Freedom Planet: Faith & Shock escrita por Hunterx


Capítulo 51
Lecionar e aprender: o começo do jovem mestre


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores. Tudo bem?

Peço desculpas pela demora em postar um no capítulo. Vai chegando final de ano que muitos compromissos de faculdade e trabalho diminuem meu tempo livre para escrever. Mas aos poucos eu consigo, hehe.

Para efeito de informação, vocês sabiam que agora temos uma janela de lançamento do aguardado game Freedom Planet 2? Confiram o trailer: https://youtu.be/5-KwLnP0WGI

Sem delongas, divirtam-se com o novo capítulo.

Música 1: https://youtu.be/SVLXGMfgU5s
Música 2: https://youtu.be/M_4Rb2xcEzU



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Royal Palace | Final da tarde

Como vimos no último capítulo, a missão de investigação de Neera Li, com a ajuda importantíssima de Sash Lilac e da gata verde tagarela badgirl de araque, trouxe novas evidências de que as atividades suspeitas do clã ninja The Red Scarves estão arquitetando alguma incursão a cidade de Shuigang.

Reunidas no salão do trono do palácio, as três estavam conversando com Royal Magister. Precisamente, a felina arruaceira tomou a palavra:

— Ah pelo amor... Qual é a sua, locutor? Começou a implicância com euzinha aqui... Que que custa dar essa moral aí, fera? Me chama pelo nome, cara!

— Do que você está falando, Carol?! – Perguntou Lilac.

— Ah esse fedido do locutor aí. Pô, vai cair o dedo se escrever “Carol Tea”? Que vacilão do caramba, cara... Mó Zé ruela!

— Carol, para de loucuras! Estamos na frente do Royal Magister!

E de fato isso causou estranheza no monarca e, pior, no sentimento de vergonha alheia de Neera, que colocou uma das mãos sobre seu lindo rosto.

— Ah vá... “Lindo rosto da pandinha lindinha, ai ai...” É baba ovo da Neera agora? O Hunter X não pagou teu salário esse mês, né? Taí o motivo!

E adivinhem só quem perdeu a paciência?

— CAROL TEA, CALE SUA MALDITA BOCA ANTES QUE EU FAÇA ISSO PRA VOCÊ! – Gritou Neera, bem irritada.

— Tá, favoritinha do locutor... Mas eu vou fazer piquete, ah se vou!

— Experimente fazer mais das suas e te colocarei na sela mais escura desse palácio!

— Opa, vai devagar... Não é pra tanto assim...

— Você está faltando com o respeito ao excelentíssimo Royal Magister. Então trate de se comportar, senão eu vou te...

— Tá, entendi. Foi mal aí...

Voltando ao assunto, Royal Magister logo tratou de narrar a situação:

— Então caras cuidadoras... O grupo nefasto The Red Scarves está mesmo envolvido em um esquema. Nossos vizinhos ao leste, o reino de Shuigang, realmente precisará de nossa ajuda.

— Nós três vimos a estrutura que fizeram em tão pouco tempo, excelência – Dizia Neera, mostrando um tablet a ele – Os dados coletados pela equipe de inteligência da STPD (Shang Tu Police Department) não foram muitos, mas o suficiente para nos dar a certeza de que há mesmo planos dessa invasão.

E Lilac desta vez tomou a palavra:

— A pergunta que todos fazem é: porque? Eles não são de fazerem isso tão esquematizado. E eles estão fazendo seus próprios robôs para atacarem com força! Também me pergunto se há mais atividades deles por aqui... Eles podem até estar nos espionando.

— Você se refere aos eventos de Shang Mu, Sash Lilac? – Perguntou Royal Magister.

— Também. Spade invadiu a Agência, então todo cuidado é pouco. Mas mesmo assim... Ele nunca teve tanta liberdade assim, está estranho...

Neera logo levantou uma hipótese:

— Hierarquia.

— Hã?! O que foi, Neera?

— Mesmo que seja uma organização criminosa, esse clã maldito tem níveis e classes de hierarquia. Posso estar muito errada, mas eu acredito que Spade tenha crescido em liderança na The Red Scarves. Você, Lilac, disse que nunca o viu com tanta liberdade... Deve ter conseguido mais verba, mais aparatos, mais recursos... Tudo isso faz com que essa minha tese ganhe mais força.

E, pasmem, Carol também falou:

— *Eu vou dar uma bicuda nesse locutor um dia desses!* O maledito do felpudo ladrãozinho se achava antes. Agora então... Tipo, o cara tá descontrolado, fazendo o que quer. Quase ferrou com a vida da galera da Agência e feriu o Vik um tantão! Mas vou jogar a real: se essa coisa toda que a Neera disse for verdade, eu aposto meu Nuntando Sweet que o Rayban guy já tá agilizando essa parada toda pra fazer algo bem sinistro!

— O que?! Como assim, Carol? – A dúvida de Neera.

— Vai por mim... A gente já conviveu com o mané. Ele é de fazer coisa graúda, pra mostrar que é o tal... Tu viu aquele galpão. Mó estrutura e os cara tinham até um robô de combate! Tá certo que contra a gente aquilo tava mais pra um brinquedinho xing ling, mas tu já imaginou uma coisa daquela no meio da cidade e atacando gente inocente? Sem noção...

Isso sim preocupou ainda mais Neera e Royal Magister, que trocaram olhares. Indo até a marquise do salão de seu trono, ele observava sua cidade enquanto dizia:

— Sacerdotisa Neera Li, o que Carol Tea disse é um fato. Creio que já seja hora de começarmos a dar passos maiores. Os motivos desse ladino podem ser desconhecidos, mas uma ação conjunta deve ser colocada em prática o mais depressa possível.

— Então devemos começar com a Battle Glacier Innitiative?

— Sim... Já está na hora de levarmos muito mais a sério a situação. Avise ao guardião de Shuigang por favor.

— Como mandar, excelência.

Essa conversa deixou Lilac e a verde falante curiosas com o que estaria por vir. Tanto que a dragão púrpura disse:

— Battle Glacier Innitiative?! Mas do que estão falando?

— *Esse locutor está mesmo me enchendo! ರ╭╮ರ* – Pensou Carol.

— Carol?! Oi? Você está bem?

— Estou sim... Agora tô de boa!

Neera então caminhou até às duas, dizendo:

— Royal Magister e eu conversamos mais cedo sobre vocês duas. Precisamos de pessoas decididas a cooperar conosco e que não tenham vínculos com nenhum clã ou templo.

— Mas porque isso, Neera?

— Aquela conversa de mais cedo. Battle Glacier.

— Ah sim... Mas o que pensam em fazer? Eu lembro que Gong e você nos visitaram e explicaram que a The Red Scarves estavam atuando por lá, possivelmente para invadir Shuigang.

— Precisamente. Por isso devemos agir o mais depressa possível... Porém somente nós três.

Carol ouviu isso e quase surtou:

— Tá de saca, né? Nós três, o trio ternura, o trevo trevoso, a tríade das graciosas... SOZINHAS PARA ENFRENTAR A TORCIDA DO FLAMENGO?! Cara, eles tem o Jorge Gzuis!

— Carol, leve a sério! – Disse Lilac.

— O mister, Lilac! O mister!

— Carol...

— E teve também o Rorô Cenão!

— Carol...

— E o Renateba Gaúchona!

— CAROL! – Gritou a dragão, irritada.

— Nyah! :3

A cada palavra dita pode Carol, Neera ficava ainda mais irritada. Porém, por estar na frente de seu monarca, ela se controlou e explicou com toda a paciência que ainda lhe estava:

— Escute bem, Carol... Nós três teremos de fazer isso sem ajuda para ele possamos entrar na base secreta deles sem sermos notadas.

— Tá, Neerota... Mas como é que vamo saber onde fica? Ou tu quer dar uma de loka e chegar na voadora?

— Ah não! Sua delinquente desordeira... É óbvio que iremos até lá sabendo as coordenadas!

— E como iremos conseguir isso, Neera? – Perguntou Lilac.

— O guardião de Shuigang. Ele irá me dizer em breve. Então estejam prontas todos os dias... A qualquer momento eu irei contatá-las para que iniciemos a missão... Porém vocês não são obrigadas a nada, então fica a escolha de vocês.

— Pera... Então eu posso escolher? Tipo, entre X e O? – Carol tirou essas placas sei lá de onde.

— CAROL! – Gritou a dragão – DE ONDE VOCÊ TIROU ESSAS PLACAS?

— Isso é só um detalhe! – Disse Carol, olhando para a panda em seguida – E então, Neera?

E finalmente Neera tomou uma atitude: ela pegou as placas das mãos da verde tagarela e rasgou-as em vários pedaços que não dava para ver, quase como pó. E bem irritada, deixou claro sua opinião:

— VOCÊ SÓ TEM QUE DIZER SE QUER OU NÃO! É TÃO DIFÍCIL ASSIM VOCÊ FAZER O SIMPLES, SUA DESORDEIRA MALUCA?!

— Tá tá... Tátátátátá! Ih calma... Tá estressadinha, é? Queridinha do locutor...

— TRATE DE FICAR CALADA E PARE COM ESSAS SUAS LOUCURAS, SUA BOLA DE PELOS TAGARELA! CHEGA!

— Eu já disse “tá”, tá bom?

Depois do entendimento (porque uma certa pessoa demora pra entender as coisas), Lilac e “uma alguém” verde concordaram em cooperar. Ou seja, as duas agora estavam a disposição do reino de Shang Tu. Mas antes que fossem para casa, eles tinham um compromisso muito especial. Ao caminharem no lado de fora dos portões do Royal Palace, Lilac disse:

— Pronto, estamos livres. Agora temos que correr!

— Falou e disse, diva púrpura! Próxima parada: Sallo Temple!

E esse era o destino delas.

Mas, enquanto isso, um evento especial e inusitado ocorria.

Centro da cidade de Shang Tu | Fim da tarde

— Ah que bom! O Wallace foi muito legal de me dar uma carona até a cidade!

Era Milla. A canina caminhava sorridente a calçada enquanto muitos traseuntes iam e vinham, demonstrando que o centro da cidade estava agitado. Não era para menos: a happy hour estava começando aos esforçados cidadãos de Shang Tu.

O sorriso contagiante de Milla era justificado pela ajuda de seu novo amigo, Wallace Din. O coiote engenheiro civil prestou todo o suporte para melhorar a fundação e estrutura do laboratório que a pequena estava montando. E sua alegria de ver algo imaginado por si saindo do papel e tomando formas era uma realização imensa.

