Namorada de Natal escrita por Sami


Capítulo 9
Capítulo 9: A minha família.




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Quando saímos do carro fizemos questão de nos juntar, Jéssica segurou minha mão dando a entender que de fato éramos um casal como qualquer outro e então demos os primeiros passos, seguindo em linha reta para a direção exata onde mentiríamos para todos. 

A cada passo dado, estávamos mais próximos de encarar a todos, apresentar oficialmente Camila como minha namorada; mentir o mais descaradamente possível sobre nosso relacionamento inexistente. 

Jéssica apertava minha mão conforme a distância até o salão diminuía, ouvi o momento exato em que ela respira profundamente e muda a postura, solta o cabelo e alivia o aperto em minha mão. Não sei ao certo o que ela pretendia fazer com a cena, mas torcia para que desse certo. 

Ao entramos encontramos o salão completamente vazio, o barulho estava vindo da parte de atrás da casa, onde a piscina e a churrasqueira estavam; obviamente estavam todos reunidos lá. Contudo avistei minha mãe, retirando o freezer grande duas garrafas de dois litros de coca cola, ao nos ver ela imediatamente parou e abriu um sorriso largo. Estava usando com um vestido longo florido; estampas floridas eram suas preferidas. 

— Diogo! — Exclamou meu nome, deixando as duas garrafas na porta do freezer e correu até nós. — Você e Camila vieram mesmo! 

Primeiro ela me abraçou, fungando minha roupa para verificar se eu estava mesmo perfumado, ela costumava fazer isso em festas ou qualquer reunião de família. Sempre dizia que não gostava de filhos fedidos. Em seguida ela envolveu o corpo de Jéssica com os braços finos e já pouco enrugados, num abraço mais caloroso. 

— Você está tão linda! Não está Di? — Eu consegui apenas concordar com a cabeça antes que ela retornasse a falar com Jéssica. Montando-se ainda mais entusiasmada com sua presença. — Di, você pode ir na frente? Eu preciso dar uma palavrinha com Camila rapidinho. 

Olhei para a morena com o cenho franzido, ela parecendo quase tão surpresa quanto eu. 

— Tudo bem. — Respondi dando com os ombros, sentindo a curiosidade sobre o que ela iria falar com Jéssica que eu não poderia ouvir. 

As deixei sozinhas, segui para os fundos, onde de fato a festa acontecia. A música mudou, tocava uma melodia onde a batida eletrônica predominava; impossibilitando o entendimento da letra cantada. Risadas eram ouvidas também, juntamente com alguns de meus parentes gritando mais alto que o outro, nada de novo. 

Olhei para trás, Jéssica não havia sido liberada por minha mãe e isso significava que eu teria de enfrentar a todos sozinhos. Ao enfim chegar e pisar no salão de festas dos fundos da casa, foi como se eu estivesse com alguma placa florescente que dizia para que todos dirigissem seus olhares para mim. Eu não esperava por este tipo de atenção, mesmo que a novidade da namorada tenha sido de longe o que mais pareceu atrair minha família. 

Toda aquela pressão de receber tantos olhares ao mesmo tempo não durou mais do que cinco segundos, logo todos já estavam voltando a suas atividades antes de minha chegada. Vi alguns de meus primos mais novos se divertirem na piscina, aproveitando o clima quente para ficar até tarde na água. Outros tentavam dançar, alguns conversavam enquanto bebiam. De fato, a festa em família estava feita. 

— Diogo rapaz! — Um de meus tios mais velhos por parte de pai veio me cumprimentar, o mesmo que começou com as piadas sobre minha vida amorosa inexistente. Otávio era o clássico tio crítico, sempre odiado pelos demais. — Quanto tempo!

Munido do clima mais familiar, fiz um cumprimento simples com a mão. Ele não era um de meus parentes preferidos, não por causa das piadas, mas por seus comentários ofensivos dos quais faziam parte de sua personalidade ruim. 

— Como você está? Ainda aceitando receber uma merreca como escritor ou decidiu enfim ser formado em alguma profissão? — Ao soltar a pergunta precisei esforçar-me para parecer o menos ofendido possível, ele era o único que não aceitava meu sucesso como escritor por não considerar isso um grande feito. 

