Escolhas escrita por CalieBlack, QG Dramione


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, essa é minha fanfic pro desafio de natal do QG Dramione!

Espero que gostem!



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Escolhas

Draco estava há dias sem dormir e sua tensão apenas aumentava com a proximidade do natal. A perspectiva de voltar para casa e explicar por que ainda não tinha conseguido cumprir sua missão o apavorava. Mais do que as consequências para si, porém, ele se preocupava com as consequências que sua ineficácia trariam a seus pais.

Se fosse honesto consigo mesmo, admitiria que ter se tornado um comensal da morte havia sido um erro. A euforia e o orgulho que o tinham levado a se juntar a essas pessoas se transformou rapidamente em arrependimento quando ele percebeu de fato o que significava ser um comensal da morte. Quando sua demora em atingir o objetivo que lhe foi dado trouxe a ele consequências dolorosas e ameaças, ele percebeu a dimensão do problema em que tinha se metido e sabia agora que não havia modo de sair.

Sentia-se até mesmo idiota em alguns momentos por ter sido conquistado com as promessas vazias do Lorde das Trevas, as promessas de glória, fortuna e respeito que, em seu primeiro fracasso, foram por terra e ele percebeu que não era diferente dos demais comensais da morte que ele tanto considerava inferiores a si.

Eram esses pensamentos que o mantinham acordado à noite.

Quando Theodore Nott entrou no quarto e lhe avisou que estava sendo chamado à sala de Dumbledore, Draco sentiu o sangue gelar e por todo o caminho pensou em inúmeros cenários catastróficos em que seus planos de matar o diretor haviam sido descobertos e ele seria expulso da escola e levado para Azaban.

Ao chegar finalmente na sala do diretor, após o que pareceu a caminhada mais longa de sua vida, Draco sentia-se sem ar somente todo o seu treinamento como oclumens o permitiram controlar suas emoções e vestir a máscara de escárnio desinteressado que ele havia aprendido a exibir. Quando a porta da sala se abriu e ele subiu as escadas para encontrar Dumbledore, não havia mais qualquer sinal de apreensão em sua face.

Mas a cena que ele encontrou na sala do diretor não era nada do que ele estava esperando. Dumbledore não estava sentado em sua mesa acompanhado de aurores, mas ao lado de Severo Snape e duas crianças que ele nunca tinha visto. Uma delas – um garoto ruivo com sardas por todo o rosto – abriu um enorme sorriso assim que o viu entrar na sala. Era maior que a outra criança – uma menina, de longos cabelos loiros-platinados que segurava firmemente a mão do garoto ruivo com uma expressão amedrontada

— Sr. Malfoy – Dumbledore o cumprimentou em um tom de voz ameno – Que bom que está aqui! Sente-se, sente-se, temos muito o que conversar!

Draco sentou-se incerto, olhando para seu padrinho em busca de alguma explicação, mas Snape retribuiu seu olhar de maneira impassível.

— Deixe-me apresentar essas adoráveis crianças: esta – Apontou para a garotinha – é Lyra Malfoy.

A garotinha olhou para Dumbledore com uma careta.

— É Gwanger—Malfoy. — Corrigiu revirando os olhos.

Draco olhou para a garota, surpreso. Dumbledore ignorou sua reação e somente sorriu pela correção.

— Ora me desculpe. Esta é Lyra Granger-Malfoy, e este — Apontou para o garoto com a sugestão de um sorriso nos lábios — É Hugo Granger-Malfoy.

Draco encarou o diretor por um momento tenso e então começou a rir.

Dumbledore o encarou, parecendo divertido e por um momento muito rápido, ele pensou ver pena no olhar que Snape dirigiu a ele.

— Essas crianças, Sr. Malfoy, vieram do futuro. — E toda a diversão que ele sentia desapareceu e ele se empertigou na cadeira, olhando para seu padrinho em busca de confirmação.

Snape deu então um passo à frente e parou ao lado de Draco.

— Eles apareceram na minha sala esta manhã, portando um vira-tempo. Nós vimos suas memórias e confirmamos que falavam a verdade — O professor de poções disse pausadamente, muito atento à reação de Draco.

Granger? Em que tipo de futuro eu teria um filho com Granger?!

Snape apenas continuou encarando o afilhado.

— E esse garoto. Esse garoto não pode ser meu filho! — Draco se levantou da cadeira, apontando um dedo irado para o garoto em questão — É impossível que ele seja meu filho! Olha bem pra ele! — Draco começou a tremer.

Lyra se assustou com a reação irritada de Draco e se escondeu atrás de Hugo que tinha os ombros caídos e os olhos focados nos pés.

