Edmund e suas mudanças de Natal escrita por Luis Fernando


Capítulo 1
Um Natal transformador!


Notas iniciais do capítulo

É uma one curta, mas bastante gostosa de escrever! Depois de ler isso, a gente passa a ter uma afeição a mais pelo Natal. Pelo menos eu tive enquanto escrevi rs.

Boa leitura!



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Naquele Natal tão cômodo e álgido, a cidade de Dalton Kamp afogara-se na mais branca neve. As sequóias mantiveram-se congeladas por todo o inverno, enquanto os pássaros se agasalhavam em seus ninhos. A ventania era arrebatadora e congelante, dava-se para ouvir as janelas se estalarem. E, na residência dos Hammond, próxima á Laguna de Prata, era uma festança só. Parentes distantes e próximos se ajuntavam, para comemorar com entusiasmo. Na véspera de Natal, a mesa já estivera posta, todos arrumados. As crianças corriam pelo jardim, enquanto os mais velhos bebiam conhaque até que chegasse a hora da santa ceia. E como fora sempre, houve um tio tremendamente esquecido! Edmund Hammond, o tio brincalhão, por acaso se esquecera de comprar os presentes de seus sobrinhos! Pois agora, tinha apenas 20 minutos para arranjar qualquer bugiganga. E desesperado, fugiu pela porta dos fundos da casa — zarpando tão velozmente que ninguém foi capaz de ver.
Por sorte, havia 10 libras no bolso! Era dinheiro suficiente para os quatro sobrinhos. Mas, aquela hora da noite, que loja poderia estar aberta? Mesmo ali, na rua central de Dalton Kamp, Edmund encontrou-se perdido. Do que adiantara correr, se toda a cidade estava deserta? Pra sua sorte, apenas uma vitrine mantinha suas velas acesas. Logo, lançou-se a loja, cuja a qual a portaria dizia “Brechó da Senhorita Hesser”. Nem se preocupou, apenas adentrou ao aposento, azafamado.

— Posso ajudar? Puxa, um cliente a esta hora! Faltam poucos minutos para a santa ceia! — Disse Senhorita Hesser.

— Trate de me arrumar os melhores de seus suéteres ou brinquedos! Lhe pago em dez libras! — Retirou a quantia do bolso, enquanto bufava de desespero.

— Sim, senhor! Apenas um minu— Não foi capaz de concluir a frase, após a porta da loja fechar-se com tanta força que notou-se a fumaça se soltando dos tijolos robustos. Com certeza, fora o vento!

Enquanto Senhorita Hesser expressava susto, Edmund apenas expressou seu desalento e sua aversão. Com o vento, também apagou-se a curta chama das velas da vitrine. Agora, estavam trancados e na pior das escuridões. A dona da loja, no mesmo instante foi aos prantos. E o que antes era medo, tornou-se curiosidade para Edmund.

— Estamos presos! E na noite de Natal! Existe algo pior que isso? — Edmund tentou chutar a porta, mas com tanta escuridão, acertou apenas a parede.

— Não seja grosso desta forma. Estou tão desesperada quanto você, céus! — A Senhorita foi para trás do balcão, e em uma das gavetas, buscou uma vela de cera. Com rapidez, a acendeu — e desta vez, tratou de por sobre um lampião. Agora, um ponto de iluminação, talvez fosse o necessário.

E com o caandeiro em mãos, foi até a portaria, e a iluminou para que Edmund pudesse fazer algo. Logo, perceberam um empate. Algum galho de árvore prendia a maçaneta, e apenas com muita força poderiam sair daquele brechó.

— Fique calmo, soube que tem um calhambeque de policias rondando pela cidade durante toda a madrugada. Eles nos verão, e vão te soltar.

— Só precisava dar algumas migalhices para os meus pequerruchos. E agora, ficarei sem ceia, sem a minha família, e sem os benditos presentes! Vim até aqui, o único local de portas abertas, e veja só a furada em que me meti!

— Que azar, não? Vamos, tente chutar mais a porta!

— Não vai adiantar, é um galho de jagube! Uma árvore imensa, só dá pra tirar com as mãos. Bem, não tem nenhuma janela ou segundo andar? Talvez eu possa pular.

— Sim, a janela da dispensa, no andar de cima! Venha, vamos rápido!

E como dito, subiram a frágil escadinha, no canto do brechó. Por entre caixas, caixotes e rolos de tecido, conseguiram alcançar a janela do segundo piso. Os trincos metálicos estavam congelados, mas com um pouco de furor, Edmund conseguiu destravá-los. E quando a abriu, o vento logo invadiu o espaço do brechó.

— Finalmente, vamos sair daqui! Eu pulo primeiro, e então te ajudo a descer, tudo bem? — Sugeriu Edmund, enquanto se posicionava para saltar.

— O que? Não, não vou sair daqui. Pode ir, senhor! Vou ficar pelo resto da noite.

— Como é? — A surpresa foi tão grande, que o homem voltou a sua posição ereta novamente. — Mas você não vai comemorar o Natal com sua família? Prefere ficar aqui, trancafiada?

— Trancafiada? Oras, de maneira alguma. Vou deixar o brechó aberto até o amanhecer. — Disse com naturalidade o suficiente para deixar Edmund de queixo caído.

— Mas pra que isso? Você não tem família, senhorita?

— Vou deixar o brechó aberto, e todos os desabrigados virão aqui, pegar o que precisarem, e ir embora. Este sim é o valor do Natal! Dar a quem precisa!

