O pesadelo de Anne escrita por AnneFanfic


Capítulo 1
Parte I


Notas iniciais do capítulo

Esse conto (?) na verdade foi um sonho que tive, e decidi escrever...
:x



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No susto, abri os olhos e me deparei com uma mulher estranha, com os olhos extremamente maquiados, olhando pra mim. Olhei em volta, assustada, tentando entender o que estava acontecendo e percebi que estava deitada em um sofá que fedia a cigarro e álcool juntos, numa sala pequena e igualmente do fedida.

Algumas outras mulheres usando roupas curtas passavam de um lado para o outro e olhavam-me com um sorriso estranho no rosto, cochichando umas com as outras. Quem eram elas? Onde eu estava? Como tinha ido parar ali? E onde exatamente era "ali"?

Enquanto eu tentava entender a situação e encontrar respostas para minhas perguntas mentais, a mulher que estava parada de pé ao meu lado se inclinou na minha direção e sorriu forçadamente.

—Já deu, certo? Você já dormiu demais. Vamos!

Segurando meu braço, ela me fez levantar do sofá aos trancos e barrancos e foi me puxando por entre salas e corredores. Homens e mulheres, bebendo e fumando, e falando coisas que eu não conseguia entender, olhavam para mim como se eu fosse um extraterrestre entre eles, para então voltarem a rir e cochichar enquanto olhavam e apontavam na minha direção.

Se todas as minhas outras perguntas não tinham respostas ainda, uma coisa eu tinha a prévia certeza: aquele lugar tinha um ar tenebroso que me fazia estremecer. E alguma coisa muito ruim iria acontecer ali.

—Onde você está me levando?-perguntei, abrindo a boca pela primeira.

 Mas ao invés de responder ela olhou para mim com um sorriso malicioso que me fez encolher os ombros, e me arrastou até um guarda roupa.

—Seu nome?

—O que?- perguntei, tão confusa com a situação em que me encontrava, que nem sabia o que dizer.

—Seu nome, qual é o seu nome?- perguntou novamente, demonstrando impaciência.

—Anne...- respondi aos sussurros.

—Tá.' Isso não interessa mesmo. Agora, rápido! Escolha uma roupa. Ele tem uma preferencia especial por vermelho, se você quiser tentar a sorte.

Olhei para ela com os olhos arregalados e voltei a olhar para as roupas. Só haviam camisolas ali. Das mais variadas formas e tamanhos.

Encarei tudo aquilo sem conseguir respirar direito e olhei em volta procurando uma porta ou uma janela por onde eu poderia fugir. Estava começando a entender tudo aquilo.

—Sinta-se grata por você poder escolher pelo menos isso.- a mulher voltou a rir. -Não adianta tentar fugir, você não tem essa opção. E se tentar... Bem, vai ser pior pra você, garanto.- ela deu uma piscadela, e vendo a minha demora em me mexer, suspirou impaciente e pegou a primeira camisola que viu. Era uma de alcinha, tão curta e decotada que me causou arrepios, e jogou na minha direção.

—Vista essa. É a preferida dele.

Agarrei a camisola, e estremeci por dentro, sentindo uma vontade incontrolável de chorar.

 -Por favor! Por favor!- me agarrei no braço dela, chorando e tremendo. Mas ela riu e me segurou pelo braço. -Não...! Me deixe sair daqui. Por favor!

.

—Não temos tempo para fazer negócios. Infelizmente.- disse ela num tom de deboche.

E vendo que ela me arrastaria dali, agarrei um casaco de pele igualmente vermelho para me cobrir.

 -Troque-se nesse banheiro o mais rápido possível. Você já está atrasada. Ali tem alguns cremes e perfumes, se preferir.

Ela riu e trancou a porta pelo lado de fora.

