Blythe escrita por Camélia Bardon


Capítulo 1
E se...


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, Vietnã! (oi?)
Oi, meus anjos, tudo bem com vocês? Confesso que já estou há um tempo sem postar nada, desde as drabbles. Aos meus leitores que também acompanham outras histórias minhas: calma, eu volto, prometo de dedinho ♡

Ademais, TEREMOS SPIN-OFF SIM, BRAZEEL! Aqui, John e Marilla ficam juntos. Como deixei nas notas da história, aqui não tem Anne. Por que? Porque o condicional para a Anne seria Matthew e Marilla terem acabado juntos e sozinhos. Mas aqui não rola isso não. Espero que isso não afete o desenvolvimento da história e.e Bom, é isso! Tenham uma boa leitura!

Palavras dadas para composição do spin-off do desafio:
1. PRODIGALIZA: esbanja, dá em grande quantidade, gastar em profusão.
2. FULVO: ruivo, de cor meio avermelhada; amarelo-tostado, louro-dourado.
3. ALVADIO: quase branco, esbranquiçado.
4. RUTILANTE: resplandecente, luzente, cintilante, brilhante, faiscante.
5. ATULHA: entulha, enche completamente.



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Mary Cuthbert sempre especulou que a filha, Marilla, nunca fosse casar-se. Ao menos, não antes de sua morte. A menina, dona de um temperamento colérico e língua ferina, preferia ficar em casa cozinhando e na companhia dos irmãos do que aventurando-se à procura de um bom marido. Não que houvessem homens bons o suficiente para Marilla em Avonlea – que pedacinho esquecido por Deus. Nunca fizera esforço algum com relação à aparência e à etiqueta. Ao menos, nunca antes de conhecer John Blythe.

Sinceramente, era impossível não o conhecer. Os Blythe eram uma família muito bem realizada – financeiramente e socialmente. Por conta de serem sonhadores e apaixonados por viagens, Marilla Cuthbert tinha o palpite de que não apenas toda a Ilha do Príncipe Eduardo, mas também como todo o Canadá, já ouvira algo dos Blythe.

A vida de Marilla começara a mudar quando o irmão mais velho, Michael, se mudara para Charlottetown a fim de concluir o ensino superior. Não queria para si uma vida de simples fazendeiro – como Matthew, o irmão mais novo. Como menino prodígio de Avonlea, este privilégio rutilante não lhe fora negado. No entanto, Marilla sentia-se um tanto sozinha, porquanto que a mãe se ocupava de frequentar as missas todos os dias e Matthew era tímido demais para iniciar uma conversa.

Por falar em Matthew, mesmo com ele abandonando os estudos por conta da timidez, Marilla não pode deixar de caçoar – certo, ela também achava adorável – que sua melhor amiga, por quem Matthew era perdidamente apaixonado, viesse periodicamente visitá-lo em Green Gables para atualizá-lo das novidades. Ele até falava vez ou outra. Percebia-se que Jeannie tinha um efeito especial sobre ele.

Assim, Marilla optou ironicamente por sua única escolha: importunar John Blythe. Sua única amiga, Rachel, estava devidamente fora de questão; ela e o marido, Thomas, haviam entrado em lua de mel. Então, Marilla preferiu estabelecer um mês sabático em prol de sua própria sanidade mental.

A casa dos Blythe não ficava absurdamente longe de Green Gables, então não era um grande esforço ir perturbá-lo, de fato. Marilla tinha até a impressão de que ele não se importava. Consequentemente, logo fazia parte de sua rotina ir até a residência dos Blythe passar as tardes com John.

Sua mãe e todo o resto de Avonlea chamavam-no de seu namorado e, no fundo, ela até apreciava o apelido. Entristecia-se quando John necessitava ausentar-se para mais uma de suas inúmeras viagens mas, em compensação, ele trazia sempre algo para Marilla, de presente.

