Angelina irrompeu na sala de professores.

" Kriss. Telefone para você na sala do Reitor."

Estranhei. Nunca me ligavam quando estava em serviço. Meus pais faziam isso somente quando estava na minha casa e sempre nos horários que sabiam que eu estava por lá.

" É quem?" Deixei o livro e as provas que corrigia na mesa de centro.

"Não disseram. Só me pediram para chamá-la."

Angelina se aproximou para roubar minha xícara.

"Meu café!"

Ela riu entornando o resto do conteúdo na boca. "Faço mais para você."

"É bom mesmo."

Era ele que devia me manter acordada pelas próximas horas até a minha última aula. Eu tinha feito praticamente uma maratona naquele dia. Minha garganta doía. Nem sobrara tempo para cuidar de Elliot. Ele estava jogado naquela cama sem condição nenhuma de se levantar para cozinhar. Tive que pedir que a irmã dele passasse para deixar o jantar após buscar Hanna e Taylor na escola integral.

Respirei fundo lembrando que elas ainda precisariam cuidar dele ele durante minha próxima viagem... Não era do meu feitio deixá-lo de cama sem poder ajudá-lo pessoalmente, mas aquela viagem era necessária.

"Ei. Acorda, Kriss. Você está atrasada." Angelina apontou para a porta. Caminhei pelos corredores com ela ao meu encalço. Poderia ser alguém de Allens, mas já não estava tudo certo?

A sala ficava no andar acima.

"Senhor Lawrence." O meu chefe apenas deu um cumprimento com a cabeça e saiu do ambiente conversando com outro professor sem me dar a chance de perguntar quem ligava.

"Boa noite, aqui é Kriss Ambers."

"Boa noite, Sra. Ambers. Quem fala é Osten Schreave. Com toda licença..."

"OSTEN SCHREAVE?"

Angelina quase pulou de susto pelo meu grito e, também, pelo fato de ter virado uma fã de carteirinha da Seleção e do principe Osten- apesar de ter mais de vinte anos que ele- desde que minha filha foi selecionada.

"Sim, senhora" Notei o tom cuidadoso dele.

"Perdão, Alteza." Pigarreei tentando corrigir a minha falta de educação. "Me pegou totalmente de surpresa. O que deseja?"

"Não se preocupe quanto a isso... "Abanei para Angelina parar de pular na minha frente e falar algo para mim em leitura labial. Parecia mais uma adolescente surtada. "Te liguei para falar sobre sua filha."

"COMO ESTÁ A ROSIE?! POR FAVOR, ME DIGA QUE ELA ESTÁ..."

"Ela está bem. Garanto. Está apenas dormindo na ala hospitalar agora." O príncipe começou a me contar sobre o desmaio.

"Os médicos daqui fizeram exames e não acharam nada de grave. Averiguamos os testes médicos de antes da vinda de Rosie para o palácio, e a comparação deles confirmou que está tudo bem."Minha aflição aos poucos se desfazia com suas palavras.

"Então ela está bem." Suspirei. Angelina segurando minha mão também fez uma cara de alívio.

"Sim."

"Então porque ela desmaiou?"

Angelina colocou o ouvido no telefone para tentar ouvir também.

"Eu liguei justamente para ter certeza se Rosie não tem nenhum histórico de doença relacionada a desmaios, como epilepsia, ou..."

" Não, nada."

Ele suspirou.

"Ok. Então nos resta a outra explicação. Quase todos que viram o desmaio estão supondo que é emocional. Estava passando uma reportagem do assassinato em Belcourt quando aconteceu. Ela conhece alguma daquelas pessoas?"

Lembrei de tal reportagem. Eu estava no horário de intervalo quando passou e não sosseguei até saber que a equipe de Columbia estava segura.

"Na verdade, sim. O amigo de infância dela estava no hotel, mas não ficou entre as vítimas assassinadas por pouco. O nome dele foi citado entre os reféns. Acha que pode estar relacionado?"

"Talvez. Nem ela, nem eu estavamos prestando totalmente a atenção. Rosie só se aproximou da televisão e apagou por causa de algum trecho. Mas, afinal, qual o nome desse amigo?"

"Tyler Reynolds. Você deve conhecê-lo do programa de Culinária Juvenil."

" Sim, o conheço..." Deu uma risada fraca. "Não sabia que era o melhor amigo que Rosie tinha falado..."

"Sim, ele é praticamente um irmão para Rosie e um filho para mim. Ainda bem que está a salvo. Foi um susto e tanto... "Suspirei. "Mas, quanto a Rosie... ela chegou a acordar?"

"Ainda não... vou te ligar assim que isso acontecer. Aliás, posso até passar o telefone para ela. Creio que deve estar com saudades da sua filha."

"E estou..." sorri triste me tocando de que não seria possível conversar a vontade com minha Rosie..." Eu agradeço muito, Alteza, mas peço que apenas me liguem para dar notícias dela. Devo voltar hoje para casa bem tarde para resolver as coisas da minha viagem... Amanhã cedo vou para Allens em nome da Universidade de Columbia. Vou ficar em um local sem sinal de telefone."

"Ah... Rosie já me falou sobre essas viagens. Quando estará de volta?"

" Daqui a uma semana exata. Pode pedir para que liguem para minha casa."

" Com certeza. Desejo uma boa viagem."

" Obrigada... por tudo, Alteza. Peço desculpas outra vez pela falta de controle minha..."

"Eu te entendo perfeitamente." Riu. "Quando se trata de alguém muito importante para nós, ficamos loucos com qualquer notícia ruim."

"É..."

Ele é tão compreensivo e calmo quanto o pai. Obviamente pela criação.

" Principalmente quanto se trata da Rosie."

" É..." Repeti atônita.

Será que ele queria dizer que...

"Foi um prazer falar com a senhora. Vai ser ainda maior numa oportunidade de conversarmos pessoalmente."

Respondi ao 'Boa Noite' do príncipe sob os agitos no meu braço por Angelina.