O último Suspiro de Anne Ryan escrita por Paula C


Capítulo 2
Capítulo 2 - O Despertar para a minha existência




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Adeus? Eu já não sei mais. Acordei do que parecia ter sido um pesadelo. Eu jurava poder sentir o gosto salgado do mar em minha boca. Meus lábios até estavam ressecados. Mas eu estava ali, deitada na minha cama... com minhas roupas molhadas?

Mal podia acreditar. Levantei-me e fui até o espelho quebrado do armário do meu quarto. Não agüentei olhar por mais de dois segundos aquela imagem. Meu vestido parecia um trapo velho catado do lixeiro. Que assombroso. Mas não tanto quanto a imagem de uma garota pálida, doente... ou pior... morta. 

Cai no chão e me arrastei para o pé da cama. Levei minhas mãos a boca e fiquei ali por um bom tempo. Chocada. O que eu ainda não entendi, já que era o que eu estava desejando quando resolvi morrer. Mas nunca imaginei virar uma fantasma horrorosa, que nos filmes traumatizam as pobres das crianças. 

Pensei que morreria e pronto. Eu nunca imaginaria que pudesse virar um fantasma. Que vulgar! Agora o quê? Vou ficar presa dentro deste quarto minúsculo pra sempre, até encontrar minha paz?

Eu fiquei ali por alguns minutos. Abismada e talvez até arrependida. Pensando na burrice que eu fiz. E foi quando ouvi um barulho vindo da cozinha.

Alguém na casa? Eu morava sozinha naquele apartamento minúsculo que meu pai de má vontade pagava, ninguém vinha aqui. Nem amigos eu tinha. Eu era a solidão em pessoa. Eu era estranha demais para alguém resolver ser meu amigo. 

Mas pensando bem, poderia ser minha mãe. E como eu queria que fosse. Queria poder abraçá-la mais uma vez. Sei o que eu pensei antes de morrer, mas ela é minha mãe e somente nela que eu encontro conforto. Seria triste vê-la, mas naquele momento era o que eu mais queria. 

Logo, levantei-me e fui lentamente caminhando do quarto até a sala. Havia mesmo alguém ali e estava... cozinhando. Eu sentia o cheiro. Sentia? Como poderia se eu estou morta. 

Continuei caminhando e pude ver uma das paredes da cozinha. Me escondi, não sei por quê, atrás de uma estante de livro e dei uma espiada para dentro de lá. E que susto levei. Vi de relance as costas e o cabelo curto de um garoto que parecia ter minha idade. 

Voltei a me esconder atrás da estante com medo de ele me ver. Mas espera... eu sou uma fantasma. Ele não vai me ver. 

Revirei os olhos para minha estupidez, fui com a cara e a coragem até lá e aconteceu algo que eu jurava que não pudesse acontecer. 

Esbarrei no garoto que além de dar um grito alto, derrubou por todo o chão da cozinha o que ele estava preparando. Miojo. 

- Você pode me ver?! - gritei eu assustada. 

- Ahn? Por que não poderia? Eu pensei que você estivesse dormindo ou desmaiada, sei lá... - disse o jovem com lindos olhos azuis que me deixaram sem fôlego por alguns segundos. 

- Dormindo? Mas eu estou morta! 

- Então era isso que você estava tentando fazer? Tentando se matar? - perguntou com um pingo de zombaria na voz. Ele tentou esconder o riso até eu encará-lo com o meu pior olhar. - Ok, desculpe. 

- Quem é você afinal? - perguntei.

O garoto olhou para mim e ficou um pouco sem graça. Ele se virou e foi apanhar o miojo que havia caído no chão. 

- Sou Antwon. Faço letras na sua faculdade. Acredito que tenhamos estudado literatura inglesa juntos. Você é Anne Ryan?

Concordei sem vontade. Apesar de achar estranho que alguém naquela cidade infeliz me conhecesse.

- Tá, mas o que você faz aqui? O que aconteceu afinal?

- Bom, eu salvei você. Eu estava saindo da biblioteca e voltando pra casa. Eram umas três da tarde e não havia ninguém por perto. Sai do carro e corri pra te socorrer. Daí te trouxe pra casa. Como você me pediu. 

- Eu te pedi? 

- É... você pediu socorro e tudo mais. 

- Socorro? Eu não pedi socorro! Era pra você ter me deixado morrer! - gritei furiosa.

- Você está louca?! Por que estava tentando fazer uma coisa dessas? Você acha que eu iria deixá-la morrer? - gritou ele também. 

- Você não tinha nada a ver com isso! Não deveria ter se intrometido! 

- Ok. Estou avisado. Da próxima vez que você me pedir socorro, não pense que eu vou te ajudar! - disse ele largando tudo no chão, me encarando com o que parecia ser o pior olhar dele e caminhando na direção da porta. 

- Ótimo! - gritei eu quando ele saiu e bateu a porta. 

Mas não parecia estar ótimo. Eu não consigo explicar o porquê, mas quando ele saiu pela porta, senti um aperto no meu coração. Não apenas pelo fato de eu nunca ter gritado daquele jeito com ninguém e nem por ele não ter culpa do que havia acontecido. Mas parecia haver algo mais forte que não havia como explicar. Era como uma conexão. 

Não sei. Só sei dizer que acabei de ser ridiculamente rude com a primeira pessoa que mostrou se importar com a minha existência naquela cidade, em todos esses anos que eu moro ali. 


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Notas finais do capítulo

Em breve continuação...



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