— Soube que você é médico. –O ruivo disse com a voz embargada pelo inchaço em sua boca.

— Estagiário, eu diria. –Explicou Trafalgar enquanto avaliava a gravidade dos ferimentos do homem a sua frente. –Por essa razão é que deveria ir a um hospital imediatamente.

— Foram só arranhões, algumas bandagens já são o suficiente.

Eram quatro horas da manhã e Law lutava contra o próprio cansaço, sentindo as pálpebras pesadas e o corpo cada vez mais lento. Em condições normais teria se entregado ao sono há tempos, mas por se tratar de um paciente —por mais inesperado que fosse– sabia que não podia abandonar sua responsabilidade.

Eustass Kid havia ficado inconsciente por cerca de dez minutos desde que aparecera em sua porta, implorando como uma criança assustada para que não acionasse qualquer ajuda quando retomara a consciência. Mesmo com o telefone a postos, Law obedeceu ao pedido do homem sem questionamentos, pois considerava importante respeitar quaisquer fossem os desejos de seus pacientes; dessa forma, improvisou às pressas uma espécie de enfermaria em sua sala, depositando os utensílios que transportava sobre a mesa enquanto o corpo do rapaz descansava no sofá.

A parte mais difícil do processo, entretanto, fora carregar o maior para dentro do cômodo, já que o físico musculoso não facilitava nem um pouco seu trabalho.

— Posso perguntar o que aconteceu? –Questionou, não contendo a curiosidade.

— Briga de bar. –O outro deu de ombros desinteressado, se arrependendo logo em seguida pelo movimento brusco.

O estudante bufou, ligeiramente irritado pela irresponsabilidade do rapaz visivelmente mais velho que si. O maior percebera sua desaprovação e retrucou:

— Qual o problema? Nunca defendeu um amigo? –Seu nariz reproduziu um som feio conforme respirava. –Se bem que você não tem cara de que tem muitos...

— Peço desculpas por julgar suas ações. –Trafalgar respondeu constrangido, embora sério. –Minha atitude não foi nem um pouco profissional.

—Ah foda-se vocês doutores e seus códigos de conduta. –Cuspiu Kid ao afundar-se dolorosamente no sofá.

—Por favor Eustass, não conseguirei fechar os pontos com você toda hora se mexendo... –O estudante chamou sua atenção.

A contragosto o ruivo enfim passou a colaborar com seu trabalho, grunhindo de dor a cada vez que a agulha perfurava a pele. Por ser um apenas estagiário não lhe era permitido trazer anestesias e dada a situação em que se encontrava tinha de ser cuidadoso para desinfetar os ferimentos e costura-los da melhor maneira possível.

Eustass seguia todos os seus movimentos pelo canto do olho.

Assim que Law terminou de atar as bandagens o mais alto voltou a falar, com a voz revelando um misto de dor e sonolência:

— Como você sabe meu nome?

— O senhor é mais famoso por aqui do que imagina... –Ironizou Trafalgar, recolhendo os utensílios utilizados. –Mas acredito que eu também seja já que soube que era médico e onde me encontrar.

O ruivo soltou um riso ruidoso pelo nariz inchado antes de responder:

— Eu sempre sei do que preciso, doutor.

Logo depois, Eustass desabou em mais um estado de inconsciência.