First Love escrita por Lovelace


Capítulo 1
Todos os tons do céu




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Juvia Lockser suspirou pela enésima vez naquela fração de tarde.

O céu estava de um azul replanderoso, limpio como ela apenas estava se acostumando a ver. A brisa era morna e balançava seus cabelos numa suavidade gostosa, quase como uma carícia de consolo para aquele estranho emaranhado de sentimentos.

Fora exatamente ali que tudo mudara há exatos oito meses — estava indo ali com uma frequência alarmante, algo como várias vezes na semana. O dia em que o vira pela primeira vez, que lutara e perdera por uma boba distração. Fora ali que lutaram pela segunda vez e que ela se recusou a baixar a guarda, acertando-o com força no abdômen e fazendo com que perdesse os sentidos.

Juvia ficara observando-o por um longo tempo, franzindo a testa pelo fato de sua mente estar gostando das proporções do corpo e do rosto dele. Ele era bonito, de uma forma um pouco áspera e gelada, assim como ela. A súbita vontade de passar a ponta dos dedos na pele dele e medir o calejamento dela quase a enloquecera de raiva. Era apenas um homem, mesmo que tivesse conseguido chamar sua atenção.  

Até que os amigos barulhentos dele chegaram, e ela fora embora suavemente, passando despercebida.

Desde então, não raras foram as vezes em que se esbarraram. E ela sabia que a maior parcela de culpa era dela; era a única a perambular pelo território inimigo, afinal. Mas existia algo em magnólia, mais precisamente em Fairy Tail, que a intrigava: eram sempre tão risonhos e felizes, trocando alvíssaras e socos e tomando barris de bebidas. Não houvera nada mais do que silêncios constrangedores e uma amigabilidade forçada por interesses maiores em Phantom Lord, que estava desfeita àquela altura.

Juvia começava a sentir uma espécie de inveja e desejo de fazer parte de algo semelhante, embora fosse meio estúpido de algo em voz alta, por isso mantinha apenas para si. Queria ter companheiros para brincar e fazer piadas maliciosas e soube o quanto depois que chegara ali.

Gajeel parecia ter ficado encantado com a pequena rata de biblioteca de Fairy Tail, e, assim, ela ficara presa naquela cidade definitivamente. Não poderia jogar sua única amizade sincera por um sentimento de insatisfação bobo. Fora algo como a cereja do bolo para que sua irritação fosse às alturas. Se Gajeel, indiferente e cruel como era, fora enlaçado pela paixão platônica, a mesma coisa poderia acontecer consigo?

Porque bastava um relance de Gray Fullbuster para seu coração começar a ficar mais acelerado que o voo de um beija-flor. Bastava uma troca de olhares para ela ter um enervante sentimento de que ele  parecia conseguir ler toda sua vida, e seus pensamentos, em apenas algumas pestanejadas casuais. Para que recordasse da humilhante vulnerabilidade que demonstrara certa vez, cheia de lágrimas e outras merdas.

E o pior de tudo era o fato do mago de gelo parecer imperturbável em sua presença. Era ultrajante e injusto ser a única patética. Às vezes, ele parecia tão ligado quanto Juvia, sentando-se perto dela e ficando calado, pensativo, apenas para depois dar as costas e desaparecer. Essa dubiedade era inquietante, pois a levava de um extremo a outro.

Juvia queria puxar todos aqueles fios escuros da cabeça dele até poder, finalmente, voltar aos sentidos. Seria um bom prêmio de consolação.

Ela levantou-se, esgotada, decidindo que já havia se martirizado demais pela semana inteira, antes de seguir para o pequeno quarto que alugara.

A parte oeste da cidade era infinitamente menos glamourosa que as outras, mais suja e mais perigosa. A única coisa que a incomodava, porém, era o lixo apodrecendo no meio das ruas como se fizesse parte da paisagem, deixando o cheiro tão pungente que era preferível morrer de calor do que abrir as portas da janela. Poças d’águas cheias de excrementos brotavam do chão e ela tinha que tomar cuidado para que não respingassem em suas vestes.  