E durante essa sua caminhada leve e descontraída, Milla avistou a gente uma mulher que estava descarregando sua van. Curiosa, ela continuou observando, já que era uma morcega: no lugar das mãos, eram asas e tinha orelhas protuberantes da manda cor de sua pelugem branca, mas com detalhes em vermelho em seu interior. Com olhos rubros e longos cabelos da cor preta, sei visual exótico seguia a tendência de moda gótica que tinha, com um vestido apropriado: saia com bordô e um espartilho que lhe cobria o dorso.

Ela então tentava pegar caixotes mas, tenho dificuldades, quase deixou cair um deles. Mas Milla, que estava prestando atenção, conseguiu correr e acudir a jovem morcega que, surpresa, diz:

— Oh lady... Você foi bem rápida!

— Hehe... Está aqui, moça... Eu vou te ajudar a levar isso!

— Thanks, cutie! Qual o seu nome mesmo?

— Ah me chamo Milla Basset! E o seu?

— Mas que nome lindo o seu! Meu nome é Sabrina DiDuro... e é um prazer te conhecer!

— Seu nome também é bonito.

— Hehe... Obrigada.

— Moça, você quer que eu te ajude a levar todas essas caixas?

— Eu não quero te incomodar, pequena. Já me ajudou muito até...

— Não não... Eu quero ajudar! Lilac me disse pra eu ajudar quem precisa... Milla Basset está a su servicio!

— Oh que lindinha! Tudo bem, eu vou aceitar sua ajuda...

— Que bom!

E enquanto as duas levavam os caixotes, Sabrina perguntou:

— Quem é Lilac?

Sim, Milla disse a ela quem se tratava. A conversa seguiu até que as duas entrarem em um prédio ali próximo.

Minutos depois...

O lugar parecia um escritório, num salão grande onde podíamos ver vários computadores e um mural a parede. Mais ao fundo haviam pelo menos seis Nuntando Sweet, coisa que Milla logo identificou:

— Espera... Esse é o vídeo game que temos! E tem muitos... Que fazem aqui?!

— Ah cutie... Eu sou uma desenvolvedora de jogos!

— Sério mesmo?! Isso é incrível! Carol vai amar te conhecer!

— Hehe... Carol é a gata amiga da Lilac, não é?

— Sim! Nossa... Você se lembrou!

— São nomes ótimos pra colocar em personagens de vídeo game! Na verdade eu imaginei agora uma ideia de um jogo onde uma dragão e uma gata se unem para defender o mundo do mal... Eu posso anotar isso pra projetos futuros!

— Legal! Eu gostei de saber disso! Acabei te ajudando outra vez!

— Sim... Ajudou!

Sabrina então foi até um armário e, de dentro, tirou uma embalagem: era na verdade um jogo, onde a morcega desenvolvedora de jogos o entregou a Milla, que disse:

— Hã?! Você está me dando um jogo?

— Sim... Você você me ajudou duas vezes, então eu quero te presentear com meu mais novo jogo: Petal Crash™!

— SÉRIO MESMO?! Muito obrigada! Eu vou jogar hoje mesmo com minhas amigas... A Carol vai surtar!

— Que isso! Foi um prazer te conhecer. E espero também conhecer as duas amigas.

— Pode crer que sim! Mas... Qual o nome do seu estúdio?

— Hehe... Está escrito na capa do jogo.

— Ah sim... O nome é GalaxyTrail™!

Uma nova habitante da cidade é uma empreendedora. Shang Tu ganhou um novo polo de trabalho... com “trilhos da galáxia”.

Ao fim da visita, Milla deixou o prédio, dando tchau para Sabrina. E enquanto gesticulava se despedindo, a canina pensou:

— *Ela é muito legal! Espero vê-la outra vez... Mas agora eu tenho que me encontrar com as garotas pra gente se juntar ao Viktorius...*

Horas depois...

Centro da cidade | Início da noite

E era chegado o final de expediente do comércio da cidade. Um pouco diferente do nosso mundo, as atividades comerciais tinham por decreto do monarca Royal Magister de terminarem às 18:00 de segunda a sexta, sendo permitido aos estabelecimentos de rua focados na alimentação e casa de shows até às 20:00. Tudo isso foi pensando para manter a ordem na cidade e dar tempo útil para os trabalhadores poderem se alimentar e se divertir. Entretanto, todos os shoppings deveriam fechar juntamente com as demais lojas, por reunir uma grande quantidade de pessoas em seu interior. Isso se dá pelos eventos passados, onde os três reinos principais de Avalice sofreram com a presença de Lord Brevon. Ressabiado, o monarca instituiu essa lei para também preservar aos seus habitantes. Por maior, a maioria do comércio no que diz respeito a compras ficava fechado aos finais de semana, tudo para entregar a seu povo mais horas de descanso.

O reino de Shang Tu era próspero, tendo auto suficiência o bastante para que maioria da população não precisasse de sustento próprio; Royal Magister entregava a todos os fundamentos básicos para uma vida saudável e segura. Entretanto, a prática comercial era totalmente liberada dentro da lei.

Royal Magister era muito respeitado e admirado.

E naquele mesma noite...

Shopping Central de Shang Tu | Início da noite

Logo após Sr Taotao entrar na caminhonete de Mu com Viktor sentado na caçamba para levarem a comida para o Sallo Temple, Izumi se despediu de sua equipe e seguiu caminhando pelas ruas da cidade. E durante o seu trajeto para de volta a sua residência, ela percebeu algo anormal. Tanto que a intrépida shiba inu olhou para trás, mas não avistou nada suspeito. Certa de que não havia do que se preocupar, voltou a caminhar... mas o sentimento de estar sendo seguida retornou metros depois, logo após entrar em um beco.

— Por mais clichê que isso pareça, você já esperava que eu soubesse que estava sendo seguida – Disse Izumi, sorrindo.

E de fato ela estava certa, pois havia mesmo alguém a observando a tempos. Essa pessoa logo saiu das sombras e se mostrou: era Alie Sha, que caminhou para próximo da canina e disse:

— Você tem um bom faro...

— Ah então era você, a tubarão forte.

— Hehe... Sou forte mesmo.

— Mas o que você quer comigo? Quer lutar outra vez? Você sabe que não podemos porque...

— Ei ei... Calma! Eu só vim até aqui pra te convidar pra ir até um bar... Podemos, kawaiizinha?

— Tudo bem, tubarãozinha.

Inusitado foi a palavra chave. O que Alie Sha quer com isso? Bem...

Minutos depois...

Rapie Owor Bar | A noite

Tomamos agora como cenário o bar pitoresco cujo proprietário era o Sr Rapie Owor, um raposa vermelha bastante visionário. Aproveitando seu nome, o trocadilho involuntário do seu pseudônimo que lhe foi dado o rendeu um público cativo e fiel. O lugar era bem simples como qualquer pub inglês, com um grande balcão, mesas pequenas mas confortáveis, algumas mesas de bilhar... e fliperamas. O lugar estava movimento inclusive, com as duas se sentando ao balcão.

— Quero uma soda taurina, champs! Bem gelada! – Disse Alie Sha.

— Eu só quero um copo de limonada – Disse Izumi.

Prontamente seguidas, as duas tomaram um pouco de suas bebidas, para enfim a conversa começar. E a tubarão foi logo direta.

— Big Sea. Região de Neozeela... Isso te diz alguma coisa?

— Hm... Eu treinei lá.

— Haha! Eu sabia!

— Mas o que tem? Muitos treinaram lá...

— Sim... Inclusive a mim. A região é boa pra praticar luta corpo a corpo. Mas não é disso que quero falar.

— Então sobre o que?

— A Elite...

Foi nesse instante que Izumi mudou de semblante e ficou mais séria. Ela até abriu os olhos , que pela primeira vez foram vistos: eram da cor azul escuro. Ela, olhando para Alie Sha, se expressou:

— Eu continuarei essa conversa somente se me prometer nunca mais dizer esse nome em público.

— Hã?! Mas o que...

— Somente prometa... É muito importante que eu ouça isso de você.

— Tu-tudo bem, Izumi... Eu prometo.

— Agradeço a compreensão. E sim... Pertenço a eles.

— Mesmo?! Nossa... Por essa eu não esperava...

— Vá... Pergunte.

— O que tem?

— Você quer saber mais... Eu sei. Pode perguntar.

— Ah nossa... É que... Sei lá, não estou acostumada a falar com lendas.

— Não exagere...

— Tá tá... Ok. Escute, o que você está fazendo em Shang Tu?

— Estou aqui para treinar.

— Treinar?! Mas... Você faz parte deles! O que você anda treinando?

— Force Auto Control.

— Espera! Você está treinando pra controlar sua força, é isso?

— Sim... Meu superior conseguiu me colocar na força policial de Shang Tu para que eu treinasse com a polícia daqui. Porém, enquanto eu estava em serviço, percebi que não iria conseguir esse controle combatendo o crime.

— Ora, porque? Você sendo forte conseguia facilmente acabar com esses patifes desordeiros!

— Não consigo adquirir equilíbrio e auto controle lutando. Eu me deixo levar pelo momento e meu estado Fighter fala mais alto. Eu não quero machucar gravemente ninguém... nem mesmo desordeiros. Eu precisei usar minha tonfa para pelo menos não ferir as pessoas...

— Espere... Você disse tonfa? Sabe manejar armas?!

Tonfa é uma arma corpo-a-corpo mais conhecida por seu papel no componente armado das artes marciais de Okinawa. Composta por um bastão fino e comprido, com uma pega perpendicular a um terço do comprimento, é utilizada em algumas artes marciais e também por forças de segurança. Sua versatilidade é um fator considerável pois pode ser utilizada em sintonia com qualquer arte marcial.

— Minha especialidade. Eu sou perita em armazenamento branco. Tenho o Supreme Black Belt of Amano Dojoh

— Oh pelos deuses! Você tem essa honraria?!

— Conhece?

— Se conheço? Ora, é claro! O Dojoh Amano é um dos mais renomados de toda Avalice. Lá o treinamento com armas brancas são levados a um patamar muito elevado... Então é por isso que eu não posso dizer o “tal nome”. Nossa... Isso é demais!

— É o dojoh da minha mãe...

— SÉRIO?! 

— Sim... Mas fale baixo, por favor!

— Eu agradeço seu bom senso. E estou aqui em Shang Tu para ter esse controle... que me é um pouco difícil de lidar. Não é algo do dojoh, mas coisa minha. E eu quero melhorar...

— Ah entendi... Olha, se você quiser posso te ajudar nisso.

— Ajudar?! Mas como?

— Eu sou a Monk do Puleun Temple. Minha especialidade é força física. Sabe como é, né? É body build chapado, tá ligada? Haha! Só que não passamos dos limites nunca... Então seria um prazer te ter por lá pra treinar. E você poderia ir quando quiser.

— Você está me convidando para treinar em seu templo mesmo sabendo de que eu não tenho controle total da minha força?