— Sente-se, sr. Malfoy — Dumbledore disse apontando para a cadeira e seu tom de voz não dava espaço para argumentos.

Draco não se sentou.

— Eu quero ver essas memórias!

O garotinho ruivo se aproximou temeroso de Draco e puxou-lhe a barra da camisa para chamar sua atenção, parecendo igualmente chateado e amedrontado.

— Papai, nós...

— Eu não sou seu pai! — Draco interrompeu afastando bruscamente a mão do garoto de si. — Eu não sou seu pai!

Imediatamente, os olhinhos verdes se encheram de lágrimas e o garotinho apertou os lábios para impedir que elas escorressem.

— sr. Malfoy, sente-se — Dumbledore ordenou de maneira mais incisiva e por mais absurdo que parecesse, foi Snape quem afastou – muito gentilmente – o garoto de perto de Draco.

Draco respirou ainda algumas vezes antes de obedecer o diretor.

— Precisamos que alguém se responsabilize por essas crianças até que consigamos consertar o vira-tempo para mandá-las de volta para o futuro — Dumbledore disse e dessa vez, Draco controlou melhor sua reação.

— E por que você não deixa essas crianças com Granger então? — Malfoy questionou, cruzando os braços.

— Você, sr. Malfoy, melhor do que ninguém, sabe o perigo que essa nova situação representa nos dias de hoje — E de maneira sutil, olhou rapidamente para o braço esquerdo de Draco e ele sentiu o sangue gelar. Dumbledore sabia. Sabia que era um Comensal da Morte. — E acredito que tenha ferramentas melhores para não deixar que essa situação se torne conhecimento público.

Draco engoliu em seco. Dumbledore sabia que ele era um Comensal da Morte e um Oclumens e provavelmente estava contando com o fato de que ter um filho com a sangue-ruim mais famosa da Inglaterra traria consequências piores para ele do que para a bruxa em questão.

E ele estava certo.

Sabendo que tinha perdido aquela discussão, Draco tentou outra abordagem.

— E por quanto tempo eu vou precisar cuidar delas?

— Não sabemos ainda ao certo, o vira-tempo pode ser consertado hoje ou daqui a um mês. Enquanto espera, um quarto foi criado para acomodá-los.

***

Snape o levou até o quarto que ocupariam naquele meio-tempo e o caminho até lá foi silencioso. Draco, mais preocupado em questionar a veracidade da situação, não percebeu a pose cabisbaixa das crianças e a visível tristeza que elas demonstravam, mas Snape percebeu.

Havia sido uma surpresa para o professor de poções descobrir que no futuro seu afilhado se relacionaria com Hermione Granger. Até onde sabia, Draco acreditava demais na visão dos sangues-puros e nos ideais de Voldemort para que aquilo fosse possível e uma parte dele ficou feliz em descobrir que Draco se tornaria uma pessoa melhor no futuro.

Outra parte dele ficava preocupado com o perigo que essa informação representava naquele momento. Ele tinha sido adamante contra a ideia do diretor de deixar Draco responsável pelas crianças. Compreendia a importância de não contar a srta. Granger o que estava acontecendo, mas Draco… Draco corria risco de vida se aquela informação chegasse aos ouvidos errados.

Conhecendo o diretor há tantos anos, ele conseguia decifrar sua motivação para arriscar a vida de seu aluno favorito, mesmo que aquilo arriscasse todo um futuro e a vida das crianças que conheceram aquela manhã.

Se havia aprendido alguma coisa em todos os seus anos, era de que Alvo Dumbledore não devia ser confiado, pelo menos não cegamente. Dumbledore nunca dava ponto sem nó e todas as suas atitudes serviam a um propósito.

O que poderia fazer agora era ajudar Draco a lidar com a situação.

Após mostrar o quarto que dividiriam em uma ala abandonada do castelo, Snape se abaixou diante das crianças e colocou uma mão no ombro de cada um.

— Nós conseguiremos mandar vocês de volta para seus pais, não se preocupem — E apesar de parecer fora de seu personagem, Draco já havia visto Snape agir de maneira amigável algumas vezes em sua vida para não se surpreender com a demonstração de afeto.

Snape parecia especialmente preocupado com Hugo e Draco revirou os olhos.

— Draco. — Disse se levantando e encarando o garoto em questão — Tome cuidado. Se precisar de alguma coisa, sabe onde é minha sala.

Draco assentiu e viu o professor ir embora. Como ele queria um whiskey de fogo naquela hora!

