Pinot Noir escrita por crissuniverse


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Dedicada ao meu neném, Ell ♥ Espero que gostem

1/3



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Olhava pela janela com os pensamentos perdidos. Um encontro às escuras? Por que topou aquilo mesmo? Nem ao menos sabia como era a pessoa, como Bokuto achava que aquilo daria certo? 

"Meu amigo disse ter gostado de você naquela festa que fomos. Você estava procurando alguém, certo? Não se preocupe, o cara é bacana e te conhece, então, não vão ficar feito duas baratas tontas procurando um ao outro."

Kenma perguntou-se internamente se aquilo era pra ter sido um incentivo. Bom, não importava mais, estava lá, no horário marcado, agora, só faltava o rapaz aparecer e verem se tudo aquilo seria uma perda de tempo ou não.

Honestamente, Kozume não saia com alguém há anos, desde o fim de seu traumático namoro e, pra falar a verdade, sentia-se enferrujado. Era como se não soubesse mais como estabelecer um bom papo sem precisar sair para ir ao toalete e ter um surto mental dentro de uma das cabines. Só esperava que, daquela vez, pudessem chegar até a sobremesa antes dele fugir de um possível segundo encontro.

— Gostaria de algo, senhor? Uma bebida? Um bom vinho para começar? – Kenma olhou para cima, seus olhos fitando os do garçom que sorria de forma suave em sua direção. O loiro suspirou, olhando em seu relógio. Não era um grande atraso, mas, o suficiente para lhe deixar 

— Pinot Noir, por favor. Apenas isso por ora. – O homem de cabelos espetados assentiu, anotando o pedido em um papel e saindo; de longe, Kozume pôde vê-lo adentrar uma portinha branca, provavelmente a cozinha. Era um belo rapaz, talvez tivesse uma namorada ou uma noiva o esperando em casa, sem quaisquer preocupação. Gostaria daquilo em sua vida, odiava toda aquela inquietação. 

Voltou a mexer no celular, quem sabe uma mensagem de Bokuto dizendo que o rapaz logo viria ou até mesmo cancelando o encontro. Seria bom, mas, a rejeição não lhe era agradável. 

Logo o garçom voltou a se aproximar da mesa. Kenma nem ao menos o olhou. Seria vergonhoso demais encará-lo após quarenta minutos sozinho. Era tão óbvio que o rapaz não viria. 

O som da taça enchendo-se com o líquido avermelhado só lhe trazia a mente formas discretas de ir embora sem evidenciar ao restaurante todo que havia sido abandonado.

Só desviou de seus pensamentos quando a taça da frente foi preenchida e logo alguém se sentara na cadeira. Estranhamente, era o garçom e o mesmo sorria sem jeito, como se pedisse desculpa por algo.

— O quê--

— Seu encontro é comigo. – Tirou o avental, dobrando-o e deixando sob seu colo. – Desculpe o atraso, meu turno só acabou agora.

Ainda estava sem palavras, surpreso com o que acontecia ali, todavia, achou melhor jogar tudo para o alto e dar início ao tão esperado 'encontro'.

— Oh sim, sem problemas... Sou Kenma Kozume, mas, você já sabe, não é?! – Estendeu sua pequena mão, sentindo o aperto firme das mãos quentes e grossas do moreno.

— Tetsuro Kuroo.

Sorriram brevemente um para o outro antes que pudessem tornar aquele clima constrangedor.

— Então... É o amigo de Bokuto, certo? Não me lembrava de tê-lo visto naquela festa, então, desculpe-me por não reconhecê-lo.

— Não pense nisso, não foi sua culpa, na verdade. Er... Eu gosto de me "ocultar nas sombras" e essas coisas. Kabuto sabe disso, por essa razão não nos apresentou naquele dia. – Deu de ombros, recebendo um olhar desconfiado de Kenma.

— É 'Bokuto', na verdade.

— Oh sim sim, piada interna, desculpe-me por isso. – Pegou o cardápio, estendendo ao loiro. – Fale-me mais sobre você. Não sei o bastante para estar saciado.

— Direi se o fazer também. – Recebeu um assentir leve e, antes que começasse a falar, bebeu um gole farto do vinho, sentindo o doce e o azedo em uma perfeita combinação. – Não há muito o que saber sobre mim, então, diga-me como gostaria de fazer isso.

Tetsuro pensou por um tempo, sentindo os olhos do rapaz em sua frente viajarem dele para a janela.