Numa tarde de outubro, John chegou com uma cartola enrolada em uma fita de seda roxa. Gabava-se dela, e Marilla só podia rir em resposta.

ㅡ Você ri, mas deve admitir que é um belo chapeau . É cosmopolita, todos na cidade estão o usando. Por que não gosta?

ㅡ Fora ser muito grande para sua cabeça? ㅡ Marilla ergueu uma sobrancelha, não cessando a sorrir. ㅡ Por qual motivo prodigaliza dinheiro com um chapeau, Blythe?

ㅡ Espaço para crescer… ㅡ justificou-se John, encolhendo os ombros.

ㅡ Ficará melhor quando tiver mais cérebro.

John levou a mão ao coração, fingindo ressentimento.

ㅡ Tenha piedade, Mar!

Marilla sorriu instantaneamente ao ouvir o apelido. Apenas John chamava-a de tal modo. Por toda a vida, acostumou-se a ser Marilla Cuthbert, de Green Gables. Ter uma nova identidade, mesmo que apenas entre os dois, era deveras adorável. John podia não saber (ou podia! Era sempre tão óbvia), contudo todas as vezes que pronunciava “Mar”, seu coração falhava uma batida.

Marilla não dava voz à sentimentos supérfluos, no entanto não podia evitá-los para sempre. Ser conivente consigo mesma era, no mínimo, contraditório.

Foi então que John a surpreendeu. Retirou do bolso da calça uma belíssima fita de cabelo azul com detalhes em branco. Os olhos de Marilla brilharam, ainda mais quando ele pronunciou:

ㅡ Talvez... isso a convença a ser mais bondosa comigo.

Ela ergueu uma sobrancelha e mordeu o lábio inferior.

ㅡ Eu não faço promessas, John Blythe.

ㅡ Eu não espero nenhuma, Marilla Cuthbert ㅡ e sorriu, timidamente. ㅡ Posso?

Marilla acenou com a cabeça, positivamente. John sentou-se a seu lado no sofá, e gentilmente puxou sua trança para a lateral do ombro. A garota reparou em seu esforço em vão para permanecer sério enquanto movia seus dedos hábeis para dar um nó na fita. No entanto, quando acabou, John encontrava-se com o semblante sóbrio.

Ela sabia o que viria a seguir, então fechou os olhos e tão-somente aguardou.

O toque dos lábios de John nos dela fez seu coração palpitar. Doçura – era esta a consistência. Ondas de emoção passavam pelo corpo de Marilla a cada segundo. Uma sensação nova que, quando era mais nova, acharia nojento. Entretanto, nunca poderia sentir sequer asco de John.

Quando menos percebeu, era ela a estar apaixonada pelo melhor amigo.

Matthew riria como o próprio diabo fugindo da cruz…



E então, aos 20 anos, Marilla Cuthbert tornou-se Marilla Blythe. A cerimônia ocorreu em uma igrejinha em Charlottetown – por insistência de John, ao passo que todos os Blythe casaram-se ali e ele não queria tornar-se a ovelha negra da família da noite para o dia – e todos os que por ambos eram queridos; Rachel e Thomas, com seus dois filhos e o terceiro em gestação, a mãe, Matthew e Jeannie agindo cautelosos mesmo já tendo anunciado o noivado e Michael, levando-a pela mão até o altar.

ㅡ Quem diria, não é mesmo? ㅡ caçoou ele. ㅡ Passei apenas três anos em Alberta e, quando eu volto para passar as férias, descubro que minha irmãzinha vai casar-se. O que era mesmo que dizia quando tinha seus quatorze anos…? “Michael Cuthbert, largue de asneiras, casar é para mulheres bonitas”, ah sim!

ㅡ Michael Cuthbert, largue de asneiras, estou me casando e o mundo não vai acabar por tal motivo ㅡ ela revirou os olhos, afastando o véu da bochecha. ㅡ Imagine só o que aconteceria se fosse eu a perguntar quando irá casar-se.