Olhou ao redor, apesar de amplo, não havia qualquer privacidade naquele quarto, nem muitos móveis. Havia uma cama de casal em um dos cantos e outra no canto oposto, separadas por uma escrivaninha de madeira. Havia uma porta que levava a um pequeno banheiro e só. Era onde teria que passar os dias até as coisas se resolverem e dentro daquele lugar, não teria como evitar as duas crianças.

Mas ele podia fingir que elas não existiam e foi o que fez até a hora do jantar, quando foi para o salão comunal, deixando as crianças para trás sem dizer uma palavra.

Para os colegas de sonserina, disse que estava cumprindo uma missão dada pelo Lorde das Trevas e que por isso não ficaria mais no dormitório de sua casa. De acordo com essa história, apenas apareceria para as refeições e aulas para não levantar a suspeita dos professores o que fez com que ganhasse a admiração daqueles que o ouviram por ser tão importante em seu meio.

Quando voltou para o quarto, Hugo o esperava próximo à porta e assim que o viu entrar, foi em sua direção.

— Papai, foi minha culpa, não fica…

— Quantas vezes eu tenho que te falar — Draco o interrompeu irritado — Que eu não sou seu pai?

Os olhinhos de Hugo se encheram de lágrimas, mas ele não chorou, apenas abaixou a cabeça e correu para o banheiro. Lyra, que viu a curta interação, veio marchando em sua direção e ele se preparou para aguentar mais um pouco de pirraça infantil.

— Você é mau! — Ela acusou apontando um dedo para seu rosto — Hugo é meu irmão sim e você não pode fazer ele ficar tristi!

— O ponto é que ele não é meu filho, é impossível que ele seja meu filho — Draco disse cansado.

— Ele é sim!

Nenhum pouco disposto a discutir com uma criança de quatro anos, Draco ignorou seu protesto infantil e foi para a cama, disposto a fingir que nada estava acontecendo e dormir.

***

Hugo sabia que era tudo culpa sua. Ele sabia que não era bem vindo e que, novamente, era o responsável pela infelicidade de seu pai. Por isso ele pegou a única coisa que tinha consigo e esperou que todos estivessem dormindo para fugir do quarto, torcendo para que sua ausência pelo menos melhorasse as coisas para Lyra e deixasse seu pai… Não, sr. Draco, contente.

***

Draco foi acordado por Lyra em algum momento da madrugada e quando viu que era a garotinha que lhe balançava os ombros, afastou-a de si sonolento e virou-se para o outro lado.

Lyra o cutucou novamente, dessa vez com mais força e ele resmungou mandando-a ir dormir, mas foi obrigado a se levantar na cama quando ela continuou insistindo em acordá-lo.

— O que você quer?

— Hugo sumiu. — Ela disse com a voz chorosa e Draco demorou um momento para compreender o que ela dizia.

— O que você disse? — Ele perguntou por reflexo enquanto sua mente girava imaginando como o garoto conseguiu sair do quarto e quais as consequências para Draco se o diretor e Snape descobrissem. Principalmente se alguma coisa acontecesse com Hugo. Ele não queria nem imaginar o que aconteceria com ele se o garoto se machucasse ou pior…

Com a adrenalina correndo em suas veias, Draco rapidamente trocou de roupa e saiu em busca do garoto desaparecido.

***

Hugo andava pelos corredores silenciosos do castelo sentindo-se completamente perdido. Não tinha sequer uma noção de onde estava e nem como sair dali. Sua convicção de que estava fazendo o certo foi minguando e ele só queria sua mãe. Pensar em sua mãe o fez sentir um nó na garganta e ele começou a chorar silencioso, andando pelos corredores sem realmente enxergar para onde ia.

Se ele não tivesse pegado escondido o vira-tempo que achou nas coisas de seus pais, se não tivesse convencido Lyra de que seria divertido voltar no tempo para ver seus pais quando criança, nada disso teria acontecido.

Se ele não tivesse voltado para o passado, seu pai ainda o amaria e o levaria para ver jogos de quadribol e o colocaria em seu ombro para que ele pudesse ver mais longe. Mas agora que tinha desobedecido, ele tinha certeza de que seria enviado para um orfanato de crianças mágicas por ter usado o vira-tempo quando sabia muito bem que era proibido. Ou pior, seria enviado para Azkaban e nunca mais veria sua família.

Rony estava certo, ele só trazia tristeza e sofrimento por onde passava, era melhor que não existisse.

Lembrar-se de Rony só o fez chorar com mais força e ele parou de andar, sentando no chão, escorado em uma parede e abraçando os joelhos enquanto chorava copiosamente. Chorava tanto que não percebeu quando uma garota de grandes cabelos cacheados se abaixou ao seu lado e se assustou quando ela colocou uma mão reconfortante em seu ombro e lhe perguntou se estava tudo bem.