Apesar de exibir-se em ter um sobrinho famoso e líder de vendas com meus best-sellers sempre quando conhecia alguma coitada que caia em sua ladainha para namoro. 

Estou indo muito bem, prestes a publicar meu décimo primeiro livro. — Respondi, deixando claro que sua ofensa quanto à minha profissão sequer me atingiu.  Manter conversa com ele era complicado, exaustivo, pois a cada pergunta sobre minha vida como autor, uma nova crítica era feita. 

Ele carregava uma lata de cerveja em mãos, bebia bons goles da bebida alcóolica enquanto remexia o corpo de um lado para o outro tentando acompanhar o ritmo da música a tocar. Logo ele olhou para os lados e riu, já sabia o que viria em seguida. 

— Então Diogo, e as namoradinhas? — Ele riu com a própria piada. — Cadê a sua namoradinha que tanto ouvimos falar? — Perguntou muito irônico, seu deboche deixava claro que ele não acreditava na existência de Camila. Ela realmente não existia, mas para todos era muito real. 

Surgindo como um gato silencioso, Jéssica inesperadamente agarra meu braço pegando a mim desprevenido por não tê-la notado. 

— Ela está bem aqui! — Ela diz antes mesmo que eu pudesse formular a resposta verdadeira e dizer que Camila estava conversando com minha mãe. — E mais real do que nunca! 

Seu tom seguiu com a mesma ironia usada por meu tio e isso claramente o irritou, pois ninguém ousava entrar em sua disputa particular de ironias. Eu não vi o momento exato em que ela chegou ou apareceu, mas agradeci mentalmente por isso ter acontecido. 

Otávio ficou sem fala por alguns segundos, a olhava de cima abaixo com o olhar analisador, mas eu sabia que meu tio estava apenas tentando procurar algo nela para que pudesse soltar um de seus comentários. 

— Você é o tio Otávio não é? Que legal te conhecer. — Falou. Ele fez menção de esticar o braço na sua direção para cumprimenta-la, porém quando percebeu que ela nem mesmo se moveu logo decidiu da ideia. — Eu sou Camila, a namorada de Diogo. 

Eu nada disse, estava surpreso por Jéssica lembrar-se de um dos nomes de meus tios. Otávio continuou com o jeito sem graça, parecia tentar falar algo enquanto eu e Camila continuávamos a encara-lo; aquela era a primeira vez que o via sem dizer nada por mais de cinco segundos. 

— Bem, é melhor ir cumprimentar o restante do pessoal, pelo que pude notar ainda tenho muita gente para conhecer. — A morena se afastou de meu tio e puxou-me para longe dele, deixando-o sem o que dizer. Jéssica olha para trás e logo solta uma risada baixa, pelo visto Otávio continuava parado no mesmo lugar. 

— Bela entrada. — A elogio, abaixando meu rosto na lateral para que ninguém me escutasse; o que seria difícil em meio ao som extremamente alto. 

— Você ainda não viu nada — Garante, enquanto caminhávamos para nos aproximarmos de outros parentes Jéssica fazia questão de deixar claro no quão real ela era. Cortando de vez qualquer murmurinho que pudesse existir sobre meu namoro ser ou não verdadeiro. — Me dê um carro e veja o que realmente seria uma bela de uma entrada. 

A apresentei para todos que estavam presentes, alguns faziam o comentário já esperado confessando que não haviam botado muita fé em minha história. Outros eram até mais ousados e perguntavam quanto eu estava pagando para que ela ficasse comigo, nos olhamos e seguramos o riso, se todos soubessem a verdade cairiam para trás. 

Jéssica também conheceu meus irmãos, pelos menos os três que estavam presentes. Roberta contou-me que Davi — o gêmeo mais velho — não viria, o motivo já era muito óbvio e não pude deixar de ficar entristecido com isso. Minha irmã disse-me que Otávio mencionou que acharia ofensivo à sua família que ele aparecesse com o namorado. 