ㅡ Aí… aí é diferente. Estudo, ainda.

Marilla resmungou. Não acreditava que em pleno casamento estavam discutindo o futuro de ambos, mesmo sob um tom bem-humorado.

E John…! John parecia estar prestes a colapsar. Marilla, mesmo com a visão afetada pelo véu, podia ver uma gota de suor escorrer pela lateral de seu rosto, rente aos olhos claros. A pele trazia um tom alvadio, e é claro que ele colocara a cartola. Era uma espécie de piada interna entre os dois, desde o primeiro beijo.

Michael e Marilla cessaram a caminhada até o altar, porquanto que Michael entregou a mão da irmã ao cunhado, junto a uma piscadela divertida. John tentou devolver o sorriso; no entanto, assemelhou-se com um cachorro escancarando a bocarra. Michael passou para o lado direito, bem como o sr. e a sra. Blythe, que passaram para o lado esquerdo.

John sustentou com uma mão o torso de Marilla e com a outra levantou seu véu, trêmulo. Era tão adorável que Marilla sentia vontade de enchê-lo de beijos ali mesmo. Porém, respeitou a cronologia da cerimônia.

Cerimônia esta que, respeitosamente, entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Em um momento, os noivos murmuravam palavras ajoelhados de frente para o altar e, no outro, trocaram alianças e ouviam o padre pronunciar a fatídica frase:

ㅡ Que não se separe o que Deus uniu e que sele-se o pacto entre os noivos. Noivo: pode beijar a sua noiva.

Subitamente, a ficha caiu à Marilla.

Não, não era um sonho de mau gosto, como os que Marilla tinha aos treze anos. Seria uma esposa. Casada! E com John Blythe!

John aproximou-se dela e enlaçou sua cintura para lhe beijar , cumprindo assim com o último protocolo do casamento. A igreja irrompeu em aplausos, e os recém-casados seguiram contentes para a carroça que os levaria para a tão sonhada lua-de-mel.

 

 

Lua-de-mel essa que fora passada em Alberta, sem muitas preocupações. John e Marilla decidiram manter estadia, pois ambos concordavam que Avonlea era uma cidadezinha deplorável.

ㅡ Retornarei apenas por motivo de doença e para visitas ocasionais aos seus irmãos e meus pais.

ㅡ E para o casamento de Matthew e Jeannie, que está previsto para daqui dois anos ㅡ Marilla acrescentou.

ㅡ É claro. Tem certeza de que não se chateia por não ter ido ao batismo do filho de Rachel?

Marilla soltou uma gargalhada irônica. Ambos jaziam sentados na cozinha; ele, lendo um exemplar do segundo volume de Os Miseráveis. Ela, tricotava um par de luvas de lã. Alberta, assim como Avonlea, era fria e úmida. Marilla havia perdido a conta de quantos agasalhos tricotava ao longo do tempo.

ㅡ Ah, John… se eu não conhecesse Rachel tão bem, acreditaria mesmo que não haveria mais nenhuma oportunidade de batismo. A essa altura, ela e Thomas devem estar matutando sobre ter outro filho.

ㅡ A senhora é terrível ㅡ ele negou com a cabeça, fingindo surpresa. ㅡ Como consegue ser assim?

ㅡ Anos de prática.

John sorriu de escanteio, mas logo o sorriso se esvaiu, como quem atulha um pensamento inadequado. Marilla notou o breve segundo de transtorno, e logo questionou amigavelmente:

ㅡ Está tudo bem, John? Há algo o incomodando?

ㅡ Para ser sincero, Mar, há sim. Nós nunca conversamos sobre… hum, isso.

Isso…? Seja específico.

John suspirou, frustrado pelo constrangimento.

ㅡ Filhos, Mar. Nunca sequer compartilhamos nossas preferências por um herdeiro ou uma herdeira. Eu… nunca perguntei a você se… entende? É visto como obrigação de toda esposa, no entanto… você os quer?