Ver sua mãe naquela hora o fez chorar de alívio e sem pensar, sem lembrar que essa não era a mãe que conhecia, ele se jogou em seus braços e se deixou ser embalado e reconfortado.

Hermione jamais esperaria encontrar uma criança chorando perdida em Hogwarts, tudo o que podia imaginar era que seus pais estivessem de visita ao castelo e que ele havia se perdido entre os longos corredores.

A tristeza daquele garotinho era tanta que ela fez questão de acalmá-lo antes de levá-lo até a sala de Dumbledore, dizendo que tudo ficaria bem, que ela o ajudaria a encontrar seus pais, e cada vez que ela dizia isso Hugo ficava mais tranquilo. Porque aquela mamãe que não era sua mamãe ainda, era doce e gentil como ele se lembrava. E mesmo que ela não o conhecesse, Hugo se sentiu querido e protegido em seus braços e acreditou quando ela disse que tudo ficaria bem.

Quando chegou na sala do diretor, ele chorava bem menos do que quando Hermione o encontrou e o que mais o apavorou quando ela foi embora foi a preocupação com o que aconteceria com seu pai agora que descobriram que ele tinha fugido. Ele com certeza o detestaria ainda mais, e uma nova rodada de lágrimas tomou conta de seus olhos.

Quando Snape entrou com Draco na sala do diretor, Hugo estava concentrado no brasão que tinha em mãos, chorando silencioso, cabisbaixo.

A primeira coisa que Draco notou ao entrar na sala foi o brasão nas mãos do menino e sentiu o sangue gelar ao reconhecer o objeto.

— O que você está fazendo com isso?! — Ele perguntou irritado, dando um passo largo na direção de Hugo — Como você conseguiu isso?!

Hugo não se assustou nem reagiu ao tom de voz de Draco.

Ele sabia que era um menino mau e que não merecia mais ter aquele brasão. Sem levantar a cabeça, ele escorregou para fora da cadeira onde estava sentado e sem dizer nada, entregou o brasão para Draco que o recebeu incrédulo.

Snape reconheceu o objeto que Draco agora tinha em mãos e sentiu seu coração se aquecer minimamente.

— É melhor voltarem para o quarto.

***

Draco passou horas analisando o brasão em sua mão. Por mais que ele quisesse negar, aquele brasão eram provas de que, por algum motivo, aquele garoto havia se tornado seu filho no futuro. Mas por quê? O que aconteceu?

Conforme o tempo passava, a frustração de não saber toda a verdade aumentava e aumentava e foi então que ele decidiu que veria as memórias daquelas crianças. O perigo de ver as memórias inteiras era que conhecê-las poderia mudar o futuro de alguma forma e Draco sabia muito bem disso. Mas esse era um risco que ele estava disposto a correr.

Então ele saiu do quarto depois de conferir que as crianças estavam dormindo, e foi à sala de Snape onde provavelmente estavam a penseira e as memórias. Ele estava preparado para encontrar feitiços complicados que exigiriam grande esforço para que ele tivesse acesso às memórias, mas ao chegar na sala do professor de poções, não havia qualquer feitiço complicado bloqueando a porta e a penseira  estava no centro da sala, cercada pelas memórias das crianças de uma maneira que claramente indicava que Snape acreditava que ele deveria ver as memórias.

Draco ainda hesitou alguns instantes antes de mergulhar nas memórias, mas sua curiosidade era maior que seu medo e após respirar fundo, ele mergulhou na primeira memória.

***

Escuridão. Só havia escuridão para onde ele olhava e um sentimento opressor de tristeza.

Draco olhou ao redor procurando discernir onde estava, o que deveria estar vendo, mas a escuridão impediam que ele visse qualquer coisa.

Uma luz se acendeu na fresta embaixo de uma porta fechada e ele percebeu que estava em um quarto. Quando seus olhos se acostumaram com a pequena claridade, ele viu que estava num quarto de criança por conta dos bichinhos de pelúcia e brinquedos pelo chão.

Olhou ao redor e viu Hugo sentado na cama, olhando para a porta. Não devia ter mais que três anos.

Então a porta se abriu e Draco viu a silhueta de Hermione — inconfundível por conta do cabelo — delineada pela luz que vinha de algum cômodo atrás dela. Não conseguia ver seu rosto e ela não disse nada, apenas caminhou até a cama e Draco ouviu-a se mexer na cama, imaginando que ela tivesse pegado Hugo nos braços e se deitado com ele.