— Eu vou confessar que quando Roberta mandou lá no grupo que ele iria levar a namorada ninguém em casa acreditou, sempre pensamos que Diogo se assumiria gay em algum momento como um dos gêmeos fez. — A primogênita de minhas primas, Ana falou. Ela era a filha mais velha de meu tio Otávio e infelizmente, tivera a mesma educação que o pai. Ainda que fosse uma pessoa incrível, seu preconceito para com a sexualidade de meu irmão se sobressaía por sua carisma; fazendo-me querer distância dela. — Fiquei aliviada quando soube que ele não traria o namorado para a festa, imagine as crianças vendo uma coisa dessa que ruim! 

Lembro-me de quando a revelação foi feita para toda a minha família no natal em que o gêmeo mais velho apareceu com seu namorado, Rogério. Ela fora uma das primeiras a fazer um comentário maldoso e preconceituoso. E isso gerou a briga da família, alguns de meus parentes por parte de pai eram extremamente religiosos e bem, suas crenças acabaram gerando uma grande discussão em toda a família por causa disso. 

Jéssica ainda não conhecia os gêmeos, mas pude notar o claro desconforto ao ouvir o comentário dito pela moça. O mesmo de mim, sempre fui de evitar quem eu sabia que encontraria alguma brecha para criticar meu irmão por sua sexualidade e infelizmente, por estar apresentando Camila para todos, eu precisei trocar algumas palavras. 

E me arrependi grandemente. 

— O que podemos fazer contra isso é muito simples — Novamente Jéssica se adianta em dar alguma resposta. — Podemos trazer vendas para você e quem mais se sentir incomodado com o namoro deles, o que acha disso Di?

Ela me olha e minha prima faz o mesmo, ela porém, com os olhos esbugalhados e a boca aberta em espanto pela resposta que ganhou de Jéssica. 

— Acho uma ótima ideia. — Respondo, ao mesmo tempo a encaramos, esperando por alguma resposta ofensiva de sua parte. O olhar de minha prima se alterna entre mim e Jéssica até que ela simplesmente sai de perto de nós. 

Sozinhos nos dirigimos até o cercado próximo a piscina, onde as crianças estavam brincando não se importando muito com o horário. 

— Não é por nada não, mas você tem uns parentes que... — Ela fecha uma mão formando um punho com a mesma enquanto a outra continua aberta, ela gesticula dando a entender que seria um soco. — Sem ofensa. 

— Não ofendeu — Respondo, encostando-me no cercado. — Quando minha mãe anuncia alguma reunião de família, eu geralmente invento alguma desculpa para não ir. Meu irmão faz o mesmo quando sabe que ela e o pai vão estar presentes. 

Jéssica une as sobrancelhas. 

— Eu acho tudo isso muito ridículo, entendo que sua mãe queira unir toda a família, mas o pouco que fui apresentada para eles já percebi de quem quero distância — Falou, o que ela havia visto era apenas uma demonstração básica do quão preconceituosos eles poderiam ser. — Seu irmão não vai vir mesmo? 

Dei com os ombros.

— Bem, Roberta disse que mandou mensagem falando, insistindo para que ele viesse. E se bem a conheço é provável que ele acabe aparecendo aqui — Respondi, sem que percebesse olhei para a mesma direção de onde Jéssica e eu viemos. Por enquanto nenhum movimento novo. 

O desejo de ter Davi presente era compartillhado por mim e por meus irmãos, além de meus pais é claro. O real intuito da festa de natal que minha mãe organizava todos os anos era apenas para juntar seus cinco filhos, algo que ela sempre fizera questão de deixar claro para todos; como dizia, meus filhos são a prioridade, eles vem acompanhados de quem bem quiserem. 

Contudo Davi evitava gerar brigas, às vezes aparecia sozinho e na maioria nem mesmo dava as caras. 

— Tomara que ele venha e esteja acompanhado, vou adorar ver a cara daquela sua prima quando o ver — Torceu ela, recuando quando uma das crianças pulou na água e espalhou água para todos os lados, quase nos molhando. 

— Agora eu quero todo mundo dançando antes de encher o bucho! — De repente meu pai grita ao microfone que era usado para o karaokê. 