— Vai dar agasalho aos vagabundos? Que heresia! Deus valoriza apenas os esforçados.

— Deus valoriza cada centímetro de terra de Dalton Kamp. Eu acho que até mesmo os desocupados merecem ter um final feliz, não? Já dizia William Henry Fox Tabolt: “O Natal é o espírito de dar sem um pensamento de obter. É felicidade porque vemos alegria nas pessoas. É esquecermo-nos a nós próprios e encontrar tempo para os outros. É descartar as coisas sem sentido e sublinhar os verdadeiros valores.” Me chame de Meredith, aliás! Imagino que esteja com pressa. Por favor, antes de ir, tira aquele galho da minha portaria? Ninguém virá se perceberem a porta fechada.

— Ah... — Edmund tentou buscar palavras, mas lhe faltou qualquer pensamento. Sua mente estava vaga, e seu instinto transmudado. Sem sequer despedir-se, pulou feito uma pantera da escada — e logicamente, rolou feito um arco pela neve.
Ainda lhe faltando discernimento, fez como o pedido da donzela. Tratou de retirar o galho da porta, pegou quatro fantoches de veludo, pôs a quantia necessária sobre o balcão e se retirou. Edmund estava sem rumo naquela noite. Faltavam apenas cinco minutos para o farto jantar, e sua mente desolada lhe fazia perambular pelas escuras e solitárias veredas de Dalton Kamp. Ele, como o divertido tio que sempre foi, nunca foi tão tocado por uma reflexão. Qual seria o verdadeiro significado do Natal, aliás? Será que estava realmente honrando os seguimentos de Jesus?

E então, já fatigado, sentou-se sobre um banco, em meio a uma praça cultural, coberta por flocos de gelo. O vento diminuía cada vez mais, assim como a dúvida de Edmund sobre o seu propósito naquele lugar. Ria consigo mesmo a estar vivendo uma situação tão irônica e aleatória. Por apenas alguns minutos, ficou trancado num brechó com a pessoa de alma mais pura que já viu em sua vida. Alguém, que pela primeira vez, o fez refletir. Tenaz, levantou-se em um pulo e foi-se até o outro lado do parque. Lá estavam, quatro crianças esfomeadas com sua mãe pobre. E pela primeira vez, Edmund não achou que fora algo repulsivo. Sentiu normalidade, amor.

— Feliz Natal, vocês merecem. — E deu um fantoche na mão de cada miúdo, vendo um sorriso magricelo surgir de seus rostos. A mãe, tão emocionada, apenas deixou que seus olhos lacrimejassem de felicidade, e principalmente; gratidão.
Foram sorrisos que valeram tanto. Uma paixão, que mesmo rápida, valeu tanto. Mesmo com o badalar do sino avisando que a meia-noite havia chegado, Edmund não se sentiu na obrigação de voltar para sua família. Na verdade, teve um propósito um pouco diferente; Quis ver famílias terem aquela emoção do Natal uma vez na vida. E disparando pelas vielas, sem se importar com a neve em suas botas, retornou ao pequenino brechó da Senhorita Hesser. As luzes acesas, e vários moradores de rua ali, escolhendo o que precisassem. Meredith arregalou os olhos ao ver Edmund ali, parado na portaria — e com uma feição totalmente diferente.

— O que faz aqui? E sua família? E a santa ceia?

— Eu sequer voltei pra casa. Todos, todos precisam ter um final feliz, senhorita Meredith!

— Não precisa de tanta formalidade, me chame apenas de Meredith. E venha, entre, não fique parado aí fora! Está um frio de congelar os ossos!

E Edmund entrou. Cumprimentou cada pessoa que estivesse ali dentro, não importando se estavam sujos, magros, feios. Apenas lhes deu um sorriso, e teve vários como recompensa.
Juntamente de Meredith, lhes ofereceu aconchego, amparo, alimento e o mais importante de tudo; felicidade. E assim continuou até o nascer do sol no oriente, radiante como nunca antes visto. Era o nascimento de cristo, enfim! E depois de uma madrugada de trabalho, não houve sequer uma pessoa em Dalton Kamp que não tinha um sorriso ao rosto. Os irmãos e sobrinhos de Edmund até mesmo pensaram em ir atrás do tio. As crianças nem mesmo sentiram falta dos brinquedos! Mas do que adiantaria? A ceia e toda a celebração passaram-se! Mas para Edmund, nunca foi algo tão gratificante. E após aquela alvorada transformadora, concluiu que o bem não devia ser feito apenas no Natal. Pelo contrário! Todo dia, é dia de Jesus. E mesmo após as celebrações, mesmo no ano seguinte, e nos próximos, até mesmos décadas depois, Meredith e Edmund distribuíram sorrisos, dia após dia. E dez anos depois, Edmund nunca mais participou de uma ceia! Viu seus sobrinhos se formarem, seus pais enriquecerem, mas mesmo assim, alimentou seu coração com o prazer de fazer bondades a quem fosse. E quando lhe questionavam sobre tal coisa, a resposta de Edmund sempre fora:

— A minha ideia de Natal, seja este antiquado ou moderno, é muito simples: amar os outros. E se pensarmos bem, porque é que temos que esperar pelo Natal para fazermos isso?


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Notas finais do capítulo

Para mais fanfics em Dalton Kamp, basta visitar meu perfil! Obrigado por ler.



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