— Claro! Bem, é como um pedido de desculpas por ter quase ferrado com o restaurante do senhorzinho lá... Fiquei um pouco preocupada depois com o seu patrão. Ele parece ser uma pessoa boa, te empregou até... Tô sem graça de falar com ele.

— Ah... O Sr Taotao é um moço muito honrado e atencioso. Eu devo muito a ele, mesmo estando a pouco tempo trabalhando por lá... Tudo bem, então. Eu aceito sua oferta, mas...

— Mas o que, kawaiizinha?

— Você só vai poder comer até cinco pratos quando voltar ao restaurante!

— Só cinco? Ah... Podem ser seis?

— Tá... Seis...

— Eu ouvi sete? Hein?

— Tá bom... Sete.

— Oito?

— Sete, Alie Sha! – Disse, um pouco irritada.

— Haha! Calma... Só estava te provocando!

— Hm... Você é divertida, sabia?

— Hehe... Você também, kawaiizinha.

— Obrigadinha, tubarãozinha! – Izumi sorriu como sempre faz.

E por ali Izumi e Alie Sha ficaram por alguns minutos mais, conversando e se conhecendo melhor. Uma nova amizade aconteceu.

Esse evento inesperado precedeu a atração principal dessa noite.

Uma hora depois...

Shenlin Park Streets | Noite

Transitando pelas ruas próximas as imediações do Bairro Milenar, Mu guiava sua caminhonete com Sr Taotao ao seu lado na cabine e Viktor na caçamba. Como faziam todo fim de expediente, estavam levando o jantar para o Sallo Familly Orphanate. Enquanto o panda vermelho conversava com o jovem que estava na caçamba, o raposa feneco parecia incomodado em estar próximo ao Viktor. Sabemos que ele não gosta do humano e que o tolera por causa do Sr Taotao, mas:

— *Esse stranger fracassado... Agora está aí, todo cheio de si e se achando, pensando que é alguém de valor... Se não fosse essa gente passando pano pra ele, já estaria na sarjeta. Privilegiado de uma figa... Vai levar mais desgosto pra vida dos órfãos... Chega até a ser um crime te deixarem ser mestre deles... Mas tudo bem. Eu vou ver de camarote sua incompetência.*

A conversa entre o empregador e o empregado seguiu em paralelo aos pensamentos pessimistas de Mu, que demostrava em seu rosto umas ligeira irritação. Por alguns metros mais, logo eles chegarem ao...

Bairro Milenar | Sallo Temple

Tão logo Mu tivesse estacionado sua caminhonete, Viktor desceu da caçamba pra ser saudado pelas três garotas. Lilac, Carol e Milla o estava esperando com muita expectativa para um acontecimento inédito. A dragão logo o abraçou, dizendo:

— É hoje o dia, mestre! Hehe... Está nervoso?

— Um pouco... Sabe, aquele frio na espinha...

— Fique tranquilo. Você vai se sair muito bem!

Mas houve um ponto que Viktor logo percebeu: Lilac estava vestindo uma blusa azul estilo chinesa de treinamento. Ela estava ainda mais linda:

— Lilac, você está usando aquela blusa que comprou no shopping...

— Ah sim... Gostou? Eu comprei pra poder treinar mesmo... Vou estrear na sua aula!

— Nossa... Vocês ficou muito bem com ela! – Disse, um pouco corado.

— Ah obrigada... – Disse, tão corada quanto.

E quem tomou a palavra desta fez foi Milla:

— Viktorius, eu estou muito ansiosa pra ver você dar aula! Deve ser igual a da minha mestra, tenho certeza!

— Pode ser que sim... Vamos ver!

E uma alguém verde também disse:

— Pera... Peraí! Locutor, dá pra parar com o ranço? Pô, o que eu fiz?! Com a Lilac você fica aí todo meigo e comigo chega desprezando?!

— CAROL, PARA COM ESSAS MALUQUICES! – Gritou Lilac.

— E se eu te chamasse de alguém o tempo todo sem motivo? Hein? Me diz!

— Deixa de ser maluca! O que o Sr Taotao vai pensar?!

E o próprio Sr disse:

— Eu não sei... – Disse, prendendo o riso – Mas estou fazendo um esforço muito grande pra não rir!

— Tá vendo, Lilac? Até o tiozin aí leva na zuera, nyah! :3

— CAROL, CHEGA! Você falando assim... Para de fazer de conta que estamos em uma fanfic!

— Ah ih... Olha só... Que Inocência.

Como sabido, como trouxeram as caixas com a comida dos internos, desta vez Lilac fez questão de carregar mais do que sua amigas, quase como uma compensação do que foi no dia anterior. Carol até ficou um pouco “enciumada” com a atitude de sua amiga, já que...

— Na boa, locutor... Já deu isso aí! “Enciumada” é a senhora sua mãe!

— CAROL, PARA!

— Ih Lilac... Daqui a pouco tão comentando que tá tendo muita interação do locutor e vai ferrar com a fic! *o Hunter X deve sonhar com comments frequentes o tempo todo, né?*

— PARA COM ISSO! GRR...

(Ela está certa. Peço desculpas aos leitores e serei mais profissional daqui pra frente)

— AAALELUIA! Nyah!:3

E por causa desse comentário, Lilac em pessoa começou a enforcar sua amiga com uma gravata. Carol não se entregou e começou a fazer cócegas na dragão, que a soltou. Mas mesmo assim ela correu atrás da felina para lhe dar um bom soco...

... e ela conseguiu! 

— VOCÊ ME DEU UMA MOCA?!

— Sim, dei! Você mereceu por ser uma maluca!

— Tu vai esquecer disso... mas tá ligada da regra do futiba, né?

— Não quero saber de nada! Vamos... Temos que ajudar a levar a comida... E para com essas duas maluquices!

— Tá... *Deixa ela... Vai ter volta...*

Depois do conturbado momento, e logo após Sr Taotao e Viktor se recuperarem da vergonha alheia, todos então seguiram para dentro do templo/orfanato.

Minutos depois...

Salão principal | Sallo Temple

Ainda estando um pouco cedo para o jantar, a comida foi recebida com muito entusiasmo por parte dos irmãos Sallo. Brendan foi bastante cortês e agradeceu pela ajuda. Bonnie, que havia colocado a comida na cozinha, precisou enfrentar a hiperatividade de Mika, que parecia estar faminta.

— Ah eu quero!

— Agora não, Mika!

— Eu estou com fome! Será que não posso pegar só um pouquinho de sushi? Por favor!

— Não, Mika! Você já se esqueceu, né?

— Esqueci de quê? Se for da fome, nada disso!

— Hoje você vai começar a ter aulas de artes marciais com o Viktor!

— Nossa, é mesmo! Eu esqueci disso...

E entrando a cozinha, Alekzandra foi bem sincera:

— Eu sabia disso... Você esqueceu porque é esfomeada, por isso!

— Ah Sandrinha... Nem vem! Eu já esqueci a fome até... Porque eu vou poder lutar!

— Você adora isso mais que comer pelo visto...

— Xim!

A animação por lutas de Mika era o que a diferenciava de sua irmã, esta calma e serena. A raposa polar logo seguiu para o dojoh, sendo acompanhada por Alekzandra.

E em um outro cômodo...

Dojoh Sallo Familly

— Para com isso, Shoiji!

— Eu já disse: vou ficar na frente. Melhor aceitar isso, Sue Ay!

Agitados pelo iminente início da aula, Shoiji e Sue Ay discutiam de quem ficaria a frente alinhado ao tatame. Junto aos dois estavam Nero e Ralf Shark. Em seguida, perfilando a frente dos dois que discutiam, lá estava Fei Fei, para repreensão de Shoiji:

— 2F... O que pensa que está fazendo?

— Ué... Esperando a aula começar.

— Tá... Mas porque você tá no meio do tatame aí na frente?!

— Esperando a aula começar! Eu já te disse.

— Mas esse era o meu lugar e não o seu!

— Eu não vi o seu nome aqui... Então não era de ninguém!

— Era sim... – Disse Sue Ay, se intrometendo – ERA MEU!

— Também não estava escrito seu nome, então...

E os três começaram a discutir, deixando Half Shark um pouco sem graça com a situação que se encontrava.

— Ai ai... Tubarões não brigam por causa de lugar no tatame.

Só que os três ouviram e, juntos, gritaram:

— NÃO SE META, RALF!

Durante a confusão, Nero estava quieto no fundo do tatame. Sentado e aguardando o início, ele se limitou a observar seus colegas e se manter calado o tempo todo. Mas para animá-lo, logo surgiram ao tatame Mika e Alekzandra. Se sentando ao seu lado, a raposa polar lutadora disse:

— E então... Está animado?

— Ah... Mika?! Eu...

— Fica tranquilo, Nero!

— Ah...

— Você está nervoso, Nero? – Perguntou Alekzandra, se sentando a seu lado.

— Um pouco... Eu nunca treinei artes marciais...

— Não é difícil... e é até divertido.

— Mesmo?

— É SIM! – Gritou Mika, saltando para frente – A gente fica mais forte pra poder lutar, lutar, lutar! – Ela começou a simular uma luta.

Os movimentos firmes da pequena causaram deslumbre em Nero, que disse:

— Uau! Você sabe lutar mesmo!

— Sei sim, hehe!

— Mas... Como é que eu nunca vi?

— Bem, a senhorita Bonnie Sallo não permitia lutas no orfanato... – Disse Alekzandra – Então Mika precisou fazer isso escondida.

E interrompendo a conversa, eis que os irmãos Sallo entraram no dojoh. Caminhando até o centro, logo foram avisados Viktor, Lilac, Carol e Milla entrando também, para surpresa de todos. Shoiji logo disse:

— Ué... Elas três estão aqui?!

— Sim, Shoiji... – Disse Viktor – Elas vieram pra ajudar.

— Espera! Elas vão treinar com a gente?!

— Isso mesmo!

— CARA, QUE DEM...– Ele quase surtou, mas se conteve – Ah... Será uma gra-grande honra.

Mas Sue Ay entregou um segredo:

— Sei... Grande honra... Você é fã delas, pode dizer!

— Cala a boca, Sue!

— Você tem até um poster da Lilac guardado!

— Eu não sei do que você está falando! O\O

Risadas ocorreram por parte de todos, deixando Shoiji envergonhado. Mas Lilac tomou a gente da situação e foi até o jovem, dizendo:

— Ei... Não fica assim!

— Eu... Eu...

— Vamos lá... Levanta esse rosto e se prepara porque a aula vai começar!

— Lilac, você vai mesmo treinar com a gente?

— Vou... E como você iria dizer, vai ser super demais! Fora que será uma grande honra treinar ao lado de um fã.

— Oh nossa! Vai sim!

— Isso! Vamos lá!