Ele não era de beber nada que fosse alcoólico e seguia uma política rígida de jamais se deixar levar por ela, era o único de seus irmãos que não bebia. E também não precisava do álcool para perder a noção, como uma criança ele tirou a camisa que usava e seguiu para o centro do salão, dançando de maneira desengonçada é estranha. Em poucos instantes mais alguns de meus tios o imitaram, durante a primeira música apenas eles dançavam, porém após a segunda faixa passar a tocar alguns de meus primos e até mesmo as crianças molhadas já estavam dançando também. 

— Você precisa pagar esse micão, Diogo — Ela pediu, ainda estando ao meu lado. Não separou-se de mim desde que chagamos, por um lado agradecia por isso, não me sentia cem por cento para enfrentar alguns de meus tios sozinhos e tê-la pareceu uma boa escolha. 

— Não vou fazer isso — Recusei, servindo-me de um copo de refrigerante. Também evitando o álcool. 

Percebi que éramos os únicos a não estar junto aos demais e se eu conhecesse bem minha mãe e meu pai, não iria demorar muito para que um deles viesse nos chamar. 

— Sua família toda está lá e também eu quero filmar você dançando — Ela mostrou seu celular com a câmera já ligada e pronta para ser usada. 

Eu iria respondê-la, porém não tive tempo para isso. Meus pais chegaram como fora previsto, minha mãe segurando minha mão enquanto meu pai segurava a de Jéssica; os dois a nos puxar para que nos ajuntássemos aos outros. 

— Já que está namorando meu filho então além de fazer parte da família também deve pagar os micos com a gente! — Gritou meu pai para Jéssica, a assustando de início, mas conseguindo uma resposta mais positiva dela. 

De onde estava ela me olhou claramente confusa, enquanto meu pai dançava na sua frente. A música pareceu tornar-se mais alta que antes e de repente uma batida forte passou a dominar o ambiente, minha mãe tentava de qualquer maneira conseguir fazer com que eu me movimentasse mais; mesmo sabendo no quão péssimo eu era para tal habilidade. 

— Não precisa ter vergonha de se soltar só porque a Camila está aqui também — Marli falou para mim, forçando-me a dançar melhor do que me era permitido. 

— Eu não... — Interrompo a mim mesmo quando percebo que minha resposta de nada seria útil tão pouco valeria a pena. 

Não demorou para que Jéssica logo começasse a dançar também, de um jeito tosco que parecia seguir os mesmos movimentos que meu pai fazia na sua frente. Os dois riram ao dar-se conta do quão bobos pareciam, a cena fez-me sorrir também. 

Em certo momento meus pais simplesmente nos empurra para o outro, Jéssica e eu paramos quase nos batendo; eles continuam próximos a nós e seguem dançando. Aos poucos ela começa a ceder novamente, seguindo um ritmo próprio enquanto meu pai celebrava pela metade da vitória. 

Ele insiste para que eu me solte até que enfim aceito, sabendo que não levava o mínimo de jeito para algo tão complexo como a dança, sigo ou pelo menos tento seguir a música. Movendo meu corpo com a batida tocada, surpresa, Jéssica me encara e abre um grande sorriso quando também me vê entregue a pagaçãde mico coletiva de minha família. 

Todos dançaram em torno de quase sete músicas, durante a última algo estranho aconteceu. Jéssica me olhou ao mesmo tempo em que eu o fiz também, ela estava sorrindo nesse momento, os mesmos dos quais o vi durante as semanas que estamos juntos; contudo havia algo de diferente nele. Eu não sabia ao certo o que seria, mas olhá-la sorrindo como estava enquanto seguíamos dançando causou algo em mim, uma nova sensação. 

Jéssica demora com seu olhar em minha direção e quando percebi que parecia um louco enquanto a encarava, penso em desviar-me dela e por mais que eu quisesse mudar de visão ou simplesmente dar alguma desculpa para parar de olhá-la, não consigo fazer nada disso. 

Havia dito a mim mesmo desde o nosso primeiro encontro que eu teria o controle da situação, tudo o que teríamos seria apenas algo profissional e talvez amigável, contudo internamente eu sentia que estava começando a perder o controle de nossa estranha relação. 


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Notas finais do capítulo

Como toda boa família, a de Diogo não é muito diferente, tem os legais e claro, os preconceituosos. Infelizmente.

Já repondo os comentários.



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