lama. – Como ganhar disso? Seus grandes olhos vieram para mim, me desafiando a discordar.

— Seu papai tem razão, você é a menina mais linda, não importa o que esteja usando. – me declarei como vencida, não tinha argumentos para discordar. Maya era linda para mim, não importava o que ela vestisse, sua “melhor roupa” sempre seria o seu brilhante e contagioso sorriso. - Apenas diga ao seu pai que não quer usar os vestidos que sua avó escolher e ele encontrará outra coisa onde se sinta confortável. – a acalmei, brincando seus longos cabelos loiros - Deus sabe que Oliver faz tudo o que você quer... – Divaguei. Maya era a menina dos seus olhos, Oliver iria até a lua e voltaria sem pensar duas vezes apenas se ela pedisse por uma pedrinha de lá. - Ele permitiria que usasse até mesmo aquela sua fantasia do halloween...

— Posso usar minha fantasia do halloween? – Maya pulou do meu colo batendo os cílios muitas vezes e com um sorriso excitado. Apenas a imagem de Moira Queen observando Maya chegar a festa com o vestido branco de tecido esfiapado com saia bailarina de tule, coturnos escuros e jaqueta de couro preta com tachinhas, na sua melhor representação da boneca assassina noiva de Chuck... Deus, eu já podia escutar o conselho tutelar batendo a minha porta. O que não era nenhum pouco justo, considerando que foi Oliver quem ajudou Maya a escolher a fantasia deste ano.

— Você cresceu muito desde o Halloween, Maya, a roupa não te serve mais. – Tentei contornar a situação.

— É claro que cabe! O halloween foi, foi... – seu cenho franziu enquanto ela se esforçava para lembrar - ... Eu não sei quando foi, mas cabe! - Insistiu. - Eu não cresci! – Bateu o pé.

Maya era uma menina muito inteligente e ativa para os seus cinco anos, mas quando se tratava de teimosia... Igualzinha a qualquer outra criança.

— Tudo bem, mas ainda assim eu não sei aonde está. – Inventei a desculpa me forçando a fazer uma expressão triste. Eu havia escondido a coisa monstruosa depois de Maya ter insistindo em usá-lo em todos os lugares. Eu não tive escolha depois de um bilhetinho furioso da diretora da escola, dizendo que ela estava assustando os meninos. Meninos maiores que ela.

— Eu sei onde ela está! - afirmou - Eu o achei dentro daquela caixa que você escondeu debaixo da sua cama e tem as letras D, O, A, um C com uma cobrinha debaixo, o A de novo e O - soletrou a palavra doação — O que está escrito lá, mamãe?

— Nada importante, e por que você entrou no meu quarto sem a minha permissão? – tentei inverter a coisa.

— Estava brincando. – Deu de ombros, como se aquilo não fosse nada demais. – O que está escrito na caixa? – Balancei a cabeça sabendo que ela iria insistir, talvez a danadinha até já soubesse.

— Esquece! Tudo bem, pode usar a roupa. -  concedi, embora eu fosse me certificar de fazer Oliver convencê-la a se trocar, ou então a distrairia para não usá-lo. No momento eu só queria mesmo era parar com essa discussão. Porém, para a minha surpresa minha menina não pareceu radiante com minha relutante permissão para usar sua roupa horrível na festa mais elegante da cidade. 

Havia algo mais.

— Qual é o problema de verdade? – Alcancei sua mão que ela apertava nervosamente.

— Nada. – ela encarou seus pés dessa vez, deixando-me agoniada.

— Maya. – abaixei-me ao chão, ficando da sua altura, dedos em sua face erguendo seu rosto e garantindo que ela não esconderia nada de mim. – Sabe que pode me dizer qualquer coisa, não sabe? Me diga o que está a chateando. – pedi.

— Você acredita mesmo que papai Noel recebe nossas cartas? – Ela ergueu os olhos apenas um pouco, a pergunta era hesitante e me fez sorrir com sua preocupação pura e tão infantil – Todas elas? É só escrever, colar os selos e mandar para o Polo Norte, certo?

— Claro que sim. – afaguei seus cabelos e lhe dei meu melhor sorriso tranquilizador - Está se preocupando porque acha que ele não vai te dar o que pediu? – perguntei.

— E se minha carta se perdeu? – Seu lábio inferior tremeu, ela quase entrou em prantos apenas com a mera ideia de isso acontecer - E se eu nunca receber o que eu pedi? – Ok. Aquilo não fazia muito sentido para mim, Maya não era uma criança muito ligada a coisas materiais, ela gostava de brinquedos, é claro, mas ela nunca foi exigente, coisas simples a deixavam feliz.

— Todas as cartas para o papai Noel são mágicas, assim que uma criança a escreve, papai Noel a recebe imediatamente. – Expliquei e ela suspirou, um pouquinho mais aliviada, porém não totalmente.

— Então eu vou ganhar meu presente? – reforçou novamente a pergunta, seu tom agoniado cortando um pouco meu coração.

— Eu sei que vai ganhar, você tem sido uma criança obediente. – Falei-lhe ternamente tentando acalmá-la. Isso e, é claro, o fato de que eu me certifiquei de ler sua cartinha, mandei-a para Oliver para ter certeza de que ele compraria exatamente o que ela queria. Um arco e flecha para que ela pudesse brincar de ser o arqueiro verde.

Viu só? Nenhum pouco exigente.

— Mesmo que eu tenha colocado sem querer o pudim na cadeira da vovó no aniversário dela? – Sentei-me sobre o tapete e a puxei novamente para o meu colo, escondendo o meu riso contra seus cabelos – E então quando ela sentou, o vestido branco dela ficou tão sujo com toda aquela calda caramelada, que ela teve que se levantar e trocar de roupa. Vovó ficou muito brava comigo e com papai, que riu muito. – Maya pareceu pensativa por um momento, e então falou num sussurro. –  Eu acho que a vovó o colocou de castigo por isso!

— Mesmo assim. – acariciei seu rosto tirando seus cabelos da face e tentando tranquilizá-la - Papai Noel sabe que foi sem querer e que você está arrependida.

— Mamãe? – seus olhos se tornaram maiores e ela torceu as mãos em seu colo, exatamente como o pai quando estava nervoso.

— O que foi, ursinha? – Maya olhou ao redor da sala certificando que não havia ninguém perto, quando se deu por satisfeita fechou as mãos em concha ao redor do meu ouvido e dividiu seu segredo comigo.

— Não foi sem querer. – confidenciou num sussurro com os olhos grandes e aterrorizados me encarando, e eu tive que fazer um esforço enorme para não rir, porque sabia que para minha pequena aquilo era algo muito sério.

— Eu tenho certeza que sua avó a perdoou. – Segurei o riso novamente.  Moira amava a neta, mas com certeza checaria todas as cadeiras antes de sentar, se Maya estivesse por perto. - E o papai Noel também. – garanti.

— E se Laurel estiver lá? – Eu não a respondi de pronto. Laurel era a atual namorada de Oliver e bem... Eu não gostava de soar mesquinha nem nada, mas em palavras bem simples ela era uma verdadeira vadia oportunista na escola, duvidava que tivesse mudado muito. – E se eu esquecer o pudim na cadeira dela também? – A imagem me parecia prazerosa demais, porém, me obriguei a ser uma mãe e não uma ex-namorada com raiva porque seu ex resolveu namorar a sua arquirrival da época escola.

— Maya Elizabeth Smoak Queen. – falei seu nome completo e pausadamente, para que ela soubesse que eu estava falando sério. - Se ela estiver lá, você ainda assim vai ser a minha pequena ursinha e tratá-la bem e com toda a educação, sem colocar pudim na cadeira dela. – Avisei elevando o tom - ...Mas se ela falar ou fizer alguma coisa que te chatear, você tem a minha permissão e a do Papai Noel para jogar o pudim inteiro na cara dela. Estamos combinadas?

— Sim! – pulou do meu colo muito mais animada.

— Feliz agora? – perguntei, apenas para ter certeza se todas as preocupações da minha filha tinham se esgotado.

— Eu ficaria mais feliz se você fosse comigo. – meu sorriso esmaeceu ao escutar suas palavras tão sinceras, e meu coração pareceu ficar um pouco menor. Ela tinha que pedir a única coisa que eu não era capaz de lhe dar?