Deixei as roupas que estava segurando caírem no chão e fiquei parada olhando na direção da porta. Nunca, em todos os meus vinte e três anos, senti tanto frio como naquele dia. Eu tremia tanto que era difícil até ficar de pé. Eu simplesmente não conseguia. A única coisa que fiz durante os minutos que se passaram foi cair sentada no piso frio e chorar como não nunca tinha chorado antes. Uma única palavra conseguia descrever minha situação psicológica naquele momento: medo.

O tempo que fiquei sentada, chorando, foi como um piscar de olhos diante de toda aquela situação. Estava tão perdida quanto ao tempo que fiquei ali que me assustei ao ouvir a chave girar na fechadura e a porta se abrir, revelando o rosto raivoso da mulher que estava me acompanhando.

—O que você está fazendo?!- perguntou ela aos berros, entrando e fechando a porta com força.

Os momentos que se seguiram, por mais que eu tenha certa dificuldade em lembrar (e agradeço por isso), foram os mais terríveis até ali. Sem qualquer consideração ou cuidado ela mesma começou a arrancar as minhas roupas enquanto praguejava e me batia.

Tentei de todas as formas, mesmo estando sem força para lutar contra ela, impedir que ela tirasse minhas roupas, mas ela foi mais forte. Não tinha como eu, naquele estado debilitado, lutar contra uma mulher raivosa de quase oitenta quilos. Cedi.

 Relutante e com raiva, fiz a vontade dela e tirei minhas roupas, vestindo a camisola. A minha impotência e vergonha era tanta que eu não conseguia parar de chorar. E isso a deixava ainda mais irritada, pois quanto mais ela brigava e me batia, mais eu chorava. E quanto mais eu chorava mais ela batia.

—Agora lava essa cara medonha e dê um jeito nesse cabelo!-ela berrou, me empurrando na direção da pia. -Você tem cinco minutos!- exclamou saindo do banheiro e batendo a porta, chaveando-a mais uma vez para que eu não fugisse.

—Céus!- olhei para meu reflexo no espelho sujo. -Como eu vim parar aqui? Como eu vou sair daqui? E se eu não sair? O que vai acontecer?

Entrei em completo desespero e corri para a janelinha do banheiro. Mas ela era tão alta e tão pequena que eu dificilmente conseguiria sair por ali. Olhei em volta mais uma vez, para os objetos espalhados sobre a pia e para o casaco de pelo jogado no chão. Corri na direção dele e o vesti, enrolando-me nele como se eu não estivesse usando mais nada por baixo. Foi quando, em meio aos meus pensamentos que partiam do desespero desenfreado para a consciência de que eu precisava me acalmar para conseguir pensar melhor, que ouvi um burburinho acontecendo do lado de fora.

Receosa, tentando decidir se seria melhor saber ou não o que estava acontecendo, me aproximei da porta e olhei pelo buraco da fechadura. A mulher que estava comigo estava bem à minha frente, mas logo se afastou a passos rápidos e se aproximou de alguém que estava chegando por ali.

Sequei as lágrimas que insistiam em se acumular nos meus olhos e prestei mais atenção em quem era aquele alguém. Foi quando o vi pela primeira vez. Um homem alto, corpo atlético vestindo uma calça preta bem alinhada e uma camiseta branca. Até então ele estava de costas para mim, mas foi possível ver que ele estava conversando com aquela mulher. Ela sorria e conversava animadamente, embora tivesse assumido um ar de respeito e inferioridade a ele que beirava ao medo. Era visível isso no olhar e na expressão dela. Ela parecia temerosa de que alguma coisa fosse acontecer com ela. Mas se eu àquela distância conseguia notar isso, aquele homem também deveria perceber.

E então, quando eu menos esperava, ele se virou e olhou na direção da porta, como se pudesse me ver através daquele pequeno buraco. Caí sentada no chão e por um momento tudo girou. Tive que me agarrar às minhas últimas reservas de força para não desmaiar. Eu tinha que sair dali o mais rápido possível. Para meu próprio bem.