Não havia muito o que fazer, apesar de tudo. Não era muito bem quista na cidade e, mesmo que fosse, seria quase impossível alguém priorizar uma forasteira à um membro de uma guilda secular, que provavelmente crescera por ali. Como iria se sustentar dali para frente era outra coisa que a atormentava, mesmo depois dos argumentos razoáveis e, tecnicamente, tranquilizantes de Gajeel.

Ele mostrava-se irritantemente otimista, o que era uma mudança tão brusca que, por vezes, deixava-a tonta.

Enquanto divagava em meio à maldições, Juvia notou um homem baixo e velho exatamente em sua porta, parado tranquilamente. Temendo que a lasca de madeira marrom e podre, que estava quase solta, caísse, ela se apressou para chegar até ele. Apenas a cerca de três passos dele foi que notou quem era: o mestre da guilda de Fairy Tail.

Surpresa, estacou e esperou, muda, que ele dissesse algo. O que não tardou em acontecer:

— Senhoria Lockser, me perdoe pelo horário, mas preciso conversar algo urgente com você e com seu amigo, o dragon slayer de ferro. Gajeel, não é?

O tom de familiaridade, como se já tivessem feito aquilo algumas vezes, fez Juvia sentir como se estivesse dormindo ou em um sonho paralelo.

— Ele deve chegar a qualquer minuto — respondeu ela, ainda perplexa demais para questionar qualquer coisa ou fazer uma saudação adequada. As palavras apenas saltaram de sua boca, em reflexo. 

Para ser justa, se fosse em qualquer outro momento, ela estaria fazendo alguma piada grosseira, mas não estava sendo a mesma há uns dias, sentindo-se confusa como nunca antes.

Ainda sem falar nada, abriu a porta e fez um convite para que ele entrasse. O cômodo tinha alguns pontos de mofo e não estava muito arrumado, graças a Gajeel. Apesar de sentir um leve rubor lhe subir as bochechas, Juvia sorriu educadamente enquanto o servia um copo de água. A situação como toda já era o bastante de constrangimento.

Apesar de velho, a voz de Makarov Dreyar era alta, jovial e cheia de energia, o que a irritou um pouco, mas não deixou transparecer (na verdade, não era exatamente a energia que a deixava desconfortável; seria muito bem-vinda em outra ocasião). Estava tensa, pensando nas possíveis causas que fariam um mago tão poderoso procurá-los.

Phantom Lord havia causado muitos danos à Fairy tail, talvez ele quisesse uma retaliação? Ou que fossem embora. Amaldiçoando Gajeel pela demora ao que julgava a milésima vez, deu um sorriso de canto para o homem, esperando que não notasse os nódulos brancos de seus dedos. A sorte é que ele continuava o monólogo sobre  como criara a maioria dos magos de lá desde criança, não se importando com uma resposta adequada.

Depois do que pareceu um século, Gajeel pareceu, Ficando tenso e exalando animosidade ao notar que Juvia não estava só antes mesmo de passar pela porta, o que piorou ao notar quem estava sentado confortavelmente em sua cama. Demorou alguns minutos para acalmá-lo, e algumas doses de água na cara. Makarov ficou parado placidamente, como se estivesse acostumado com tais recepções.

— Então, pode falar… , senhor — ele disse, completando no final um pouco de educação apenas pelo olhar carrancudo de sua amiga.

— Eu tenho uma proposta para fazer, meus jovens.

Juvia mordeu os lábios, sentindo um pouco de alívio. Não parecia que ele queria algo muito problemático, a julgar pelo tom conciliador de sua voz.  

— Pode falar — disse ela, cortando o resmungo de Gajeel.

— Quero que façam uma missão para mim. — Juvia e Gajeel soltaram uma exclamação repentina, olhando um para o outro, atônitos. Aquilo era mais surpreendente do que dizerem que a terra é quadrada, embora nem de perto como o que veio a seguir: — Como magos de Fairy Tail.

O silêncio a seguir preencheu o quarto muito mais do que qualquer grito.

 


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Notas finais do capítulo

♠ Capítulo não betado. Em caso de erros, por favor, avisem-me.



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