The reindeer escrita por Aislyn


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Feliz Natal (adiantado) e boa leitura!!!



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Dentro de poucas semanas o curso de veterinária chegaria ao final e a turma se formaria, mas nem por isso as atividades extra-curriculares foram deixadas de lado, nem mesmo na véspera de Natal.

 

Aquele não seria o primeiro plantão que Katsuya enfrentaria, mas seria o primeiro sozinho. Tanto seu orientador quanto o dono da clínica concordaram que ele estava mais do que apto à exercer a função, mas o rapaz tinha certeza que só o escolheram porque era o único que não negaria um favor e todos queriam aproveitar o feriado.

 

Suspirou longamente, choramingando por não poder passar a noite com o namorado, pegando o celular para conferir as horas, notando que ainda ficaria ali um bom tempo até sair para enfim encontrá-lo. Desde que começou a sair com Mikaru e depois de conhecer os amigos dele, comemoravam todas as festas de fim de ano juntos ou então iam pra casa de seus pais, passar a data com eles e sua irmã mais nova. Não reclamava de virar a noite na clínica, afinal estava ali para realizar seu sonho. Em breve se formaria, depois de vários anos de estudo, de dificuldades financeiras, amorosas e algumas noites insones. No fim, tudo valeria a pena. Não só estava orgulhoso de si mesmo, como sabia que toda a família, os amigos e seu namorado também estavam felizes e torcendo por ele.

 

O que o desanimava era a certeza que não atenderia ninguém. Não aquela noite. Todos estavam ocupados demais, bebendo e comendo, saindo em casais, cada um comemorando à sua maneira. Só alguém muito irresponsável faria mal à algum animalzinho para trazê-lo às pressas e no meio da noite.

 

Deitou a cabeça na mesa da recepção, olhando através das portas de vidro à frente, a rua tomada pela penumbra e pelo silêncio. Trouxe o celular para perto do rosto, pensando em mandar uma mensagem para Mikaru ou ligar para ouvir sua voz. Talvez o namorado estivesse comemorando com os amigos ou talvez estivesse em casa, dormindo.

 

Começou a digitar a mensagem, um sorriso pequeno surgindo aos poucos nos cantos dos lábios e deixando-o mais animado, até que o som da porta abrindo o tirou de seus devaneios, obrigando-o a se sentar e encarar o visitante, espantado.

 

— Ah, estão abertos! Que ótimo! – um senhor todo vestido em vermelho se aproximou da mesa, sorrindo amigável enquanto estendia a mão para o rapaz, sacudindo-a enérgico.

 

— B-boa noite… sim, estamos. Em que posso ajudar?

 

— Eu gosto de pessoas prestativas como você, meu jovem, ah se gosto! Ho ho ho! – o homem soltou uma risada estranha, ajeitando o gorro que escorregou por seu rosto – Um dos meus bichinhos está machucado. Não sei como ele conseguiu aquilo… Posso trazê-lo aqui pra você dar uma olhada?

 

— Ah, claro, sim! Eu vou ajeitar a mesa lá no fundo. – Katsuya ia dar as costas ao homem e entrar na sala de consulta, mas parou no meio do caminho, encarando-o novamente – Precisa de ajuda pra carregar?

 

— Não, não se preocupe. Ainda tenho força o suficiente para carregar um dos meus bebês. Não se preocupe.

 

— Ok.

 

Katsuya não queria se preocupar, mas a cena era estranha. Pelas roupas que o homem vestia, pode supor que ele estava trabalhando como o personagem Noel em alguma festa. Não era um costume muito comum do país, mas às vezes algumas pessoas seguiam tradições de outros lugares e esse parecia ser o caso daquele senhor.

 

Vestiu o jaleco branco por cima de suas roupas usuais, prendendo os cabelos longos com um elástico e lavando as mãos antes de calçar as luvas, mas parou o gesto ao ouvir o homem retornando com passos pesados e adentrando o cômodo com um animal enorme aninhado em seus braços. O rapaz não fez questão de esconder a surpresa ou fechar a boca, tamanho o espanto. Ele estava esperando um cachorro ou um gato, até um coelho ou uma ave seria plausível, mas… ele nem tinha certeza do que era aquilo.

 

— Esse é o seu… bebê? – de preocupado com o senhor, Katsuya passou para o estado de preocupado consigo mesmo. Aquilo não era um animal selvagem? Onde ele foi adquirido?

 

— Ah, sim. Uma linda rena, não é? Ho ho ho. – o homem depositou o animal na mesa, acariciando-lhe a cabeça antes de direcionar o olhar para o rapaz, esperando que ele se aproximasse.

 

— Isso é… uma rena? – Katsuya precisava confirmar, pensando se conseguiria ligar para a polícia e segurar o homem ali até alguma autoridade chegar.

