Freedom Planet: Faith & Shock escrita por Hunterx


Capítulo 53
Inveja - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores. Como estão?

Uma pequena saga vai se iniciar. Espero que gostem.

Boa leitura e divirtam-se!



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Taotao Sushi & Resto | Final da tarde

Ainda continuando os acontecimentos do último capítulo, vimos Yan Shu as portas do restaurante do Sr Taotao. Ele foi gentilmente atendido por Izumi, que o perguntou o que queria comer. Mas o felino desajustado, porém ajuizado, foi bem específico no que queria:

— Senhorita, estou aqui para falar com alguém chamado Viktor.

— Oh! O nosso cozinheiro!

— Cozinheiro?! Ele trabalha aqui?

— Sim... Ele é ótimo! O senhor quer que eu o chame?

— Não... Não precisa. Deixe... Eu... Bem, até! – Disse, saindo do lugar as pressas.

— Ei, moço... Espera... – Izumi não foi respondida.

Yan Shu, apressado, deixou até mesmo as dependências do shopping, agora mais confuso. Ele seguiu então até uma praça alí próximo, onde se sentou. E enquanto observava as pessoas caminhando pelo lugar, se colocou a pensar:

— *Ele trabalha como cozinheiro em um restaurante aqui... Um stranger?! Porque ele me disse onde trabalha? Não faz sentido... E menos ainda de um stranger viver aqui! Tem algo nisso tudo e eu vou descobrir...*

A inquietude de Yan Shu era mesmo de se preocupar. Visivelmente contrariado em seus próprios pensamentos, tornou a olhar para as pessoas ao redor, que seguiam suas vidas.

Horas depois, em frente ao shopping...

Ao fim do expediente, como de praxe, Sr Taotao e Viktor prepararam as caixas para levar o jantar para o Sallo Temple. E não demorou muito para que Mu aparecesse com sua caminhonete e estacionasse próximo a dupla. Porém devo relembrar de que os eventos do último capítulo tiveram efeitos bastantes imediatos na presente continuidade da história: o feneco de orelhas caídas desceu do carro e ajudou a colocar as caixas para dentro da caçamba de seu veículo, mas em nenhum momento ele sequer olhou para Viktor. Pior: talvez não estaria exagerando se dissesse que Mu até estava ignorando a existência do jovem. E isso não podia passar despercebido por Sr Taotao.

Passado o momento de embarcarem, seguiram enfim pelas ruas da cidade até o Bairro Milenar.

Enquanto isso...

Royal Palace

Royal Palace Training Center | Dojoh Royal

— Eu não gostei disso, Lilac...

— Paciência, Carol... Paciência...

— Falar é fácil. Pô, eu queria treinar com a galera do Sallo Temple e não com a panda Brastemp aí... Saco!

Era exatamente como Carol comentou. As duas caminhavam já no pátio do palácio real, adentrando ao lugar em direção ao centro de treinamento da guarda real e da polícia de Shang Tu. O lugar era enorme, adornado pelos estandartes de Royal Magister e com centenas de equipamentos sofisticados. Existiam pelo menos oito tatames, com um central ainda maior. Computadores também eram usados para monitorar os movimentos dos praticantes, assim como tudo que ocorria em lutas de treinamento.

— Wow! – Se surpreendeu Carol – Mano, olha esse lugar... ISSO É BOM DEMAIS, LILAC! Nyah!

— Incrível mesmo, Carol... Esse lugar evoluiu muito depois de tanto tempo...

Após o vislumbre de Lilac e Carol, eis que um drone conhecido por eles fez as hospitalidades necessárias.

— Usuárias: Sash Lilac e Carol Tea. Bem vindas ao Royal Palace Training Center. Vocês estão no Royal Dojoh.

— HÃ?! Um robô... – Carol se lembrou dela – Pera... Eu te conheço...

— Pangu?! Mas... – Lilac também se lembrou – Nossa, faz tanto tempo...

Contextualizando...

Pangu é uma IA robótica flutuante que foi criada por um cientista dragão dos tempos antigos. Seus bancos de memória abrigam uma coleção de dados deixados para trás pelos Ancient Dragons of the Before Time. Sendo um robô semelhante a uma lula em sua aparência, tinha dois braços metálicos semelhantes a tentáculos e ao longo de sua estrutura corporal as cores branca, azul, prata e vermelha eram destacadas. Pangu também tem uma tela de projeção holográfica (que ela usou para se transformar em Holodragon e lutar contra Lilac em Freedom Planet™).

— Sistema de reconhecimento ativado. Sash Lilac e Carol Tea. Lutaram contra indivíduo Lord Brevon. Avalice está mais segura após aqueles eventos.

— Que bom que você lembrou da gente também! – Disse a dragão, com um ssorriso

Chegando também ao recinto, era Neera, que caminhou até as duas.

— Hm... Bom saber que chegaram bem a tempo.

— Ah oi, Neera.

— Lilac, pelo visto se reencontrou com Pangu.

— Sim... E não esperava vê-la aqui no centro de treinamento. Aliás, que revigorada vocês deram ao lugar!

— Agradeço pela observação. Pangu está sendo muito útil em fazer análises de nossos soldados e policiais. Melhoramos muito fisicamente.

— Isso é muito bom e... – Lilac reparou em Carol.

O porquê disso? Bem, a gata selvagem abriu sua boca grande novamente:

— Aí, Pan! Tu roda Crysis™ no ultra?

— CAROL! – Gritou Lilac.

— Ih disseram o meu nome...

— Para de ficar falando maluquice pra Pangu!

— Qual é? Só tô medindo a potência dela, ué!

— Para com isso!

— E que problema tem?

Só que Neera estava alí e:

— TRATE DE FICAR LONGE DELA, SUA IRRESPONSÁVEL!

— Tá, tá! Tatatatatá! Calei, ok? Que coisa...

— Cale-se, Carol... Cale-se!

— Tá, pandinha... Cessou. Fini. Pronto.

— Hunf... – Esbravejou a panda – Deixe de ser tagarela e trate de se preparar para o treinamento.

— Já nasci pronta, amor. O que vier pra frente é lucro!

Só que Lilac estava um pouco incomodada com sua amiga:

— Será que não dá pra você tentar comportar pelo menos um dia, UM MÍSERO DIA?

— Ih calma! Porque o estresse?

— Porque você sempre abre a boca e fala ou besteira ou maluquice! Então para só hoje e leva a sério o que a Neera propôs!

Podem até não acreditar, mas Carol ouviu bem o que Lilac disse e atendeu, por mais que isso seja um milagre.

— Tudo bem, gente... Eu vou ficar sussa.

— Obrigado, Carol!

— De nada, diva púrpura, nyah! :3

— Carol...

— Tá, parei!

Terminada a conversa nada produtiva, Neera as conduziu a até um tatame do centro, sendo acompanhada por Pangu. Lá, a panda expôs sua ideia:

— Royal Magister confiou a vocês as instalações desde lugar para treinarem. Dentro de duas semanas sairemos para a missão Battle Glacier Innitiative... então se empenhem ao máximo.

— Tudo bem, Neera... Mas... – Indagou Lilac.

— O que foi, dragão?

— Nós já estávamos treinando no Sallo Temple. Viktor está fazendo um ótimo trabalho...

— Vou fazer de conta que não ouvi isso... – Disse, se colocando de costas.

— Neera, o que quer dizer com isso?

— Simples: eu as tirei de um jardim da infância e as coloquei num lugar onde as pessoas levam suas vidas a sério. Alguma pergunta?

Carol não gostou de ter ouvido isso. Tanto que seu olhar sério deixou bem claro seu sentimento. Acreditem: ela parecia outra pessoa.

— Aí, Neera... Retira o que tu disse.

— Prove que eu estou errada... e eu farei isso.

— O Viktor tá fazendo o melhor dele, tá vivendo como dá e todo santo dia dedica parte do fôlego que resta pra ajudar aquela gente! Então, na moral, não fala essas parada aí na minha frente não, tá? Papo reto contigo...