Com todos se preparando para o início da primeira aula, os irmãos Sallo ficaram sentados ao fundo do salão, reunidos. E enquanto observava ao grupo, Brendan disse:

— Mana, ele vai ter dificuldades de ganhar a confiança deles...

— Hã? Porque diz isso?

— Você se lembra como foi a primeira vez que reunimos todos aqui. Não foi nada fácil... E acho que o Viktor vai ter a mesma dificuldade.

— Mas eles são bons meninos e meninas, Bren. Porém concordo com você em terem confiança nele agora... Espero que tudo saia bem.

— Sim... Devemos muito ao quarteto. Eu ouvi o Viktor dizer isso: Team Avalice. Era isso, não?

— Isso mesmo! Então eles são um time... E parecem mesmo serem bem unidos. Mesmo com Xiaohuang menosprezando o Viktor ontem ele não recuou e não desistiu... E a venceu!

— Se é! E foi bom ver aquela faladeira engolir a própria língua! Hahahaha! – Brendan riu alto.

— Bren?! Tenha modos! – Se surpreendeu Bonnie.

— Haha! Bem vinda ao mundo do karma, mana.

Voltando ao tatame...

Antes que desse início, Viktor notou que estava faltando alguém. Olhando para os lados e procurando, ele disse:

— Onde está o Aak?

E Brendan respondeu:

— Nas sombras, Viktor... Nas sombras...

— Como assim? Ele deveria estar aqui também, já que faz parte do Sallo Temple...

— Haha! Boa tentativa. Ele deve estar te vendo e ouvindo nesse exato momento... Esqueça, Viktor. O garoto já é um lutador nato, mas não é muito sociável.

— Mas naquele dia ele falou comigo, até me atacou e...

Essa observação foi entendido por Bonnie com um outro pensamento:

— *Verdade. Ele trouxe o Aak depois que Xiaohuang o provocou e o deixou depressivo (Capítulo “O esplendor do amanhã”)... Mas se o que o Viktor disse for mesmo verdade, Aak então...*

Embora frustrado pela falta de Aak, Viktor seguiu para o centro. Tudo estava pronto. Os jovens pareciam ansiosos pelo início. E Carol dessa vez tomou a palavra:

— Tá na hora, Vik... O sinal tocou! Let’s Go! – Disse, entrando em formação no tatame junto com Milla e Lilac.

— Muito bem, turma... A primeira aula vai começar! Reverenciem o bastião da família Sallo!

Viktor e virou e se juntou aos alunos, dizendo:

— Saro-ka o ikei no nen o daku - サロ家を畏敬の念を抱く! (Reverenciem a família Sallo)

O respeito que o jovem mestre mostrou a família Sallo chegou a emocionar Bonnie. A coelha, com os olhos úmidos, se conteve, mas seus pensamentos disseram o que estava sentindo:

— *Pai... Novamente este dojoh foi reverenciado sob sua palavra. Eu lhe peço perdão por eu bati ter seguido seu caminho, mas... Eu sei. Você ainda e fazendo das duas de guiar nossa casa pelo caminho certo com a gente aqui... Você trouxe o Viktor pra gente... Obrigada, pai...*

Voltando ao tatame, Viktor se virou, reverenciando seus alunos enquanto dizia:

— Sensei ni rei - 先生に王! (Saudem o professor)

Todos então reverenciaram Viktor, que ficou um pouco sem jeito no início. Ele mesmo disse:

— Hehe... Deu um pouco de vergonha agora.

— Haha! Tá coradinho, Vik! Vai, cara... Tamo junto! – Disse Carol, o motivando.

— Obrigado, Carol... Bem, toda vez que começarmos uma aula sempre faremos honras ao tokonoma - 床の間.

Tokonoma: esse termo nada mais é que um espaço cativo de obras ou quadros artísticos em um dojoh ou casa japonesa. No karatê, esse tipo de espaço é onipresente em todos os dojoh para que as gerações passadas sejam sempre honradas. Geralmente há um bastião com o nome do clã ou família e retratos dos antigos mestres.

E diante a atenção de todos, Viktor continuou:

— Esse dojoh tem muita história, mas infelizmente eu não a conheço, então... Brendan e Bonnie, poderiam nos contar um pouco de quem foi o último sensei deste templo? – Disse, olhando para os irmãos.

Isso foi uma surpresa para os dois, onde Bonnie pediu para que seu irmão tomasse a palavra:

— O último sensei desde dojoh foi nosso pai... Jonathan Sallo. Ele era um forte mestre de kung fu que tinha uma visão do mundo totalmente diferente dos atuais mestres: ele valorizava a família como um todo e não sua doutrina. Na verdade a arte marcial era só um convite para que todos fizessem parte da família, mesmo que de fato não fossem da nossa, hehe... Mas vocês entenderam.

— Ele não via sua doutrina como um caminho a seguir?! – Perguntou Viktor, confuso.

— A doutrina dele era Tanzo, Setsudan, Henkei - 鍛造 | 切断 | 変形 (forjamento, lapidação e transformação). “Seja o que você quiser”... Essa era a motivação dele. Nós a seguimos inclusive. Não sabemos lutar porque nosso caminho, o meu e de minha irmã, não nos levaram aos das artes marciais e sim ao dos estudos. Nosso pai sempre teve orgulho disso, mas... – Disse, com a voz um pouco embargada.

— Nossa, Brendan... O que houve?!

— Ver o que minha irmã e eu nos tornamos e deixar que essa situação toda chegasse... Nós quase perdemos nossa história porque escolhemos esse caminho. Estávamos a mercê da Xiaohuang até Lilac, Carol e Milla apareceram do nada no prédio da Associação... E aí você apareceu!

Um silêncio tomou o lugar, dando um tom melodramático que quase tirou a atenção de Viktor. Mas Carol logo tratou de dar sua opinião:

— Caraca, na boa... Vocês aí mandaram muito bem o tempo todo, sabia?

— Hã?! Do que está falando? – Perguntou Bonnie.

— Vocês seguraram a onda com o que tinham e não desistiram do templo! Pô, isso é muito massa, tá ligado? Imagina tu não saber artes marciais e manter um templo desse tamanhão e cuidar dos guris? Mano, vocês tem muita moral! Então não deixem a peteca cair e segue o baile, manos Sallo! Vocês são demais!

O sorriso de Carol para os irmãos dois contagiante, levantando o astral e motivando Viktor a dizer:

— O Sallo Familly Dojoh está de volta! Então... OSSI!

E com isso, foi dado o início da aula!

Music: Upbeat Background Music

Composer: MorningLightMusic

O momento era de total descontração e alegria. Muitos ali tiveram o primeiro contato com artes marciais e isso foi o ponto onde Viktor se baseou. Ele começou com o princípio básico de qualquer atividade física:

Aquecimento

O karatê é uma atividade física exigente. Para crianças e adultos, o aquecimento ajuda a soltar os músculos, construir estamina física e focar a mente dos alunos na aula.

— Vamos lá, turma! Hora de fazer polichinelo!

— Hã?! O que é isso, irmãozão?! – Perguntou Sue Ay.

E adivinhem só quem foi a primeira a responder e fazer? Mika sabia exatamente do que Viktor estava falando.

— Você mexe os braços e pernas assim, tudo junto! Tá vendo? Igual como estou fazendo... Vai gente! Só me imitar!

O polichinelo é um ótimo exercício para a fase do aquecimento, pois faz aumentar o ritmo do coração, além de aquecer os músculos e as articulações e contribui para o aumento da coordenação motora, pois envolve movimentos dos braços e das pernas.

Todos então olharam concentrados aos movimentos que Mika dominava melhor que ninguém, onde Shoiji parecia o mais interessado. Mas:

— Fazer isso é fácil... e não te faz ser melhor do que eu, Mika!

— Verdade... porque não preciso disso pra ser melhor – Disse, olhando para o felino.

— Como é?

— Isso mesmo que você ouviu!

Os ânimos ficaram um pouco exaltados, com os dois quase brigando. Viktor logo se aproximou, mas antes disso ocorrer Brendan pensou:

— *Hehe... Começou. Vejamos como o Viktor vai lidar com a situação. Não vai ser fácil parar esses dois...*

E Viktor interveio:

— Vocês dois, parem com isso!

— Foi ele quem começou! – Disse Mika.

— E foi você quem deu uma de convencida! – Disse Shoiji.

E Viktor precisou ser mais incisivo, mediando a situação:

— Todos aqui são iguais, ouviram? Mika, agradeço por você ter mostrado os movimentos, mas você tem que fazer isso pra ajudar e não pra se mostrar que sabe fazer, está bem?

— Mas eu sei mais do que todo mundo nisso e mais que o Shoiji também!

— Você não é melhor do que eu só porque fica brincando de liquidificador! – Disse o felino.

— Você é fraco e perde pra mim!

— Ah é? Então vai... Vai dentro! – Ele chegou a ficar em base de luta.

Sabendo que a situação estava saindo do controle, Lilac iria tomar a frente, mas Viktor a impediu. Olhando para a dragão, ele passou uma confiança nunca antes visto por Lilac, que entendeu suas intenções. Ela somente retornou onde estava e observou a ação do jovem mestre.

— Vocês dois... Sabem que não devem fazer nada disso, não é?

— Me mostra porque não! – Disse Shoiji.

— Porque lutadores não lutam por causas pessoais.

— Hã?! Como assim?

— Se você usa seus punhos pra resolver qualquer problema, então você perde a luta. Artes marciais são artes de guerra, então você precisa saber valer seus princípios. O seu inimigo de verdade é sua falta de controle, entendeu?

Mas Mika insistiu:

— Mas ele vive me provocando! Então eu respondo de volta pra não deixar ele me vencer!

— Então essa é a hora que você se mostra melhor e começa a ver onde errou também, Mika. Ele não é seu inimigo. Pode ser seu rival, mas não seu inimigo – Disse Viktor, se virando para o felino – Shoiji, a Mika é sua inimiga?

— Be-bem... Não.

— Então... Vocês dois não tem que ficar brigando a toa. Sejam rivais, mas respeitem um ao outro. Vocês ficarão mais fortes juntos!

Os dois então trocaram olhares, denunciando em ambos um sentimento de culpa. Isso surpreendeu Brendan e Bonnie, que olhavam a situação boquiabertos com a mudança de comportamento que Viktor provocou em Mika e Shoiji. Sendo assim, a raposa polar tomou a iniciativa.

— Ah... Está bem... Desculpa... Desculpa, Shoiji.

— E Shoiji, se concentre em fazer os movimentos que Mika mostrou, mas não faça disso um pretexto pra começar uma discussão. Ela errou, mas você não pode usar isso pra errar também!

— Tá... Desculpa... Vacilei... Foi mal, Mika.

Ambos se aproximaram e apertaram suas mãos, com um sorriso franco e honesto brotando em seus rostos. Logo os dois se juntaram novamente ao grupo e o treino continuou com tudo.