 

— Exatamente. Imagino que nunca tenha visto uma de perto, não é? Animais lindos, ah são. E rápidos!

 

— Sei… espera. O senhor disse que é um dos seus bebês… Você tem outros?

 

— Tenho nove. Esse aqui é o Donner.

 

— Donner… ok. – Katsuya pensou em perguntar onde os outros estavam, mas o medo de descobrir que sua saída de fuga ou entrada de socorro estava obstruída o fez perder a coragem – Então… qual o problema dele, senhor…?

 

— Ah, sim! Esqueci de me apresentar! Alguns me chamam de Claus, outros me conhecem por Nicolau e Noel também. E qual o seu nome, rapaz?

 

— Noel…?

 

— Ah, você é Noel também? Que coincidência! Ho ho ho! Por isso gostei de você quando te vi!

 

— Não, não! Noel é você! Eu sou Katsuya.

 

Foi possível ver decepção no olhar do senhor vestido de vermelho. Será que ele realmente achou bom encontrar alguém com o mesmo nome? Normalmente as pessoas não gostavam dessas semelhanças, pois sempre criavam confusão.

 

Finalmente tomando coragem, Katsuya se aproximou da mesa e do animal, tentando não fazer nenhum movimento brusco para assustá-lo. Mesmo com medo, era difícil não notar a pelagem bonita e aparentemente macia, além dos olhos escuros e brilhantes.

 

— Acredito que seja algum problema nos cascos. – comentou Noel, coçando a longa barba, pensativo – Mesmo que ele possa voar, ter algum machucado, em particular nas patas, dificulta um vôo alto e rápido. Quase batemos em algumas chaminés antes que eu notasse!

 

— Voar? – Katsuya, que havia iniciado um carinho na cabeça do animal, parou o gesto para encarar o senhor ao seu lado, duvidando de quem realmente precisava de cuidados ali – O senhor se sente bem?

 

— Sim, estou muito bem, obrigado! Não batemos em nada no caminho, não se preocupe.

 

— O senhor bebeu essa noite?

 

— Não, não. Essa é a noite do ano em que mais trabalho. Não poderia fazer isso e decepcionar as crianças!

 

— Tem certeza que não bateu a cabeça? – Katsuya continuou a observar o senhor e perguntar sobre seu estado enquanto verificava os cascos da rena, procurando algum ferimento ou farpa que pudesse estar incomodando no caminhar, notando um movimento da cabeça do animal e então a expressão do senhor mudou drasticamente, de sorridente para sério e indignado.

 

— Como assim ele acha que estou louco?

 

— O que? – o veterinário parou o exame, voltando a atenção para o homem. Alguma coisa estava errada com ele, tinha certeza.

 

— Eu não estou explicando pelas metades, Donner! – outro movimento da cabeça do animal e então o senhor apontou o dedo para ele – Contei exatamente o que aconteceu! Você estava ouvindo! – e então, virou-se para Katsuya, inclinando em sua direção – Quer dizer que não acredita que eu sou o Papai Noel? O velhinho que aparece no Natal distribuindo presente para as crianças que se comportaram?

 

— Ahm… sabe, eu já estou perto dos trinta. Eu seria internado se dissesse que acredito.

 

— Certo… entendi. – o velhinho afastou alguns passos, retirando um globo de neve do bolso da calça, sacudindo-o com vigor antes de se virar para o rapaz, encarando-o com um sorriso divertido – Seu namorado Mikaru também pensou em te ligar mais cedo, mas ficou com medo de te atrapalhar. Ele recebeu um convite de um casal de amigos para jantar. Ah, esse ruivo… me lembro dele! Takeo, não é? Eu o deixei sem presente um ano porque ele teimou em ficar acordado pra me ver chegar.

 

Katsuya ficava mais boquiaberto a cada revelação, a mão pousando rapidamente no bolso traseiro da calça, verificando se o celular ainda estava guardado ali. Onde mais aquele senhor conseguiria tanta informação a seu respeito? A não ser que ele fosse algum maníaco que o estava perseguindo…

 

— Eu não estou tentando assustá-lo, Donner! Estou provando quem sou! – mais resmungos e acenos e o globo de neve foi guardado, Noel voltando a atenção para o rapaz, agora pregado na parede mais distante daqueles dois – Aos sete anos você me pediu uma bicicleta, ganhou. Aos dez me pediu alguém para brincar. Você não deu muitos detalhes sobre o tipo de amigo que queria, então te dei uma irmã. Aos doze você pediu um quarto maior.