— Já conversamos sobre isso, Maya. – tentei ser paciente e imparcial, e tudo o que consegui foi soar triste enquanto me obrigava a falar com aquele bolo preso em minha garganta. - Hoje é o seu dia especial com o papai e amanhã é com a mamãe.

— Mas quando é o dia do papai e da mamãe? – a tristeza genuína em seus olhos me pegou despreparada, o pequeno ponto de raiva diante daquela injustiça faiscou por seus olhos. - Por que não posso apenas ter os dois? Eu amo os dois e... Eu quero os dois.

— Maya, ursinha... – comecei, mesmo sem saber o que dizer depois.

— Olá? A porta estava aberta... – fechei meus olhos, me dando um momento para me preparar para vê-lo. - Vocês deviam manter fechada, está congelando lá fora.

— Papai! – Maya saiu em disparada pulando no colo de Oliver.

Me ergui do chão cuidadosamente, e fingi alisar algumas rugas da blusa, obrigando meus olhos a não encararem a cena tocante. Mas era mais forte que eu, meus olhos eram automaticamente atraídos para o som da risada feliz da minha filha, que recebia os muitos beijos do seu pai em cada parte do rosto, um tipo de risada que ela reservava apenas para o pai. Nem percebi quando meu corpo se escorou na parede mais próxima, quando um sorriso se desenhou em meus lábios e ali permaneceu, sem que eu tivesse qualquer controle.

Deixe-me observá-los.

Permiti meus olhos percorrerem o corpo forte de Oliver, com seus braços desnudos deixando seus músculos em evidência, uma vez que seu casaco estava jogado no chão. Sorri para a barba por fazer, algo que aquele que tinha sido meu Oliver era jovem demais para ter. Maya riu com seus dedinhos pequenos ambos ao redor do rosto do pai, movendo-os por toda barba. Me peguei desejando poder fazer o mesmo, pensando em qual seria a textura, se eu gostaria de sentir os fios ásperos raspando minha pele e se...

Me estapeei mentalmente, e me forcei a realmente observá-los.

Sem desejar nada para mim.

— Meu Deus! Você parece maior! – Oliver exclamou, com Maya ainda em seu colo - Cresceu o quê? Cinco centímetros desde a última vez que te vi? – Não era brincadeira, cada vez que Oliver a via, a media com os olhos, analisava procurando por novos detalhes e mudanças. Acho que eu seria assim também, se minhas horas com minha filha fossem limitadas.

— Não cresci não, eu juro, papai! – Maya apressou a negar desesperadamente - Tenho os mesmos centímetos que eu tinha no Halloween... – Oliver procurou meu olhar tentando entender a razão daquele pequeno rompante, e eu apenas balancei a cabeça o incentivando a não continuar.

Ele não me ouviu.

É claro que entrou na onda dela.

— Deixe-me ver, então. –  Oliver a segurou com os dois braços pela cintura a afastando do seu colo fingindo observar com cuidado, meneando a cabeça de um lado para o outro e estreitando os olhos clinicamente. Maya sequer respirou, como se respirar pudesse fazê-la crescer. E então, de repente Oliver a virou de cabeça para baixo, dizendo que seu propósito era medir a altura dela. Os cabelos de Maya tocaram o chão e Oliver a balançou de um lado para o outro, fazendo-a quebrar numa risada alta. - É, parece correto. – determinou, desvirando uma Maya ofegante e a colocando de pé no chão. A palma de sua mão tocou o alto da cabeça de Maya ao dar seu veredito - O mesmo tamanho desde o Halloween!

— Eu te disse, mamãe. – ela falou, batendo palmas em comemoração.

— O método do seu pai claramente não falha. – lancei um olhar condescendente a Oliver, pensando ser seguro. Me enganei, assim que seu pequeno sorriso de me-desculpe-porém-eu-faria-tudo-de-novo fez meu coração dar uma nova cambalhota. Me obriguei a desviar o olhar para nossa filha. - Ursinha, por que não termina de arrumar suas coisas enquanto converso com seu pai? E então podemos ir na neve? – Oliver franziu o cenho para mim, não escondendo sua preocupação.

Não era como se não conversássemos.

Deus me livre de ser um daqueles pais que se separam em meio a brigas e sequer dialogam, deixando recair sobre seus filhos toda a tensão de um relacionamento nenhum pouco saudável. Embora Oliver e eu não tivéssemos exatamente nos separado nos melhores termos, nós tentávamos sempre fazer o melhor para Maya, não havia espaço para egos feridos ou mágoas do passado. Mas ainda assim, por mais que eu tentasse evitar demonstrar, havia montes de sentimentos não resolvidos, frustrações e o desejo, que vinha mais vezes do que eu gostaria de admitir, de voltar no tempo e fazer tudo diferente.

Mas a vida é o que fizemos dela.

E o tempo passa, deixando-nos com as consequências de nossas escolhas. Então, eu varri aquele insistente “E se...?” para um canto escuro no meu coração, e me concentrei no momento de agora.

— Posso levar minhas bonecas para a casa do papai? – Maya nos questionou.

— Você já tem tantas outras no seu quarto na casa do seu papai. – Se dependesse de Maya, cada ida a casa do pai, nós precisaríamos de um caminhão de mudança. E por mais que parecesse patético, eu gostava de quando ela não levava muitas coisas, assim eu poderia fingir que ela ainda estava em casa comigo.

— Mas eu não posso deixar minhas filhas sozinhas no natal, mamãe. – Maya não tinha ideia de como sua frase me atingiu como um tiro certeiro de uma flecha no meu coração. - Não é certo, elas vão sentir saudades de mim. – as palavras ficaram presas na minha garganta, diferente das lágrimas que chegaram desimpedidas em meus olhos e precisei olhar para o lado secá-las antes que Maya as notasse.

Senti um suave e hesitante toque em minhas costas, quando Oliver tomou a frente respondendo nossa filha por mim.

— Porque não fazemos assim, suas filhas podem ficar aqui com a sua mamãe. – sugeriu, e me senti respirar pela primeira vez enquanto sua mão movimentava em minhas costas, tranquilizando-me. Seu toque sempre tinha sido assim? Reconfortante? Deus! Fazia tanto tempo, e eu trancara tantas memórias que era difícil de me lembrar. - Ela vai cuidar delas do mesmo jeito que cuida de você, com muito amor.

— Tá bom. – Maya deu de ombros. Essa era a beleza de cuidar de uma criança, às vezes elas eram teimosas e batiam e pé, e outras vezes era apenas simples. – Vou pegar minhas coisas, mas antes de irmos nós três vamos ver a neve, prometem?

— Tudo o que você quiser. – Exatamente como eu disse, Oliver estava disposto a dar o mundo para a filha. Vê-lo com Maya sempre me surpreendia e me fazia suspirar, preenchia parte daquele vazio dentro de mim com algo bom.

Talvez fosse porque eu mesma nunca tive um pai que me quisesse. Noah Kuttler engravidou minha mãe ainda jovem demais, eles se casaram e por longos sete anos, tentaram “fazer a coisa certa” e me dar um lar. Não que tenha dado certo, ele raramente estava em casa e quando estava haviam apenas brigas e acusações. Até que um dia, ele simplesmente partiu. Sem despedidas chorosas e emocionantes, mas pelo menos sem mais brigas extenuantes por causa de uma amante qualquer. A única lembrança que tenho de meu pai se resumia ao seu cheque que chegava todos os meses, e às vezes um cartão genérico no meu aniversário e no natal.

Nenhum contato.

Nem mesmo uma ligação.

Foi como se para ele, eu jamais tivesse existido.

Eu repeti a história da minha mãe, engravidando jovem demais quando estava no meu último ano do colégio. Mas diferente dela, eu tive em Oliver apoio incondicional. E também decidi não cometer os mesmos erros que ela.

Oliver esperou Maya subir as escadas até seu quarto antes de falar comigo.

— Você está bem? – Oliver se virou, ficando de frente para mim e sua mão deixou de me tocar, desejei pedir que me tocasse de novo, que fizesse a sensação de vazio desaparecer. Mas seus belos olhos estavam ali, perscrutando os meus querendo os desejos da minha alma. E se seu toque era capaz de me reconfortar, seu olhar por outro lado era capaz de incendiar fogos de artifícios dentro de mim.

