Estrela Branca - Antologia do Amor escrita por PatrickTulher
Depois de bons dias naquele belíssimo recanto me pus a viajar um pouco mais. Além daquele vilarejo existe outro, pelo qual se alcança traçando estrada ao norte da entrada principal. É tão perto que se chega a pé em algumas horas de caminhada, caso sigamos por uma trilha normal que os moradores do local costumam usar.
Ainda não havia tornado a ver aquela moça que me entregou a flor. Guardava-a em minha maleta, envolvida em lenços macios para que nada a pudesse ferir. Fazia questão de sentir o perfume daquele conjuntinho de pétalas de vez em quando, a fim de me recordar daquela tarde tão bela.
A nova cidade era bem semelhante à anterior; iguais, se não fosse um conjunto de palacetes que a cercava. O que me chamou a atenção foi a feira do local, tão cheia de pessoas e animaizinhos. Comprei uma sacola de frutas, e dirigi-me à uma praça.
Pequeno e simpático me aparecia aquele canto do vilarejo. Cravados ao redor de uma fonte reinavam bancos de madeira, simples porém bem adornados. Sentei-me para experimentar as frutas e olhar aquele recanto público.
Chega meio-dia, e já estava satisfeito. Olhei pela água que descia de uma bica sobre a fonte, e assim refletia a luz que agora minava do centro do céu, esclarecendo tudo. Me distraí deveras posto naquela posição. Estava tudo tão calmo e sólido, decidi então dispor algumas horas de descanso em tal sítio.
Confesso que o sono deitou sobre mim, e em dado momento adormeci. Quando fui despertar, a luz do dia me cegou os olhos, e coçando-os pude recuperar os sentidos que havia perdido durante o cochilo. Ainda embaçada, minha visão surgia, já distinguindo entre o azul do céu alguns algodões voando. Eram andorinhas.
Aqueles singelos pássaros voavam ligeiros pelo ar, e conforme meus olhos se acostumavam à luz eu podia enxerga-los melhor. Soltei um sorriso bobo desses que aparecem naturalmente; e involuntariamente voltava a me distrair. Até que, por obra de feitiço que não sei, cingiu-me a voz.
— São bonitas, não?
Era uma voz conhecida. Quando tornei o rosto à direita, a vi, sentada ao meu lado, admirando as andorinhas. Não soube o que dizer, decerto, pois acanhei-me e por fim talhei a fala. Mas queria lhe dizer muitas coisas...
— Sim, são..!
Foi tudo o que pude dizer. Entendo que posso parecer esquisito, mas não pensei em nada mais. Em súbito gesto, ela se levantou. Caminhou lentamente até a fonte, nutriu-se de sua água, voltando-se a mim.
— Beba um pouco da água desta fonte. É fresca!
Meneei a cabeça em gesto positivo. Ela riu. Eu lhe parecia muito aturtido; e estava realmente. Apenas a admirava, seus jeitos simples, pouco galantes, mas belos, oriundos de uma alma que embora misteriosa, me surgia encantadora.
Ela adorava cortar o silêncio.
— Daqui a dois dias vou cantar no festival. Lhe convido!
Surpreso, sorri, porém sem sandice alguma; alegrei-me muito francamente. E tais delongas me trouxeram ansiedade. Se falando de tão trivial modo ela já me aturdia, imagine a cantar...
— Lhe garanto que irei!
A garanti sem ao certo saber se iria. Todavia, pelas emoções que aquela moça me causava já sabia que o esforço valia a pena. Pude ter uma pequena amostra de seu canto ao se despedir; sem dizer mais nada apenas virou-se a cantarolar, saltitando pelos ladrilhos da calçada. Da esquina me acenou.
— Até o festival!
Mal pude acenar de volta, e ela sumiu-se pela rua. O que me havia acontecido? Não sabia. Estava alegre, afoito, e... apaixonado?
Ah, andorinhas...
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