 

— Foi quando meus pais se mudaram para outra casa… – Katsuya murmurou atônito, notando que tudo era verdade. Não tinha como um estranho saber daquelas coisas da sua infância! Não via motivos para alguém segui-lo por tantos anos. Se aquele senhor era mesmo quem dizia ser, então as coisas poderiam fazer sentido.

 

— Entenda, algumas vezes não posso entregar pessoalmente. São muitas crianças, imprevistos acontecem, confusão no fuso horário… então sempre dou um jeitinho.

 

— Ok… tudo bem, acho que acredito…

 

Katsuya passou a mão trêmula pelos cabelos, olhando de relance para a rena e para o senhor de vermelho. Talvez o homem não estivesse bêbado, mas nada garantia que ele mesmo não estava dormindo. Aquilo tudo podia ser um sonho! Ele havia deitado a cabeça na mesa para digitar a mensagem para Mikaru, então não seria estranho ter pegado no sono. Apesar que não costumava ser tão criativo assim em seus sonhos.

 

— Rapaz, talvez você não acredite em mim, mesmo depois de tudo que lhe contei, mas preciso da sua ajuda. Preciso da minha rena para puxar o trenó com os presentes! Tem noção do que isso significa? Está em suas mãos salvar o Natal. Não o seu ou o de seus amigos, mas o Natal de todo o mundo!

 

O peso e a responsabilidade daquelas palavras pesaram nos ombros de Katsuya. Podia ser um delírio, um sonho ou podia ser real mas, acima de tudo, era seu dever como veterinário. Como podia se considerar um profissional se negasse ajuda a quem precisa?

 

— Eu vou fazer tudo que eu puder!

 

No final das contas, não foi tão difícil. Após uma pata enfaixada e um analgésico para amenizar a dor, a rena estava pronta para voltar ao trabalho. O ideal seria descansar, mas aquela era uma noite especial que valia o esforço e ela teria o resto do ano para tirar um longo cochilo.

 

— Com tantos dias para você testar suas acrobacias… – reclamou o velhinho, acariciando o pescoço do animal enquanto o guiava para fora da clínica – Como assim eu dirijo mal? Não batemos em nada até hoje!

 

Noel atrelou Donner em seu lugar no trenó, voltando a se aproximar de Katsuya para acertar os valores da consulta e agradecer a ajuda.

 

— Quer saber qual seu presente esse ano? – o senhor perguntou com um sorrisinho divertido enquanto assinava os papéis, recebendo um olhar confuso do rapaz – O presente que seu namorado preparou?

 

— Ah! Não, não… eu… melhor que seja surpresa. Vai ser especial de qualquer forma.

 

— Imagino que sim… Ho ho ho. Bom, é melhor eu ir, muitas entregas pra fazer e o tempo voa! Mais uma vez, obrigado por sua ajuda, rapaz!

 

— De nada. E cuidado com seus bebês! – Katsuya sorriu divertido, acenando para o homem, observando-o por um longo instante, enquanto sumiu na horizonte – Noite agitada…

 

Retornou para o interior da clínica, indo arrumar a zona que aprontou durante o atendimento. Ainda achava difícil acreditar no que havia acontecido. Duvidava que alguém acreditaria se contasse. Aquela seria uma história para guardar e contar quando estivesse velhinho, para pensarem que estava caducando.

 

Espreguiçou longamente enquanto voltava para a mesa da recepção, se jogando na cadeira com vontade. Os olhos ardiam e pesavam devido ao sono, mas faltava pouco para terminar seu plantão. Tentou evitar que eles se fechassem, só despertando de vez quando a porta da frente se abriu, permitindo a passagem de um homem de terno.

 

— Vamos pra casa? – o visitante se aproximou até parar ao seu lado, pousando a mão em sua cabeça e dispensando-lhe um carinho.

 

— Vamos… eu estava esperando acabar meu horário. – Katsuya comentou sonolento, apoiando a cabeça contra o corpo do homem enquanto conferia as horas, sentando-se ereto e conferindo novamente após não confiar em seus olhos – Acho que cochilei… agora a pouco faltava uns vinte minutos…

 

— Já passou quase isso do seu horário. Vamos, nós podemos descansar juntos.

 

— Também passou a noite em claro? – Katsuya conferiu o prontuário preenchido aquela noite, confirmando a assinatura de Nicolau antes de pegar a chave e caminhar para a rua, trancando a clínica e se acomodando no banco do carona – Não quis jantar com Takeo e Izumi?

 

— Eu passei por lá, mas foi uma visita rápida. Depois fui pra casa dos seus pais.

 

— Que bom… mamãe gosta de te ver por lá… – Katsuya inclinou-se no banco, depositando um selinho nos lábios do outro antes de deitar a cabeça em seu ombro – Boa noite, Mikaru.


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Notas finais do capítulo

Fim! ^^
Espero que tenham gostado!



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