— Você tem empatia por ele, eu respeito isso. Entretanto não há como você negar que há um abismo entre o que vocês encontram no Sallo Temple com a estrutura de nosso centro. Então trate de deixar seus assuntos pessoais longe daqui... Estamos conversadas?

— Ok... – Disse, saindo de perto de Neera.

A panda mostrou sua opinião respeitando Carol, mas isso não foi muito bem recebido por Lilac, que se manteve incomodada, mesmo que não tenha se expressado abertamente. E mesmo diante esse mal estar, seguiu as ordens de Neera.

— Hoje vocês treinarão luta. Não existe necessidade de ensinar a vocês nada, até porque não temos tempo. Aprimorem seu físico e estratégias de combate... pois possivelmente teremos de usar o que tivermos de melhor em Battle Glacier.

— Tá, mas que tipo de luta? Eu contra Lilac? – Perguntou Carol

— Não... Vocês já se conhecem bem... Eu quero algo mais inesperado...

— Eu contra tu?! – Disse, já em base de luta – Demorou então! Parte, Neera!

— Hm... Embora isso seja interessante, também não...

— Mas então?

Lilac estava impaciente.

— Neera, vamos logo com isso!

— Hm... Como queira. Pangu... Comece o programa Doppelganger.

— Afirmativo... – Disse a IA – Programa Doppelganger, iniciando...

— Lilac, Carol... Tomem um tatame cada uma agora...

Tudo estava acontecendo bem rápido, com Pangu fazendo uma varredura corporal nas duas, que bati entendiam bem o que estava acontecendo. E nesse estado, Carol disse:

— Peraí... Esse nome aí... Doppelganger...

E como num passe de mágica, eis que a frente da gata selvagem surgiu... ela mesma!

— CARACA! LILAC, SOU EU!

E no outro tatame, a manda reação:

— MINHA NOSSA, SOU EU TAMBÉM!

Não houve tempo para conversas: tanto Lilac e Carol Doppelganger foram com tudo que tinham para cima das originais, com golpes e movimentos tanto quanto o delas!

— AÍ... LILAC! A MINHA EU FAKE TÁ ME ESFOLANDO! – Disse, evitando ser acertada por suas Wild Craws e revidando – TÁ, É ISSO? Então... Esse é o momento “a criança chora e a mãe não liga”!

— AHHH... EU TAMBÉM, CAROL! – Disse, travando força e velocidade com o Dragon Boost de sua cópia – NEM PENSE QUE PODE ME VENCER, FALSÁRIA!

Neera só assistia, satisfeita com a chuva de golpes que via:

— Muito bom... Esse treinamento está sendo melhor que imaginava.

A luta seguiu feroz, sem parar e incrível.

E enquanto isso, longe dali...

Valley Region | Início da noite

— Ai... Eu acho que perdi a noção da hora. Tomara que o Viktorius não fique chateado comigo por não ter aparecido...

Saindo de seu laboratório, Milla fazia pra últimos ajustes a fachada do lugar. Tudo parecia estar do jeito que Milla queria, tendo em vista que tomou conta de seu investimento sem muita ajuda. Mas havia um alguém que lhe deu um certo suporte.

— Wallace! Nossa... Que surpresa!

A canina deu as boas vindas a seu novo amigo. O coiote engenheiro quase todos os dias supervisionava a segurança e a estrutura do lugar, ajudando Milla sem cobrar absolutamente nada por isso. Envolvido por sua cordialidade e carisma, ele disse:

— Hehe... Olá, Milla. Está fazendo hora extra, é? A essa hora você aqui...

— Ah... É que eu estava tão concentrada em arrumar o laboratório que eu não vi o tempo passar.

— Isso é bom, sabe? Mostra que você está também se divertindo... Eu até a invejo por isso...

Ele continuou seu caminho, onde Milla notou que em sua voz havia algo e em seu semblante, onde se fechou logo após caminhar. Ela imediatamente foi até o moço, dizendo:

— Wallace, porque você disse isso?

— Ah... Nada não, Milla. Fico feliz por você...

— Não... Tem alguma coisa! Não é legal ter inveja dos outros... nem brincando se diz isso!

— Ei, calma... Milla, eu só disse isso em sentido figurado.

— Mas então?

— É que eu estou entediado. Eu gosto do meu trabalho, mas...

— Mas o que?

— Não tenho tempo pra relaxar. Eu preciso ficar de prontidão no Old Temple para terminar a recuperação do lugar. A sacerdotisa Neera me deu ordens para que não meça esforços, então... Bem, eu estou mesmo estressado com tudo isso.

— Ah então é isso? – Disse, segurando na mão do coiote, o puxando – Tá... Vem! Vem comigo!

— Hã?! Pra onde vai me levar? Eu tenho que ir descansar pra amanhã!

— Mas é por isso mesmo! Vem!

Minutos depois...

Milla levou seu amigo para até o interior da folhagem e mata densa de Valley Region, onde era muito difícil se orientar, dado o fato de que não se conseguia observar o céu. Mas seguindo a frente e com muita propriedade do que estava fazendo, a canina conduzia a Wallace pela trilha. Ele, ficando um pouco preocupado, disse:

— Milla, você sabe onde nós estamos? Está muito escuro!

— Claro! Hehe, eu costumava andar por aqui antes de conhecer as garotas... Mr Stumpy me fazia companhia, então eu sempre voltava.

— Mas está de noite e eu preciso mesmo ir pra casa... Amanhã tem mais trabalho.

— Mas você está estressado, então tem que ver isso...

— Ver o que?

E como um deslumbre, eis que Milla o deixou observar um cenário até então desconhecido ao coiote engenheiro: ela o apresentou a um riacho que praticamente era um espelho d’agua. O porquê disso? A água serena tinha o reflexo das duas luas, mostrando toda a beleza escondida pela natureza. Por um tempo Wallace se esqueceu de seus problemas, aproveitando a vista e o clima confortável que era o lugar. E Milla completou:

— Sempre que eu ficava triste vinha até aqui e observava a natureza. Aqui de dia já é lindo, mas de noite se torna algo mágico. Esse é um lugar muito especial pra mim e queria compartilhar com você.

— Milla... Esse lugar é lindo...

— Sim, eu sei. Hehe... Você aqui vai ficar melhor.

— Sim... Eu já estou me sentindo melhor. De verdade...

E ele estava sendo muito honesto no que disse. Isso ficou constatado no momento que ele se sentou a margem do riacho e continuou a contemplar aquela bela paisagem noturna. O céu estrelado, sem nuvens e com as luas adornando o celeste acima era algo, como Milla disse, mágico e único.

— Eu sempre estou indo e vindo, sem parar um segundo porque tenho comprometimento com meu trabalho. Mas como engenheiro, acho que devo dar valor a engenharia natural, que vale muito a pena. É lindo, Milla... Eu precisava mesmo de estar em um lugar desses hoje... e muito obrigado por ter me mostrado.

— Hehe... Amigos sempre devem ajudar amigos.

A pequena fez uma boa ação naquela noite. Aliás, um imenso apoio psicológico ocorreu, involuntariamente. Wallace relaxou, acalmando sua pessoa... e dando adeus ao baixo astral.

Horas depois, em outro lugar de Shang Tu...

Shenlin Park

Bairro Milenar | Sallo Temple

Já a frente do templo, o trio formado por Sr Taotao, Viktor e Mu descarregava as caixas, quando Sr Taotao disse:

— Viktor, leve essa caixa antes.

— Hã?! Mas agora?

— Sim. Essa foi a comida que fizemos por último. Então deve ser servida mais tarde.

— Tudo bem...

Com o jovem levando a caixa para dentro do templo, esse foi o tempo que o panda vermelho teve como oportunidade:

— Pare de agir feito um troglodita!

— E o senhor pare de ser meter na minha vida!

— Como é?! Você ousa mesmo achar que está certo tentando se esquivar assim?

— Eu já estou de saco cheio disso tudo! Minha vida era menos horrível antes desse stranger aparecer! Será que dá pelo menos por um minuto o senhor parar pra pensar no erro que cometeu?

