O último Suspiro de Anne Ryan escrita por Paula C


Capítulo 9
Capítulo 9 - Temor




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Você consegue sentir o que eu estou sentindo? 

Olhei ao meu redor e vi meu apartamento vazio. Nada do que eu achava que tivesse estava ali. Nem livros, nem cortinas, nem minha cama. Nada estava ali. E eu não consigo entender como eu podia ver essas coisas... que não estavam mais lá. Só o sopro frio da noite, um sofá velho que eu pretendia reformar e a minha poltrona. 

E ninguém quis minha poltrona. Eu era tão apegada a ela e deixaram-na simplesmente jogada. Assim como outras coisas velhas que eu comprei. E quem iria querer? As pessoas são mais espertas do que sentimentais. 

Mas ali estava eu, sentada junto a Antwon adormecido. Eu olhei para o rosto dele bonito e ao mesmo tempo cansado. Levei minha mão ao rosto dele e acariciei. Como eu o amava. E só lembrava de tê-lo comigo por umas duas semanas. 

Eu fechei os olhos e tentei imaginar como seria minha vida ao lado dele. Seria egoísmo meu querer que ele e Paul continuassem esse plano maluco? Pelo que sei, pode ser perigoso para eles. Mas eu estava de fato tentando não pensar nessa parte porque eu agora não queria mais estar morta. Queria estar junto a Antwon. 

- Talvez eu seja apenas um Mediador, mas tenho quase certeza de que posso ler mentes. - disse Antwon abrindo os olhos lentamente. Ele se espreguiçou. - Não precisa se preocupar. 

- Será que não foi vontade de Deus que eu estivesse morta?

Ele levou sua mão até minha franja fantasmagórica e a colocou com cuidado atrás da minha orelha.

- Deus não decide que você deve achar que é hora de morrer. Eu acho que Ele poderia até mesmo estar muito aborrecido com a decisão que você tomou. - disse ele. 

- Você não acha que vocês estarem querendo mudar a minha decisão seria contra a vontade Dele? Afinal, talvez isso seja um castigo.

- Anne. Ficar aqui não é um castigo. Aqui, você resolve o que ficou inacabado. Castigo... - ele olhou para mim um tanto hesitante. - Bem... eu andei lendo algumas coisas. Eu não queria assustar a você, mas pelo que eu li, quando alguém decide por fim a sua vida, deve estar de acordo com o que irá receber depois. Pelo que entendi, é algo bem ruim. Não que você vá sofrer dores físicas, mas... é como se você tivesse que sofrer... mentalmente. Eu não sei. Ninguém sabe explicar direito, porque nunca foi registrado qualquer mediação com alguém que tenha cometido suicídio. Exceto agora. 

Eu tremi. E se tivessem esquecido de mim? E se viessem a minha procura, me levando pra onde a felicidade não existe? Onde só existe a loucura e a solidão. 

- Eu estou com medo. - confessei. 

- Por isso não lhe contei nada antes. - disse ele. - Não se preocupe. Paul vai conseguir. Amanhã tudo se resolverá.

No olhar de Antwon ele tentava esconder seu nervosismo para que eu não me sentisse pior. Mas era impossível.

- Amanhã... - ele repetiu, mais para si mesmo do que para mim. 

Depois ele balançou a cabeça como se tentasse afastar algum pensando e voltou-se para mim. 

- Você acha que viva se apaixonaria por mim? - perguntou ele com um sorriso bobo no rosto. 

Era uma pergunta tola. Mas não falei isso pra ele.  Era lógico que me apaixonaria por ele. Quem não se apaixonaria por Antwon?

- Você precisa vir falar comigo. Porque eu sou muito tímida. - eu disse contendo o riso.

- Como eu deveria puxar assunto? - perguntou ele me olhando fascinado. 

- Talvez se você lê-se o poema que escreveu sobre mim... 

O rosto de Antwon ficou corado. Apesar de estar escuro eu pude notar. 

- Antwon. É impossível não amar você. Qualquer coisa que você falar, tirando claro falar sobre... meus peitos, eu vou aceitar numa boa. - brinquei.

- Que peitos? - riu ele. 

Eu arregalei meus olhos. Mas não fiquei chateada, só surpresa. 

- Eu estava brincando, meu amor. - disse ele um pouco sonolento, e bocejando. Quase não conseguia terminar de falar. Seus olhos se fechavam vagarosamente. - Eu amo você do jeito que você é. 

- Sei... 

Mas Antwon já havia adormecido. E eu, claro, permaneci acordada. Tentando não pensar muito sobre o lugar para onde eu deveria estar, que por alguma razão havia escapado. Também não pensei sobre o que aconteceria amanhã... só em Antwon e no nosso futuro juntos. 

Os pensamentos infelizes insistiam em vir mas eu fazia o máximo para mantê-los afastados. 

 

Na manhã seguinte, Antwon tomou banho logo cedo. Vestiu a mesma roupa que estava e partirmos para a casa de Paul. Que foi gentil o suficiente de não me oferecer café-da-manhã porque sabia que eu não poderia comer. Mas Antwon comeu bastante. Paul tinha comido uma cesta inteira de torradas, uma jarra de suco de laranja e devorou dois pacotes de biscoitos. Ele disse que deslocar o deixava faminto.

Pela tarde nós fomos para a praia. Exatamente onde aconteceu. Paul estava tranqüilo. Assim como no dia anterior, me deixando tranqüila também. Antwon, por outro lado, apertava a minha mão com força. Como se não quisesse que eu escapasse. 

- Ok. Estamos aqui. - disse Paul mirando as ondas do mar. - Até que foi com estilo. 

Antwon arregalou os olhos para o comentário do amigo, enquanto eu fiquei um pouco sem graça.

Antwon tirou de dentro do bolso da calça uma broche que eu conhecia muito bem. Era um elefante com uma bundinha engraçada. Agora entendi por que ele riu quando falou que foi atrás de um pertence meu. 

- Você iria se convencer com o meu charme? - perguntou Paul piscando o olho para mim cheio de charme e ao mesmo tempo de maneira hilariante.

- Não. - disse abafando o riso. 

- Foi o que eu pensei. Você não tem bom gosto. - disse ele sumindo na minha frente. 

- Uau! - Deixei escapar. Quando eu me virei para Antwon, percebi que havia algo errado com ele. - O que foi? 

- Eu sou um burro. 

- Por quê? 

- Não vou falar com você. Você deveria vir até mim. Porque depois que Paul terminar, você saberá e eu não. 

- Antwon... - eu senti uma coisa estranha no meu estômago. Espera, eu senti? 

- O que foi? 

A luz do sol foi sumindo... Antwon foi sumindo aos poucos. Estaria dando certo? Mas... tão rápido?

- Anne!! ANNE!!! - a voz de Antwon foi ficando abafada e sumindo. Podia escutar ele gritar o meu nome ao longe, mas a cada segundo ele parecia ficar ainda mais longe.

Era como se eu estivesse sendo... sugada para a escuridão.


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Notas finais do capítulo

Últimos capítulos da história. Em breve continuação. Não se preocupem, será breve mesmo. =] Não esqueçam de deixar seus reviews. Preciso mesmo saber do que estão achando até agora.



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