Uma Seleção com Rosie Ambers escrita por ANA


Capítulo 59
Capítulo 55


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura s2



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Para aquele início de tarde foi programada uma aparição pública na sacada do palácio espanhol. Me lembrava de ter visto algo parecido em revistas de realeza. Curiosamente, isso não era um evento tão comum em Illea.

Até nos dispensaram de um almoço na Sala de Refeições para a arrumação. Era como estar de volta ao primeiro dia da Seleção: uma confusão de profissionais correndo para todos os lados com opções de maquiagem, roupas e acessórios.

Dispensei a ajuda deles mais cedo, pois tinha Audrey e Amy. No entanto, a supervisora que já vinha reclamando do meu look (foram umas duas trocas) cismou que a maquiagem não estava adequada o suficiente. Por isso, determinou que sua equipe deveria começá-la do zero.

"Senhora, eu estou satisfeita com o resultado. Isso não basta?"

"Deixa, Rosie. Já estamos indo." Amy puxou Audrey-que  estava a ponto de surtar com aquela mulher-  me dando um aceno "Vai ficar maravilhosa do mesmo jeito!"

Respirei fundo segurando a cara de poucos amigos para o ajudante que não merecia, mas tinha arrancado metade da make em uma fração de segundos após as ordens de sua supervisora.

"Suas amigas fizeram um ótimo trabalho."disse em baixo tom"Então vou fazer algo parecido, e você vai ver que a estressadinha não vai perceber."

Agradeci. O nome no crachá dele era Brais. Não sei onde arranjei coragem para perguntar a pronúncia, e ele me ajudou. 

"Hay mucha gente por ahí. Apenas encontré un lugar para estacionar mi auto." 

(*Auto= carro)

"También tuve que caminar."

"¿Ese ruido es de un helicóptero?" Suki questionou.

Acompanhei a conversa de Brais, Suki e da mulher que a maquiava até certo ponto. Depois desisti pela velocidade das falas. 

Entendi que a conversa era sobre a aglomeração e como foi difícil arranjarem um estacionamento no ambiente exterior. E que era possível ouvir sons de helicópteros, mas não podíamos ver por estarmos em um ambiente fechado.

Quando concluiu o trabalho, Brais me indicou a direção da supervisora e mais três funcionários  que verificaram cada centímetro do meu visual. Havia um padrão pré-estabelecido: sobretudo, scarpins, meia calça e acessórios.

Foi preciso esperar até que o restante se aprontasse para subir. Atrasei o passo propositalmente para andar ao lado de Suki.

"Você sabe se vamos ter que fazer alguma entrevista hoje? Ouvi Katie comentar com um cabeleireiro mais cedo."

"Acho que não." Franziu a testa. "O Osten não comentou nada disso, então não deve ter."

"Ah, sim, ainda bem...A propósito..."

"Hum..." ela murmurou ainda olhando para frente.

"Já deu uma rodada por esse palácio? Eu achei que fossem apresentar os cômodos para gente."

Me repreendi internamente. Não era bem esse assunto que eu queria abordar.

"É quase a mesma coisa. Eu acho que não tem necessidade."

Dado que Suki com certeza iria querer ir embora imediatamente assim que eu esclarecesse as coisas, talvez fosse melhor abrir o jogo do meio para o final da viagem. Osten não a mandaria para Illea logo no início: as pessoas falariam. Então, se eu lhe contasse nos primeiros dias, seria ruim para Suki ficar e fingir que nada tinha mudado.

A asiática se afastou tomando a dianteira para cumprimentar as pessoas presentes. 

Osten, o rei Carlos, a rainha Dulce, os príncipes Fernando e Filipe, além de um grupo de pessoas que eu não consegui identificar por nomes, mas deduzi serem integrantes ou amigos próximos da família real  nos esperavam no quarto da sacada.

Ali não havia cama ou guarda roupas, apenas mesas e bancos de espera.

"Dentro de cinco minutos." Anunciaram.

Uma mãe ajeitou a gravata de um garotinho moreno de uns seis anos. Havia também uma garotinha loirinha de uns cinco com um vestido rosa bebê cheio de babados. Ambos muito calados. Poderia ser personalidade, mas era mais provável que deviam estar acostumados a ter que se comportar naquelas ocasiões.

Recebi um toque no ombro. 

" Você está..."

"Não, tá tudo bem!" Não deixei Osten completar a frase."O tempo passou, mas ainda não fico cem por cento confortável com essas situações." 

Apontei com a cabeça para fora, onde uma multidão de câmeras nos esperava. Ele assentiu.

"Agora entendi."

"Pelo menos não serão flashes no rosto, no momento, mas... "suspirei" Mas vai ter isso quase que a viagem toda, não é?"