— Erro?! Do que está falando?

— Tudo gira em torno dele, tudo! É comida feita, é ele mostrando serviço, sendo professor... Será que só eu consigo ver que tudo isso acontece só pra quem é privilegiado?

— Privilegiado... Então esse é o motivo de você odiar o pobre rapaz?

— Ele faz besteira uma atrás da outra e sempre tem alguém passando pano... Toda hora, em todo lugar... Seja quem for, sempre tratam ele como um messias! Se isso não é ser um privilegiado então eu não me conheço como gente!

Sr Taotao estava incrédulo e tentando mesmo se controlar. E felizmente o panda vermelho tinha experiência de vida suficiente para se manter calmo.

— Mu, pare.

— O que?! Parar com o que?

— De se meter na vida dele.

— Como é? O senhor ouviu cada palavra minha? Esse miserável não merece nada que conseguiu em Avalice!

— CHEGA! – Disse, segurando-o pela blusa – Eu não vou citar o Viktor mais porque ele nada tem a ver com esse seu sentimento imbecil!

— Sr Taotao...

— Eu vou falar só de você! A forma que você o trata não é proporcional, foge do natural e vai te destruir cedo ou tarde! Longe de eu te dar um sermão, rapaz... Mas você não está agindo como alguém bem intencionado! Só pare... Siga sua vida e deixe a do Viktor em paz. Nada do que você fizer contra ele vai fazer sua vida ficar melhor. Então trate de engolir esse seu orgulho e aja com inteligência – Disse, o soltando.

O panda vermelho voltou a pegar as caixas, deixando de lado Mu, que sentiu o peso das palavras do experiente empreendedor. Bastante constrangido, o raposa feneco tratou de pegar uma das caixas e, em silêncio, acompanhou ao seu chefe.

— Mu, desde que eu te conheci sei pouco de sua história... Mas eu nunca te julguei por nada até hoje...

— Peço desculpas ao senhor, Sr Taotao. Eu sei que o desagradei e isso me deixa triste. O senhor foi o único que me estendeu a mão e me deu uma chance de trabalhar. Desde que eu vim pra Shang Tu ninguém me proporcionou o que o senhor me fez. Então ao senhor eu devo satisfações do que eu faço ou deixo de fazer... E sinto muito que eu não seja perfeito.

— Ninguém é perfeito, jovem. Ninguém é... e nunca será. A gente passa a vida aprendendo com os erros...

— Sim... O senhor está certo.

Mu mostrou sinceridade ao que disse ao Sr Taotao, mas:

— *Esse stranger fracassado me fez agir assim e deixar o Sr Taotao irritado comigo! Grr... Eu tenho ódio. Muito ódio... Pelo Sr Taotao eu vou te aguentar. Mas eu vou te odiar até que se faça justiça!*

Justiça? Mas o que Mu queria dizer com isso? Seu pensamento era mesmo misterioso...

Minutos depois...

Sallo Temple | Dojoh Sallo Family

— Sensei ni rei! Ossi!

Viktor, trajando seu kimono e com sua faixa preta, perfilou seus alunos para dar início a mais um dia de aula.

— Eh... Cadê a Lilac, a Carol e a Milla, sensei? – Perguntou Shioji.

— Lilac e Carol disseram que tinham um compromisso no palácio. E Milla está cuidando do laboratório dela... É, turma. Elas não virão hoje, mas...

Só que desta vez com a presença de um integrante inesperado. Enquanto os alunos de Viktor estavam preparados para o início, eis que entrou ao tatame Aak, que vestia um kimono preto bem ao seu estilo. E ele já chegou causando.

— As I promised, I'm here for class, Viktor sensei!

— Seja bem vindo, Aak!

— DARE, DARE... Ossi! – Disse, reverenciando o jovem.

Só que Shioji não comprou essa ideia do felino ninja aparecer do nada e:

— Peraí! Que negócio é esse?

— O que foi, Shioji? – Perguntou Viktor.

— O que foi?! O que o Aak tá fazendo aqui? Ele nem gosta de ficar com a gente!

— Opa... Acho que eu não avisei a vocês. Eu o convenci a fazer parte da turma.

E podíamos ouvir todos ficarem surpresos e dizerem um sonoro:

— O QUEEE?!

— Isso mesmo, turma. Ele agora vai treinar com a gente.

— Mas... – Insistiu Shioji – Como você conseguiu fazer isso?

— Ora, conversando e... – Viktor seguiu falta de na alguém – Hã?! Cadê o Aak.

Ninja como era, ele deixou a todos surpresos por estar por detrás de Viktor, o abraçando e mordendo sua orelha:

— Cat bite, Aak! 

— Ahh mas o que...– Disse, arremessando Aak para dentro do tatame.

Acreditem: todos riram da situação, quebrando totalmente o clima de estranheza. Essa brincadeira de Aak conseguiu trazer alegria e chutou para longe qualquer dúvida da estadia do ninja do Clã Jun na turma. Com Viktor se recuperando do susto, ele se expressou:

— Hehe... Isso me trouxe lembranças do meu irmão Sheng.

— Uh?! Do you have a brother here in Avalice?! But you are a stranger! – Disse Aak, surpreso.

— Sim, eu tenho um irmão. Mas ele é natural daqui. Todos da família Daiyamondo são felinos. Sou o único humano.

— Oooh... THIS IS VERY AWESOME!

— Hehe... É sim... Bem, turma... Vamos começar a aula!

Como esperado, os exercícios de calistenia (aquecimento) foram realizados para uma melhor performance ao treino, pois nesse dia Viktor foi mais exigente. Entretanto, por todos os internos possuírem Nirvana, o fôlego não faltou, mas o cansaço mental era real; o jovem cobrou raciocínio e coordenação aos movimentos, coisa que foi mesmo uma dificuldade.

Naquele momento os alunos perceberam na pele o que é ter concentração e atenção em uma luta. Foi o tema da aula inclusive.

Após alguma minutos de treino intenso de golpes, chegou a parte da prática... pela primeira vez.

— Muito bem, turma... Hora do kumite.

— Hã?! Kumite? – Perguntou Shoiji.

Contextualizando

No karatê temos duas modalidades de lutas: shiai kumite e jun kumite.

Shiai Kumite: são lutas de cunho competitivo onde há regras bem específicas. Existem três níveis de pontuação: Yuko (1 ponto); Wasa-Ari (2 pontos) e Ipon (3 pontos). Um karateca vence acumulando oito pontos a mais do que seu oponente durante a duração da luta ou ganhando mais pontos do que seu oponente no tempo do combate. Em caso de empate, o competidor que marcou o primeiro ponto é o vencedor.

Além disso, é pregado em cada competição o bom senso, espírito esportivo e, principalmente, respeito ao atleta e a sua integridade. O kimute é uma competição e não há lugar para violência e brutalidade. Todos são atletas e assim se comportarão.

Jun Kumite: modalidade única e exclusiva de combate real sem regras (guardados a algumas exceções). A luta no Karatê é brutal, poderosa e traumática. Golpes certeiros podem quebrar ossos, romper tendões... o que pode causar sequelas e até a morte.

Se utiliza desta modalidade em duas oportunidades: exame de graduação (faixa amarela, vermelha laranja, verde, roxa e marrom) e Dan (faixa preta) com regras de se manter a integridade física e respeito, mas sem contagem de pontos; e luta pela preservação da própria integridade, ou seja, auto defesa.

Voltando a aula...

— Vamos lá... Fiquem por fora do tatame e sentem-se. Eu irei escolher quem vai lutar... – Disse, ficando pensativo depois – *Eu não tenho noção do quanto eles sabem lutar, então vou deixar Sue Ay, Ralf Shark, 2F (Fei Fei) e Nero de fora, já que eles não são de lutar...*

Como ordenado, os alunos se sentaram, com seu jovem sensei os olhando calmamente. Logo Viktor fez sua primeira escolha.

— Shioji e Alekzandra... Ao centro do tatame!