Em poucos minutos, ouviu o choro mal contido de Hermione e então, a memória acabou.

***

Foi levado a outra memória. Esta carregava o mesmo sentimento de tristeza, mas estava clara como o dia.

Nela, Draco viu Hugo agachado, escondido atrás do batente de uma porta, olhando para o que acontecia no cômodo à sua frente.

Então ele começou a ouvir o barulho. Um barulho alto e característico de vidro se quebrando, e entrou no cômodo que Hugo olhava.

Viu Weasley atirando ao chão todos os copos e pratos que encontrava, sua mira desajeitada indicando claramente que estava embriagado e ao canto, Hermione chorava, vendo Weasley em seu ataque de destruição.

***

Na terceira memória, Draco viu Hugo ser acordado durante a noite por uma Hermione tensa, que lhe tentava sorrir sem sucesso convidando-o para uma volta no parquinho.

— Mas eu tô com sono… — Hugo resmungou coçando os olhos com as mãos.

— Eu sei meu amor, eu sei — Hermione disse com ternura — Mas vai ser divertido…

E sua tentativa de convencê-lo a sair da cama só pareceu surtir efeito quando o barulho alto de algo caindo entrou no quarto e mãe e filho pularam de susto.

Draco então viu Hugo olhar da porta para a mãe algumas vezes e concordar com a cabeça em irem para o parquinho.

— Não precisa trocar de roupa — Hermione disse colocando uma mecha de cabelo ruivo atrás da orelha de Hugo — Não vai ter ninguém lá.

E mãe e filho saíram silenciosos por uma porta quase escondida da casa. A rua estava deserta e não havia luz em nenhuma das casas pelas quais passaram até chegarem no parquinho. Hugo estava quase dormindo nos braços de Hermione e hora ou outra ela olhava para o filho sonolento com um sorriso triste nos lábios.

No parquinho, ela se sentou em uma balança e balançou distraidamente com ele aninhado no colo, ninando-o de volta ao mundo dos sonhos.

***

— Eu não sei mais o que fazer!  — Draco ouviu assim que entrou na memória seguinte e o grito controlado de Hermione lhe indicaram que ela não queria ser ouvida por todos na casa.

Estavam agora no que Draco imaginava ser a casa de Harry Potter e novamente, Hugo ouvia a conversa escondido atrás de uma parede.

— Eu já tentei de tudo Harry, de tudo! — Hermione continuou — Parece que ele não quer ficar melhor! Já tentei dar espaço a ele, já tentei conversar, nada adianta! A cada dia ele parece pior! Ele já quebrou dois jogos de pratos essa semana e tem chegado bêbado todas as noites! E eu não sei o que fazer!

E sua tristeza e frustração fizeram o coração de Draco se comprimir. ELe não conseguia imaginar o que pudesse ter acontecido para Weasley se comportar daquele jeito, nem o que mantinha Hermione naquela situação.

— Ele não está sabendo lidar com a tristeza Mione… — Harry tentou justificar, mas ele próprio não parecia ter esperanças de que aquilo fosse mudar.

— Até quando Harry? Até quando ele vai ficar de luto pelo que perdeu na guerra? — Hermione parecia derrotada agora, cansada.

E quando Harry respondeu, Draco sentiu o coração se apertar ainda mais, vendo o garotinho que ninguém suspeitava estar ouvindo a discussão começar a chorar com a mãozinha na boca para não ser ouvido.

— Eu não sei.

***

— É tudo culpa sua! — Rony gritava segurando Hugo firmemente pelos braços — Tudo culpa sua!

***

— Está quente hoje não? — Hermione perguntou sorrindo para Hugo. — O que acha de irmos tomar sorvete?

Hugo se levantou do sofá com um pulo e uma exclamação de felicidade, sorrindo largo.

— Eu quero de chocolate!

***

— Me perdoa — Draco viu Weasley dizer chorando, abraçado a Hugo no chão da sala — Eu não quero ser um monstro, não quero! — E Draco acreditou em suas palavras. Weasley parecia um homem desesperado, cansado e triste. Perdido. — Eu não sei o que fazer, eu não sei como mudar! Eu não consigo mudar! — E a forma como ele abraçou Hugo com força pareceu para Draco um homem se afogando, agarrando-se a um pouco de esperança que ainda restava — Eu te amo, eu te amo de verdade. Não esqueça disso!

***

— Hugo. — Hermione chamou sussurrando com urgência — Meu anjo, acorde.

Hugo resmungou um pouco e Hermione o sacudiu gentilmente.

— Hugo, acorde.