"Infelizmente não posso te prometer o contrário." sorriu fraco.

Não era atoa que ele tinha me procurado: acho que estava começando a transparecer o ritmo acelerado com que eu respirava. Eu precisava me controlar para não parecer tão nervosa. Esperava me adaptar logo.

" Lembrem de não dizer absolutamente nada estranho, porque as câmeras vão dar um zoom imenso." Avisou Ophelia antes que três grandes portas fossem abertas para uma varanda única.

A maioria se posicionou do lado direito dos quatro principais integrantes da família real espanhola. Ficamos do lado esquerdo. Osten foi rodeado rapidamente. Do centro para a ponta ficaria Ophelia, Suki, Katie, Osten, Jade, Paige e eu. Porém, Paige pediu para trocar de lugar comigo de última hora dizendo que gostava do canto.

"Obrigada."

"De nada." sorri de volta. 

Minhas conversas com ela sempre foram um tanto curtas e diretas. Paige era aquele tipo de pessoa com quem você não tem nenhum tipo de assunto, mas que não traz reservas.

"Olhem para o alto." alguém disse. Um dos helicópteros da mídia se aproximava naquele exato momento. 

Em quantos lugares as imagens iriam sair? 

Com o isolamento no palácio de Illea era um pouco mais fácil esquecer o fato de que éramos assunto. Apesar dos jornais Oficiais serem semanais, as poucas câmeras e uma plateia limitada atenuavam a ideia da visibilidade.

Mas havia uma multidão ali, aos gritos e balançando bandeiras de Illea e da Espanha, enquanto acenávamos feito idiotas. 

"Acho o uniforme da guarda daqui mais bonito do que o uniforme oficial de Illea, e vocês?" 

Franzi a testa para Jade, pois não era o esperado que puxasse assunto. O tédio devia estar grande, ou ela devia estar farta do monólogo que Katie fazia para Osten do outro lado.

"Não sei." dei de ombros."Eu acho que os dois são bonitos." 

"O azul marinho é definitivamente melhor  do que o vermelho." disse Paige."Mais formal. Por isso, eu prefiro quando eles usam a versão azul em Illea."

"Eu estava falando mais é do modelo. Vermelho em si é maravilhoso."

"Mãe, que horas vai acabar?" 

Olhamos para o lado, onde aquele garotinho era repreendido em tom baixo. 

Eu também já não aguentava mais... Meu rosto começou a doer de tanto que eu sorria, ficava séria e voltava a sorrir. O medo real era de desequilibrar com aqueles saltos ou tropeçar no meu próprio pé na hora de sair. Poderia ser uma tarefa fácil, mas sem dúvidas seria mais confortável estar no lugar dos expectadores.

Foi como passar uns quarenta minutos em pé, contudo me disseram mais tarde que tudo durou  no máximo vinte minutos contando com o tempo da marcha da guarda. 

...

Segurei a borracha me debatendo se deveria apagar aquela linha de uma só vez. E apaguei. Eu precisava criar um discurso- que graças ao céus só se tratava de um exercício-sobre causas sociais. Ele foi passado por dois novos professores, que disseram ter o objetivo de aperfeiçoamento da técnica de oratória. 

Miguel, professor de diplomacia e Murilo, o professor de espanhol. Eu recordei rapidamente do que Delfina me falou, e Osten mesmo me confirmou após a primeira aula: Murilo e ele tiveram uma rixa no passado e o príncipe o sabotou com uma tarântula.

Incrível porque não tive antipatia por nenhum deles. Pelo menos, não criaram marcação com ninguém, nem foram ignorantes. Foram honestos logo na impressão inicial, quando mandaram cada uma ler um texto aleatório.

"Você entrou abaixando a cabeça. Abaixa com frequência? Em certas colocações sua voz afina ou fica muito baixa, vai precisar melhorar isso. E olhar mais nos olhos de que está falando se precisar conversar. Não é muito fácil, mas não é impossível."

Lembrar daquele momento me dava certa ansiedade. Não era tão fácil mudar um comportamento instintivo. 

Mas, por enquanto, a preocupação maior era o meu bloqueio criativo. Eu só tinha as saudações nas duas primeiras linhas.

Talvez eu não devesse ter escolhido escrever na varanda do quarto. A vista do lago era muito mais interessante. 

Seria bom fazer um passeio por ali mais tarde, dessa vez sem o acompanhamento da filmagem. Essa tinha sido uma programação completamente sem graça, apenas um banquete para mídia. Osten foi na frente  conversando os príncipes Fernando e Filipe, ao passo que o resto de nós convidadas os seguimos em silêncio. E ainda fomos abordadas várias vezes para tirar fotos.

"Topam uma caminhada lá fora quando eu voltar da aula?"

"Sim, com certeza!"