Do que seu olhar me fazia sentir, é algo do qual jamais consegui fugir propriamente. Mas depois de tanto tempo, eu fiquei boa em pelo menos fingir.

— Não fica mais fácil com o tempo. – Admiti. Doía toda vez que o via levar Maya consigo, para um fim de semana, um feriado prolongado. Era irracional, ela estaria com seu pai, alguém que a amava e se preocupava com ela tanto quanto eu. Mas ainda assim, era como perder uma parte vital de mim.

— Não fica mesmo. – ele concordou, mas não se ofereceu para mudar o acordo. Ele não seria louco de fazê-lo e abrir mão de seu tempo precioso com Maya. No natal passado tinha sido Oliver quem ficou longe da filha, enquanto nós duas viajamos para casa da minha mãe, e eu vi lágrimas emocionadas quando ele a buscou na semana seguinte e Maya me contou que ele havia recriado o natal novamente com ela - Felicity, eu...

— Aceita um café? – o interrompi, não querendo ter aquela conversa emocional demais. Qual o ponto? Nós concordamos em dividir datas importantes, ano passado Oliver tinha a mesma expressão de cãozinho abandonado que eu tinha agora.

— Vai me oferecer os biscoitos também? – seu olhar ansioso foi direto para a travessa sobre a lareira - Eu senti o cheiro deles do outro lado da rua...

— É claro que sentiu. – controlei a vontade de revirar meus olhos, mas não fui tão boa em evitar o sorriso tímido e um pouco vaidoso, que surgiu em meus lábios quando Oliver pegou três biscoitos, segurando dois em sua mão, mas guardando o terceiro dentro do bolso.

Exatamente como Maya.

— Para mais tarde. – piscou um dos olhos para mim. Concentre-se, Felicity. Me obriguei a afastar o olhar, antes que ficasse com aquela expressão boba que eu sempre tinha quando Oliver  fazia ou falava algo que agitava meu coração de uma maneira pouco natural – Gostei do que fez com o lugar... – esticou as mãos para as caixas espalhadas e antes que eu pudesse explicar, Oliver gemeu, daquele jeito grave e que era sexy, fazendo-me encará-lo igual uma tola. – Isso está divino! – exclamou comendo o biscoito em uma só bocada, e ignorando o meu papel de idiota. – Me fale sobre as caixas, não são de mudanças, são? – perguntou, seu tom ficando nervoso de repente e para meu desespero, seus olhos estavam novamente em mim.

Me obrigando a me desnudar.

— Eu conversaria com você antes se pretendesse me mudar, sabe que jamais iria prejudicar Maya impondo uma distância ainda maior do pai que ela tanto ama.  – respondi, também um pouco nervosa.  – São apenas coisas da Smoak Tech, Ray as deixou aqui ontem e eu não tive tempo de organizar, criar uma empresa dá mais trabalho do que um filho. – A tensão o deixou, embora algo mais vivo estivesse sob seus olhos.

— Meus parabéns pela empresa. - havia uma neutralidade estranha em seu tom, e embora eu pudesse detectar que os cumprimentos eram sinceros, eu sabia que algo não estava deixando Oliver feliz.  - Eu te disse tantas vezes que você conseguiria, eu sempre soube que você iria longe... – Sim, ele realmente me disse. Oliver foi a pessoa que mais apoiou enquanto eu cursava o último ano do colégio, grávida, e depois, quando eu recusei a bolsa no M.I.T por ter um pequeno bebê exigindo minha atenção o tempo todo, ainda assim eu insisti na faculdade, mesmo que tenha sido distância.  Ele sempre esteve presente cuidando de Maya quando eu precisava de um tempo para estudar ou de um dia para assistir uma palestra importante.  - ... embora eu sempre tenha achado que seria aquele que estaria indo com você... – captei seu tom triste, ainda que Oliver o tenha mascarado com um belo sorriso. – Ray Palmer é um cara de sorte.

— Eu espero que ele seja. – respondi, dando de ombros. – Vamos para cozinha tomar aquele café, antes que não restem biscoitos para o acompanhamento. – Oliver me seguiu, embora seu olhar estivesse estranho e pensativo.

— Por que espera que ele seja sortudo? – questionou-me, assim que lhe entreguei a xícara de café, que ele apenas colocou com certa rudez sobre a ilha da cozinha. A porcelana rugiu num pequeno estrondo contra a pedra de mármore, e pequenas gotas de café mancharam a pedra clara. Mas apenas quando ele retirou seu último biscoito do bolso e o colocou ali também, eu me preocupei. Oliver sem querer meus biscoitos me insultava mais do que qualquer coisa.

— Porque se ele não for, a esposa dele vai ficar uma fera por ele perder todo o dinheiro que está investindo em mim e na minha empresa. – respondi, surpreendendo-me ao ver alívio na face de Oliver. Aquilo não poderia ser... – Você não está com ciúmes? Está? – por que eu tinha que ter feito a pergunta estúpida? Agora eu tinha meu coração batendo ruidosamente, esperando por uma resposta afirmativa.

Você não tem mais dezessete anos, Felicity!

Eu deveria me comportar como uma mulher de vinte e três que amadureceu cedo demais. Mas algo em Oliver sempre me fazia sentir como se ainda fosse uma garota cujo os sentimentos sempre falavam mais alto.

— Eu pensei... – Oliver começou, mas para a minha frustração levou a mão aos seus cabelos, e encarando para além da janela da cozinha escondendo seu rosto de mim, seus olhos incapazes de mentir, seguramente encarando a neve que agora caia firme e em grandes proporções. - Maya disse o nome dele muitas vezes, disse que tio Ray vem aqui e fica horas conversando com você.  –  havia um leve tom acusatório em seu tom, e por mais contraditório que fosse, seus olhos me pediam desculpas por ele. - Ela gosta dele.

Ela.

Maya.

Maya gostava de Ray.

— Oh. – Oliver estava com ciúmes... da filha. O que mais poderia ser? Não é como se significássemos algo mais um para o outro... – Ela gosta de Ray, ele tem jeito com crianças. Mas você é o pai dela, e ela o ama. – seus olhos temerosos estavam em mim agora, e pareciam esperar por mais do que eu estava lhe dando. Não gostei do que vi ali, um pouco de certa possessividade masculina, e reagi a isto com mais orgulho do que gostaria de admitir. - Além disso, quando houver alguém importante o suficiente na minha vida, eu terei muito cuidado antes de introduzi-lo na vida de Maya, isso inclui ter certeza de que esta pessoa é especial para mim e que jamais irá quebrar o coração da nossa filha. – Oliver não piscou, apenas me encarou fortemente. E então bebeu um grande gole de sua xícara fumegante de café, sem se incomodar com o quanto ela estava quente, ao contrário, parecia desejar que fosse algo mais forte. - O que me lembra... há algo que quero perguntar. – Eu não sabia por onde começar, mas a conversa com Maya havia ligado algo e agora um gigantesco sinal de alerta piscava na minha cabeça.

— Pergunte-me qualquer coisa, sou um livro aberto. –  Sua disposição e falta de receios me encorajaram mais do que deveriam.

— Laurel Lance estará na festa hoje? – Mordi os lábios desejando tomar as palavras ditas tão abruptamente, mas agora era tarde. Os olhos de Oliver faiscaram uma emoção diferente, atingindo-me em cheio, algo como um pequeno beliscão em mim no princípio, mas que logo tornou todo meu corpo vivo, e consciente do conhecido sorriso que escorregava pelo canto de seus lábios.

Eu conhecia esse sorriso tão bem.

Eu caí por esse sorriso tantas e tantas vezes.

— Com ciúmes, Smoak? – Ele me lançou aquele olhar quente e languido, que sempre me fazia perder o ar, e eu soube que era demais para mim. Apoiei minhas mãos sobre a superfície da ilha, agradecendo por ter esse suporte.

— Bem que você queria. – resmunguei, me recusando a gritar a verdade. Sim. Eu tive ciúmes de Laurel. Entre tantas mulheres que sempre andaram atrás de Oliver, ele precisava escolher a pior entre todas? A que infernizou meu último ano escolar e riu da minha gravidez? Dizendo que eu estava dando o golpe da barriga?

Por que diabos Oliver escolheu justo ela?