A jovem raposa polar foi pega de surpresa. Ela se levantou um pouco confusa, enquanto Shioji parecia bem confiante.

Com os dois ao centro, Viktor lhes disse:

— Ouçam... Eu não quero golpes fortes. Firmeza não é necessariamente força. Será uma disputa de melhor de três, com tempo de dois minutos... Então, HAJIME! (Iniciar, em japonês)

Shoiji partiu para cima fazendo uma combinação incrível de três socos, desequilibrando Alekzandra, que vai ao chão. O felino rapidamente aproveitou e golpeou de leve sua barriga, marcando ponto.

— Um a zero Shioji. Alunos... Yoi! (Preparar, em japonês)

Isso foi uma ordem direta dia sensei, em os alunos voltarem ao centro. Mas Alekzandra não se levantou. Ela estava assustada, coisa que Viktor logo correu pra resolver.

— O que houve, Alekzandra?

— Eu... Eu fiquei com medo.

— De que? Shioji pegou leve.

— Eu pensei que ele iria me machucar.

— Alekzandra, você está em uma luta. Então precisa interpretar a situação melhor. Se você não quer ser acertada, então se defenda.

— Mas sensei... E se eu o machucar?

— Calma... Não pense nisso. Só se levante e lute. Deixe fluir. E você é muito inteligente. Eu sei que vai se sair bem.

As palavras de Viktor surtiram efeito, com Alekzandra se levantando e seguindo até o centro. E novamente Viktor disse:

— HAJIME!

Shoiji novamente partiu para cima da raposa polar, a atingindo com um chute em sua barriga. Ela até chegou a gritar, por ter se assustado novamente. Sua irmã, Mika, foi acudí-la.

— Sandrinha, você está bem?

— Ahh... Mika... Eu...

— O que houve? Se machucou?

— Eu me assustei! Droga...

Viktor até iria se aproximar outra vez, mas Aak o impediu, mesmo sentado. Quando olhou para o ninja, ele sinalizou para que esperasse. Isso tina mesmo um motivo: Mika estava conversando baixo com sua irmã, ao pé do ouvido:

— Você está em uma luta. Então usa o que você sabe de melhor...

— Hã? Você diz em usar aquilo?

— Sim...

— Mas... Se eu usar...

— É uma luta! E você tem isso desde pequena! Vai lá e usa, Sandrinha!

— Tu-tudo bem...

Viktor olhou de longe, sabendo que alguma coisa iria acontecer. E ficou mais aliviado de que Alekzandra se levantou sozinha. Com Mika voltando ao seu lugar, o jovem sensei reiniciou a luta:

— HAJIME!

Novamente, Shoiji investiu com tudo para cima da raposa polar, visando termimar com a partida.

Mas então subitamente...

— Ponto de Alekzandra!

Shioji estava no chão, após receber um soco certeiro em sua barriga, sem gravidade. Sua queda não foi por causa do golpe e sim:

— Ponto de equilíbrio – Disse Mika – Ela achou isso no golpe do Shioji e tirou isso dele!

— O que?! Como assim? – Perguntou Ralf Shark.

— Minha mana quando tá concentrada totalmente em alguma coisa consegue ver coisas incríveis. Ela tem uma característica que só familiares Blues tem: Blues Scan.

Contextualizando

Embora muitos pensem que é uma habilidade, o Blues Scan se caracteriza pela leitura prévia de movimentos. Não são cálculos matemáticos e nem lógica. Nascidos da família Blues aprendem via memória aidética, fotografando cada quadro que conseguem enxergar com seus olhos e, em sua mente, vê-los em milionésimos de segundos, preenchendo assim sua mente com representações vividas. Resumidamente, eles conseguem ver qualquer coisa em vários ângulos diferentes mesmo que só visualizem em uma só dimensão... inclusive lutadores.

Voltando a luta, a explicação de Mika foi em sua mente:

— *Shioji tentou dar uma sequência de socos e chutes pra acabar com a luta logo. Mas ele não contava com o Blues Scan. Então a Sandrinha viu ele se mover e também viu todos os ponto fracos dele na mente dela. E ela usou da minha técnica de agarrão e o jogou no chão e ainda golpeou ele durante a queda! Haha! A Sandrinha é demais!*

Foi exatamente isso que Mika pensou. Shioji foi surpreendido, ficando irritado em seguida.

— Não é possível! Grr...

— Shioji, não aja assim! Concentre-se!

— Uh... Sim, sensei... *Ela vai ver só!*

Mais uma vez, os dois ficaram ao centro.

— HAJIME!

Shoiji iria partir para o ataque outra vez, mas não contava de que Alekzandra faria o mesmo. Desta vez entre que estava assustado com a audácia da garota raposa, o que lhe custou caro: o felino antecipou seu soco, mas Alekzandra se desviou com um giro e executou um:

— USHIRO URA MAWASHI GERI! – Gritou Viktor.

O chute mais difícil de acertar no karatê.

E Alekzandra o executou com maestria, atingindo o rosto de Shioji levemente.

Foi um golpe perfeito.

Contextualizando

Ushiro ura mawashi geri (裏回し蹴り), é executado com movimento inverso ao da técnica regular, isto é, o pé descreve um círculo voltado para dentro. Ou seja, é um chute giratório onde se atinge a sola do pé no rosto do adversário. É um chute poderosíssimo e que, por sua complexidade, é muito evitado em competições por ser extremamente difícil de acertar e, caso haja erro, deixa o atleta exposto e incapaz de se defender ou contra atacar. Entretanto, por ser bastante plástico, visa acertar o rosto, resultando em um ipon (3 pontos)

Até Aak bateu palmas, sendo seguido por todos. Viktor se surpreendeu inclusive. E em pé e bastante incrédulo, Shioji não acreditava no que estava acontecendo:

— *Essa garota... Ela era calada e quieta... Como pode ser tão habilidosa assim?! Eu não acredito que ela me acertou... O que ela tá usando? Hm... Se ela tá usando alguma técnica que eu não conheço, então eu vou usar também o que eu sei!*

— Shioji, você está bem? – Perguntou Viktor.

— Estou sim... e estou pronto!

— Esse é no espírito... YOI!

De volta ao centro.

— HAJIME!

Desta vez não houve ataque. Os dois se respeitaram e ficaram estudando um ao ponto dessa vez. E isso trouxe um pensamento a Viktor:

— *Isso aí! Agora parece mesmo em umas luta de competição. Eu não sei o que a Alekzandra fez pra mudar assim, mas com certeza fez bem... e até ao Shioji, que estava muito confiante. Eles estão fazendo uma bela luta... Como eu esperava, até por conhecer muito bem Mila, eles já bem jovens conseguem lutar em alto nível. Eu mesmo teria dificuldades em lutar contra eles até... E usando só o físico!*

Pressionado por Alekzandra, que mudou completamente de postura, Shoiji também se mostrava diferente: se antes sua confiança era mais do que exposta, desta vez ele fez o que pensou:

— *Shíjī - 时机! Como eu estudei por alguns anos...*

Contextualizando

Shíjī. Momento oportuno. Ela não era uma habilidade, assim como o Blues Scan de Alekzandra. Porém sua aplicação era totalmente diferente: membros do clã Tai conseguiam criar lutas em sua mente contra um oponente em específico. Com isso, análises dos movimentos mais perigosos eram feitas visando evitar seus ataques. Em outras palavras, Shíjī era capaz de forçar qualquer adversário a não executar seus melhores golpes, num jogo estratégico de inibição de movimentos.

E retornando ao Jun Kumite...

Shoiji a observava, atentamente...

Alekzandra fazia o mesmo...

— *Hm... Seus chutes. Eu não vou deixar que os use mais...*

— *Ele me deixou incomodada. Não consigo fazer com que ele venha e...*

— *Ela não ataca. Deve estar me estudando...*

— *Ele não ataca. Estaria me analisando?*

— *Eu quero vencer, mas...*

— *Eu quero vencer, mas...*

E vou unanimidade o pensamento conjunto dos dois, enquanto partiram com tudo um contra o outro num ataque único:

— *ESTOU ME DIVERTINDO MUITO!*

Mas...