— Vamos jogar um jogo, pode ser? Me diga o básico sobre você como: Idade, emprego e cor favorita. Eu farei o mesmo. Depois, começamos com 'as três perguntas'. Cada um vai fazer três perguntas para o outro com coisas que quer saber, respondendo logo após sobre si mesmo.

— Parece bom pra mim. Então, você começa ou eu?

— Tanto faz, na verdade. Pode começar por mim. – Sorriu de lado, jogando os  cabelos para trás. – Hum... Eu tenho 32 anos, trabalho aqui meio período e em uma loja de essências também. Acho que minha cor favorita é o amarelo, parece bem alegre e me deixa excitado para fazer coisas novas.

— Não pensei que tivesse essa idade. Parecia tão mais velho que eu. – Riu levemente, como há muito não fazia. – Eu tenho 34. Trabalho em uma biblioteca no centro e tenho alguns livros publicados. Eu gosto do azul, por mais melancólico que ele seja. É poético. – Fechou os olhos, tentando se lembrar. – "A poesia reflete o azul da alma e o amarelo da mente."

— Corin Tate? Não pensei que mais alguém gostasse. Não é apenas poesia, é arte. Dolorosa e irremediável obra de pensamentos sufocantes. "Preto me trás a velha sensação de ser pego no escuro. Branco me trás a velha sensação sufocante do Déjà vu inconstante, onde eu volto vezes por vezes ao ponto de partida, onde matei o meu velho eu que não tinha forçapara lutar e sobreviver."

— Nem ao menos começamos o jogo das perguntas e você já está me surpreendendo. – Kuroo apoio o queixo na palma aberta, o fitando.

— Vamos pedir algo e dar início ao nosso Quiz pessoal. Há algo em Kozume Kenma que me parece extremamente interessante.

Kenma riu baixo, negando com a cabeça. – Okay, okay, vou querer um Carré de Cordeiro e uma Caesar como acompanhamento.

— Eu fico com o prato do dia. Moussaka ao molho tradicional é o céu na terra. – Brincou. Tetsuro se levantou com os pedidos anotados, recebendo um olhar confuso. – Logo estarei de volta. O restaurante está cheio, então, nada melhor que eu mesmo ir falar com o chef, não?!

Kenma observou o rapaz se distanciar. Bokuto tinha um ponto ao seu favor. Kuroo Tetsuro era um bom cara para se apresentar.

—/-

Kozume novamente se perdeu em pensamentos. Era estranho como, inicialmente pensou em ir embora, todavia, agora só queria ter uma noite agradável, acompanhado do garçom sorridente. Este que, sentou-se há alguns minutos e o observava com divertimento. Kuroo tinha total noção de sua beleza, entretanto, aquele garoto sentado em sua frente era o próprio filho da perdição. Seus grandes olhos curiosos mostravam uma história ainda oculta. Suas maçãs rosadas lhe traziam uma feição ainda mais doce. Seus lábios avermelhados o atraiam como o canto de uma sereia; a pequena boca de Kenma era um deleite pessoal para os pensamentos pecaminosos de Tetsuro.

— Um dólar por seus pensamentos... – o loiro pareceu despertar de um transe, sorrindo envergonhado.

— Ãhn... Eu não sabia que funcionários poderiam entrar na cozinha depois do expediente. – Soltou sem pensar. Kenma era uma caixinha de surpresas. Kuroo deu de ombros.

— Não podem, na verdade, mas, eu não sigo as regras. – Piscou de forma sedutora. – E também, não é sempre que trago alguém para comer aqui, então, de certa forma, acho que é um... Presente? Algo assim que vai ser descontado do meu salário, mas, não é realmente catastrófico.

— Enquanto não comemos, comece, por favor. Estou animado por isso.

Tetsuro afrouxou a gravata, encostando-se na cadeira. – Um animal, uma música, um autor.

Kozume mordeu o lábio inferior, pensativo. Havia várias respostas possíveis a serem dadas, todavia, necessitava da mais sincera.

— Deixe-me pensar... Acho que gatos, Swim e Conan Doyle. E você, mister Kuroo Tetsuro.

— Gatos, Killer Queen e John Green... Sei lá, o jeito dele de pisar no meu coração é diferente. – Kenma não pôde se conter, tampando os lábios com as mãos para que não pudesse rir de forma escandalosa como queria. – Certo, certo. Nunca pensei que gostasse de Sherlock Holmes e essas coisas.