— Sim, eu queria. Eu seria sortudo se você se sentisse assim. – Espere. O que ele disse?

— O ponto é, eu não me importo se ela é sua namorada. – Mentira deslavada. Mas ei, uma garota pode se permitir um pouco de orgulho. — É a sua vida e são suas escolhas, e eu não sou parte delas, mas Maya é. – completei mais duramente - E quando é sobre a nossa filha, eu espero que você contenha as garras de qualquer uma que se aproximar.

— Espere... Laurel fez alguma coisa com Maya? – Havia algo cru em Oliver. Eu o tinha visto com raiva poucas vezes, quando ele brigou com o pai e recusou a ir para uma faculdade cara, optando em fazer faculdade em Star City, onde poderia estar perto de Maya. Mas eu nunca o tinha visto assim, furioso e pronto para arrancar cabeças.

— Eu não sei. – admiti - Mas se Maya não gosta dela, tem que existir uma alguma razão por trás, certo? Então eu espero que você fique de olho na sua namorada...

— Alguma vez eu deixei que algo acontecesse com Maya? - Oliver me interrompeu abruptamente, interpretando erroneamente minha preocupação. Avancei até ele, minha mão se colocando sobre seu braço, sentindo os músculos tensos pararem de tremer.

— Não. – disse a palavra olhando diretamente em seus olhos. - Eu confio em você, Oliver, eu sei que daria a vida por nossa menina. Mas não me peça para confiar em estranhos perto dela, porque eu não vou. – ele se permitiu uma respiração, e soube que estávamos bem quando ele sorriu, e a escuridão deixou seus olhos.

— Guarde suas garras, mamãe urso. – ele disse num sorriso - Laurel não virá a festa de Natal desse ano.

— Hum. – Levei minha xícara de café aos lábios, contendo a pergunta que coçava em minha língua.

— Provavelmente não virá em nenhum natal daqui para frente. – continuou atiçando, e me forcei a engolir mais café. - Ou qualquer outra data.

— Hum. – foi tudo o que disse, não era seguro dizer mais. Parte de mim estava entre lhe dar um belo “eu avisei” e a outra parte, ainda mais imatura que a primeira, queria dançar e soltar fogos de artifícios em comemoração.

— Não vai me dar o gostinho de perguntar? – ele suspirou, elevando os dedos aos cabelos. – Você não costumava ser tão fechada assim, Smoak. Me lembro de uma época em que era fácil, você amava conversar comigo. Estava sempre aberta para mim. – aquele maldito sorriso de canto escorregou em seus lábios, a óbvia duplicidade em suas palavras me fazendo ranger os dentes.

Idiota. – rosnei.

— Bom saber que te provocar ainda funciona. – Ele riu, satisfeito em obter uma reação. - Tudo bem, vou saciar sua curiosidade, eu terminei com ela há uns pares de meses. – sufoquei o “oh” surpreso - A coisa toda não durou muito tempo. – Havia algo de ambíguo em suas palavras, revelando-me que havia muito naquela história.

— Por que não deu certo? – Minha boca me traiu, dando voz a pergunta que martelava em meu coração. Todo o rosto de Oliver se iluminou com uma árvore de natal.

— Eu não consegui exatamente o que esperava dela. – devo ter demonstrado minha confusão, porque Oliver se apressou em ser mais elusivo - Ela era uma vadia frívola que só queria o meu dinheiro e meu sobrenome, e eu doaria até o último centavo da minha herança, mas nunca a faria minha. – meu sorriso veio amplo e fácil - Podia ao menos fingir que não está satisfeita por ter razão?

— Não, eu amo estar certa. – Sorri ainda mais, deixando a xícara de café de lado. Eu sabia que não estava feliz apenas por ter razão, mas era bom poder se esconder atrás dessa desculpa.

— Então era apenas isso que queria falar? – Senti Oliver se aproximar, um passo grande de uma única vez. Meus pés continuaram plantados no chão, meus olhos gostando mais do que deveriam de estarem presos no olhar dele.

— Bem, a aversão da nossa filha a sua última namorada era um ponto importante. – soei nervosa, completando o quadro com uma pequena e descuidada risada ao final da frase. Por que eu soava como uma adolescente que não sabia como agir perto de garotos? Me forcei a focar no que era mais importante do que minha aparente perca de noção perto de Oliver. - O segundo mais importante é, Maya odeia as roupas que sua mãe compra, e eu sei que não é o usual para o Baile de Natal dos Queens, mas seria bom se ela pudesse usar algo confortável, mas não...

— Qualquer coisa que ela quiser.

—... qualquer coisa que ela quiser. – Falamos juntos. E ainda mais surpreendente. Rimos da situação.

—  Você a mima demais. – acusei num tom brincalhão. Eu tentava ser uma mãe centrada e controlada, eu não queria que Maya se tornasse uma daquelas crianças mimadas e birrentas, ainda mais considerando todo o dinheiro que o pai tinha, mas às vezes era apenas impossível resistir a minha pequena. Ela teve meu coração na ponta dos dedos no instante em que descobri que era ela a causa dos meus enjoos matinais. - Apenas certifique-se que ela não vai estar inadequada para festa da sua mãe. – Oliver assentiu.

— Eu sei que tem algo mais. – Oliver deu mais um passo. Definitivamente não estávamos fazendo a coisa de respeitar o espaço pessoal um do outro. - Você está fazendo aquela coisa de brincar com a barra da sua blusa quando está protelando. – antes que meus olhos pudessem descer até minhas mãos traidoras, a mão de Oliver estava lá, me obrigando a parar. – Converse comigo, Felicity. – O pedido reverberou em mim, fazendo-me despejar a verdade sobre Oliver sem nenhuma contenção.

— Maya tem reclamado sobre como dividimos as coisas, ela sendo obrigada a escolher um dos pais quando ela quer os dois. Então, eu estava pensando...

— Você deveria vir conosco hoje à noite. – Oliver me interrompeu, eu tomei um tempo para absorver a surpresa, incapaz de pensar muito quando tinha seus olhos insistentes em mim, a mão segurando a minha com carinho dessa vez. Balancei minha cabeça veemente quando finalmente me dei conta da sua pergunta. Eu? Num baile da mansão Queen? Nunca mais. — Eu odeio o que fazemos. – As palavras eram fortes e carregadas não apenas de tristeza, mas de uma vulnerabilidade que nem sempre Oliver se permitia mostrar.

— Eu odeio isso também. – apertei sua mão, um modo de dizer que compartilhava de seu pensamento ao mesmo tempo, desejando compartilhar muito mais. - Mas Oliver, nós dois sabemos que eu não me encaixo no seu mundo. – forcei as palavras através do nó em minha garganta - Tentamos uma vez, e falhamos.

Vi em seus olhos o quanto o magoei com o que disse, mas Oliver persistiu. Moveu nossas mãos unidas para as minhas costas, seu corpo de frente para o meu vagarosamente movendo-se até me ter pressionada contra a ilha da cozinha, e me fazendo consciente do seu corpo.

Da saudade que eu sentia dele.

— Mas se encaixa comigo. –  A voz veio doce, contrastando com seu hálito quente e mentolado soprando contra minha boca, fazendo-me entreabri-la apenas o suficiente para sentir mais do seu gosto. - Todas as vezes que tentamos, fomos absolutamente perfeitos juntos.

Perfeitos.

Eu não ousaria negar isso.

— Sempre tão galanteador. – deveria ter sido um insulto, mas apenas pareci encantada - Seu mundo não é para mim. – Insisti. Eu precisava que Oliver concordasse, assim, eu ficaria menos tentada a ignorar meu bom senso e embarcar em seja lá o que Oliver me oferecia.

—  Felicity. – Fechei meus olhos deliciando-me com a forma doce que ele dizia meu nome. Como pude perder tanto tempo disso? - Você faz parte dele, sempre fez. Não importa quantas vezes você o negue, você é a parte mais importante da minha vida junto com Maya. – Quando ele falava assim, quando seus olhos baixavam até a minha boca eu quase acreditava que poderia ser simples.

— Oliver...

— Estou pronta. – a magia se quebrou com a voz de Maya gritando e o som de seus passos descendo as escadas. Abruptamente nós dois nos afastamos como dois adolescentes pegos fazendo algo errado, olhei para Oliver de esguelha, apenas para ter certeza que eu não era a única abalada. Eu não era.— Será que podemos ir brincar neve agora? – Pediu assim que entrou na cozinha.