"Mas se estiver frio demais deixamos para amanhã, por favor?" disse Audrey enroscada ao cobertor. Eu ri.

"Ok. " 

Esperava  que não anoitecesse rápido, caso contrário havia o risco de não nos deixarem sair sozinhas.

...

Após o café da manhã, tratei de finalizar a tarefa do discurso pendente para a próxima aula, e seria bem em cima do prazo limite. O compromisso seguinte era com a Rainha da Espanha. Nada demais, somente uma conversa que ela queria ter com todas as participantes da Elite.

Nos distraíamos com revistas e livros num salão que era equivalente ao Salão das Mulheres. Ele, no caso, era decorado com móveis dourados e espelhos em suas paredes azul claro. Por sinal, dourado era a cor mais utilizada na maioria dos cômodos daquele palácio e era difícil não ver uma decoração artística em um piso ou teto.

"Com licença, senhoritas, a Rainha Dulce vai precisar atrasar alguns minutos por conta de uma visita inesperada. Ela sugeriu remarcar para após o almoço."

"Diga a ela que aguardamos." 

"Isso, já que estamos aqui."

O guarda assentiu indo levar o recado.

"Essa viagem está entediante." Jade soltou após um tempo rodando em silêncio e mexendo nas tapeçarias. "Achei que a gente participaria de mais eventos e conheceria mais um pouco do país, mas estamos quase indo embora, e continuamos presas aqui dentro."

"Do que você tá falando? Já fomos a um museu e a uma apresentação de flamenco."

"Tenho certeza que a Espanha é muito mais que isso." Jade rebateu Katie.

"Insatisfeita? É só pedir para voltar a Illea. Osten não vai negar uma passagem."

"Totalmente desnecessário atacar desse jeito. Qualquer uma aqui por mais paciência que tenha já deve estar cansada da mesmice." 

A resposta poderia gerar um silêncio incômodo se não fosse por Ophelia.

"Soube que teríamos saído ontem para um parque, se não tivesse chovido."

"Hum... Por falar nisso ainda está chovendo demais. Espero que não cancelem o evento de hoje a noite." Jade se aproximou da janela.

"Não...É quase impossível fazerem isso."

"Alguém tem notícias do Osten?" Suki questionou."Ele está melhor de ontem?" 

Durante o almoço, ele se levantou da mesa com rapidez e saiu sem cumprimentos, deixando os convidados com quem conversava um tanto confusos. Pelo que os funcionários disseram, o príncipe foi atendido por médicos por causa de sua alergia a abacaxi. A fruta, pelo visto, foi usada como molho para uma carne servida.

Ninguém soube responder com detalhes. Porém, era de conhecimento geral que ele permaneceu uma hora em repouso após a medicação e voltou a trabalhar. Eu não tive oportunidade de falar com ele sobre o assunto. Esperava poder fazer isso mais tarde.

A porta foi aberta, mas não pela Rainha. 

Filipe, o príncipe de 11 anos, entrou sem cerimônias.

"... Alteza" Paige, foi a primeira a se pronunciar.

"Bom dia, podemos te ajudar com alguma coisa, Alteza?" disse Suki.

"Bom dia." Respondeu depois de se sentar em um sofá. Nos entreolhamos confusas com o seu olhar de nada.

"Tenho curiosidade. Como vocês todas podem se rebaixar ao nível de se humilhar por um casamento?" 

"..."

"O que... quer dizer com isso?" 

"Ah, jura que não entendeu?"ele encarou Katie." Vou ser mais claro então: Osten só precisa de uma de vocês. Ou melhor..."Sorriu." De nenhuma. Ele só fez essa competição para poder ficar com várias mulheres ao mesmo tempo. Pra sorte de vocês, sei e posso provar que ele já iludiu muitas. Só precisam dizer e eu solto os nomes..."

"Não é desse jeito, meu bem."Katie se ergueu e sentou ao seu lado." Todas entramos na competição, sabendo dos prós e contras. Não estamos aqui por obrigação. Estou pelo Osten. Não sei por elas, não me importa. O que realmente vai fazer diferença é esse final da competição. Osten vai anunciar logo, logo sua noiva. Se já esperamos meses por isso, o que vão fazer diferença? Mais alguns dias, mais algumas semanas?"

"Não preciso saber dos antigos relacionamentos do príncipe Osten. O que importa é como ele é hoje. Não como era no passado."

Filipe não escondeu o horror ao terminar de ouvir Suki.

"Bom, só faço o meu papel avisando, vocês tem cérebro e liberdade para fazer o que quiser. Se ainda estiverem enganadas, abram os olhos."