Marilla cessou a tricotagem das luvas e o observou. John conseguia ser adorável de todos os prismas que observasse. Ele estava perguntando a ela se desejava ter filhos! Claro que as Escrituras Sagradas diziam que era dever de todo cristão povoar a terra, e que filhos eram um presente direto de Deus, contudo… Marilla assustava-se com a ideia de gerar um filho em seu ventre. Tinha medo de não ser uma mãe boa o suficiente.

ㅡ Obrigada por perguntar a mim por isso, John ㅡ ela sorriu, sinceramente agradecida. ㅡ E, sim, eu os quero. Só não agora. Sinto que nem eu nem você temos maturidade suficiente para sermos pais, e não quero dar uma educação desleixada a eles.

John pareceu ter tirado um peso enorme dos ombros. Marilla estendeu a mão para segurar a dele, do outro lado da mesa de jantar.

ㅡ Eu não diria melhor ㅡ ele acariciou as costas da mão da esposa. ㅡ Concordo com cada palavra.

ㅡ Podemos começar com um gato ou um cachorro, que tal?

Seu marido concordou a tal ponto de aparecer logo com um gato fulvo logo no dia seguinte. Dono de grandes íris verdes, miou para Marilla assim que a viu. Encontrava-se embalado nos braços de John confortavelmente. Este sentou-se ao seu lado na cama do casal e entregou-o a ela. Marilla atrapalhou-se no processo, mas também sorriu.

ㅡ Parabéns pelo menino, mamãe! ㅡ brincou ele, dando-lhe um beijo delicado na bochecha.

ㅡ Olha só, até que ele é uma graça. Onde encontrou-o?

ㅡ Estava encolhido dentro de uma caixa no centro da cidade. Eu já estava de olho nele há algum tempo, para dizer a verdade. O útil unido ao agradável.

ㅡ Típico de John Blythe ㅡ ela revirou os olhos, carinhosamente.

ㅡ Tem alguma sugestão de nome?

ㅡ Deixo essa decisão para você, papai.

John riu, apreciando a sonoridade do novo apelido. Ele recostou-se na beirada da cama e franziu o nariz. Após um longo suspiro, ele anunciou:

ㅡ Eu gosto de Gilbert.

Marilla assentiu com a cabeça, e acariciou a cabeça do gato, que ronronou em agradecimento.

ㅡ Seja bem-vindo, Gilbert Blythe. Seja bem-vindo a um lar amoroso. Mas coma alguma almofada e será devolvido à caixa.

John olhou para ela e soltou uma gargalhada sincera.

ㅡ Típico de Marilla Cuthbert.

Marilla resmungou e apoiou o corpo no do marido, que abraçou-a por trás. Gilbert aproveitou o calor e fechou os olhos para um cochilo.

ㅡ Você nunca irá mudar mesmo, não?

ㅡ Claro que não.

ㅡ E eu a amo assim, Mar.

Uma vez Mar, sempre Mar.


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Notas finais do capítulo

Escrevi isso aqui com todo o carinho do mundo. Muito obrigada a você que chegou aqui depois das drabbles, e pra você também que caiu de paraquedas ♡

Finalmente um final feliz para os Cuthberts! Digam aí para mim: gostaram das mudanças? Uma coisa que não muda: os trocentos filhos de Rachel Lynde xD Algumas explicações extras:
1. Querendo ou não, o Gilbert como o conhecemos hoje, foi fruto do relacionamento de John com outra mulher. Eu não poderia trair essa parte da história, já que ela não aconteceu aqui.
2. Matthew aqui também fugiu da escola, porque não foi necessariamente a morte do Michael que o impulsionou a isso, mas também a timidez extrema dele. Mas teve uma dose de Jeannie!

Acho que isso é tudo por hoje, pessoal. Nos vemos numa próxima!



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