— Ah merda! – falei o palavrão assim que vi minha filha, e me dei conta do que ela vestia.

— Você está linda! – Oliver abriu um sorriso imenso, mas eu escutei a risada abafada que sacudia o seu corpo ao olhar nossa pequena a nossa frente, desfilando em suas roupas de Halloween. – Mas o que está vestindo, Maya?

Ela deu um giro na ponta de um dos pés, e meu lado mãe quis logo agarrá-la, antes que caísse por causa de seus coturnos desamarrados.

— Você disse que me acha linda não importa o que eu vista! – Maya lembrou o pai, antes que ele pudesse fazer uma reprimenda sobre suas roupas. O que obviamente Oliver não faria. Ele amava a roupa de halloween dela.

— Isso é porque você é linda. – os olhos dele brilharam em emoção, e ele se abaixou a frente de Maya ficando sob um dos joelhos, amarrando os cadarços antes que eu pudesse fazê-lo - A menina mais linda de todas! – Minha filha sorriu, toda cheia de si com o elogio.

Eu não poderia discordar.

Havia algo em seu sorriso quando ela usava aquela maldita roupa do Halloween, que a deixava ainda mais linda. Radiante, eu diria.

— E é assim que seu pai conquista todas as garotas. – meneei a cabeça, era injusto que Oliver tivesse tanto charme. Bastava um sorriso, e pronto, todas nós pobres mulheres nos apaixonávamos.

— Não é verdade. – o tom de Oliver estava sério e ligeiramente magoado, as sobrancelhas unidas num claro sinal de desacordo, que só suavizou quando ele voltou a falar. - Eu digo isso apenas a você, e a sua mãe. – Ele olhou diretamente para mim, os olhos derramando sinceridade e cravando-se nos meus. Me lembrei de todas as vezes em que ele me disse que eu era linda. E como em todos aqueles momentos senti meu rosto ficar em chamas, e uma agitação conhecida no meu coração vaidoso.

Exatamente como agora.

— Será que podemos ir brincar neve agora? –  Maya pediu e apreciei o pedido, neve seria algo ótimo para cuidar do calor estranho que eu sentia. Embora eu tivesse que obrigá-la a se trocar novamente e vestir algo quente. – Quanto mais eu vou ter que esperar?

— Ela ainda não sentiu a neve? – havia confusão em seu tom.

— Pensei que era algo que deveríamos fazer juntos. – respondi simplesmente, tentando não encarar seus olhos em mim - É a primeira vez dela com a neve, pareceu justo que nós dois estivéssemos lá. – expliquei. Oliver se ergueu do chão, com Maya em seu colo, segurando-a em apenas um braço, como se não pesasse mais do que uma pena.

Anotação mental: Oliver era muito mais forte agora, todos aqueles músculos não estavam lá atoa.

— Obrigado. – Havia tanto em seu agradecimento. Era mais do que felicidade ou gratidão.  - Mas temo que não poderemos fazer isso.

— Por quê? – o perguntei, temendo ter feito algo errado.

— É, por que, papai? – Maya piscou os olhos para o pai, e ao ver o modo como seu semblante caiu em tristeza por negar algo a nossa pequena, eu soube que não era pessoal.

— Recebi uma mensagem da minha mãe dizendo para eu ficar onde estou. -  Franzi o cenho para sua resposta, Oliver não tinha olhado o celular nenhuma vez desde que chegara. - Há uma tempestade de neve lá fora e a tendência é ficar ainda mais forte. Todos foram avisados para não deixar suas casas. – Inclinei a cabeça em direção a janela observando com espanto o tapete de neve que agora cobria as ruas e as copas das árvores, se eu não tivesse passado a última hora com o olhar colado em cada pedacinho de Oliver Queen, talvez eu tivesse percebido. - Acho que estou preso aqui por um tempo. – Ele sorriu. Aquele maldito sorriso satisfeito, dizendo que ainda não havíamos terminado. – Acho que você está presa comigo.

❆❆❆

Presa com Oliver.

Eu precisei de uma longa e profunda respiração para forçar meu corpo a se acalmar e não surtar diante daquelas palavras. Não que Oliver e eu não nos déssemos bem, o problema era que nos dávamos bem até demais.

Era fácil me deixar levar por seu charme.

Ainda não faço ideia de como consegui resistir a ele por tanto tempo. Na verdade, eu faço. Nós dividíamos nosso tempo com Maya, mas nunca um com o outro, assim eu não corria riscos de ter meu coração tolo desejando mais.

A última vez que passamos um natal juntos foi há seis anos.

Quando Oliver propôs.

Sim, ele o fez.

No iluminado jardim da mansão Queen, em meio as flores de inverno, piscas-piscas e sofisticadas decorações natalinas, bem como o som de um coral ao fundo. Na última vez que nevou em Star City, Oliver se colocou sobre um joelho a minha frente, retirou do bolso um brilhante solitário, seus olhos pareceram duas estrelas de tanto que brilhavam quando de sua boca saiu aquelas duas palavras que fizeram meu coração bater mais rápido.

“Casa comigo?”

Me lembro que enquanto a neve caia fina sobre nós, o tempo pareceu congelar, eu me tornei ciente apenas das promessas em seu olhar, do sorriso em seus lábios. E naquele momento, meu coração rugiu um sim.

Mas eu tinha dezessete e ele dezoito anos.

Maya não era nada mais do que um pequeno feijão na minha barriga. Eu ainda tinha um ano na escola, enquanto Oliver sairia para a faculdade. Eu estava assustada com a gravidez, como qualquer garota tão jovem quanto eu, e eu sabia que Oliver não estava fazendo isso por mim. Ele apenas pensava que era a coisa certa, assim como o meu pai.

E a coisa certa, não foi a melhor decisão.

Eu amava Oliver Queen.

Eu o amei desde o dia em que ele tentou colar de mim em Álgebra III, e depois tentou se desculpar com chocolate e implorou para que eu lhe desse aulas particulares. Até que eu descobri que ele não precisava colar de mim ou de reforço para passar de ano, Oliver além de atleta do ano, era ótimo aluno.

Mas era preciso mais do que o amor adolescente para fazer uma família dar certo.

Então eu forcei meu coração a se calar, e apenas o deixei ali, ajoelhado sobre a neve, esperando por uma resposta que jamais veio.

— Terra chamando Felicity... – Oliver estralou os dedos na frente dos meus olhos me obrigando a me concentrar no quer ele dizia. Ele parecia esperar a resposta para algo.

— Desculpe? – ele riu, os olhos focados no lábio que eu mordia nervosamente.

— Eu perguntei o que faremos para a ceia de natal, já que estamos presos na sua casa. – repetiu.

— Oh. – Eu comecei a suar – Bem, eu... Você estaria com Maya, eu não planejei nada. – Expliquei. Seu olhar cravou-se em mim, lendo perfeitamente meus planos de ficar sozinha na noite de natal, me lamentando.

— Bem, terei que dar um jeito então. – falou com simplicidade, me fazendo erguer uma das sobrancelhas.

— Você? – a risada permeou minha fala.

— Sim, eu. - respondeu resoluto - Vai se arrepender do tom de ironia. – seus olhos se estreitaram para mim em desafio - E não é como se você estivesse em posição de vantagem, Smoak. – devolveu - Nós dois sabemos que a única coisa que você faz bem são os biscoitos da sua mãe.

— Ei! Eu sei cozinhar! – protestei. -  Maya gosta da minha comida, não é ursinha?

— Dos biscoitos apenas. – observei boquiaberta a pequena traidora escolher um favorito - Mas a do papai é um milhão de vezes melhor! – declarou.

— Nós precisamos trabalhar na sua honestidade.

— De jeito nenhum. – Oliver interveio - Amo esse jeito dela, sem segurar o que fala. – seus olhos vieram para o meu, pareciam sorrir - Você ainda faz isso às vezes. – ergueu uma das mãos tocando uma mecha do meu cabelo colocando-a atrás da orelha e então se afastando. - Queria que fizesse mais. – a voz suave com um toque de pesar, aliado ao seu desejo tão simples e ao seu toque, me deixou sem resposta por um minuto inteiro.