O garotinho abriu os olhos e encarou a mãe, sonolento.

— Oi meu anjo — Hermione disse afagando sua bochecha — Nós vamos pra casa do tio Harry agora…

Hugo a olhou confuso.

— É só por um tempinho. — Hermione disse e mesmo que Hugo não compreendesse o que estava acontecendo, ele se levantou da cama e seguiu sua mãe para fora do quarto.

***

— Você acha que ele vai voltar? — Draco ouviu Hermione perguntar para Potter e a cena era muito similar à outra memória naquela casa, com Hugo ouvindo escondido.

— Eu não sei. — Harry respondeu — Mas acho que esse tempo na América vai fazer bem para ele.

— Eu espero que faça. Talvez um tempo longe ajude. Talvez tudo dê certo.

***

Draco se viu diante de uma casa singela, mas muito bem cuidada em tons de azul claro, com um jardinzinho na frente. A casa exalava paz e aconchego e ele quase conseguiu sentir o cheiro de um chá da tarde entre os amigos, com conversas amenas e risos.

— Nossa nova casa! — Ele viu Granger anunciar com orgulho — O que achou?

Hugo olhou para a casa e ao redor de si e sorriu largo ao notar um escorregador pequeno num canto do quintal.

— A gente vai morar aqui pra sempre?

Granger se abaixou para ficando na altura de seus olhos.

— Talvez.

Hugo olhou novamente para a casa.

— Eu gostei.

Granger se levantou então e estendeu a mão para ele.

— Vou te mostrar seu quarto.

***

Draco ouviu a campainha da pequena casa tocar e Granger sair da cozinha intrigada, olhando rapidamente para Hugo que a olhou de volta do sofá da sala sem nenhuma ideia de quem poderia ser aquela hora.

Viu Granger lançar um feitiço na porta antes de abrí-la do modo trouxa e fazer um som surpreso, chamando a atenção de Hugo.

— O que você está fazendo aqui?

E então ele se viu, com cabelos longos e mal-cuidados, roupas puídas e postura humilde, parado na porta da sangue-ruim mais famosa da Inglaterra.

— Posso entrar? — Draco se ouviu perguntar e estava tão estarrecido quanto Granger em se ver agindo daquela forma.

— Eu acho melhor…

— Eu só quero conversar — Draco se viu quase implorar e não ficou tão surpreso em ver Granger abrir um pouco mais a porta e acompanhá-lo até a cozinha. Draco os seguiu, ainda surpreso com a situação.

Granger fez colocou água para esquentar em uma chaleira e o Draco da memória estava sentado próximo à parede, olhando para as mãos, visivelmente deslocado e tenso.

A água começou a ferver e Granger preparou duas xícaras de chá em silêncio e somente quando ela não tinha mais nada para fazer é que perguntou por que ele estava ali.

— Eu… — Draco começou, mas hesitou ao olhá-la nos olhos. — Eu… — E novamente ele não conseguiu completar o que dizia e apertou a mão esquerda com força — Eu queria pedir desculpa.

Hermione o olhou surpresa, mas não disse nada. Ele continuou:

— Por tudo o que eu fiz antes e durante a guerra. Por não ter te ajudado quando… Quando você esteve na minha casa. — Ele olhou-a nos olhos — Eu tive sete anos em Azkaban para refletir sobre tudo o que eu fiz de errado e eu precisava te dizer que eu me arrependo, e que mesmo que você não me perdoe agora, que eu espero que eu consiga consertar as coisas, que eu consiga… Me redimir.

Draco então viu Hermione abrir a boca para dizer algo e notar que Hugo ouvia à conversa escondido — Coisa que ele parecia fazer com muita frequência.

— Hugo. Vai para o seu quarto por favor.

***

Na memória seguinte Draco viu entorpecido sua versão do futuro entrar novamente na residência de Granger, mais arrumado agora, de cabelos cortados e roupas melhores, trazendo um vinho e um suco de uva e o clima daquela memória, do que possivelmente se tornaria um jantar agradável, o confundiu tremendamente. Mas antes que ele visse mais coisas, estava sendo transportado para outra memória.

***

— E qual é o seu time favorito?

Estavam agora em um jogo de quadribol, e Draco não conseguia ver Granger por perto. Estavam só ele e Hugo.

— Holy Head Harpies! — Hugo exclamou animado e Draco revirou os olhos.

— Você não pode escolher um time só porque a sua tia joga nele…

Hugo colocou uma mãozinha no queixo de maneira comicamente pensativa e Draco se viu segurando o riso.

