É madrugada mais uma vez

E mais uma vez eu estou observando o garoto

Sim, o mesmo garoto

Tem virado um hábito observá-lo

Hoje ele está fazendo o de sempre

Vendo suas lembranças naquele site

Enquanto o doce abraço do sono não o aperta

Pela expressão de seu rosto

Vejo que duas em especial chamaram a atenção

“O que os outros fazem comigo é o karma deles. Como eu reajo é o meu.”

“As atitudes dos outros definem quem entra na minha vida. As minhas, definem quem fica.”

Depois de ler essas duas frases

Vejo que o brilho de sua madrugada se apagou um pouco

É, ele chegou na mesma conclusão que eu

Apesar de concordar com a primeira

Já discorda totalmente da segunda

É interessante ver isso

Ele aprendeu como o jogo funciona

Não do jeito que queria

Mas arrastado como um cachorro na coleira

Para um círculo que não podia evitar

Pobre garoto

Nada está ficando ultimamente

Você está reaprendendo o que é a impermanência

E está começando a descobrir

Que nem todo seu conhecimento social pode te ajudar com isso

Sim, eu consigo enxergar o fundo da sua alma

E consigo ver suas lembranças melhor do que aquele site

Você não quer perder

Mas sabe que nem sempre pode ganhar

Você é calmo demais, minha criança

Calmo como não se pode ser

Aquele titulo de “Amor” não justifica isso

Apesar do de “Orgulho” fazer muito sentido

Até isso você perdeu um pouco

Para fazer valer os votos e a preservação do seu Eu

Aquele mesmo Eu que sua amiga amava

As pessoas que você deixou ir talvez não voltem mais

Você tem que pensar nisso

E tem que saber que novas pessoas estão aqui

Eu sou só uma sombra apoiada numa foice

Observando um garoto

Todas as noites

Se eu pudesse te dar um conselho

Seria para você aproveitar os pequenos momentos

Os pequenos desvios do caminho

Eles é que fazem as coisas valerem a pena

Quando eu finalmente te beijar

Mas sua hora ainda não chegou

E eu não posso te falar nada

E mesmo se pudesse

Você não me ouviria

Seus pensamentos estão altos demais

Você não ouviria minha voz