O último Suspiro de Anne Ryan escrita por Paula C


Capítulo 4
Capítulo 4 - O Encontro das 8 horas


Notas iniciais do capítulo

Sugiro que escutem "I Still Haven't Found What I'm Looking for" do U2. E traduzindo uma determinada parte da música citadas neste capítulo:

"Eu falei com a língua dos anjos
Eu segurei a mão do demônio
Estava quente à noite
Eu estava frio como uma pedra..."

"Mas eu ainda não encontrei
O que estou procurando"



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Já se aproximavam das 8 da noite e o número de vezes que eu me sentei e levantei da poltrona velha da salinha do meu apê era incontável. Estava muito nervosa com aquele encontro, eu acho até que estava suando feito uma porca!

É, nojento eu sei. Mas eu nunca tive um encontro na vida. Nem saberia como agir. E se ele me beijasse? Não tenho boas recordações de beijos.

Meu primeiro beijo foi com um garoto na sexta série na hora da saída. Ele era meu melhor amigo e depois disso nossa amizade ficou um tanto infeliz, acho que ele não gostou muito do beijo ou sei lá. O meu segundo e último beijo foi com Thomas Hudson na festinha da minha amiga Lila nos Sete Minutos no Céu que eu fui obrigada a participar. O beijo durou um minuto e os outros 6 minutos eu usei pra rir. Ah! Que é que tem!? A língua dele só subia pro céu da minha boca. Fazia cócegas, ora!

Bom, agora estava pirando. Oito horas no meu relógio. A qualquer minuto Antwon vai bater na minha porta e eu esperava de tudo: Um balde de sangue de porco, ovos na cara. Ah, que posso fazer? Eu tenho problemas! 

Oito e cinco. Ai ele não vai aparecer. Oito e seis. Meu coração começa a acelerar. Oito e sete. Esse relógio deve estar adiantado. Oito e oito. Acho que ele não vem. Oito e nove. Acho que ele...

Batidas na porta interrompem minha contagem. Meu coração vai pular pela boca. Fui cautelosamente em direção a porta. E quando abri, (ai, que ridícula) eu meio que me escondi atrás da porta. Ainda sentia medo do banho estilo Carrie, a Estranha.  

- Anne? - disse ele espiando para trás da porta. - Por que você está se escondendo? 

- Ahm? - disse eu saindo de trás da porta. - Não estou. Vamos logo. Você já está atrasado dez minutos. 

Eu sai puxando ele pra fora. Para ele não querer ficar no meu apartamento. Afinal, aquilo é um verdadeiro lixo. E claro, tinha algo a ver com meu nervosismo. 

- Dez minutos? - disse ele rindo. 

 

Antwon era um garoto muito divertido. Eu nunca fiquei junto a um garoto que tivesse tanto a dizer. Não haviam aqueles momentos de silêncio constrangedor e ele nem falava bobagens. Ele era um verdadeiro sonhador. Falava tantas coisas que eu também pensava, que eu achei até que ele conseguia ler mentes. 

Primeiro nós fomos tomar um sorvete e ele que pediu o meu. Meu nervosismo era um tanto exagerado a ponto de eu nem conseguir saber que gosto tinha. Só pude reparar em como as mãos dele eram bonitas! Ah, eu adoro mãos. 

Depois do sorvete, ele me levou a uma sala de projeção antiga no qual o ex-namorado da mãe dele trabalhava. George, como ele o chamara, permitiu que Antwon cuidasse da projeção do filme "As Cartas de Madeleine". Ele parecia fascinado por filmes de época e falava empolgado sobre cada detalhe. Normalmente isso seria chato, mas era bem legal ver sua paixão. 

Terminado o filme, ele resolveu me levar em casa caminhando. E durante todo o caminho me fez mil perguntas. Era perguntas bobas, sobre coisas de que gostava, de poemas à séries de tv. Eu até gostava de respondê-lo. Mas também perguntava algumas sobre a minha família, que eu ficava com um pé atrás.

- E sua mãe. Por que deixou de falar com ela? Você fala tantas coisas boas sobre ela. Por que não quer mais vê-la?

- Não sei... Ciúmes eu acho. Da última vez que eu fui vê-la, ela e a minha irmã se davam tão bem. Eu me senti tão por fora do que elas falavam... Acho que ela ficou chateada quando resolvi vir pra cá e abandonar a família. 

- Mas você não abandonou sua família. Você só seguiu o seu sonho. Elas deveriam entender isso. 

- Não sei mais se fiz a escolha certa. 

- Foi por isso que você resolveu...? 

Fiquei calada. Queria responder algo, mas não gostava quando ele fala sobre o acontecido. 

- Desculpe. Eu voltei a tocar nesse assunto. Perdão. 

- Não se preocupe... 

- Antwon? - Um garoto vinha passando no parque e quando o viu, correu na nossa direção com um sorriso leve no rosto.

- Ei, Paul! - Antwon dera um abraço breve no garoto e logo voltou-se para mim. -  Anne, esse é Paul. Amigo meu da universidade. 

- Hey, Anne. Antwon fala muito sobre você. Pensei que era uma namorada imaginária dele. 

Corei, meu Deus. Namorada! Respira, Anne. Ele falou namorada, mas continue respirando. 

- Mas então, Ant. Tudo certo pra amanhã? Biblioteca? Depois do almoço? Temos muito o que pesquisar. Anne? Sabia que Antwon adora escrever romances? Escreveu um poema sobre você. 

- Poema? - perguntei. 

- É... Paul, tem problemas no cérebro. Amanhã vejo você pateta. - disse Antwon.

Paul riu e se foi. 

Ficamos calados por alguns minutos. Antwon estava um pouco envergonhado por causa da revelação de Paul, tentei não tocar mais no assunto e já estávamos chegando no meu prédio, ele deve ter dado graças. Faltava apenas uma rua. 

- Hummm... uma música preferida de todos os tempos? - perguntou ele cortando o silêncio. 

  - Pergunta difícil. Gosto de muitas, mas acho que a que eu mais escutei na vida foi "I Still Haven't Found What I'm Looking For". 

- U2! Amo a banda. Essa música me diz muito de você. 

- Num dia desses liguei o som e repeti ela umas 30 vezes. Nunca canso dela. 

"I have spoke with the tongue of angels" - cantou ele.

Antwon parou em minha frente sorrindo e começou a cantar a música. Eu não consegui respirar muito bem, meu coração batia num ritmo fora do normal e eu senti um frio na barriga. Ele tinha a voz mais linda e mais apaixonante. 

"I have held the hand of the devil, It was warm in the night" - Seus olhinhos brilhavam e seu rosto se aproximava do meu. - "I was cold as a stone."

"But I still haven't found what i'm looking for..." 

A mão dele alisou meu rosto e ele roçou o nariz carinhosamente no meu. 

- Acho que cantei esse parte errado. 

- Não... n-não tem nada errado pra mim... - disse eu mal podendo me agüentar de pé de tanto que minhas pernas tremiam. 

- Não... está errado pra mim. Deveria ser... "I have found what i was looking for..."

E então ele me beijou. Nada parecido com o beijo do moleque na sexta série, ou do Thomas Hudson. Foi a coisa mais maravilhosa que já me aconteceu. 

Ah... Antwon. 

 


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Notas finais do capítulo

Em breve continuação... dois capítulos de uma vez.



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