"Não precisa se preocupar com a gente."foi a vez de Ophelia rebater." É como a Suki falou, o passado é passado. Osten sempre deixou as coisas muito claras, e é responsável. Quem não for escolhida vai respeitar a decisão dele, do mesmo jeito. "

"... Vocês devem saber bem o que fazem. Não é nem uma surpresa."riu com ironia"Um título de princesa deve ser muito importante..."

"Onde está sua mãe, afinal?" disse Jade. "O que aquele menino tem de altura tem de arrogância." Comentou quando o príncipe saiu sem lhe responder.

...

"Inspiração. O que se passa na cabeça de um artista no momento em que ele começa a sua obra? Traços começam a se unir ou divergir, formas se deformam, cores se misturam, palavras se embaralham, notas se sobrepõem! O resultado final só o tempo e a imaginação irão dizer." 

Troquei um olhar com Audrey e rimos baixo para não atrapalhar o resto da plateia. O senhor responsável pela exposição estava mesmo empolgado...

"Até que achei bonitinho..."ela falou. 

Amy não tinha vindo, pois poderíamos levar apenas uma acompanhante em tal evento, localizado em um museu e centro de convenções de Madrid. 

Após o discurso daquele homem, começou um leilão de uma tapeçaria antiga com fundos para caridade.

O príncipe herdeiro Fernando finalizou com um breve e diga-se ótimo discurso. Comecei a procurar ao redor assim que Lorenzo foi citado por ele como um dos patrocinadores da exposição de pequenos artistas que estavam tentando obter reconhecimento. Não era novidade que o italiano amava artes.

Eu o achei na fileira oposta conversando com Osten e outro homem. Me perguntava se ambos já tinham discutido sobre o colar. Muito provavelmente sim.

Fui puxada por Audrey para as escadas e subimos atrás da multidão. Em cima ficava uma sacada de vidro interna, sendo esse o andar da exposição. A comida era servida para quem estivesse andando, ou então no andar debaixo, em um salão específico.

Pelo nosso nível de curiosidade com as pinturas abstratas e de paisagens naturais, era possível que comeríamos onde estávamos. Seria uma noite agradável se eu não fosse abordada de minuto em minuto.

"¿No puedes decirnos nada sobre Bridget? ¿Cómo era ella?"

(Não pode nos dizer nada sobre Bridget? Como ela era?)

"No puedo, madames. Lo siento."

Senti alívio quando se foram, porque além de não querer falar daquilo, duvidava ser capaz de conduzir uma conversa em espanhol. A maioria tinha me abordado até o momento em minha língua, e por isso o choque quando as duas mulheres surgiram.

"Eles não esquecem isso. Impressionante!"

Dei de ombros para Audrey. Já era a quarta vez que me perguntavam sobre o assunto 'Bridget'. Eu já estava farta disso, mas fazer o quê?

Suspirei vendo mais uma mulher se aproximar.

"Se quiser ir vendo um pouco da exposição...Vou atrás de você assim que possível."

"Mas eu não posso te largar aqui com..."

"Relaxa. Só vai. "Lhe dei um leve empurrão.

Lorenzo estava ocupado mais uma vez quando me vi disponível. 

Conversava com uma jovem de cabelo castanho, com mechas loiras e um ondulado natural até a cintura. O vestido dela era de manga longa, cor vinho e tinha ombros descobertos.

"Aquela é minha prima de 2º grau."quase pulei de susto e olhei para Filipe." Seu amado Osten já esteve com ela, fez questão de estragar tudo. E fez isso também com ela. "Apontou dessa vez para uma garota de cabelos cacheados. "Sonia. Ela chorou uma noite inteira no ombro da minha prima."

"..."

"Não vai defendê-lo como nenhuma das outras?"

"Não posso."

"Não pode?"

"Eu não estava lá. O único que tem direito de se defender é o próprio Osten. E garanto, conheço ele, que foi se desculpar com cada uma dessas meninas."

Filipe ficou com um rosto impassível pelo fato de, na mesma hora, Osten se aproximar para conversar com Sonia e seu acompanhante.

"Eu acho a atitude do passado dele lamentável."continuei" Já conheci alguns caras que não prestavam, e digo que poucas pessoas com esse comportamento realmente mudam. Então, eu te entendo por desconfiar dele. Você tem o direito."

"E você não desconfia?"

"Preciso mesmo responder?"Sorri. Filipe me olhou de cima abaixo de testa franzida, e riu com deboche."Que foi?"

Achei que ele só estava me ignorando e saindo em silêncio. Percebi que eu devia ter tomado uma direção contrária, porque Filipe trouxe tanto a prima, quanto Lorenzo.

Sorri para esse amarelo, e ele correspondeu de um jeito parecido. Não era bem assim que eu planejava abordá-lo.

"Você é a Rosie, não é?"a jovem estendeu a mão"Muito prazer, Martina."