— IAME! (Fim, em japonês)

O porquê disso? O tempo de luta havia esgotado. Shoiji e Alekzandra precisaram parar seus ataques antes que se golpeassem. E Viktor disse:

— Boa luta, vocês dois. E acabou em um empate. Estou muito orgulhoso de vocês... *E eu sequer tenho ideia o que esses dois estavam fazendo!*

Ambos se controlaram, olhando bem no fundo de seus olhos, para então agirem como caratecas e se cumprimentaram:

— Ossi!

E foi no mesmo momento que Brendan e Bonnie apareceram no dojoh, mas só observando para não atrapalhar ao andamento da aula. Shoiji e Alekzandra, ao fim da luta, saíram do tatame, conversando.

— Nunca pensei que você lutasse tão bem! – Disse Shioji, de forma franca.

— Hehe... Obrigada. E você luta bem... Mas posso te contar um segredo?

— O que?

— Nem eu sabia que eu lutava tão bem, hehe... – Disse, um pouco sem graça.

— Hã?!

Com o felino não entendendo bem, eles se sentem a margem do tatame. A aula ainda não havia terminado.

— Muito bem, turma... Próxima e última luta de hoje: Mika contra... Aak.

— O QUE?! – Gritou Mika – Co-contra o Aak?! Sensei, é sério?

Todos ficaram olhando Mika, que abaixou sua cabeça, como se estivesse preocupada. Até Bonnie ficou um pouco receosa com essa escolha:

— Acho que isso não vai dar certo...

— O que foi, Bonnie? – Perguntou Brendan.

— O Aak... Ele é um lutador completo. A Mika tem muita energia de luta, mas o Aak é muito mais forte que ela...

Entretanto:

— SUGOI! ISSO AÍ, VIKTOR SENSEI! ERA EXATAMENTE O QUE EU ESTAVA QUERENDO! – Gritou Mika, pulando de alegria.

E isso foi um fator que impressionou a todos. A jovem raposa polar estava animada para lutar contra Aak. E parecia que Viktor já sabia disso com antecedência:

— *Essa é a Mika. Eu tinha certeza de que ela iria adorar essa ideia. Eu fiquei assim quando lutei contra meu sensei pela primeira vez...*

Aak e Mika se dirigiram até o cento do tatame, ficando um a frente do outro. Aak parecia concentrado e Mika estava abertamente muito, mas muito motivada. Não demorou muito para o início:

— HAJIME!

E em um simples movimento...

— Ponto para Aak!

O espanto por parte de Mika foi muito, já que ela nem conseguiu ver os movimentos do ninja. Ainda no chão, foi acudida por Viktor.

— Mika, você está bem?

— Estou sim, mas eu nem vi o que me acertou.

— Sendo sincero, nem eu vi o que houve... *Nossa, o Aak meio que sumiu a vista. Eu não consegui observar o que fez, mas atingiu Mika*

O felino ninja já estava no centro, esperando Mika, que estranhou esse comportamento. O mesmo podia se dizer de Viktor, mas a raposa não guardou rancor, ficando até animada para recomeçar a luta.

— Aak tem um ponto... HAJIME!

Só que novamente Aak sumiu a vista de todos, para espanto de Viktor. E para piorar: Mika também sumiu pelo mesmo tempo no ninja. Mas bastou Shoiji dizer:

— No alto!

Era isso: Aak, no primeiro golpe acertado, executou um salto e, se usando dos raios de luz, aproveitou a ofusque e conseguiu o ponto. Mas Mika também era astuta e conseguiu prever seu movimento. No alto os dois trocam golpes, sendo defendidos e evitados. Logo a luta voltou para o chão, tomando contornos mais normais, com Mika tentando achar brechas para acertar Aak.

Entretanto...

— Ponto para Aak!

Sim, ele outra vez acertou Mika num momento de extrema destreza, deixando Viktor a ver navios e Mika impressionada.

— Mas... Nossa, você é rápido, hein!

— Hm... Thank’ya – Aak já estava em formação no centro.

— *Mas o que ele fez?! Eu nem vi o que houve!* – Viktor não acreditava.

Sentada ao lado de Shioji, Alekzandra explicou bem o que Aak fez:

— Ele tá usando técnica ninja.

— Hã? O que foi, Alekzandra? Ele é um ninja, então...

— A gente tá lutando karatê, não é? Então...

— Mas... O Viktor que chamou ele... Mas o que ele fez? Eu não consegui ver.

— Ele usou as listas da parede do dojoh lá no fundo pra confundir minha mana e atacar sem ela ver direito.

Explicando melhor:

Um ninja usa de todas as artimanhas para poder vencer em uma luta. Por ser um guerreiro mais ladino que lutador, o ninja busca vantagens no campo de combate. Por isso, Aak usou das listas pretas ao fundo do salão (listras que adornavam as paredes do dojoh) para diminuir a percepção de Mika; ela pensou que ele estava mais distante quando, na verdade, ao início da luta, sua proximidade era bem maior, permitindo um soco livre em sua barriga e conseguindo o ponto.

Somente Alekzandra foi capaz de ver isso.

Voltando a luta...

Com uma contagem de dois a zero atrás, Mika estava pressionada. Sabia que teria de ser mais cuidadosa e arrojada, tendo em vista que Aak tinha pleno controle da luta.

— HAJIME!

Ela então partiu com tudo, tentando atingir o felino com socos e chutes, mas Aak era ágil o suficiente para evitar a maioria dos golpes sem usar de defesa. A determinação da pequena de óculos vermelhos ditava perfeitamente o ritmo da luta, desta vez aumentando a intensidade e dando mais trabalho ao ninja. Os dois estavam lutavdo com uma velocidade acima do normal, onde Viktor não tinha como acompanhar.

— *Eu sabia! Mika e Aak estão em um nível acima dos demais... Mas ele está num patamar muito mais acima ainda!*

Alekzandra aumentou esse coro:

— *Mika... Ela é incrível! Eu nunca tinha visto ela lutar assim, nem nos treinos que ela fazia sozinha! Mas Aak... Ele é totalmente diferente...*

E consequentemente a luta teve seu fim:

— Ponto para Aak! Três a zero! Fim de combate!

Com as franjas de seu cabelo sobre seus olhos, Aak sorriu em seguida, comemorando a vitória! O golpe vitorioso? Simples: ele imobilizou Mika usando um de seus braços, a prendendo e com a outra mão a atingiu na barriga. Rápido e fácil, simples assim. Mas não tenham conclusões precipitadas com relação ao sentimento de Mika:

— WOW! SUGOI! VOCÊ ME VENCEU RAPIDINHO!

— Huhuhu... I'm really good, aren't I? UwU

— Sim! – Disse, correndo até Aak e o olhando – Me ensina esses golpes, Aak senpai! (✷‿✷)

— Yea... Why not? After all, we have Viktor sensei for that! Huhuhu...

Mika não demonstrava nenhum sentimento de derrota. Pelo contrário: ela tinha total noção de que era somente uma luta de treino, que até a fez ficar mais motivava a lutar mais e mais. Só que agora ela não saía de perto de Aak, o que aconteceu após Viktor anunciar o fim das lutas.

Só que outros quatro alunos ficaram de fora e:

— Irmãozão... E a gente? – Perguntou Sue Ay.

— Eu nunca lutei... – Nero ficou um pouco triste.

— Queria lutar contra o Shioji! – Ralf Shark exclamou.

— Hm... Lutar parece perigoso... – E Fei Fei estava ressabiado.

Mas tudo estava sob controle do jovem mestre. Ele não demorou para lhes dizer:

— Sue Ay, Ralf Shark, Nero e 2F (Fei Fei)... Eu quero que vocês façam um trabalho de casa.

— Como é? – Perguntou Sue Ay.

— Vocês quatro irão fazer uma redação dizendo o que viram nas lutas de hoje. Isso faz parte do treinamento de vocês.

— Como assim, irmãozão?