Está muito visível ver a alegria da turma, executando os exercícios que Viktor ensinava e exigia que fizessem.

O jovem mestre aos poucos mostrava que era de fato uma pessoa muito acessível e que trazia consigo uma simpatia incrível, ensinamento aos seus novos alunos sua arte marcial.

Mesmo Nero, tímido e retraído, se mostrou a vontade. Mesmo com suas deficiências físicas nas pernas que ainda se acostumavam a movimentos mais rápidos, o jovem não parou um segundo sequer. De longe o mais animado do treino, mais que Mika!

Ralf Shark parecia ser o mais a vontade, como se tudo aquilo fosse algo mágico. Envolvido com a vontade de estar fazendo parte de um dojoh, ele demonstrava grande interesse em executar movimentos fortes e ferozes... como um tubarão. Foi dele a audácia de executar voadoras e golpes aéreos durante o treino, para surpresa de Viktor e de todos.

Sue Ay e 2F treinavam juntos, fazendo uma dupla inusitada, onde um ajudava ao outro para executarem os movimentos. Viktor fazia questão de chamá-lo sempre de irmãozinho, com Sue fazendo o mesmo. 2F chegou até a provocar um pouco essa relação, mas de forma singela.

Alekzandra, até então novata no mundo das artes marciais, aprendia rapidamente cada um dos movimentos ensinados por Viktor:

Ataque...

Defesa...

Contra ataque...

Evasivas...

Básicos...

Avançados...

A raposa polar da divisão Blue tinha uma inteligência muito acima da média do que fiz respeito a aprender coisas novas. Mika até se surpreendeu por ver sua irmã executar seus mesmos movimentos de treino, fazendo com que seu sorriso tomasse a atenção de sua irmã. As duas passaram então a fazerem ao mesmo tempo os exercícios com uma exatidão e coordenação que fez com que Viktor batesse palmas.

E para ajudar, Lilac, Carol e Milla simplesmente foram um fator importantíssimo para o desenrolar da aula. Por serem mais avançadas, o trio pôde demonstrar movimentos provenientes de nirvana, coisa que Viktor não poderia fazer. Tanto que foi lançado o desafio para que a dragão púrpura e a gata verde taga... ops, digo... selvagem lutassem de forma amistosa.

A luta seguiu como já conhecíamos das duas: não houve o “pegar leve” mas Lilac e Carol mantinham o respeito a outra e impuseram seus estilos de luta com maestria. Todos ficaram impressionados com a desenvoltura de ambas onde mais a outra se destacava: mesmo Lilac sendo mais rápida que Carol, a felina conseguia a acompanhar; e mesmo Carol sendo mais forte, a dragão conseguia se defender de seus golpes e também de atacá-la.

No fim, novamente salva de palmas as duas, que deram a vez para Milla e Mika, que começaram a luta com tudo. A pequena canina mudou a todos sua graça com seu kung fu estilo garça ensinado por Neera e, em contrapartida, Mika demonstrou movimentos de sua arte marcial Minamo Kanfu Pasu (Caminho do Kung Fu do Sul), que carregava consigo toda a força do clã Benz. Ao término da exibição, as duas se reverenciaram e se abraçaram.

Tudo corria absurdamente bem...

Sentados junto aos irmãos, que pareciam não acreditar na harmonia que Viktor trazia ao grupo de jovens órfãos, lá estavam Sr Taotao e Mu. Enquanto o dono do restaurante estava animado, o raposa feneco mostrava um semblante mais insatisfeito e fechado, como se não estivesse gostando de estar ali. E como sobreaviso, ele não tirava os olhos de Viktor, fazendo com que ficasse cada vez mais irritado e incomodado com a continuidade da aula.

E tudo continuou transcorrendo naturalmente e com uma alegria contagiante.

Gargalhadas e elogios...

Atenção e descontração...

Laços sendo feitos e parcerias aflorando...

O primeiro dia de aula no Sallo Temple estava sendo um sucesso total.

Bonnie e Brendan mal conseguiam acreditar: todos os internos estavam alinhados e disciplinados em uma aula somente. E essa vontade partia deles mesmos.

— Mana, você está vendo tudo isso... Eles estão se divertindo e respeitando a tudo!

— Sim... Eu... Eu nem sei o que dizer, Bren... Nosso pai ficaria muito orgulhoso disso...

— O dojoh... Ele está mesmo de volta... E com as crianças que a gente cuidou com tanta dificuldade...

A emoção era tanta que Bonnie viu o reflexo de seu pai vivo no Viktor, que recebia aos seus alunos no centro do tatame. Ela, com lágrimas nos olhos, disse:

— Bren... Ele está aqui.

— O que?! De quem está falando?

— Nosso pai... Ele está aqui... Simbolizado pelo Viktor. Novamente um mestre mestre tatame milenar... Nós conseguimos, Bren!

— Conseguimos, mana!

No outro lado, Sr Taotao comentou com Mu:

— Isso me traz muitas lembranças boas...

— Hm... – Resmungou, cruzando os braços.

— Eu treinava assim quando era mais jovem. E não faz muito tempo que eu...

Mas antes que continuasse a conversa, Sr Taotao percebeu que o feneco havia se levantado. O vento caminhando para fora do dojoh, o panda vermelho perguntou:

— Ué... Mu, onde está indo?! O treino está quase terminando...

— Cansei disso... Já deu.

— Como assim?!

— Vou esperar na caminhonete. Lá eu fico mais a vontade...

— Ah... Tudo bem, então. Logo nos encontraremos.

— Tudo bem...

Mas antes que deixasse o lugar, um pensamento amargo tomou sua mente:

— *Desgraçado privilegiado... Essa gente não percebe que tudo isso é revoltante? Um stranger fracassado como ele treinar... Esse imbecil não sabe onde está... e isso me irrita muito! Agora vai ficar aí falando groselha e achando ele o tal... Isso me dá náuseas...*

Com o feneco saindo do dojoh, o treino seguia para seu fim. Viktor novamente ordenou que todos se agrupassem para a saudação final.

— Sensei ni rei... OSSI! – Todos reverenciaram e falaram ao mesmo tempo.

E nesse meio tempo, uma alguém observava nas sombras a movimentação no dojoh, escondido por detrás de um dos tapumes do lugar. Com um de seus olhos sendo iluminado, era Aak, que disse:

— Huhuhu... Interesting...

Ao fim do treino, uma satisfação imensa veio no olhar de Viktor, que foi as lágrimas por ter conseguido dar sua primeira aula como mestre. Todos se juntaram a ele no centro, principalmente Lilac, que disse:

— Porque está chorando, Viktor?!

— Eu... Eu nunca pensei que iria estar onde estou, fazendo o que fiz... Com total certeza meu mestre estaria muito orgulhoso de mim... E tudo isso por causa de vocês...

— Ora... Todos nós te apoiamos, Viktor!

— Essa parada, Vik! – Disse Carol, o abraçando pelo pescoço – Fora que tá quase na hora da bóia, hehe!

— Carol, tenha modos!

— Ih qual foi? Tu tá cheia de rango que eu sei, purpulinda!

— Isso não é verd... – Um ruido estranho veio do estômago da dragão.

O tom de pele de Lilac logo mudou para para vermelho em seu rosto, causando vergonha. Mas causou outra coisa também: risos de todos, com Milla falando:

— Hahaha! Agora vou te chamar de Red lilac!

— Hahaha! Gostou, vermelhinha? Até a Milla tá te gastando! Gostei, nyah! :3

— Ah... Parem... Parem vocês duas! O///O

A animada confraternização rendeu por mais alguns minutos, onde todos deixaram o tatame. Brendan e Bonnie logo providenciaram o banho dos internos para enfim o esperado jantar.

E enquanto caminhava para fora do templo, Viktor parou por alguns segundos e olhou para o dojoh fechado. Isso chamou a atenção de Milla, que disse:

— Viktorius, o que foi?

— Hm... O Aak.

— Aak? Você falou esse nome antes do treino começar... Quem é esse aí?

— Um felino que sabe mesmo lutar, mas...

— O que tem?

— Ele também faz parte do templo e principalmente da turma... Eu queria mesmo que ele estivesse no treino.

— Mas o Sr Brendan não disse que ele não gosta de ficar perto de gente?

— Sim, mas... Ele não pode ficar sozinho. Isso é ruim pra ele, Milla.

— Ah entendi. Então porque você não vai lá falar com ele?

— Da última vez que eu tentei isso, o cara me derrubou em dois movimentos. Ele é um ninja, então... Eu não sei, Milla. Isso me incomoda, o fato dele estar sozinho... Mas não posso força-lo a fazer as coisas. Isso tem que partir dele.

— É verdade, Viktorius... Bem, vamos. As garotas já foram lá pra fora...

Essa preocupação ainda martelou na mente de Viktor, que acompanhou Milla, mas se manteve pensativo.

Minutos depois...

Sallo Temple | Exterior do templo

Reunidos próximo a caminhonete de Mu, Lilac, Carol, Milla, Viktor e Sr Taotao conversavam. O assunto em si eram os planos para a semana, mas...

— Que tá pegando, Vik? – Disse Carol, preocupada.

E não era pra menos: o jovem estava calado, como se estivesse com a cabeça em outro lugar. E Lilac insistiu:

— Viktor, você está bem?

— Hã?! Ah... Eu estou sim, só que...

— Que houve? Fale logo!

— Eu não consigo aceitar que o Aak simplesmente não apareceu! Estava tentando compreender, mas não tem lógica!

— Aak? Espera... Eu lembro dele. É aquele felino que você trouxe até o salão do Sallo Temple após conversar com a Xiaohuang. Agora que você disse isso, é verdade.

E Milla situou bem a turma com o assunto:

— O Viktorius queria ele na aula. Por isso que está assim preocupado... Não é, Viktorius?

— Ah... Bem... É verdade, Milla. Mas o que eu poderia fazer? Já acabou a aula e...

Lilac não deu tempo para que Viktor terminasse o que iria dizer e deu sua opinião:

— O que você está esperando?

— Hã? Como assim, Lilac?

— Quero saber o que está esperando pra você ir até lá e conversar com ele! Você é o mestre, mestre! Hehe... Bobo, se ele é seu aluno...

— Mas Lilac... Os irmãos Sallo já estão providenciando o jantar dos internos do orfanato e...

E dessa vez foi Carol, que o puxou pelo braço, dizendo:

— Beleza, Vik... Agora vai lá... Coloca o bichano no lugar dele!

— O que?! Você quer que eu o obrigue a ir a aula? Não... Isso é errado!

— Errado o que, mané? O cara deve tá rindo de você agora... Postura, Vik! Vai lá e usa seu tempero de convencimento patenteado que só tu tem!