— Por que não os England Falcons? — Draco se viu sugerindo e após refletir um momento, Hugo pareceu concordar.

— Eles são legais!

***

— Você tem que segurar bem firme — Draco disse para o garoto que tentava se equilibrar na vassoura de brinquedo.

Hugo parecia muito concentrado na tarefa de manter o equilíbrio. Gotas de suor escorriam de suas têmporas e Draco mantinha as mãos prontas para segurá-lo se alguma coisa desse errado.

— Eu não vou conseguir… — Hugo resmungou amedrontado.

— Vai sim! Eu acredito em você! — Draco afirmou com um sorriso largo e foi o que faltava para Hugo segurar com firmeza a vassoura e voar alguns centímetros acima do chão.

***

— O que você acha do sr. Malfoy? — Hermione perguntou tentando não transparecer a intensidade com que esperava pela resposta do filho.

— Ele é legal. — Hugo respondeu, distraído com um brinquedo que tinha em mãos — Ele me leva para ver jogos de quadribol e me ensinou a voar de vassoura. — Disse como se isso explicasse tudo o que sentisse sobre o homem.

— Ele tem passado bastante tempo aqui né…

— Eu gosto dele aqui — Hugo deu de ombros.

— O que você acha de ele ser meu namorado? — Hermione perguntou como quem não quer nada, mas estava atenta à resposta.

— Vocês estão namorando? — Hugo olhou surpreso para sua mãe.

— Bem…

— Eu não me importo! — E abriu um sorriso largo — Isso significa que ele vai andar mais ainda de vassoura comigo?

Hermione riu, claramente aliviada.

— Talvez…

***

Hugo acordou sonolento uma manhã e foi para a cozinha onde ouviu a voz de sua mãe.

Parou na porta da cozinha, vendo com um sorriso nos lábios sr. Malfoy que empurrar sua mãe com o quadril, fazendo-a rir enquanto lavava os pratos com magia e apesar de ele não conseguir entender o que diziam, ele tinha certeza de que jamais seriam palavras ruins.

***

Na memória seguinte, Draco se viu em pé em um altar, esperando ansioso e sorridente. Viu sua mãe chorando discretamente na primeira fileira, orgulhosa de seu filho. Não viu seu pai.

Uma música começou a tocar e Draco viu seu eu do futuro sorrir ainda mais largo vendo Granger andar pela nave com um buquê de flores coloridas.

Viu Hugo entrar com as alianças e ficou surpreso ao ver seu eu do futuro se abaixar na altura de Hugo, sua voz magnificada com magia, e perguntar para Hugo se ele aceitava ser seu filho.

***

Draco se aproximou de Hugo preocupado. Não era comum que vissem Hugo chorar, e o garotinho parecia extremamente triste. Hermione tinha comentado que Hugo não parecia bem, mas algo deveria estar realmente errado para ele chorar daquela forma.

Então ele se sentou ao lado do garotinho no sofá e quando ele não levantou os olhos para ele, cutucou-o delicadamente.

— Hey garotão, o que aconteceu? — Perguntou docemente e Hugo só continuou a chorar. Draco abraçou-o de lado, e ele se aninhou em seus braços, buscando conforto. — Você pode me falar qualquer coisa, sabe disso não sabe?

Hugo disse alguma coisa baixo demais para que Draco conseguisse compreendê-lo e ele pediu docemente para que repetisse.

— Você v-vai ter um fi-ilho de verdade a-agora… — Hugo explicou soluçando — E eu v-vou ter que i-ir embo-ora.

Draco arregalou os olhos, surpreso que Hugo pensasse daquela forma.

Tentou se lembrar de ter feito algo que justificasse o medo de Hugo, mas não conseguiu se lembrar de nada.

Como Hugo ainda chorava, Draco o pegou no colo e o abraçou firmemente.

— Você é meu filho de verdade Hugo. Quem disse que você teria que ir embora? — Mas Hugo apenas continuou chorando, abraçando Draco com ainda mais força — Eu amo você garotão, você é meu filho e vai continuar sendo não importa o que aconteça.

***

— Hey garotão — Draco chamou baixinho entrando no quarto escuro. Hugo ainda não tinha dormido e sua cabeça doía de ter chorado por tanto tempo — Está acordado?

Hugo fez que sim com a cabeça, mas não disse nada. Draco se aproximou da cama devagar, com um sorriso pequeno nos lábios. Ao sentar-se na cama, acendeu as luzes com sua varinha e tirou uma caixa de madeira magicamente encolhida do bolso, fazendo-a se desencolher.

Abriu a caixa na frente de Hugo e revelou um pequeno brasão da casa Malfoy entalhado em ouro.