"Sim. Prazer, Martina." sorri de volta cumprimentando-a.

"Eu costumo acompanhar algumas notícias da Seleção. Mas quem me atualizou de verdade foi a princesa Delfina." olhei dela para Lorenzo.

"Nossos pais são grandes amigos. Desde pequenos" ele esclareceu.

"E eu sou da Espanha, mas estudo artes na Itália. Voltei hoje para a exposição."

"Ah, sim." assenti.

"Eu queria muito te conhecer."ergui a sobrancelha." Violet me disse que aquele traste quis te ameaçar também."

"Traste?!" 

"Oliver.  Não consigo entender o que vi nele, e bem que tentei avisar a Delfina."

Pisquei atônita.

"Espera, você..."

"Sou ex namorada dele. Nem me lembre. Eu queria poder apagá-lo da minha vida.  Ele terminou comigo de forma decente, antes de se envolver com a Delfina, pelo menos. "

"Nossa... sem palavras. Sinto muito."

"O Osten fez pior com ela, não é, Martina?"

"Filipe."

Esse retirou a mão de Lorenzo sobre seu ombro com raiva.

"Bom, sobre isso..." ela me olhou desconfortável. "Nós já tivemos um lance, pouco depois do Oliver terminar comigo, e a Delfina e o Osten também. Meio que nos ajudamos, mas ele..."

"Não queria nada sério com você e te usou como estepe."

"Sim, ele não queria nada sério comigo e foi uma decisão de ambos." Enfatizou fuzilando o  primo com o olhar." Mas eu acabei sentindo algo, e por hipocrisia, acabei xingando ele de coisas que não merecia. O Osten é um ótimo rapaz. E pelo que eu entendi, você tentou fazer ele e a Delfina darem certo de novo, mesmo sentindo algo por ele. Então, estou  torcendo por vocês." sorriu.

"Sinceramente, Martina..."

"Não liga para o Filipe. Ele está convencido de que o Osten só quer iludir as selecionadas, e inclusive. Precisei desmentir isso para Suki e Katie minutos atrás. Elas estavam bem chateadas, sabe? Se me permitem, eu e ele precisamos de uma palavrinha."

Ela puxou garoto, que pelo visto não gostou de ser mencionado como terceira pessoa.

"Osten e eu já conversamos." Lorenzo disse assim que ficamos sozinhos."Eu estou numa boa com ele e queria que você se despreocupasse, porque não tenho raiva de você."

"...Olha, mesmo assim, eu queria explicar que não menosprezei o seu presente quando não usei e depois emprestei para Amy. Na verdade, não pude negar quando ela pediu e..."

"Pode me devolver se quiser."

"Hã?!"

"A menos que não queira." rolou os olhos com humor."Eu vou entender se mudar de ideia. Aquela joia é bem rara. Quando eu for te dar um novo presente, prometo que não vai ser com a temática romântica."

"... Você tem certeza?"

Era o que eu planejava fazer, mas no fundo não tinha coragem de pedir.

"Tenho."sorriu."Agora, eu tenho que ir."apontou para um casal acenando."Conversamos melhor depois."

"Ok..."

Respirei fundo e passei a procurar Audrey. Ao que parecia, ela já não estava mais vendo a exposição. Pelo vidro da sacada eu a vi no andar de baixo a observar o local onde serviam a comida.

"Ça va mon amour?" (Você está bem, meu amor?)

"Ah, oi também, sumido."

"Nossa, mas é assim que sou recebido?" Osten cruzou os braços.

"Queria o quê, um beijo e um abraço?"

"Quem dera..."sorriu" Mas posso cobrá-los mais tarde. E com juros?"

"Você não tem jeito."meneei a cabeça."Melhorou da alergia?"

"Sim." ele se recompôs."Foi um susto quando senti o gosto do molho,e eu já tinha engolido um pedaço..."

"Abacaxi. É bem incomum."

"Eu sei. Nem todos na minha família tem. Os premiados somos eu, Eadlyn, Kerttu, Kaden e minha avó paterna."Ele fez uma pausa e abaixou a cabeça" Te vi conversando com o Filipe, por acaso..."

"Sim, e não se preocupe. Não caí na conversa. Ele falou sobre a Martina e a Sonia, mas Martina esclareceu as coisas."  

"Ah, certo... E quanto a Sonia?"

"Bom, do caso dela eu não sei muito bem, mas nã..."

"Eu levei um murro do atual dela, que era o melhor amigo na época, quando descobriu que eu troquei uns flertes com ela, mas rejeitei quando ela tomou coragem de se confessar."Riu baixo, como quem se lembrava da situação." Mais alguma outra acusação?"

"Sua reputação comigo não vai permanecer intacta se continuar a detalhar mais desses casos, então, recomendo parar."