— Do que está falando?!

E ela, levando seu rosto até próximo a orelha don jovem, disse cochichando:

— Piá... Cara, tu é sinistro nessas coisas, saca?

— Como é?!

— Ah vá... Piá, tu encantou a felpudinha guardiã lá de Shang Mu. Não pode deixar um bichano folgado cabular aula!

— Ca-ca-carol... Você está falando da senhorita Len-lenzin?! – Viktor ficou mesmo envergonhado.

Mas Lilac ouviu um pouco da conversa e:

— Hã?! O que tem a Lenzin?

— Uh?! Nada, divalinda... Nada, meu amor! :3

— Eu ouvi o Viktor falar o nome dela! O que estão falando aí?

E até Viktor se esquivou:

— Nada não... Só uma lembrança, sabe?

— Hm... Lembranças... Sei... Tem coisa aí entre a Carol e você... e a Lenzin parece fazer parte!

— Ei, calma... Está com ciúmes, lindragão? – Carol provocou Lilac.

— Eu não estou, Carol! Eu não vou cair no seu jogo! E Viktor, trate de ir até lá dentro e mostre quem você é para o Aak!

A Lilac estava mesmo falando sério para que o jovem humano fosse até o felino. E ele, um pouco sem jeito, disse:

— É sério mesmo que vocês estão me incentivando a fazer isso?

— Você quer fazer isso... Então você tem que fazer isso!

— Tudo bem, Lilac... Eu vou, mas quero que sigam para casa. Eu não sei se irei demorar, mas prometo que irei chegar a tempo para fazer o jantar.

— Isso que eu queria ouvir! Decidido e patriarca!

— O que?! – Novamente confuso estava o jovem.

— Hehehehe... Vai logo, Viktor! Hehe... Você fica fofo quando está confuso.

E diante a pressão, ele seguiu para dentro do templo.

Durante esse meio tempo, Sr Taotao ouviu a conversa deles e, retornando até a caminhonete, Mu disse a ele:

— Beleza... Hora de irmos, não é?

— Não... Ainda não. Pelo menos não você.

— Como é?

— Mu, você ouviu a conversa. Quero que espere Viktor.

— Você está mesmo falando sério?!

— Sim, ora essa! O garoto vai voltar sozinho pra casa, então...

— O senhor quer que eu o leve para casa... Como se eu não soubesse...

— Você tem que parar com esse comportamento, sabia? Já está ficando chato ter essa inimizade com ele...

— Eu irei falar novamente: eu não gosto dele! Será que não é melhor chamar uma carona ou...

— Basta! Mu, se você quiser continuar trabalhando pra mim, então é melhor que você espere o Viktor e o leve são e salvo pra casa!

— Mas eu sou um freelancer! Eu que sou meu próprio patrão!

— Ah é? Beleza... Então o que acontece se eu não te pagar, “patrão”? Estou te pedindo algo simples, que você sabe fazer e que está deixando assuntos pessoais te influenciar! Tudo bem, você não gosta dele, mas você precisa trabalhar... e você sabe disso! Então só o leve pra casa em segurança e tudo ficará bem!

Mesmo diante a negativa de Mu, Sr Taotao exigiu que o raposa feneco fizesse o que pediu. Mesmo contrariado, Mu decidiu cooperar, já que:

— ... eu preciso das gemas. Só por isso eu vou fazer. E pelo respeito que tenho pelo senhor.

— Ótimo... E aprecio o que disse a mim. Agora só espere pelo Viktor, leve-o para casa em segurança e estará liberado.

Acordado o trâmite, isso não impediu de Mu ter pensamentos. Enquanto Sr Taotao se despedia das garotas e avisava de que Viktor seria levado pra casa, podíamos ver o feneco observando ao grupo enquanto pensava:

— *Esse stranger fracassado, tendo privilégios deles... Quem ele pensa que é? E essa gente que fica passando pano e agradando o desgraçado... Porque isso? Ele não tem nada de mais a oferecer e eles insistem com isso? Ele não merece... Definitivamente não merece metade do que tem aqui! Isso me irrita, me incomoda muito... Eu tenho nojo dessa situação! Mas tudo bem... É só eu ter paciência e esperar sua queda, stranger fracassado... É só uma questão de tempo...*

Minutos depois...

Sallo Temple | Salão principal

Era hora do jantar. Com os internos do orfanato já arrumados, estavam se alimentando a grande mesa enquanto Viktor conversava com Brendan. O assunto? Bem:

— Então você quer que o Aak faça parte da aula...

— Isso mesmo! Eu vou conversar com ele e cobrar isso.

— Ah sim... Você vai conversar com ele e vai cobrar... Eh, mana?

E Bonnie, que estava servindo suco, disse:

— O que foi?

— O Viktor quer conversar com o Aak e cobrar para que faça parte da aula amanhã. O que você acha disso?

A coelha começou a rir, fazendo até com que os internos fizerem o mesmo. Sem entender, Viktor disse:

— Porque estão rindo?!

— Hehe... Meu rapaz, sério... Você fez um imenso trabalho aqui hoje e eu reconheço que nem eu ou até minha mana tivemos essa calma e acessibilidade sua de conquistar nossas crianças, mas o Aak é uma coisa bem fora da curva.

— E porque?

— Ele prefere ficar sozinho, treinar sozinho e ficar nas sombras. Não entenda mal: ele não fica com pensamento de adolescente revoltado com a vida nem nada. Ele só quer ficar na dele, foi o que ele exigiu. Então respeitamos isso.

— Mas então porque ele não está aqui jantando com todo mundo?

— O Aak se alimenta quando acha que deve. Ele está bem de saúde, caso queira saber. E Viktor: ele é o mais velho daqui, tem 15 anos. Ele tem autonomia sobre o que quer fazer da vida e não podemos obriga-lo a nada.

— Ah eu entendi. Mas eu posso ir conversar com ele, não?

— Escute, jovem... Ele...

Bonnie interrompeu seu irmão, por ter se lembrando de como Viktor disse que Aak o tratou no primeiro dia que se conheceram.

— Bren, deixa ele ir.

— O que?! Mana, ele não conhece o Aak!

— Mas o Aak conhece ele. Isso já é mais do que qualquer um conseguiu dele. Então devemos dar um voto de confiança.

Esse mistério deixou Viktor um pouco assustado.

— Vocês falando assim até parece que não querem que ninguém se aproxime dele... O que tem de tão grave em conversar com alguém?

— Digamos que o Aak não é o melhor exemplo de “pessoa sociável”, mas ele parece ter te aceitado nos domínios dele... – Disse Bonnie, terminando de servir ao internos.

— Ah... Obrigado? Eu posso ir então?

— Pode sim, Viktor. E eu agradeço por seu empenho.

Liberado para prosseguir ao interior do templo e do dojoh, o jovem recebeu um aviso de, pasmem, Shoiji:

— Viktor... Tenha muito cuidado... e boa sorte.

— Hã?! Ah bem... Obrigado, eu acho...

E mais alguns minutos depois...

Sallo Temple | Interiores escuros

Passando pelo dojoh, onde Viktor deixou seus pertences, o jovem caminhou para até além dos tapumes que dividiam as áreas adjacentes do templo do dojoh, onde a escuridão tomava conta. Sabendo de que Aak poderia estar ali, ele então disse:

— Aak, você está aí?

E uma voz sussurrante foi ouvida em tom de deboche:

— No... Huhuhu...

— Como é?! Aak, pare de se esconder e apareça!

— Huhuhu... No.

— O que você está fazendo não é legal, sabia? Eu quero conversar com você e...

Antes que completasse a frase que iria dizer, Viktor foi acertado por um vulto que, após ir ao chão de costas, o jovem pôde ver que se tratava de Aak. O felino, que estava sobre o corpo de Viktor e o imobilizando, disse:

— Huhuhu... então você é o “Viktor-sensei”...

— Me solte, Aak! Para com isso!

— Man, I like how you fight, but your martial art is old-fashioned...

— O que?! Como ousa dizer isso? Me solta e eu vou te mostrar quem é o antiquado aqui!

— Huhuhu... You are very slow... and weak.

— Você quem pensa! Diz isso porque me pegou de surpresa!

— Not quite... Dude, I'm a ninja... and ninjas are superior!

— Diga isso para o Spade! Sabia que eu o golpeei com toda minha força?

— Spade?! Você conseguiu fazer isso?! Don't play with me like that! This is impossible! This must be a joke!

— Pensa que é brincadeira, é? Pergunte a Lilac depois...

Aak então soltou Viktor, executando um salto para de volta as sombras. Com o jovem humano se levantando, logo tomou novamente a palavra:

— Porque está fazendo isso comigo, Aak? Apareça!

— Eu gosto de você, but...

— Hã? O que tem?

— You are in my domains. As a way of respect for you being a Natural because you haven't nirvana, I will only use physical blows to kick you out of here, "viktor-sensei"... Huhuhu... Saia daqui agora... or I will put you off by force!

— Como é?! Você não pode fazer isso comigo!

Nesse meio tempo de palavras ditas, Viktor recebeu um golpe no rosto tão rápido que não pôde ver de onde veio. Aak o acertou, dizendo:

— There are more punches where this one came from...

— Grr... Aparece, covarde!

E desta vez mais dois golpes foram recebidos por Viktor, em seu rosto e barriga, o fazendo até ficar sem ar por um tempo. E Aak provocou ainda mais:

— I’m having fun with this. I could do this for hours... Huhuhu...

— Pare com isso e apareça, Aak!

— Você vai aguentar mais socos, viktor-sensei? Huhuhu...

— Aak, pare com isso! Você não sabe que fazer esse tipo de coisa é falta de respeito?

E quem disse que ele deu ouvidos a Viktor? Ele voltou a golpeá-lo, desta vez três vezes em seu dorso e costas, fazendo-o até a se desequilibrar. E Aak continuou:

— One, two, three... are you ready for four, viktor-sensei? Huhuhu...

— SEU MOLEQUE! PARA COM ISSO!

— What are you going to do, viktor-sensei? What are you going to do? Back off or remain my punching bag? Escolha, viktor-sensei... Huhuhu...

Viktor estava numa situação complicada. Ele sabia que deveria conversar com Aak, mas estava diante de um jovem que ditava as próprias regras e que estava invisível naquela parte escura do templo. Conhecendo bem “seus domínios”, Aak deixou Viktor acuado e sem ação. Temendo ser golpeado novamente e já perdendo a paciência, entre só pensou em sair dali calado. E o vendo fazer isso, Aak disse:

— Huhuhu... Bye bye, viktor-sensei... Huhuhu...

Embora Viktor tivesse mesmo recuado, isso não queria dizer que:

— *... não estou desistindo de você, Aak.*

Minutos depois...