— Vamos cozinhar, Queen. – pisquei varias vezes tentando me desfazer daquele feitiço que Oliver parecia ter sobre mim.

Nosso tempo na cozinha foi incrivelmente bom e divertido. Oliver não me deixou ajudá-lo com nada além de picar alguns legumes, disposto a se provar, explicava cada etapa dos pratos que estava fazendo, como um verdadeiro chef. Sentamos Maya na ilha, e pela primeira vez, tivemos um tempo em família. Fazendo algo comum como cozinhar. Tentei afastar a pressão em meu coração, mas foi impossível. Ele tomou para si aquele momento, e ficou martelando um “e se pudesse ser assim todos os dias?”

— Prove. – Oliver veio com uma colher na minha direção, abri a boca sorvendo o molho agridoce que ele havia feito. Lutei em vão contra o gemido de puro deleite.

Isso era bom.

— Quando foi que você aprendeu a cozinhar? – minha pergunta era mais uma acusação. Seis anos, muitos livros de receitas e várias temporadas de masterchef e perto de Oliver, eu não era nem meramente decente.

— Eu não queria que Maya vivesse da sua comida ruim. – ele apenas riu quando meu cotovelo acertou suas costelas, provavelmente ele sequer sentiu a dor com todos os músculos para amortecê-la - Apenas aprendi, não é tão difícil. – deu de ombros - E é um bônus ser melhor do que você em algo, talvez dessa vez seja eu quem te dê algumas aulas particulares. – senti meu rosto se tingir em vermelho me lembrando de como nossas “aulas” sempre acabavam: com os cadernos no chão, comigo em cima da sua cama, gemendo debaixo de Oliver.

Maya certamente foi feita em uma dessas aulas.

— Talvez. – me atrevi a responder, deixando-o atônito por um momento – Vamos arrumar a mesa.

Eu nem mesmo me lembrava o que era uma ceia de natal em família. Não as tive quando criança e minha mãe precisava pegar turnos extras para ajudar com o aluguel. Eu me acostumei a passá-lo em casa lendo um livro como se fosse apenas mais um dia.

Eu desejei ter experimentado mais disso.

Mais de Oliver, Maya e eu, sentados em uma mesa dividindo a comida, rindo e conversando sobre coisas banais. Dando as mãos e agradecendo em uma oração a oportunidade de estarmos juntos nesse natal. Não era sobre isso que era o natal? Gratidão e amor? Celebrar estar junto com as pessoas que amamos?

Pequenas lágrimas de felicidade fizeram seu caminho até meus olhos, tentei segurá-las o máximo que pude, mas uma traidora desceu por meu rosto.

— O que foi, mamãe? – Maya me olhou preocupada.

— Só estou feliz, ursinha. – respondi sorrindo para ela.

— Eu também. – ela sorriu de volta.

— Nunca estive mais feliz. – Oliver completou, e meu coração se derreteu, aceitando aquele momento pelo o que era. Feliz. Todo e qualquer pensamento, medo ou mágoa do passado, sendo substituído pela gostosa sensação de que estávamos bem. E eu apreciaria esse presente enquanto ele durasse.

❆❆❆

Nós três nos acomodamos no sofá da sala para assistir pelo que deveria ser a décima vez, Frozen. Pelo menos esse era o especial de Natal. E ainda assim, parecia ser a primeira vez que eu o via. Talvez porque apesar de já conhecer todas as reações de Maya, eu não conhecia as de Oliver. Eu me peguei sorrindo mais vezes ao vê-lo cantar junto com a filha ou discutir sobre seus personagens favoritos.

— Não coma todos os biscoitos, papai. – Maya reclamou quando Oliver pegou mais um biscoito do pote que ela trazia em suas mãos - Precisamos deixar alguns para o papai Noel. – Ela justificou, embora ela mesma levasse um biscoito inteiro a boca - Você até parece o JJ, ele sempre come meus biscoitos no recreio. E também puxa minhas trancinhas.

— Talvez o JJ goste de você. – Oliver sugeriu.

— Não caia nessa, Maya. - protestei com afinco - Meninos idiotas continuam apenas sendo idiotas, se JJ gostasse realmente de você ele iria tratá-la bem.

— Isso é verdade. – Oliver concordou - Quando você tiver quarenta anos e permissão para namorar, só vai poder namorar se ele te tratar bem, certo? – comprimi meus lábios segurando o riso, e Maya por sua vez apenas deu de ombros, os olhos voltando a se concentrar na televisão. Para a alegria de Oliver ela não estava interessada em garotos. Ainda.  – Mas isso não muda o fato de que meninos são idiotas quando se trata de amor, eu mesmo sou prova disso. – Voltei meus olhos para Oliver, subitamente interessada.

— Puxou o cabelo da garota que gosta, papai? – Maya perguntou.

— Não. –  o notei torcendo seus dedos por cima do colo, claramente nervoso. - Tentei chamar sua atenção, provocar uma reação que fosse, saindo com uma mulher que ela não suporta. – Oliver tinha feito o quê?

— Nossa, papai, você é mesmo idiota.

— Eu disse que era. – ele assumiu, pela primeira vez na vida, eu vi um Oliver Queen envergonhado - Mas aprendi a lição. Espero que um dia ela me perdoe por ser idiota e me permita me aproximar o suficiente para tratá-la da forma que merece. Eu estava tão cansado de não poder estar com ela, magoado com sua indiferença que precisava fazer alguma coisa drástica, para que ela reparasse em mim... – olhos hesitantes vindo até mim, testando-me. Permaneci ainda boquiaberta. - Com sorte talvez eu pudesse ter um deslumbre de algum sentimento...

— Eu tenho certeza que essa garota tem sentimentos por você, Oliver. – me vi respondendo antes que pudesse me frear - Mas talvez apenas não fosse o momento certo para eles. Talvez a garota estivesse assustada. Talvez ela achasse que estava fazendo o melhor para os dois. Só que você namorando alguém que ela odeia, apenas a afastou de você...

— Eu não diria que foi um namoro, para esclarecer, foram apenas algumas saídas ocasionais e eu odiei cada momento, e então Laurel começou a me cercar e a aparecer em todos os lugares em que eu estava. Foi horrível. – meu coração batia forte, meus sentimentos oscilando entre querer matá-lo e puxá-lo para mim num beijo desesperado - Eu sinto muito, Felicity.

Pisquei inerte, sem saber o que fazer com suas desculpas.

— Você devia dizer isso para a garota que você gosta, papai, não para a mamãe. – Maya pontuou. Oliver e eu trocamos um longo olhar, palavras não precisavam ser ditas.

— Eu o fiz. – respondeu com tristeza - Mas acho que demorei muito tempo.

❆❆❆

Maya dormiu durante a última cena, mesmo ela tendo jurado que iria passar a noite em claro porque queria ver quando o papai Noel chegasse. Oliver e eu não conversamos mais sobre meninos idiotas e suas tentativas ainda mais idiotas de chamar atenção da garota que gostam. Embora a sua confissão ainda pairasse sobre nós.

Oliver subiu as escadas com Maya em seu colo, e nós dois a ajeitamos na cama trocando a horrorosa roupa de Halloween por um pijama confortável. Meu coração vibrou ao perceber que era a primeira vez que fazíamos isso juntos.

— Esse foi o melhor natal de todos. – Maya suspirou as palavras dentro de um sorriso, e então revirou-se na cama abraçando o travesseiro. O sorriso permaneceu ali.

Deixamos a porta entreaberta para que um pouco da luz pudesse entrar. Eu estava distraída pensando no que fazer com Oliver, ele obviamente teria que dormir aqui e a única alternativa era o sofá pequeno na sala de estar, e eu não tinha certeza que ele caberia lá. Quando ele me encurralou no corredor, seu corpo ficando a frente do meu, impedindo minha passagem, eu tive certeza.

Grande demais para um espaço pequeno, mas caberia perfeitamente na minha cama.

— Maya está certa. – ele disse, com um brilho diferente nos olhos, encostando o corpo contra a parede, me obrigando a ficar parada ali até que terminássemos aquela conversa, ou descobrisse aonde Oliver pretendia chegar. - Foi o melhor Natal que tive em muitos anos.

— Bem, não tivemos uma festa pomposa ou uma ceia com seis pratos. – brinquei.

