O nome é Shun, a constelação é Andrômeda, o signo é Virgem.

O coração é puro. O destino era ser cavaleiro, um dos honrados santos de Athena, o objetivo era proteger a deusa.

A missão inicial era conquistar a armadura. O treinamento era não desistir. Árduas batalhas, árduas vitórias e árduas derrotas. O necessário era determinação. E o resultado foi ter se tornado um santo. O êxito era refletido na armadura que lhe adornava o corpo, dando-lhe o título de cavaleiro de bronze.

O coração permaneceu puro. A hesitação era perante a luta, a quase palpável possibilidade de machucar alguém. Seu cosmo, ao se elevar, escondia em si tamanha força que insistia em camuflar. Contra sua vontade, tal força um dia veio a se libertar.

O coração, ainda assim, não deixou de ser puro.

Não havia vontade de se exibir, o protagonismo nunca lhe chamou atenção. Em seu próprio canto, assistia seus amigos e irmãos à frente, nunca pensando duas vezes em lhes ajudar. Para manter a salvo aqueles que amava, era capaz de abdicar dos próprios princípios que lhe guiaram por toda a vida.

O compromisso era com a deusa Athena e a humanidade. Para tal, não precisou derramar sangue em vão, bem como erguer os punhos. Assim seu compromisso permanece, orientando-se pelos mesmos princípios. Se pela humanidade lutou, mantendo-a em si lutaria.

Um abismo existia entre ele e os demais cavaleiros. E, mesmo assim, nunca cogitou a possibilidade de provar a alguém, seja lá quem fosse, até onde seu potencial era capaz de ir. Uma tempestade nebulosa acontecia em seu interior, devastando tudo que aqueles que lhe julgavam eram capazes de enxergar ao redor, mas o santo não ousou. Não queria, não iria. Seu compromisso não estava em provar para os outros do que era capaz.

Ignorando os padrões da masculinidade característica de um cavaleiro de Athena, era um homem sensível, delicado, bondoso, pacífico. Alguns julgavam tais características como inaceitáveis para um guerreiro – e não compreendiam que, na verdade, eram justamente elas que faziam dele um cavaleiro único.  

Não entendia o porquê de tanta violência quando tantos problemas poderiam ser facilmente resolvidos através do diálogo. Tanto sangue que poderia ser um amontoado de palavras. Dialética trocada por tantos combates.

Ele não pensava uma vez. Pensava duas, às vezes, quando julgava necessário, três.

Santo honrado, de pensamentos organizados, raciocínio à frente da força bruta. Altruísta, companheiro, fiel. Paciente, compressível, honesto. Tamanha pureza residia em seu ser que até a atenção de Hades chamou, tornando-se o receptáculo do deus. Tamanha bondade que foi capaz de lutar contra aquele que tomava seu corpo, não aceitando a maldade impregnando-se em meio a suas entranhas.

Além de romper com os padrões pertencentes ao título de cavaleiro, fazia-o também com os pertencentes ao próprio gênero.

O nome é Shun. A constelação é Andrômeda. O signo é Virgem.

Homem.

E a troca de seu sexo não significa representatividade. Significa apenas negar que um homem pode ser delicado, sensível, bondoso e pacífico. É apenas reforçar estereótipos.