Dojoh Sallo Familly | Tatame

— O que eu vou fazer pra esse felino folgado me ouvir?

Essa era a dúvida de Viktor, que estava ainda de kimono e sentado ao centro do luar de treinamento do templo. Um pouco frustrado pela primeira tentativa sem sucesso de aproximação a Aak, o jovem pensava em como chegar enfim até ele. E tentando pensar em alguma estratégia, ele dizia pra si mesmo.

— Hm... Eu poderia tentar ser como a Lilac...

E nos pensamentos dele:

“Olha, eu quero mesmo te entender e saber do que precisa, Aak. Então venha e vamos conversar para chegar a um entendimento como amigos. Vamos então? Se eu entrar no seu jogo, vamos ter de lutar e isso não vai terminar bem... pra você!”

Mas...

— Não... Tenho certeza que ele me golpearia mais forte e eu não tenho a velocidade da Lilac pra evitar tudo que ele tem...

E ele continuou:

— Poderia então a agir como a Milla...

“Oi, tudo bem? Olha... Eh... Nós podemos ser amigos? Prometo ser bem legal e a gente pode ir até a sorveteria tomar um delicioso sorvete de chocolate... Então, você não quer ser meu amigo? Vamos... E ainda poderemos ver o por do sol juntos...”

Entretanto...

— Não... Na certa ele teria pena de mim e só não iria me golpear por ser fofo... Não, isso não tem como funcionar...

Bem, no desespero, ele então pensou:

— Ah sim... Poderia agir como a Carol...

“Qual é, bichano? Se ficar de saca comigo, eu vou te encher de moca! Então deixa de ser vacilão e mostra a face aí... Vambora! Tu quer treta, né? Então... Parte, menor! Parte... Enfrentei muito baile funk pra um fedelho trevoso como você vir aqui e querer tirar onda da minha cara!”

Todavia, essa era a pior escolha, já que Aak queria exatamente isso e estava na vantagem por causa do ambiente. Mas Viktor teve uma ideia que poderia mudar isso:

— Espera... É isso! Eu já sei o que fazer! Se ele tem vantagem lá, então eu tenho que criar uma vantagem pra mim! Essa forma da Carol agir vai me ser útil pra bolar uma estratégia de chegar até o Aak!

Sendo assim...

Dojoh Sallo Familly | Minutos depois

O lugar estava escuro, com somente uma venda acesa.

O silêncio imperou o lugar aquele instante.

Não havia absolutamente ninguém no tatame, a não ser o objeto luminoso, com a chama imóvel.

Sequer havia movimentação do ar, o que causou ainda mais uma sensação de quietude.

Porém, quebrando esse silêncio, uma voz sussurrante foi ouvida.

— Aak... Aak...

Isso chamou a atenção do felino, que se encontrava nas sombras, como de praxe. Mas podíamos ver, mesmo que a escuridão atrapalhasse, suas orelhas se moverem, sensíveis ao sussurro inesperado. Curioso como ele era (natural dos felinos), ele rapidamente se moveu buscando um bom lugar para saber de onde veio o som. E o sussurro continuou:

— Aak... Aak... Pspsps...

Esse último ruído pareceu incomodar um pouco o jovem felino, que deixou as sombras e foi em direção ao tatame. Lá, observava a chama da vela que iluminava o lugar, caminhando ao encontro dela. Com sua franja cobrindo um de seus olhos, já que sua cabeleira era cheia, seu olhar de curiosidade parecia lhe torturar, já que não via ninguém.

Mas para sua surpresa, eis que de uma das entradas do dojoh surgiu Viktor, mas havia algo diferente: ele estava sem kimono, vestido só de calças. Seu cabelo estava bagunçado como o de Aak, com vários fios a frente de seu rosto, que mostrava um semblante sério e nervoso.

Music: It’s a Fight

Composer: Three 6 Mafia

Special event: Breaking rules

E segurando seu celular, ele deu play no reprodutor de áudio, com uma música sendo iniciada, com Viktor cantando junto ao arranjo sonoro:

  Yeah, yeah... We ain’t playin’ wit’cha... Step yo ass up! What you wanna do, get yo ass knocked down... What you wanna do, get ready! What you wanna do, Three 6 Mafia, mafia! — Cantou, apontando para Aak –  Let’s go! What’s up?! Yeah... We ain’t playin’ wit’cha, it’s goin’ down, it’s goin’ down!

As batidas ao ritmo frenético e pesado do hip-hop, estilo musical preferido de Viktor, começaram a ecoar pelo lugar, deixando Aak sem ação. O felino, ainda mais confuso, disse:

— What the hell are you doing?!

— Não entendeu? Tô indo com tudo, Aak... Com você é isso: não vai ser com amor... VAI SER NA DOR! – Disse Viktor, enrolando sua faixa preta em sua mão esquerda.

— WHAT?! Are you crazy, man? I'm much stronger than you, stranger!

— Stranger, é? Hehe... Está nervoso, Aak? I haven't even started, kid!

— What did you say?! GRR... You don't know who you're talking to, Viktor-sensei!

— What are you going to do now, Aak? GET READY! – Disse, jogando seu celular para sobre sua mochila.

 

♪We gon’ hit ‘em wit da left, hit ‘em wit da right

We gon’ hit ‘em wit da left, hit ‘em wit da right

It’s a fight it’s a fight head bust ‘em head bust ‘em

It’s a fight it’s a fight head bust ‘em head bust ‘em♪

 

Viktor correu então em direção a Aak, numa postura totalmente inesperada. Sem perder tempo, ele começou a desferir socos e chutes contra o jovem felino, que conseguia se esquivar facilmente. Mas:

— *What does he want with this?! I think I exaggerated the blows and that must have hurt him, this crazy guy...*

 

♪We gon’ hit ‘em wit da left, hit ‘em wit da right

We gon’ hit ‘em wit da left, hit ‘em wit da right

It’s a fight it’s a fight head bust ‘em head bust ‘em

It’s a fight it’s a fight head bust ‘em head bust ‘em♪

 

O jovem humano não parecia parar, insistindo no ataque e chegando a fazer Aak recuar. E conhecemos agora um lado obscuro de Viktor:

— Sentiu, Aak? Você deu três passos pra trás... Hahahaha! Are you scared, kid?

— Don't tease me, man! Senão...

— Então vai... Bring it on, Aak! – Provocou Viktor, abrindo totalmente a defesa.

Situando melhor os leitores, Viktor estava em uma base livre. Ele não se propôs a usar karatê, pois não estava se portanto como um carateca. O estilo musical o levou a um estado mais caótico e opressor... sem se preocupar com regras.

Era o estilo das ruas, da malandragem e esperteza.

Viktor deu lugar a seu jeito honrado e atencioso de lutar para:

— That's Carol's style, kid! Vou usar esse jeito dela um pouco pra te colocar no chão!

— What? You're not serious... YOU WILL NEVER MAKE IT, DUDE!

— Você vai beijar a lona, Aak!

 

♪See I’m the king of the ring ring

Ring the bell and I’m comin’ out swing swing

Swingin’ left swingin’ right till they ding ding

He hit da ground bounce up like a spring spring

Hit ‘em again now like a birdie start to sing sing

Bright lights cameras flashing like bling bling

He started seeing things now I got ‘em hands and knees

On the floor crawl up to the corner crying

I’m the man there’s no defeating

The ground you will be eating

I’m ready sharp non stop this is easy

Put‘em out da game like his name is Milli Vanilli♪

 

Aak partiu para cima de Viktor com tudo, o golpeando forte em sua barriga com socos e chutes. Mas o jovem parecia estar ciente de que iria receber os ataques, para surpresa de Aak.

— YOU ARE IN MY DOMAINS!

— Não... Você que está em meus domínios, Aak!

— O que?!

Lembram da faixa que Viktor enrolou em sua mão esquerda? Pois bem, isso teve um fundamento: aproveitando que Aak estava o golpeandos sem pensar, Viktor aproveitou e a enrolou em seu braço e ao de Aak, o prendendo. Tudo era um plano para pegar o felino, lembram?

— O que?! Mas...

— Está preso, Aak! E eu não sou a Neera!

— GRR... LET ME GO, DUDE! THAT'S NOT FUNNY!

— Huhuhu... Não era assim que você ria? It's time for you to fall, Aak!

— NEVER!

Como estava com um dos braços presos, Aak perdeu uma de suas vantagens que era ter mais agilidade que Viktor. Mas, diante isso, decidiu usar suas pernas, chutando o jovem humano. Mas Viktor pensou em tudo antes: ele também prendeu Aak em uma de suas pernas usando a faixa azul da Família Daiyamondo!

— What? How did you do it?!

— Huhuhu... Está surpreso, Aak? Eu estava segurando essa faixa com meu dedão do pé. Você nem viu, né? E ainda diz que é um ninja... Você vai perder para um stranger! Hahahaha!

— NO KIDDING! NO WAY! Isso que voc... – Ele foi interrompido bruscamente.

Aak engoliu suas palavras pois Viktor puxou a blusa chinesa do felino e a levantou, cobrindo sua cabeça. Pego de surpresa, Aak ficou sem ação e totalmente confuso. As coisas pioraram para o jovem quando Viktor pegou sua faixa preta e enrolou em volta de Aak, prendendo seus braços e ficando por sobre seu corpo.

 

♪We gon hit ‘em wit da left, hit ‘em wit da right

We gon hit ‘em wit da left, hit ‘em wit da right

It’s a fight it’s a fight head bust ‘em head bust ‘em

It’s a fight it’s a fight head bust ‘em head bust ‘em♪

 

Prendendo Aak e usando seu próprio jogo, Viktor parecia se divertir ao ter finalmente conseguido prender o felino.

— E o juiz começou a contagem! Um, dois, três, quatro, cinco...

— NO WAY! LET ME GO, VIKTOR!

— Parece que o jogo virou, Aak! Vai tocar a sineta!

— NOOO!

 

♪We gon hit ‘em wit da left, hit ‘em wit da right

We gon hit ‘em wit da left, hit ‘em wit da right

It’s a fight it’s a fight head bust ‘em head bust ‘em

It’s a fight it’s a fight head bust ‘em head bust ‘em♪

 

Parece que alguém tomou do próprio remédio.

Enquanto isso...

Sallo Temple | Salão principal

Os internos, após o jantar, estavam assistindo TV antes de irem dormir. Enquanto se divertiam com o programa, Bonnie arrumava a mesa e Brendan limpava a louça. Porém a coelha logo comentou:

— Bren, já fazem vinte minutos que o Viktor foi lá falar com o Aak e ainda não voltou. Estou preocupada...

— Fica tranquila, mana. O Aak tem o jeito dele, mas não faz besteira.

— Sim, mas ele pode passar dos limites! Você sabe como ele é, de querer ter seu espaço respeitado.