— É relativo, na verdade. Eu não gostava de livros policiais ou essas coisas, mas, a forma de escrita dele me cativou ao extremo do prazer literário. – Havia algo ali. Um clima gostoso onde os dois desconhecidos sentiam-se confortáveis um com o outro. – Agora é minha vez... Um sonho, um doce, um livro.

— Gostei, estamos seguindo uma linha de raciocínio legal. – Riu baixo. – Eu gostaria de ser um confeiteiro ou algo do tipo. Eu acho que camafeu,  independente do recheio, é meu doce favorito. Isso me trás a lembrança de que, Razão e Sensibilidade, livro maravilhoso, por sinal, merecia mais reconhecimento.

— Ele é reconhecido pelas pessoas certas. Se todos começarem a gostar, a Netflix vai acabar lançando uma adaptação horrível.

Era impossível não sorrir naquele momento. Os dois estavam se divertindo muito mais do que há meses. Era o encontro ideal que, de forma inusitada, atraiu duas pessoas completamente diferentes com gostos iguais e, aquilo era bom.

—/-

Estavam dentro do carro de Kenma, indo em direção à casa de Kuroo. O loiro não queria voltar simplesmente para sua casa e, talvez contatar o rapaz em algum outro momento. Estava gostando daquilo, do encontro, de algo que ele não conseguia se acostumar e, por essas razões, se transformou num solteirão antissocial.  A presença de Tetsuro era acolhedora e os dois gostaram de estar um com o outro.

— Acho que é minha vez... Um nome... Uma posição sexual... Um sabor

Kenma arqueou a sobrancelha, estacionando o carro na frente da casa que o moreno havia indicado.

— O que posso dizer? Hinata Shoyo? Sorvete de abacaxi? Penetração de lado? E pra você? – Já faziam bons minutos que a conversa dos dois havia tomado um rumo mais quente e, o loiro tinha que admitir, estava excitado, porém, havia um fio de hesitação.

— Jane Austen, de quatro e a sua boca...

— Minha boca? Mas, você ainda não provou el-- – os lábios famintos de Kuroo sugavam e mordiam os de Kozume que, mesmo surpreso inicialmente, não pôde deixar de retribuir com a mesma fome.

Sexo no primeiro encontro? Talvez não para o antigo Kenma, mas, para o demônio lascivo que se libertou de dentro dele naquela noite, perder tempo era ridículo e, quanto mais cedo Tetsuro estivesse dentro dele, melhor a noite se tornaria.

—/-

Quando Kozume acordou, pode sentir um corpo junto ao seu e beijos sendo distribuídos por seu pescoço, subindo até o lóbulo. Era impossível não sorrir com a imagem de Kuroo em cima de si, nu e marcado com chupões e arranhões recebidos na noite anterior.

— Bom dia... – a voz rouca lhe deu arrepios. Tetsuro se levantou da cama, espreguiçando-se e caminhando para o banheiro.

Já sentado entre os travesseiros, Kenma observou as costas largas se distanciarem pouco a pouco. Seu celular tocou em algum lugar no chão, no bolso de seu jeans. Caçou de baixo da cama, o lençol descobrindo sua nudez, a pele leitosa com arroxeados. Era Bokuto. O loiro corou, já sabia o que era e logo teria uma longa semana de provocações por parte do melhor amigo. 

— Olha, eu sei o que vai dizer e eu já te adianto: Foi incrível. Eu me arrependo imensamente por negar tantas vezes em ir nesse encontro. Kuroo é sexy, engraçado e eu quero sair mais e mais com ele. Sim, eu transei com ele. Foi gostoso. Nunca gozei tanto e eu sei que você vai me encher o saco, mas, obrigado, Kotaro, eu nem sei o que te dizer...

— Kenma? De que merda você tá falando? Quem é Kuroo? Eu estou ligando pra me desculpar sobre o Yamato não ter ido. Ele é um babaca e furou de propósito... Kenma, onde você tá?

— Bokuto... Quem é Yamato? Do que você está falando? Você não é amigo de Kuroo Tetsuro?

— Eu não conheço Tetsuro nenhum. Yamato é o cara da festa.

— Kotaro... Se você não conhece nenhum Kuroo e o meu encontro foi cancelado, quem é o homem com quem eu sai?

Quando olhou para a porta, Tetsuro o olhava confuso com a toalha enrolada na cintura.

— Kenma... Está tudo bem?  


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