Ele achou graça.

"Por acaso, isso é,...?"

"Sim, isso mesmo. E agradeceria não saber de mais do que já sei sobre seu envolvimento com mais umas vinte ex." 

"Ok, vou parar." fez uma careta.

"Aquele menino é realmente o seu pior pesadelo quando se trata de desenterrar o passado..."

"Eu tô quase desistindo de um diálogo, com ele. Admito. Mas já houve tempo pior. Me fez umas pegadinhas, bem pesadas eu diria..."

"Sério, o que?"

"Você não iria querer saber."

"Me conta!"

"Não posso."

"Por quê?! Por fav..."

"Laxante. Ele já chegou a esse nível pra fazer passar vergonha. E foi mais de uma vez. Só me pegou desprevenido nas piores horas."

"... Céus?" Ri, mas parei, porque ele parecia um tanto arrependido por ter me soltado aquela informação."Espera, aquele dia que você levantou rápido da mesa..."

"NÃOO!"

"Era mesmo alergia?"

"Era! Eu juro! É uma alergia séria. Eu precisei de atendimento urgente naquela hora."

"Ahh, então tá..."

"É sério, Rosie."

"Tudo bem, eu acredito. D-desculpa."ergui as mãos, trabalhando muito para não chorar de rir.

... 

A nossa missão da semana era assistir conferências e fazer um relatório com comentários e críticas sobre os assuntos tratados.

Achei uma péssima ideia, claro. Com as poucas aulas que recebemos de espanhol, nem em sonho dava para entender bem o que as pessoas falavam na velocidade da luz. As meninas faziam anotações e anotações em seus blocos, e eu sempre esperava ansiosamente pelo momento em que algum deles fosse falar algo apenas em nossa língua.

"Boa tarde." Lorenzo nos encontrou na saída de uma sessão.

"Gostaram da conferência?"

A maioria assentiu.

"Para ser honesta, não muito." 

Olhamos para Ophelia.

" Por mais que eu goste do ramo, inclusive fazia Relações Internacionais, não fazemos absolutamente nada aqui." ela abaixou o tom para que nenhum dos professores que conversavam com o diplomata Benjamin ouvissem." Fora que hoje a conferência não chegou a lugar nenhum e a decisão foi adiada."

"Ora, ora. Uma colega de profissão? É uma honra." ele sorriu." Mas entendo. Só ficar olhando e não ver nada se resolver deve ser angustiante para quem quer colocar a mão na massa. Que bom que agora estão livres para ir. Mas, afinal , cadê o Osten?"

"Ele vai precisar participar de outra reunião agora, e quer que vocês sejam levadas embora primeiro." 

Quem respondeu, na verdade, foi um homem da equipe de segurança, que chegou acompanhado de Benjamin.

"Mas ainda vamos sair, não é?"Ophelia questionou."Sr. Ben, se me permite fazer uma sugestão. Eu já morei na Espanha e conheço um lugar que podemos ir. O Osten pode nos encontrar no parque, como combinado."

"Isso não vai ser possível, Srta. Ophelia."

"Por que n...?"

"Infelizmente, pela segurança de vocês, existem lugares que nunca vão poder visitar espontaneamente. É preciso um planejamento para ir a qualquer lugar."

"Ele está certo." assentiu Katie. " Não é seguro."

"Eu não acho que é tão perigoso assim. Eu mesmo costumo passear por alguns bairros movimentados daqui. Nunca desertos. Nunca aconteceu nada. E elas estão com o dobro da segurança." 

A fala do italiano surpreendeu até Benjamin, mas infelizmente, não tivemos escolha, a não ser voltar para o palácio.

...

Lorenzo entrou de supetão na sala de refeições.

"Conversei com o Osten, e ele me disse para cuidar de vocês na primeira parte do passeio."

"Está brincando."

"Não." sorriu negando para Jade.

"Ele vai nos encontrar no parque. Proponho um passeio de carro, o que acham?"

"Não tenho palavras para agradecer, Alteza!"

"Disponha." ele assentiu.

Impossível não me divertir com a empolgação de Ophelia. Ela e Jade começaram a discutir com Lorenzo o itinerário.

"Poderíamos ir perto de onde eu morava. Lá é um bairro residencial e muito tranquilo de passar..." 

O primeiro lugar por onde passamos foi uma praça com a estátua de um antigo rei Filipe III, do século XVII. O local era rodeado por edifícios de poucos andares, com lojas e restaurantes.  Ophelia conhecia um pouco da historia e Lorenzo complementou com o restante.

Não estava cheio, só que isso não impediu que os presentes nos parassem para tirar fotos. Se tratava de uma área turística, acima de tudo. 