— Sabe o que é isso? — Perguntou a Hugo que negou com a cabeça, interessado no objeto brilhante. — Esse é o brasão da casa Malfoy, passado de geração em geração para o herdeiro da família, aquele que carregará o nome Malfoy. E eu quero dar esse brasão a você, meu herdeiro, para que você nunca se esqueça de quem é. — Draco sabia que Hugo não conseguiria compreender, dada sua idade, a importância daquele gesto, mas quando ele fosse mais velho, quando ele questionasse novamente a legitimidade de seu lugar no mundo, talvez aquilo o lembrasse de que ele sempre seria um Malfoy, de que ele sempre estaria protegido, e de que ele sempre seria amado, independente do que acontecesse.

***

Draco foi lançado de volta para o presente sentindo o coração pesar. Se pôde compreender alguma coisa pelas poucas memórias a que teve acesso, foi que ele conseguiu construir uma família feliz, que era amado e que amava intensamente. Que havia mudado a ponto de aceitar como seu o filho de um traidor do sangue e uma sangue ruim e que teve a coragem de assumir seus erros e se tornar uma pessoa melhor.

Descobriu que o lado para o qual lutava estava fadado ao fracasso e que ele se arrependeria por ter lutado por ele.

Ele sentiu o sol gentil da manhã aquecer sua pele, entrando pela janela da sala, e contemplou por alguns momentos o que tinha descoberto.

Não conseguia pensar, não conseguia racionalizar, não conseguia compreender o que tinha visto. Apesar de poucas, as memórias haviam mexido com ele de uma maneira que ele não imaginou possível e seu primeiro impulso foi fechar os olhos e esquecer tudo o que tinha visto.

Porque agora ele não poderia mais mudar. Ele não poderia começar a agir diferente agora que sabia parte do futuro, porque ele arriscaria a própria existência desse futuro.

Ele não podia subitamente mudar de lado na guerra, procurar proteção da Ordem da Fênix e começar a cortejar Hermione Granger para desenvolver sentimentos por ela agora porque se o fizesse, Hugo não existiria. Não poderia alertar Hermione do sofrimento pelo qual passaria no futuro pelo mesmo motivo.

Se antes ele não se importava com as consequências de ver as memórias, agora ele se arrependia por compreender que teria de esperar anos sem agir, sem interferir, sem mudar, para garantir que aquele futuro existiria, e isso já o fazia sofrer. Saber que lutava uma causa perdida, uma causa que mesmo antes de ver as memórias já não lhe conquistava, seria duro.

Mas ele teria um herdeiro no futuro, uma garotinho ruivo de olhos verdes e sardas que sorria largo em sua presença, que o amava, que se espelhava nele, e uma filhinha que ele conheceria e mimaria e amaria com todo o seu ser, e por isso a espera valeria à pena.

O que ele podia fazer naquele momento era voltar para o quarto, abraçar Hugo e pedir desculpas pela forma como o tinha tratado, dizer que o amava e que sempre o amaria, mesmo que naquele momento, naquele período do passado, isso não fosse inteiramente verdade ainda.

E foi o que ele fez. Voltou para o quarto a passos largos sem se importar de ser pego andando pelo castelo tão cedo na manhã.

Ao chegar no quarto, porém, não havia mais nenhum sinal das crianças. Snape estava sentado em uma das camas, esperando por ele e quando o viu entrar, sorriu discretamente vendo a expressão do afilhado.

— Eles já foram mandados de volta para o futuro — Avisou calmamente e Draco assentiu, sentindo a garganta doer. — Eu tomei a liberdade de dizer a Hugo que você o amava e que estava apenas surpreso com a presença deles no passado.

Draco assentiu distraidamente, sentindo um pouco de alívio que, pelo menos, Hugo não tinha voltado para o futuro com uma imagem totalmente ruim de seu pai.

Sem as crianças ali para ele se despedir, Draco se encaminhou para a cama como em piloto automático, sentindo a enxurrada de pensamentos e sentimentos começar a vazar dentro de si.

— Você viu as memórias? — Snape perguntou e ele novamente assentiu, sem olhar para o professor de poções. Vendo o estado de seu afilhado, Snape se compadeceu e questionou a beneficência de tê-lo exposto a tantas informações.

Como Draco não disse nada por muito tempo, Snape se sentou ao seu lado na cama e, num gesto nada característico, colocou uma mão em seu ombro.

— Vai ficar tudo certo.


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Notas finais do capítulo

Pretendo retornar para essa história e desenvolvê-la em forma de long fic, então se vocês gostarem, fiquem atentos :D