Olhei para minhas mãos, que provavelmente estavam mais frias do que um defunto enterrado no gelo e tremiam tanto que eu não conseguia nem contar quantos dedos eu tinha, e tentei me concentrar. Mas foi impossível. Novamente as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e quando olhei para cima ao ouvir a chave girando vi o rosto sádico da mulher olhando em minha direção

—Vamos?

—Por favor...- sussurrei, quase nem conseguindo falar.

—O que você disse?- ela se agachou na minha frente, com um sorriso mortalmente irritante.

Mas estava fraca demais para ficar com raiva. Abaixei minha cabeça e chorei.

—Me deixe sair daqui...

—Te deixar sair daqui?- a mulher deu uma gargalhada e se levantou. -Um dia... Quem sabe? Ou você pode ficar por aqui, assim como eu...

Ela deixou a frase morrer no ar e ficou me encarando por alguns segundos, com sua expressão se fechando em ódio mais uma vez.

—Levante-se! Ele não gosta de ficar esperando.

Estremeci por dentro ao ouvir aquilo e balancei a cabeça negativamente, já esperando pelo pior. Ela suspirou e me encarou por mais alguns segundos.

—Não me obrigue a chamar um dos seguranças. Garanto que será muito pior do que...- ela parou de falar ao ver meu pavor e agarrou meu braço, me forçando a levantar.

—Eu definitivamente perdi a paciência! Já chega! Por que você não vai lá e simplesmente acaba com isso?

—Tão fácil assim?- gritei aos prantos, enquanto era arrastada mais uma vez por entre as salas e corredores.

Tentei por inúmeras vezes me livrar das mãos dela, cuidando para não deixar minhas roupas caírem, já que as segurava com uma das mãos para vesti-las assim que conseguisse sair dali. E em decorrência da força usada por ela para me segurar meu braço já estava ficando marcado e cheio de hematomas.

Em dado momento, vendo minha relutância em continuar seguindo-a, ela arrancou as roupas da minha mão e as jogou pela janela. Foi nesse momento que consegui escapar. E corri o máximo que pude enquanto atrás de mim ela berrava para que alguém me segurasse.

Quando eu olhei por cima do ombro, num gesto quase inconsciente para ver a que distância ela estava de mim, trombei com alguém e caí sentada no chão. Algo ainda mais desagradável por estar usando uma camisola extremamente curta. Mas pior do que isso foi olhar para cima e me deparar com um homem alto, forte e barbudo, fedendo a álcool, vindo com as mãos erguidas na minha direção.

—Olá belezinha...- ele riu.

Tentei escapar, mas ele me abraçou por trás e me levantou, levando-me até a mulher. Esperneei, berrei, chorei, mas foi em vão. Eu parecia uma boneca de pano nas mãos de um gigante. E assim que ele me largou no chão a mulher agarrou meus cabelos e me arrastou até a próxima sala, me empurrando ali para dentro ao abrir a porta. Permaneci caída de joelhos por alguns minutos, chorando de dor e temendo olhar em volta.

Fiquei imersa no silêncio da sala até que ergui os olhos e percebi que se tratava de um quarto bem arejado. O único ambiente daquele lugar que cheirava bem. Até demais.

Uma cama gigante ao centro, um divã bordô no lado esquerdo. Uma penteadeira tão linda que em outros tempos me faria cobiça-la e um banheiro. Uma fragrância delicada e cheirosa impregnava o ar deixando-me relaxada por alguns segundos, fazendo-me esquecer do meu maior pesadelo. Ao me dar conta disso, me levantei rapidamente e fui até a porta. Estava trancada. Corri até a janela e percebi que eu estava no segundo andar de um grande edifício construído alguns séculos atrás. Tentei reconhecer algum aspecto da vizinhança, mas nada me era familiar.

—Como eu vim parar aqui?- falei em voz alta, tentando lembrar o que teria acontecido antes de acordar naquele sofá fedido, mas minha mente estava em branco.

—Você não lembra?

Uma voz grave soou, vinda do banheiro, e chegou até meus ouvidos fazendo-me perder as forças das pernas.


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