Foi orientado que ficássemos em grupo durante o curto trajeto que fizemos ali. Os guardas andavam olhando para cada janela e porta, e criando vez ou outra uma barreira.

"E se, de repente, um sniper aparecer no topo de algum desse edifício e mirar em nós?" Amy deixou um par de criadas que estava perto um tanto amedrontadas. Confesso que eu também me juntei a paranoia. 

Mas, ainda bem, nada aconteceu.

O próximo lugar era em um bairro próximo a onde Ophelia morou. A primeira coisa que notei foram as casas coloridas e o aspecto um pouco mais apertado das ruas. Crianças corriam de um lado para o outro da via e todos os carros passavam em baixa velocidade.

Paramos perto de algumas lanchonetes com cadeiras ao ar livre. Observei Ophelia sair imediatamente com entusiasmo do carro a frente. Ela nos direcionou para um estabelecimento especifico: uma sorveteria, cujos donos rapidamente a reconheceram de imediato.

Amy foi conversar com a criadas que acompanhavam Paige e a de Suki. Acabei me sentando numa mesa com a asiática e a nós se juntou Lorenzo, que havia ficado sem lugar. 

"E então? Estão gostando de Madrid?"

"É uma cidade muito atrativa."Suki respondeu primeiro." Eu amei o passeio que demos. É uma pena não podemos entrar em todos os locais turísticos, ou poder caminhar livremente."

"Sim." assenti." Aqui tem muito da parte histórica preservada, e no quesito artes eu gostei muito."

"Realmente é uma cidade bem artística. Como várias por aqui na Europa. Mas quanto a arquitetura, minha irmã é apaixonada. Se a Itália não fosse assim também, acredito que ela já teria vindo pra cá."

"Acho que vou mudar o meu pedido." Suki se levantou com o cardápio na mão e se foi na direção do balcão. Sorri amarelo odiando o fato de ainda me sentir sem graça com Lorenzo.

"...Sobre aquele dia, na exposição... Disseram que você é patrocinador. Você participa desses eventos em quantos países?"

"Ah, em vários...Em quase toda Europa, principalmente Inglaterra, Grécia, Portugal, França... E por falar nisso, vai ter outra na Grécia. Estou indo pra lá amanhã."

"Ah, sim... Você sempre aparece e vai embora muito rápido."

" Verdade..."sorriu" Aproveitei que aqui tinha trabalho na mesma semana. Mas agora vai ser ainda mais corrido: Assim que terminar a exposição na Grécia, vou pegar um voo rápido para um serviço na Itália."

"Você gosta mesmo disso, digo, de artes. Já pensou em..."

"Fazer um curso ou algo do tipo? Já. Na verdade, pretendo em um futuro não muito distante. Não é que eu não goste do que eu faço. Estou acostumado." deu de ombros." Me atende. Só não sou fissurado como o Osten... E você? Já sei que também tem uma queda por desenhos."

"Na verdade, gosto mais de música..."

"É mesmo? Nunca me disse, mas eu devia ter imaginado, já que deu aula para a Delfina, Susi, Klaus, Giselle... Quer ser professora?"

Franzi a testa.

"Não necessariamente. Só penso muito em trabalhar com música, mas ainda não tenho nenhum projeto sólido na minha cabeça."

"Bom, é a minha opinião: eu acho que esse planejamento de todas vocês da Elite aprenderem diplomacia uma perda de tempo... Não são todas que querem trabalhar com diplomacia. Ou melhor, direto ao ponto: você quer?"

"Pra ser sincera, não..."

"Viu? Uma perda de tempo." rolou os olhos." Deveria falar com o Osten para mudar o cronograma daqui pra frente...Colocar mais o que vocês gostam como tarefas. Uma esposa de diplomata não tem obrigação de fazer o que ele faz."

Não foi possível respondê-lo, pois com o retorno de Suki o eixo da conversa voltou para as atrações turísticas.

A última parada foi o parque de El Retiro. Osten chegou ali primeiro. Nos esperava próximo à entrada com uma câmera pendurada no pescoço, parecendo seu pai, coisa que comentei com ele. 

Aquele lugar era tão grande que merecia ser visitado por mais de um dia. Andamos em um pequeno trecho enquanto um guia nos explicava que o local foi planejado como um divertimento para a família real espanhola, no século XVII, e que mais tarde foi sendo aberto ao público.

A vegetação típica do outono, em transição do outono para o inverno, era linda, no entanto, me peguei imaginando como deveria ser a visão do verão e da primavera. Passamos por uma construção intitulada de Palácio de Cristal, cujos muros nada mais eram do que uma vidraçaria. Ele já funcionou como uma estufa no passado, mas acabou sendo esvaziado e se tornando 'palco' de eventos artísticos da cidade.