— Maninho... Eu quero saber de vocês as formas de luta que viram hoje, está bem? E melhor fazerem certinho, porque amanhã serão vocês que irão lutar!

A comemoração foi bem grande, com os alunos gritando de alegria. Os olhares orgulhosos de Bonnie e Brendan diziam por si só que tudo estava indo muito bem, felizes com o sucesso de Viktor. Mas sempre há momentos inesperados:

— Viktor... E sobre Nirvana e Chi, não iremos aprender? – Perguntou Mika.

Isso sim foi algo que o jovem humano não esperava.

— *Nossa... E agora?! O que vou fazer? Eu não sei nada disso e eles precisam mesmo saber mais de Nirvana e Chi... Mas eu não sei nada. A realidade em Avalice é totalmente diferente do meu mundo... Espera! Já sei!*

E também de forma inesperada Viktor se expressou:

— Eu não sei nada disso, Mika.

— O que? Mas... E como vai ser?

— Estou sendo sincero, pessoal. Eu não entendo nada de Nirvana e Chi como vocês de Avalice sabem. Quanto a isso eu não vou poder ensinar vocês...

Isso sim foi um balde de água fria no brio de todos. Mas havia um bom motivo para a sinceridade exemplar de Viktor. Ele então caminhou até entre eles e disse:

— Essa é a parte que eu serei um aluno... Então...

— Você um aluno?! – Perguntou Ralf Shark – Mas quem vai dar a aula?

— Não poderia ser outro a não ser Shoiji.

O olhar incrédulo do felino do clã Tai foi até engraçado, onde sua reação foi a esperada:

— EU?! Mas... Sensei, eu não posso ser um professor!

— Pode e deve, Shioji. Eu sei que você sabe de tudo sobre Nirvana e Chi, então hora de você dar aula!

— Mas eu nunca fiz isso antes na minha vida!

Mas precisava alguém pra dar um empurrão. E só poderia ser Mika.

— É que ele não sabe de nada também. Então...

— Quem disse que eu não sei de nada?

— Você tá com medo, por isso! Então não sabe!

— Eu sei sim, Mika! E vou te mostrar!

Todos então, inclusive Viktor, se sentaram no tatame. A frente, tomando as atenções, lá estava Shioji, que com suas próprias palavras, começou a aula. E como um monólogo, veio a explicação.

 

O Nirvana.

É o suma supro do desenvolvendo de um lutador em Avalice. O conhecimento total de seu ser implica em uma auto sustentação; praticamos nossa individualidade no momento que descobrimos a nós mesmos. A forma de viver diante o descobrimento do próprio Nirvana desencadeia várias transformações. E, com isso, fortalecemos nossas bases inspiradoras que nos levará ao Chi.

 

Chi, a essência das habilidades especiais.

Quando um indivíduo em Avalice sabe de sua potencialidade acerca de seu Nirvana, seu descobrimento pleno e sólido se torna uma alavanca ao horizonte. “Os segredos e os limites se tornam um só e nada concreto é real”. Essa era a frase comum entre os mais experientes lutadores antigos de Avalice. As artes marciais evoluíram... e seus praticantes ainda mais. A explosão de seu Chi, lobo após a aptidão do Nirvana, nos faz alcançarmos um patamar acima. Mas até que tenhamos tão conhecimento, temos nossos elementos.

 

Os elementos. 

Os cinco alicerces de nosso existir.

Quando atingimos 12 anos é o momento onde nosso elemento aflora dentro de nosso ser e molda nossa vida por completo.

Nosso temperamento

Nossas preferências

Nossas forças

Nossa filosofia de vida

Somos produto de um conjunto de influências acerca de nosso elemento, o que nutre nosso Nirvana, onde este energiza nosso Chi.

Elemento » Nirvana » Chi = 

habilidades especiais (PLUS) Feng Shui

 

Seguimos então aos alicerces de nosso ser:

 

木頭

MADEIRA

O poder na inovação

Pessoas desse elemento adora ver o resultado das suas ações, mas guardada das devidas proporções. Amam participar, colaborar, descobrir novidades, adoram a natureza e a inocência. Ás vezes pode ser ingênuo ao acreditar e gerar perspectivas sobre as pessoas. Embora tenha opinião formada, o indivíduo sempre está aberto a novas idéias.

 

FOGO

O poder da paixão

Os indivíduos regidos por este elemento são otimistas, alegres, mas por algumas vezes fechadas. Batalhador, sempre muito corajoso, o indivíduo do tipo fogo passa da agressividade à alegria, fala muito, canta, ri frequentemente. Desde os primeiros dias de sua vida manifesta uma mentalidade de chefe, é decidida e determinada a influenciar os outros, lhes incitando a agir.

 

地球

TERRA

O centro do mundo

Terra é o elemento da estabilidade, do espírito prático, moderado e harmônico. Possui senso de lealdade, gosta de estar integrado, necessita que precisem dele, pode ser teimoso e presta atenção em detalhes. Trabalha com constância e método. Seu defeito mais evidente é o pessimismo. Sólido, sério, dotado a seu elemento e que sofre frequentemente com essa atividade a novidade e o imprevisto, é dotado de uma grande inteligência. É deveras pragmático.

 

金屬

METAL

Tanto a espada afiada como a colher que nutre

Rígidos e decididos, os indivíduos desde elemento gostem de mostrar força, fazem seu próprio destino, amam competir e não gostam de compromisso. O que conta para eles é sua independência. Preferem contar com seus próprios esforços, são bem adaptados aos esforços prolongados e ninguém e nenhum obstáculo os fazem parar.

 

ÁGUA

A emoção dualista

O indivíduo desse elemento segue em harmonia perfeita com sua natureza, é muito sensível e insondável. Ele é bom, emotivo, vulnerável e é muito comunicativo e simpático. Segue a filosofia “água parada e água em movimento”: finca sua estrutura natural para observar e se moldar aos novos tempos ao mesmo tempo que não se acomoda, ditando tendências e fazendo amizades.

Esses são nossos elementos, os que alimentam pra habitantes de Avalice e transformam profundamente aos lutadores. Nosso Nirvana e nosso Chi se personaliza através desse ciclo harmonioso e milenar.

Entretanto, há mais um fator importante para que um lutador se desenvolva de forma saudável e forte. Oriundo de seu próprio ambiente, todo lutador em Avalice precisa de equilíbrio. E para isso, ele deve desenvolver Feng Shui.

 

风水

Feng Shui

Equilíbrio Yin & Yang

Definitivamente, este é o último nível da construção do caráter, personalidade e poder de um lutador em Avalice. É neste conceito onde a adoção de praticas de equilíbrio são tomadas, visando se chegar a harmonia da energia vital. É nela onde superamos nossos limites, onde a força se consolida perfeitamente ao corpo.

Há duas áreas de equilíbrio:

太阳

Taiyang

O calor de nosso Chi, o brilho da luz interna. É nele que desenvolvemos nossas habilidades especiais.

 

月亮

Yueliang

É o puro e concreto amadurecimento de tudo que aprendemos na vida. Nos descobrimos plenamente ao chegarmos nesse estágio.

 

A maestria se consegue com perseverança, vontade, esforço e determinação. Entretanto, todo o processo é harmonioso e a falta de um afeta ao outro.

Temos que seguir exatamente como as coisas fluem, como a natureza.

Não somos nada mais que o procuramos: sermos fortes, seja de espírito ou físico.

Ser o melhor que pudermos.

Ser uma pessoa boa e nobre.

Ao fim da explicação emocionante por parte de Shoiji, todo o dojoh estava em silêncio. Desde Brendan e Bonnie a até todos os internos, inclusive Aak. Viktor, quieto e olhando para Shioji, pensou:

— *Essa definitivamente foi a melhor demonstração de conhecimento de artes marciais que eu tive o privilégio de ver na minha vida. Essa teoria... Mesmo ele sendo tão jovem... Eu tenho 18 anos, não sou muito mais velho, mas na idade dele eu não pensava dessa forma. Shioji, Alekzandra, Mika, Aak... Eles são mesmo diferenciados. São avançados... até mais do que eu!*

Aak então se levantou e foi até onde Shioji estava. Sem perder tempo, o felino ninja estendeu sua mão e disse, em alto e bom som:

— Você detonou!