— Doze. – me corrigiu - Moira Queen gosta de exagerar.

— Algumas coisas nunca mudam. – nós dois suspiramos - Mas eu concordo. Esse foi, em parte, o melhor natal que tive, desde... – não completei, mas Oliver compreendeu.

— Aquele ano foi um marco. – Oliver continuou ininteligível a princípio - Desde então, todos os natais oscilaram entre bons e horríveis. Cada natal sem Maya me matou um pouco, e cada natal com ela parecia faltar alguém essencial. – dessa vez seus olhos não vacilaram - Faltava você, Felicity.

Minha pulsação acelerou.

— Eu te ouvi naquela noite. – disse quase inaudível.

— Como? – Oliver consertou a postura, o corpo inclinando-se para a frente.

— Há seis anos. Eu me perdi na mansão. – a tez de Oliver mudou completamente ao se dar conta de que noite eu falava, nosso último natal juntos – Eu procurava o banheiro, e então ouvi você e seus pais no escritório. Eu não planejava continuar escutando, mas quando percebi que eu era o assunto, eu não pude evitar.

— Felicity... – seu olhar estava aflito, mas não lhe dei atenção eu precisava colocar aquilo para fora.

— Você disse que era a coisa certa a fazer. – Ele deve ter sentido meu tom indignado, porque minhas palavras o fizeram se colar a parede - Ficar comigo e nosso bebê. Deixar a faculdade dos sonhos e largar o futebol para fazer administração em Star City. Eu ouvi seu pai dizer o quanto estava decepcionado com seu único filho, em como você estava afundando a sua vida por causa de uma garota e um bebê, e você respondeu que lamentava, mas que era a coisa certa a fazer. — repeti com desgosto - Eu não o queria assim. - expliquei - Não queria que ficasse comigo apenas por causa de Maya, não queria que desistisse dos seus sonhos, que desapontasse seus pais. Por que eu sabia que um dia, se eu tivesse dito sim a você naquela noite, um dia você olharia para trás e se arrependeria de tudo o que abriu mão. Se arrependeria de nós.

Um silêncio mórbido se instaurou entre nós.

Havia tristeza nos olhos de Oliver, e algo mais que traduzi como desespero.

— Eu fiz tudo isso, Felicity, mesmo que tenha me dito não. – ele respondeu afoito - Eu não fui para a faculdade cara e de renome que meus pais queriam, eu deixei o futebol porque não era uma carreira viável para quem quer ser pai em tempo integral, eu fiquei em Star City, eu comecei a trabalhar e tentei ser o pai mais presente que pude ser, dada as circunstâncias. – engoli em seco, vidrada em suas palavras - Eu preciso que entenda que meu pedido não era por Maya. – ele parou, olhando intensamente para mim. - Eu amei você. – Amei. Amei. Amei. A palavra se repetiu tornando cada batida do meu coração dolorosa. – Eu era jovem demais e talvez não tivesse consciência disso na época, mas eu queria mais do que tudo que fôssemos uma família, eu sabia que seria difícil, mas eu queria, não porque era a coisa moralmente certa a se fazer quando se engravida uma garota, mas porque era a coisa certa a fazer para o meu coração. E a única coisa que eu lamentava, era que meus pais fossem incapazes de me entender.

Eu não conseguia respirar, meu coração compreendendo sua declaração antes que meu cérebro o fizesse.

— Eu amei você também. – falei num fôlego só - Era diferente naquela época, entretanto. Nós éramos dois jovens apaixonados vivendo o sonho de um primeiro amor, mas a vida real não é assim, um filho muda tudo, Oliver.

— Eu sei que muda tudo, mas eu acreditava em nós. -  Eu não. Engoli a amarga verdade, eu estava tão pronta para aceitar que repetiria a história de meus pais. - Era diferente, mas ainda era amor. – ele parou, e então sua mão segurou a minha, seu olhar puxando o meu, um sorriso oscilante em seus lábios - Ainda é amor.

— É?

— Há seis anos eu me apaixonei pela garota nerd que não me deixou colar dela em álgebra, eu fingi precisar de aulas particulares para ter um pouco do seu tempo. O sentimento mudou com o passar dos anos, amadureceu. Eu aprendi a respeitá-la pela mãe amorosa e centrada que é para nossa filha, pela mulher obstinada que se tornou, e ainda conservando a doçura daquela menina que amei há tanto tempo. Meu amor apenas amadureceu, mas continua firmemente instalado no meu coração, isso não muda, mesmo que tenha que amá-la a distância.

— Eu fiz o mesmo. – admiti e vi alívio e algo doce em seus olhos – Fui tão tola evitando você por tantos anos. Eu queria que fôssemos uma família, mas eu tinha medo. Medo de que você achasse que todos estavam certos. – Oliver franziu o cenho. – A filha da garçonete engravida do cara mais rico da cidade? Eu escutava os falatórios todos os dias dizendo que eu havia dado o golpe da barriga. – Oliver rosnou.

— Eu não sabia disso. – ele realmente parecia perplexo e com raiva. – Eu jamais pensaria isso de você.

— Eu estava envergonhada e tinha orgulho demais para discutir isso com você. – dei de ombros - Acho que no fundo eu era apenas uma adolescente lidando com muitas mudanças, eu não estava pronta para isso. – apertei sua mão que ainda segurava a minha.

— Eu acho que eu também não estava.

—  Estamos prontos agora? – perguntei timidamente, erguendo os olhos.

— Nunca saberemos se não tentarmos. – sua mão que não estava na minha me puxou para si, meu corpo acomodando-se junto ao seu, apoiei a mão livre sobre a rigidez de seu peitoral.

— Você vai me beijar? – perguntei, o sorriso charmoso apareceu em seus lábios novamente, e só agora, depois de tanto tempo, eu percebia que Oliver dava esse sorriso charmoso apenas para mim.

— Eu vou. – sua mão apertou em minha cintura, pressionando meu corpo ainda mais no seu, ao mesmo tempo que seu rosto se inclinava para mim.

Arfei no instante em que seus lábios tocaram os meus.

Um beijo com seis anos de atraso.

Eu não reconheci a aspereza da barba roçando em meu rosto ou a pressão de seus lábios contra os meus, até mesmo seu gosto era diferente de como eu me lembrava, mentolado e doce ao mesmo tempo. Seus movimentos eram mais precisos e decididos, como a sua mão se colocou ao redor do meu rosto controlando o beijo que se aprofundava, como sua língua movia-se insaciável na minha. Oliver era um homem feito e não mais um garoto afoito, ele sabia o que queria, e como queria. Havia um desejo mais cru e despudorado na forma que nossos corpos comprimiam-se tentando sentir tudo um do outro, mas o sentimento ainda estava ali, se agitando sob minha pele. Diferente e ao mesmo tempo tão parecido com o de tantos anos atrás.

Era um tipo de amor amadurecido, que esperou pelo tempo certo para acontecer.

Percebi que nos movimentávamos, mas o beijo não cessou até que Oliver tivesse me pressionado a porta do meu quarto, com a mão sobre a maçaneta. Nossos lábios se afastaram apenas alguns centímetros e aproveitamos para recuperar o fôlego. Sua testa colou-se na minha e ele olhou com ansiedade em meus olhos em busca de confirmação, eu assenti levemente, enrolando minhas mãos em seu pescoço e voltando a beijá-lo. Eu tinha ficado seis anos sem Oliver, não queria perder nenhum minuto mais.

Oliver abriu a porta, e nos empurrou para dentro.

E então nos perdemos um no outro.

Para nunca mais nos perdermos um do outro.

❆❆❆

Eu sentia um calor anormal para o inverno. A primeira coisa que pensei foi que deixei o aquecedor ligado ao máximo, e que precisaria ir até Maya para ver se ela estava bem. Mas quando fiz menção para sair da cama, me tornei ciente do agarre firme em minha cintura.

E da minha falta de roupas.

— Não se levante. – a voz preguiçosa sussurrou contra meu pescoço, deslizando a ponta do nariz pela nuca e fazendo minha pele se arrepiar.

— Você está aqui. – girei ainda em seus braços, ficando de frente para Oliver. Nunca tínhamos tido isso, de dormir e acordar nos braços um do outro. Era algo totalmente novo.

E maravilhoso.