O lago artificial, onde paramos, tinha uma praça com a estátua do rei Afonso XII, o que não era uma novidade, porque por quase todo canto da cidade havia uma monumento de alguma personalidade. Ali também havia um prédio estreito que funcionava como miradouro e dava uma boa visão do parque e da cidade.

 Osten nos juntou para algumas fotos em frente ao lago, e então nos deram a oportunidade de andar de caiaque. Suki me chamou para acompanhá-la e Amy optou por ir com outra criada.

"Suki...você sabe remar, né?" perguntei antes de entramos.

"Não é só remar?"

"O que quis dizer é... Ah, sei lá, é que nunca fiz isso, tenho medo de fazer errado e cairmos dentro da água."

"Não é tão fundo assim para morrermos afogadas. Dá pra nadar tranquilo. E eles nos resgatariam."

"É, mas já está bem frio. Não quero levar um banho."

Fiz uma careta quando nos afastamos da margem.  

"Não vai acontecer. Fique tranquila."

"Esse remo é pesado com força, como você consegue?" Ela quem estava nos levando praticamente."Suki...Não podemos ir tão longe da margem e dos outros. Podem ficar preocupados..."

"A essa distância está boa." Ela parou." É proposital. Eu só queria te perguntar uma coisa."

Pisquei atônita.

"O que aconteceu?"

"Eu já te fiz essa pergunta, mas estávamos acompanhadas. Queria que você se abrisse honestamente dessa vez. Você está tendo um caso com o príncipe Lorenzo?"

"Um caso?! Claro que não! Por que você..." me recordei que ela já havia sinalizado essa desconfiança uma vez, no dia da festa de casamento de May, ao lado de Emma e Phoebe. Mas naquela ocasião várias estavam desconfiando de mim ou de Phoebe, porque passamos boa parte do tempo no resort conversando com Lorenzo." Olha, só porque sou amiga dele e me sinto a vontade falando com ele, não quer dizer que..."

"Rosie, não sinta medo de dizer a verdade. Você pode me falar."

"Mas essa é a verdade."

"É mesmo?"

"Sim!" Ri afônica.

Ela meneou a cabeça.

"Está perdendo tempo. Quanto mais perto do final da Seleção, mais sofrimento você vai causar para o Lorenzo e o Osten vai ficar chateadíssimo com sua falta de honestidade. Eles são melhores amigos de infância, tem ideia do que isso significa?"

"Suki, EU TENHO, mas você está interpretando TUDO errado."

Verifiquei o entorno com medo de ter elevado a voz demais, mas as outras estavam a uma boa distância e não olhavam para nós.

"Se você não está com ele, ao menos já admitiu pra si mesma o que sente?"

"O que eu sinto? Se quer a verdade, o Lorenzo já se declarou para mim uma vez, ok? Mas eu não sinto a mesma coisa que ele, e até mesmo Osten sabe dessa história, se quer saber. Eu não sou desonesta com ele. As coisas são muito claras entre a gente e a última coisa que eu iria fazer é ficar entre dois amigos."

Caímos no silêncio.

Apenas com nossa troca de olhar fui capaz de entender em que situação nos encontrávamos.

Uma sensação de amargor tomou conta de mim.

"Eu sinto muito. Eu sinto muito mesmo, por tudo isso que está acontecendo. Isso tudo é minha culpa..."

"E como isso pode ser sua culpa?!" Ouvi ela dizer e abri os olhos para encará-la.

Porque eu e Osten estamos praticamente noivos, e você continua na competição achando ter uma chance com ele.

"Eu sei que você sempre foi muito determinada em conseguir a atenção do Osten, e confesso que, no início, eu não queria ter nada com ele, mas..."

"Você o ama?" A pergunta dela cortou o meu raciocínio." Porque eu amo, e lamento, mas não posso desistir dele. Por mais que eu te considere como uma das melhores amigas que já tive, e tenha risco de te perder. Eu simplesmente não posso, Rosie."

Ela pegou o remo e passou a nos levar para a margem novamente.

"Suki..."

"Acho que estamos entendidas sobre o nosso papel. Não é?" parou por um instante."Não precisamos bancar duas idiotas brigando por um homem. Só vamos seguir em frente e ver quem ele escolhe."

"Eu sinto muito!"

"Você já disse isso." Ela balançou a cabeça, com certa impaciência.

"Eu sei, mas eu não sei o que mais posso dizer nessa situação... Não era assim que..."

Resolvi permanecer calada, enquanto a ajudava a remar de volta. 

"Isso não é um acordo de paz, nem início de uma guerra, você sabe." disse baixo quando paramos, ignorando o rosto confuso do funcionário que acabara de nos ajudar a entrar no lago."Só vamos focar no que precisamos, e no final uma parabeniza a outra, tudo bem?"

"... Tudo bem."


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