— O-obrigado! – Ele apertou a mão de Aak.

Talvez o jovem sequer tenha entendido o estava acontecendo. Aquele silêncio que só foi interrompido por Aak não era de estranheza ou suriresa. Era reconhecimento. Viktor se levantou e disse:

— Shoiji, tudo que você disse... Esse conhecimento que você tem... Você fez o certo em compartilhar tudo isso. Isso que você fez foi incrível!

— Mas... Foi tão bom assim?

— Bom? Você me ensinou muitas coisas... e eu quero saber ainda mais! Seus colegas com certeza irão querer também, já que você é um excelente professor! Parabéns!

— Mas... Viktor sensei...

— Shioji, o Morty estaria muito orgulhoso de você agora... como eu estou. E muito... talvez mais do que você imagina.

— O Morty? – Disse, com a voz embargada.

Aak o abraçou, sabendo que a emoção era muita. Mesmo numa segunda aula somente, os internos do Sallo Temple estavam mais unidos. E isso causou uma sensação ótima em Bonnie e Brendan:

— Eles estão mesmo gostando disso tudo como nunca vi...

— Sim, mana... Até poderíamos dizer que foi o Viktor que foi o responsável, mas desta vez não...

— Foram todos eles. Todos eles desejam isso...

— Sim. Artes marciais. Nosso pai deveria estar aqui pra ver isso...

Uma fraca brisa levou até o interior do dojoh uma borboleta azul, que pousou no ombro de Bonnie. Os dois perceberam sua presença no momento, até que o belo ser alçou vôo, retornando a seu rosto. E com isso ocorrendo, lágrimas vieram ao rosto dos dois, com a coelha dizendo:

— Ele veio, Brendan... Ele realmente veio...

— Sim, mana... Ele está aqui...

A simbologia da borboleta azul: Esperança.

Da felicidade, da beleza, da inconstância, que expressa recomeço, proteção e boas energias. Significa o puro símbolo da mudança e renovação.

E era isso que estava acontecendo no Sallo Temple.

Enquanto isso..

Royal Palace

Neera’s Office

Já passavam das oito horas da noite. Desde a tarde, Lilac e Carol treinavam no complexo do Royal Palace para se prepararem. A missão iminente chamada Battle Glacier Innitiative iria exigir mais mais delas que antes, como Neera Li previu.

E após o longo período de exercícios e lutas, eis que a panda sacerdotisa do Reino de Shang Tu conseguiu os dados colhidos por Pangu. Ela, a frente do computador em seu escritório, disse:

— Pangu, o treinamento terminou. Qual o status?

— Afirmativo. Gerenciando dados. Ficha técnica levantava. Iniciando a apresentação...

User: Carol Tea

Race: Wildcat

Age: 15

Element: Metal

Type: Brawler

Feng Shui: High

Chi Level: 270 – OP: 310

Lutando contra sua própria imagem, teve aproveitamento de 95%. Seus atributos melhoraram conforme a luta seguiu, demonstrando grande habilidade de adaptação.

— Hm... Interessante... Pelo visto a gata tagarela andou se aperfeiçoando. Ganhou pontos comigo... Continue, Pangu.

— Afirmativo, sacerdotisa Neera Li. Obtendo dados...

User: Sash Lilac

Race: Water Dragon

Age: 17

Element: Water

Type: Speed

Feng Shui: High

Chi Level: 275 – OP: 315

Lutando contra sua própria imagem, teve aproveitando de 99%. Seus movimentos incríveis e velozes foram determinantes para seu alto nível durante toda a luta. Sua velocidade é acima da média.

— Hm... Como o esperado. Lilac sempre foi mais capacitada que sua amiga maltrapilha. Entretanto, as duas são equivalentes. Não irei tirar os méritos de Carol, mas Lilac está mais próxima da perfeição. O nível está alto nas duas, excelente...

— Resultado fidedigno. Aguardando instruções.

— Por hoje está bom, Pangu. Dê a elas este relatório. E obrigada.

— As ordens, sacerdotisa Neera Li.

Após a breve conversa com Pangu, Neera estava com um semblante satisfeito do que havia visto.

Enquanto isso...

Royal Palace Training Center | Dojoh Royal

Depois de tomarem banho na Royal Thermal Bathroom, Lilac e Carol estavam sentadas no hall principal do complexo de treinamento. Conversando, por assim dizer.

— Mano... Nunca pensei que eu seria tão barra pesada pra lutar.

— Não seria melhor você dizer “lutar contra mim mesma é difícil”? Fica menos estranho...

— Ah diva púrpura... Você entendeu.

— É, eu entendi...

— Agora papo sério. Você não achou a Neera Li meio arrogante com o Viktor?

— Hm... – Pensou, olhando o fundo do salão – *Até Carol está incomodada com isso... Aquilo não foi mesmo legal...*

— Aí, tô falando com você, purpulinda!

— Hã?! Ah... Carol, teria algum problema de eu te deixar um pouco sozinha aqui?

— Ih o que foi?

— Eu preciso mesmo conversar com a Neera.

— Dessa parada, é?

— Sobre essa missão que teremos...

— Ah tá. Beleza... Vai lá... Vô esperar

— Valeu!

Logo após Lilac deixar o lugar, seus pensamentos eram um só:

— *É sobre isso mesmo, Carol...*

Com sua amiga felina sozinha no salão, eis que Pangu apareceu, dizendo:

— Carol Tea...

— Opa... E aí, Pan? Olha, foi mal o trato que eu tive contigo mais cedo, tá? Era só uma piada.

— Conhecimento de anedota compreendido. Dados coletados.

— Hã? Que tem?

— Mecanismo cibernético Pangu adquire aprendizado orgânico ao observar e coletar informações.

— Ah tá... Beleza. Tu aprende mais da gente conversando e tal... Legal isso aí.

— User Carol Tea, deseja visualizar scout de treinamento?

— Tipo, o meu resultado?

— Afirmativo. Aguardando confirmação.

— Tá beleza. Pode mandar.

Como informado antes, Carol leu exatamente o que Neera foi informada mais cedo.

— Cara, eu mandei bem demais, nyah! :3

— Resultados expressivos.

— Pode crer, nyah!

Só que Carol criou naquele instante uma curiosidade que só felinos como ela tem por natureza. Olhando para os lados, ela perguntou:

— Pan, fica só entre nós duas: tu tem os dados do Viktor no seu banco de dados?

— Afirmativo.

— Posso ver? :3

— Aguardando motivação.

— Hã? Como assim?

— O porquê de sua necessidade, user Carol Tea.

— Ah só pra saber mesmo. Tô curiosa!

— Dados confidenciais.

— Ah qual é! Mostra só pra mim, Pan! Por favor!

Por um breve tempo, Pangu ficou em silêncio e imóvel. Mas em seguida ela abriu um prompt holográfico com os dados de Viktor.

User: Viktorius Ashem

Race: Stranger (aka human)

Age: 18 (unproven)

Element: none

Type: Fighter

Feng Shui: none

Chi Level: 30 – OP: 55

Os dados obtidos foram decorrentes do Torneio de Shang Tu. Sua resistência é seu atributo mais alto. Físico exemplar, mas falta de presença de Nirvana e Chi diminuem seu score.

Responsável pelo relatório: Neera Li

Carol mostrou um semblante bastante fechado, como se não tivesse gostado do que viu. E ela se expressou:

— Cara... A Neera pegou pesado nessa parada aí...

— Aguardando explicação de seu ponto de vista.