— Calma... Se acontecesse algo, nós saberíamos.

— Está muito calmo lá... Isso não é normal e você sabe disso!

— Hm... Tudo bem. Vou terminar aqui irei dar uma olhada.

— Uma coisa que eu não te disse: o Aak, na última vez que esteve com o Viktor, disse que gostava dele. Você sabe o que isso quer dizer, né?

Brendan arregalou os olhos após receber essa notícia. O porquê? Bem...

— Pelos deuses de Avalice, Bonnie! Porque você não me disse isso antes?!

— Porque não sabia que o Viktor iria querer conversar com ele!

— O Aak vai fazer besteira! – Disse, largando os pratos – Tenho que ir lá agora e salvar o cara! Nossa... Bonnie, não deixe que eles saibam, está bem?

— Tudo bem... Mas vá logo!

A pressa de Brendan era proporcional a sua preocupação. Correndo pelos corredores, ele seria em direção ao dojoh no outro lado do templo. Mas...

De volta ao dojoh...

 Riders on the storm... Riders on the storm... Into this house we're born... Into this world we're thrown, Like a dog without a bone, An actor out on loan... Riders on the storm!

Sim, era uma canção. Estavam cantando.

Isso mesmo. Estavam cantando.

Viktor e Aak.

Sentados e se divertindo enquanto cantavam juntos o refrão que se repetiu várias vezes.

 RIDERS ON THE STORM... RIDERS ON THE STORM...

Os dois soltaram a voz, empolgados. Estavam até abraçados inclusive.

Ao fim da música, Aak era o mais animado, dizendo:

— This song... I LOVE IT!

— Hehe... Eu também. Uma de minhas favoritas. Snoopy Dogg interpretou bem a canção do The Doors...

— “Riders on the Storm”... I want to hear it one more time!

— Já ouvimos e cantamos três vezes! E você na segunda vez já sabia a letra... Incrível!

— Huhuhu... I learn fast! – Sinalizou positivamente Aak, fechando seus olhos e expressando um sorriso de satisfação.

— Estou vendo... Hehe...

Vocês podem não acreditar, mas Aak estava tão a vontade com Viktor e apoiou sua cabeça ao ombro do jovem mestre. E Viktor, aproveitando o momento mais descontraído, disse:

— Aak, porque você fala mais em inglês? Bem, você entende perfeitamente o que eu digo não é?

— Yep...

— Então porquê você fala em inglês?

— Inglês? Hm... De onde você veio é assim que se chama?

— Ah entendi... Aqui vocês dão outro nome.

— Ancestral language. São de povos antigos... Meu clã usava como um código.

— Entendo... Mas porque você usa o tempo todo?

— Eu me expresso melhor assim. I show my feelings better that way. It was like that all the time with my clan... – Disse, ficando um pouco triste.

Viktor percebeu que tocou em um ponto sensível do jovem. Então ele logo tratou de mudar de assunto:

— Você é forte, Aak. Não só forte como habilidoso e muito inteligente... Porém você é temperamental. Foi assim que te venci!

— Hm... You weren't fair to me! Used cheating!

— Hahaha! Desculpa, não queria fazer isso. Mas acho que só quebrando as regras que iria conseguir te convencer a conversar.

— Hm... I'll let it go this time... But don't be careless, because I'll attack first!

— Hehe... Tudo bem. Você é legal.

— Também te acho um cara legal, Viktor-sensei.

— A Alekzandra iria gostar de conversar com você, sabia?

— Hm?! Why?

— Vocês são muito inteligentes. E talvez você ter contato com ela podia te ajudar a ser menos temperamental.

— Hm... Você está querendo que eu faça parte da turma, não é?

— Sim... E como eu te venci, tenho o direito de te pedir isso.

Aak afastou seu rosto do ombro de Viktor e, o olhando sério, disse:

— Eu gosto de você, Viktor-sensei. But...

— O que foi?

— Quero algo em troca agora.

— Algo em troca?! Como assim?

— Eu vou te pedir algo agora... So you’ll to give me as a sign of trust.

— Mas porque? Você não confia em mim?

— É um código de honra dos ninjas. “You want my secrets, so tell me yours". Você conhece minha história, mas eu não a sua.

— Mas o que você quer de mim?

— Seu segredo... Eu sei que tem. E eu quero ele.

— Meu segredo?!

— If you have one, I want it.

Viktor olhou para Aak de volta, entendendo que ele estava mesmo falando bem sério. E sabendo de que teria de compartilhar algo bem íntimo, não pensou duas vezes:

— Aak, eu tenho muito em comum com todos vocês daqui do orfanato. E é mais um motivo de eu estar aqui junto com vocês...

— Viktor-sensei...

— Eu... eu também sou órfão.

— Vi-viktor-sensei?!

— Eu perdi meus pais e, anos depois, minha avó, com quem eu vivia... Eu sinto falta deles, Aak... Sinto falta do meus amigos, meu mestre...

— Ah... Viktor-sensei... – Disse, o abraçando.

— Mas eu estou aqui com vocês agora, fazendo o que eu puder pra fazer o certo... Então, eu não estou sozinho. E eu não quero que você fique sozinho, Aak. Então... Faça parte da turma amanhã, tudo bem?

Aak então se levantou e andou em zigue zague por detrás de Viktor, que estava sentado ainda. E do nada, o ninja felino pulou nas costas do jovem o abraçando com força, dizendo:

— DARE DARE! If the gang needs a ninja, then you'll have one! DARE DARE!

— HAHAHAHAHA! – Viktor riu com vontade – Puxa... Haha... Bem vindo a turma, Aak!

— Huhu... Thanks, Viktor-sensei!

A confraternização de mestre e aluno não podia ser melhor. Mas...

— VIKTOR?! AAK?! Vocês estão... SE ABRAÇANDO?! Isso... ISSO É IMPOSSÍVEL!

Os gritos de Brendan deram mesmo o tom de que o que o coelho estava vendo era algo inesperado. E por alguns segundos ele ficou imóvel, observando os dois se dando bem.

Alguns minutos depois...

Após os eventos do dojoh, Viktor, com a ajuda de Aak e Brendan arrumaram o lugar antes do jovem seguir para sua casa.

No lado de fora, Viktor se despediu dos irmãos Sallo e, em seguida, entrou na caminhonete de Mu, mesmo que isso fosse algo que incomodasse muito o feneco. Mas como combinou com Sr Taotao, ele enfim seguiu com o trato.

Shenlin Park Streets | Noite adentro

— Obrigado pela carona, Mu.

— Hm...

A animação de Viktor contrastava com a indiferença de Mu, que seguida guiando seu veículo pelas ruas escuras da região. Mas Viktor insistiu:

— Você dirige bem, sabia?

— ... – Mu se limitou a olhar para frente.

— O que foi? Porque está calado?

— Primeiro: eu não tenho que te dar satisfação alguma. Segundo: eu não gosto de você. Terceiro: infelizmente eu tenho que te ouvir, mesmo que eu não vá conversar com você... Está bom ou quer mais motivos?

— E onde que conversar é algo ruim?

— Conversar com você que me incomoda. Era isso que eu quis dizer, mas pelo visto você também fracassa em entender os outros...

— Eu entendi o que você disse, está bem?

— Mesmo? Parece que não. Se sim, não estaria conversando comigo!

— Porque você não gosta de conversar comigo?

— Não... Eu não gosto de você. Só isso já une tudo!

— Então pra você ficar feliz eu devo me manter calado e ver a paisagem até você me deixar lá em Dragon Valley?

— Parabéns! Era isso mesmo que você deveria ter feito desde que entrou no meu carro!

Por cinco segundos Viktor ficou calado, mas:

— Qual o seu problema, Mu?

— Você é o problema!

— Porque?

— Ah cara... Sério, para de falar comigo, pode ser? Só fica aí calado e me deixa te levar na paz... Não fala comigo, não diz nada!

— Está bem, Mu. Vou facilitar pra você...

— Muito obrigado, fracassado!

— Como é?!

— O que foi? É porque te chamei de fracassado? Se sim, só disse a verdade e dane-se se não gostou... Agora fica calado!

— Não tem como ficar calad... – Ele mesmo se interrompeu.

O porquê disso? Eles estavam passando por uma área mais distante do centro, estando no subúrbio. E por disso haviam indivíduos com hábitos estranhos pelas ruas. Porém um especial chamou a atenção de Viktor: era Yan Shi, que caminhava carregando uma caixa com o símbolo da The Red Scarves. O jovem logo teve uma reação imediata:

— Mu, para o carro!

— O que?! Você tem noção de onde nós estamos, seu fracassado?

— Não quero saber... O Yan Shu estava carregando uma caixa suspeita!

— E daí? Cara... De novo com essa história?

— Eu tenho que ir lá ver pra onde ele está indo!

— Ah sim... Claro... Aí você vai atrás, entrar em confusão e me levar junto para suas “atitudes heróicas”... Sem chances!

— Tudo bem... Eu não estou te chamando pra vir comigo! Só para o carro e me deixa aqui, pode ser?

— Não! O Sr Taotao disse pra eu te levar em segurança pra casa e eu vou fazer isso! Ele merece esse respeito!

— Eu me responsabilizo.

— Também não! Ele vai cobrar isso de mim! Cara, qual a sua dificuldade de manter esse seu traseiro stranger dentro da caminhonete e deixar de ser um maluco? Essa é a Xihan Zone, lar dos maiores arruaceiros de Shang Tu! Você não duraria um minuto contra qualquer um aqui!

Parecia que Viktor estava cego por fazer o que queria: ele saiu pela janela a força, para desespero de Mu:

— VIKTOR, SEU FRACASSADO! VOLTA PRA DENTRO DA CAMINHONETE!

— Vai embora, Mu! Eu cuido de tudo com o Sr Taotao... Não vou te envolver nisso!

— VOCÊ ESTÁ LOUCO?! VAI TER SORTE SE SOBRAR ALGUM PEDAÇO SEU SE FICAR AQUI!

Viktor começou a seguir Yan Shu, que caminhava rapidamente pelas calçadas sugar do lugar. Mu até pensou em estacionar, mas percebeu que todos em sua volta já perceberam sua presença e de quem se tratava. Com medo e preocupado, voltou ao volante, guiando seus caminhonete para fora da zona suburbana.

— Fracassado de uma figa... Idiota!

Isso não era um bom sinal. Principalmente por três indivíduos protegidos nas sombras observarem os passos de Viktor...

Continua.


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Notas finais do capítulo

Ufa! Que noite cheia de eventos, não?

Os planos de Royal Magister, a amizade entre Alie Sha e Izumi, o sucesso da aula, Aak entrando para a turma...

Mas porque Viktor foi se meter nesse lugar barra pesada?

No próximo capítulo: "Lutar pelo justo: fortalecendo laços"



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