— Vai dizer que não se lembra? – suas sobrancelhas se uniram, o lábio inferior se projetando parecendo ligeiramente magoado com a possibilidade de me esquecer da nossa noite. Tive vontade de rir.

— Eu me lembro de cada detalhe da noite anterior. – toquei seu rosto, correndo os dedos sobre a barba como sempre tive vontade de fazer. Ela arranhava um pouco, mas eu até que gostava. - É apenas estranho acordar e ter você em minha cama. – Oliver estudou minhas palavras - Estranho de um jeito muito bom. Apenas não estou acostumada a ter ninguém aqui, exceto Maya.

Seu sorriso veio acompanhado de um olhar possessivo.

— Acho que vai ter que se acostumar. – moeu seu corpo contra o meu e gemi quando sua boca cobriu a minha num preguiçoso beijo de bom dia. - Não quero dormir em nenhum outro lugar. – suas palavras diziam mais, buscavam confirmação em mim de que eu queria o mesmo que ele.

— Gosto do som disso. – respondi sem controlar o sorriso que surgia em meus lábios ao pensar em Oliver em minha cama. Todos os dias.

— Feliz Natal, Felicity.  – derreti contra suas palavras, mas algo nelas me alertaram.

— Oh, Deus! – Olhei para Oliver horrorizada - Oliver é manhã de natal!

— Eu sei. – ele riu do meu desespero, mas seu cenho se fechou no instante em que me ergui da cama num pulo e comecei a vestir minhas roupas apressadamente. - Ei, volte aqui eu quero desembrulhar meu presente novamente. – sorri, apreciando a ideia, mas me forcei a focar no problema que tínhamos.

— Por mais que eu goste de ser desembrulhada por você, teremos que deixar para mais tarde, agora temos problemas. – um Oliver ainda desnudo na cama olhava para mim sem qualquer pudor enquanto eu vestia meu sutiã, quase tirando minha concentração - O presente que comprou para Maya ficou na sua casa.

— Oh, merda. – Ele concordou, erguendo-se da cama e procurando por suas roupas.

— Ela vai pensar que entrou para a lista de pestinhas, ela me atormentou o dia inteiro sobre isso. Temendo não receber o seu presente. – terminei de me vestir, percebendo que Oliver havia terminado também e estava a minha frente. - O que faremos? Ela só tem cinco, não quero que perca a fé no papai Noel.

— Eu posso tentar ir em casa buscá-lo, mas não acho que vá dar tempo. – disse - Ontem quando dirigi para cá algumas estradas já estavam bloqueadas, e o asfalto escorregadio por causa do gelo. – peguei algo em suas palavras - Foi um tormento para chegar.

— Espere, você dirigiu para cá sabendo da nevasca? – questionei, seu olhar se tornou maior, quase culpado por ser pego, mas então ele piscou deixando-me ver que havia certa vulnerabilidade.

— Eu não suportaria passar mais um natal longe de vocês duas, eu já sabia da tempestade, do aviso para que ninguém saísse de casa, que era perigoso. – meu coração começou a bater frenético – Então eu vi a oportunidade de ficar aqui com vocês duas e a peguei. – não pensei, acertei um pequeno tapa em seu rosto. – Ai. – Oliver reclamou, esfregando o rosto e me olhando sem entender minha reação. – Por que fez isso?

— Isso foi por ser imprudente. - expliquei - E isso... – puxei-o pela camisa - ...por ser absurdamente romântico.

O beijo se construiu sem pressa dessa vez.

Já tínhamos compartilhado todos os tipos de beijos na noite anterior, mas este era especial. Não sei ao certo o porquê. Mas ele tinha gosto de aceitação e de amor na sua forma mais pura.

— Meu presente de natal! – o grito de Maya, e o som de palmas me fizeram quebrar o beijo e me afastar, embora a mão de Oliver segurando a minha não tenha me permitido ir muito longe.

— Maya! O que faz aqui, ursinha? – perguntei, tentando distraí-la da cena estranha que era seus pais se beijando. Mas ela não pareceu se importar. Maya tinha aquele sorriso absurdamente grande no rosto.

— Vim procurar meu presente de natal. – ela explicou, piscando seus olhinhos inocentemente.

— Sobre isso, querida, eu acho que papai Noel se confundiu e deixou seu presente na casa do seu pai. – tentei, torcendo para que a explicação funcionasse, mas Maya apenas riu.

— Mamãe, aquela carta foi só para você. – explicou meneando a cabeça - Eu sei que você e papai compram meus presentes todos os anos. Acho que ficam com medo de papai Noel me colocar na lista de pestinhas. – troquei um olhar com Oliver, nenhum de nós sabia o que dizer - Mas ele me deu exatamente o que eu pedi. – ela sorriu para nós, sua mão se colocando sobre a minha e a de Oliver, que estavam unidas - Papai e mamãe juntos no natal! Vocês vão ficar juntos por todos os natais, não é? – Havia um pouco de medo, que desabou assim que Oliver a respondeu.

— Para sempre. – Oliver respondeu por nós dois sem sequer hesitar, não me incomodei, gostava demais da sua resposta.

— Parece bom pra mim, agora podemos brincar na neve?

Para sempre.

As duas palavras dançaram ao redor da minha cabeça e fizeram lar em meu coração. Oliver e eu tivemos uma noite de entrega depois de seis longos anos, parte de mim queria conversar sobre o futuro, o que isso mudava para nós. Mas a outra parte? Estava focada demais brincando de guerra de bola de neve com Maya e Oliver, fazendo bonecos e anjos na neve e cantando músicas do Frozen.

Nunca vi Maya tão feliz.

— Maya está feliz com seu presente. – Oliver se aproximou de mim, verbalizando meus pensamentos enquanto nós dois observávamos nossa filha envolver um cachecol envolta do boneco de neve com quem conversava e obviamente tinha sido nomeado de Olaf. - Na verdade, eu tenho um presente para você também, Felicity. – meus olhos se moveram para Oliver.

— Você tem? – Perguntei surpresa, nós nunca trocávamos presentes.

— Eu não sei se posso chamá-lo de presente. Sempre foi seu. -  não compreendi quando Oliver começou a tirar minha luva, pousando algo frio na palma da minha mão - Espero que dessa vez você esteja pronta para aceitá-lo, não precisa ser hoje. – se adiantou, e abri a boca no instante que vi o que ele havia colocado ali. - É um presente de um dia, para algum dos muitos natais que passaremos juntos.

Encarei o anel.

Era o mesmo anel de seis anos atrás, e inclusive, era o mesmo brilho nos olhos de Oliver, que me encaravam em expectativa, mas também compreensão e amor.

— Oliver? – ele me olhou temeroso - Eu tenho um presente para você também.

— Tem? – segurei o sorriso para a sua confusão.

— Sim. – coloquei o anel no dedo ao qual pertencia - É minha resposta, com seis anos de atraso.

— Não importa o tempo, amor.  – disse emocionado, o brilho em seus olhos, só agora eu percebia eram de lágrimas que por seis anos ele segurou - O que me importa é que é um sim.

— Isso quer dizer que nós três vamos nos casar? – Maya piscou os olhos para nós dois dando pulinhos, animada demais para se conter. Oliver a pegou no colo, e Maya passou os braços tanto por sobre os ombros do pai, quanto dos meus, nos mantendo em um abraço triplo.

— Sim. – Oliver a respondeu - Feliz, pequena?

— Eu devo ser a menina mais boazinha do mundo para Papai Noel me dar tantos presentes! – falou radiante - Eu pedi de presente um natal com papai e mamãe, e ganhei todos os natais do mundo com vocês dois e um casamento! – Nós dois rimos e beijamos Maya ao mesmo tempo, quando meu olhar cruzou o de Oliver, eu soube que pensávamos o mesmo.

Papai Noel poderia ter dado este presente para Maya.

Mas nossa filha tinha dado algo muito melhor para nós dois.

 


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Notas finais do capítulo

Maya é uma criança um pouquinho diferente das que estou acostumada a escrever, mas foi desse jeitinho aí que ela saiu! Bem filha de Oliver e Felicity rsrsrs

Espero que tenham gostado e que essa one tenha aquecido seus corações nesse natal!

Boas festas a todos vocês!

Ps.: Dúvidas sobre minhas outras fics? Favor checar meu perfil.