— Tipo, ela fez esse scout “seu lá o que” aí só se baseando no torneio que eles disputaram. Mas Pan, o Vik melhorou muito, mas mesmo assim ela não deu a mínima e nem atualizou a bagaça... – Disse, pensando em seguida – *A quem eu tô querendo enganar? O piá fez milagre ao vencer o Sheng com esse nível de Chi dele. Tá certo que o cara é sinistro e usa aquelas técnicas dele que só o piá consegue fazer, mas... Ele tá num nível muito abaixo... E eu fico triste com isso, o cara não merece...*

A gata então disse a Pangu:

— Pan, posso te pedir um lance?

— Aguardando informação.

— Ah... Bem... Não mostra esses dados pro Viktor. Nunca. Sério, ele não pode saber nunca! É muito importante um tantão, entendeu?

— Qual a motivação?

— A expressão “balde de água fria” foi atualizada com sucesso. Sacou?

— Compreensão entendida. Recebendo informações da user Carol Tea... Salvo.

— Fechou, Pan! Nyah! – Disse, sorrindo para a IA.

Mas a conversa não parou por ali. Pangu, de forma independente, disse:

— Carol Tea. Respondendo a sua indagação de hoje mais cedo...

— Uh?! Que foi?

— Unidade Pangu tem poder de processamento suficiente para rodar Microsoft Flight Simulator™ a 320fps na resolução de 16K com Ray Tracing ativado. Nota: esta é a configuração total que este software permite. Unidade Pangu possui 800 Teraflops, podendo ir além.

O rosto surpreso e estático de Carol ao ouvir isso foi a estratosfera ainda mais quando a IA concluiu:

— Crysis™ no Ultra é um farelo em um dente que eu não tenho. Unidade Pangu “mandou bem”. Tenha um bom dia.

— MANO! Fala sério... Eu fui ownada pela Pangu! *E ela também quebra a quarta parede!*

Isso muda tudo, Carol Tea? Bem, desta vez a gata tagarela recebeu o próprio veneno.

E enquanto isso...

— Neera?

— Hm... O que foi, Gong?

— Lilac quer conversar com você

— E porque ela não veio até meu escritório então?

— Não. Ela quer que você vá para o pátio do palácio. Próximo a fonte

— Hm... Curioso. Tudo bem, eu já estou indo

A conversa ao telefone entre os dois oficiais do Royal Palace deixou bem claro o interesse da dragão em conversar com Neera.

Sendo assim...

Royal Palace | Pátio do palácio

Estando de pé, Lilac avistou então Neera se aproximar. Em punho de seu inseparável cetro, a sacerdotisa logo perguntou:

— O que deseja, dragão? Você e sua amiga já estão liberadas.

— Eu sei disso. Eu quero conversar com você.

— Gong me avisou... Do que quer conversar?

— Carol já se expressou. Agora é a minha vez!

— Hm... Do que se trata?

A dragão apontou seu dedo indicador para o rosto de Neera no momento que disse:

— Trate de escolher bem as palavras quando se referir ao Viktor!

— Ah então é isso... Se sentiu machucada com a realidade, dragão?

— A realidade? Você falando assim até parece irônico...

— Hm... E qual seria a relação?

— Você falando assim parece ter algum sentimento negativo.

— Melhor ser mais específica. Não estou com tempo para perder.

— Você parece que tem inveja dele!

— Eu?! Inveja? – Disse, debochando em seguida – Poderia durar mil anos, mas esse sentimento nunca surgiria em mim, ainda mais ao se referir a tamanha fraude.

— O QUE?!

— Você me chamou para conversar sobre isso? É sério? Dragão, não seja imatura! Porque tem essa impressão de pensar que eu teria inveja daquele fracassado?

— NÃO DIGA ISSO DELE!

— O grau de empatia que vocês tem com ele faz com que interpretem aos outros com ignorância.

— Viktor é muito melhor que você como pessoa! Ele não precisa ter um exército e nem de um palácio para ser amado! Como Carol disse, todos os dias ele faz o seu melhor pra fazer a vida de todos que vivem com ele melhor! Nossa, ele até está trabalhando, se esforçando de verdade... e ele lutou contra a Xiaohuang! Na sua frente! E ele venceu!

— Hm... E isso faz com que ele seja melhor do que eu... Muito bem, Lilac. Essa sua relação é perfeita – Disse, batendo palmas.

— PARE DE DEBOCHAR DE MIM!

— Chega! – Disse, num tom sério – Já basta ter de te ouvir gritar. Não se esqueça de que está no Royal Palace e eu sou uma oficial da lei! Eu não admito que me falte com respeito!

— Você causou isso! O tempo todo você destrata e diminui o Viktor!

— E vocês insistem em protegê-lo, em passar pano em tudo o que ele faz... E você ainda teve a audácia de falar que eu tenho inveja dele.

— Mas é exatamente o que você sente. Eu sei, Neera... Você fica nessa de tentar ridiculariza-lo porque ele tem uma facilidade muito maior e honesta de se relacionar com todos sem preconceito algum e... – Disse, sendo interrompida.

— CALE-SE!

— Hã?! Neera...

— Já ouvi idiotices demais! E vindo de você é ainda mais patético!

A panda caminhou até próxima da fonte, molhando sua mão em seguida. E ela continuou:

— Viktor atendeu ao meu pedido de conversar, ainda no Sallo Temple. Vocês estavam lá e viram isso...

— O que tem?

— Ele foi melhor que vocês em se expressar, sabia?

— O que você quer dizer com isso?

— Ele tem muito mais responsabilidades agora, principalmente em reconhecer sua inferioridade e, em decorrência disso, pedir desculpas a mim por ter sido um insensato.

— O que?! – Se surpreendeu Lilac.

— Ele admitiu isso... e não entenda negativamente: isso fez com que meu respeito a ele voltasse, embora seja pequeno. Entretanto ele fez o que nenhuma de vocês teve coragem de fazer: ser honesto.

— E onde não fomos honestas?

— Não é isso, dragão... Viktor assumiu a responsabilidade de tudo. Do que fez, do que virá a fazer... e de seu futuro. Ele me fez uma promessa novamente e ele terá de cumpri-la. Sabe, ele é um stranger de honra, embora ele não seja um mestre e tampouco tenha competência reconhecida por mim... Mas para o que ele tem, eu permito que desempenhe seu papel de curador daquele templo.

— Isso só confirma que você tem inveja dele!

— Não... Você entendeu errado. Esse sentimento, a inveja... tem muitas vieses. Uma delas é percebida nas suas palavras.

— O que quer dizer? É algum tipo de enigma, Neera? Responda!

— Não. Sem jogos dessa vez... Mas vou te explicar em forma de pergunta: teria você, Sash Lilac, e até sua amiga da boca grande, inveja do Viktor?

Essa pergunta foi mesmo algo inesperado, causando mal estar imediato ao ego de Lilac, que não ficou calada:

— NÓS, COM INVEJA DO VIKTOR?! NUNCA!

— Porque não?

— Nós o amamos! Tudo que ele faz nós admiramos! Ele se esforça ao máximo... COMO PODERÍAMOS TER INVEJA DELE?

— Hm... Essa resposta só vocês podem dar – Disse, dando as costas a Lilac e voltando para o palácio – Até amanhã, dragão. Apareçam no mesmo horário de hoje, está bem?

Deixada sozinha as suas próprias dúvidas, Lilac estava se sentindo pior do que antes. A ousadia da panda a pegou de surpresa. Mas porque a dragão não a respondeu? E porque Neera lhe fez essa pergunta inesperada? De qualquer forma, Lilac ficou irritada, com esse incômodo martelando em sua cabeça a todo instante enquanto retornava ao interior do local de treinamento.

“Porque teríamos inveja do Viktor?”

Minutos depois...

Shenlin Park

Bairro Milenar | Noite

Viktor caminhava a calçada do bairro levando consigo uma das caixas que trouxe ao Sallo Temple. Ele havia combinado com Sr Taotao que a levaria até o armazém, onde seu chefe o estaria esperando junto com o raposa feneco Mu.

Mas ele, sem esperar por isso, foi impedido por um indivíduo, que segurou em seu braço dizendo:

— Precisamos mesmo conversar, stranger miserável...

Era Yan Shu. E ele não parecia de bom humor.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Em breve a parte 2.



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