Namorada de Natal escrita por Sami


Capítulo 5
Capítulo 5: A visita da mãe.




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Como se tais palavras fossem mudar tudo, o anúncio da breve apresentação de Jéssica fez com que o semblante de minha mãe se alterasse de maneira assustadora. Como era de se esperar, toda a animação por saber que estava acompanhado era um tipo de novidade que muitos comentavam, fossem para fazerem piadas ou para questionar-me sobre o real motivo de minha demora em fazer tal revelação. 

Tinha em mente que a partir do momento em que levasse adiante toda a encenação seria um longo caminho sem volta e, Jéssica ajudou-me com isso. Só não podia dizer se foi para algo positivo ou negativo, pois seu rosto parecia olhar-me com certo deboche. 

Minha mãe nunca escondeu sua felicidade quando se tratava dos namoros de seus cinco filhos; claro que um sempre ficava lhe devendo. O que gerava perguntas sobre minha real opção sexual. 

Conhecer Camila não foi diferente das reações de Marli, ela não esperava que eu estivesse acompanhado em meu apartamento, mas ver a moça morena ali, sorrindo gentilmente e mostrando o quão simpática era a mudou. Um sorriso largo fez-se presente, os dentes já envelhecidos, mas bem cuidados sendo expostos. O brilho de puro entusiasmo também era presente em seus olhos.

— Ai meu Deus! — Exclamou animada e surpresa, esquecendo-se da mão de Jéssica em sua direção e avançando até ela. Envolvendo a morena com ambos os braços num tipo de abraço um tanto desajeitado já que a outra não parecia esperar por essa atitude. — É você! 

De onde estava pude ver quando o rosto de Jéssica se direcionou a mim, ela parecia mais confusa que eu; mesmo que tenha tomado a iniciativa de reagir primeiro com a mentira. Fiz um gesto rápido para que ela seguisse com a farsa; torcendo para que minha mãe acreditasse como o restante da minha família acreditou. 

Assistia o desenrolar da cena em silêncio, temendo que qualquer palavra que eu dissesse pudesse simplesmente acabar com tudo e nos deixar em algum tipo de situação constrangedora. 

— Onde eu estava com a cabeça... — Ela enfim a solta, animada em finalmente conhecer antes de todos minha namorada. — Eu sou Marli, a mãe do Diogo, mas obviamente já sabia disso. 

Jéssica também abre um sorriso para melhor engana-la, a conhecia em poucos dias. Não era o suficiente para já ter traçado um tipo de perfil sobre ela, contudo eu bem sabia que a morena não era a garota simpática que se mostrava para minha mãe. Uma atriz perfeita. 

— Claro que sim, Di falou muito sobre você — Respondeu, pude sentir certa cobrança em sua voz ao dizer aquilo, pois eu não havia chegado na parte da minha família mais próxima a mim. Que seria meus pais e meus irmãos. — Fico feliz em finalmente conhecer alguém da família. 

Mais afastado e já sentado no braço do sofá, Jéssica parecia ter as rédeas tomadas e permitiria que ela seguisse chefiando, até porque fora ela quem teve a brilhante ideia de mentir para minha mãe. Parecia hipocrisia da minha parte pensar da tal maneira, até porque fora eu quem dera partida para aquela confusão toda. 

Existia uma grande porcentagem de mim que não conseguiria manter a farsa com minha mãe, não por ela possuir um dom para mentiras, talvez no segundo em que ela me olhasse nos olhos eu já teria entregado tudo. Jéssica felizmente ou infelizmente pensou primeiro. 

— Diogo deveria ter me avisado que ela estava aqui, iria deixá-los a sós se era isso o que queria — As duas me olhavam de maneiras diferentes, Jéssica parecia mais ansiosa para que a visita terminasse logo enquanto minha mãe... Ainda animada por enfim conhecê-la. Se não estivesse querendo se mostrar uma boa mulher já estaria pulando de alegria pela sala. 

— Camila já estava de saída. — Aviso, olhando-a com fingida gentileza. Deixando claro o recado e que aquele era o momento perfeito para que ela fosse mesmo embora antes que a situação pudesse ficar complicada.

— Estávamos conversando sobre o jantar que a senhora faz todos os anos no natal — A morena puxou assunto, voltando os olhos para minha mãe. Perguntei-me o que ela estaria fazendo. — Diogo também me disse que estão todos ansiosos para me conhecer. 

Ela sorriu sem graça. Fingindo ao menos.

— Primeiro de tudo, me chame de você. Não quero parecer uma velha por causa do senhora. — Pediu com humor, cortando o último fio de barreira e dando a Jéssica uma liberdade a mais. — Segundo, sim. Ninguém nunca viu Diogo com uma garota então pode imaginar que o anúncio de sua presença no jantar foi a bem animador mesmo.

— Todos só falam sobre isso. — Também fiz um comentário, servindo mais como uma crítica a minha família; contudo ele passou despercebido por minha mãe.

Minha namorada falsa virou o rosto lentamente em minha direção novamente, uma sobrancelha se arqueou e o canto esquerdo de seus lábios se esticaram muito levemente. A expressão do mais puro deboche estava ali ao descobrir um dos motivos para minha mentira. 

Conseguia até mesmo sentir sua respiração de vitória pela descoberta, entendi o jogo de Jéssica quando dei-me conta do que ela fizera. Jogou verde e colheu maduro; bem esperto. 

— E já que tocou no assunto e aproveitando que os dois já estão juntos, passaremos a última semana do mês na chácara da família, então vamos comemorar o natal e a virada de ano lá — Minha mãe contou, agora pegando tanto a Jéssica quanto a mim de surpresa. — Por isso vim até aqui Di. Seu pai estava insistindo tanto então combinamos de última hora, espero que não se importe com essa mudança Cami. 

Mentalmente contei o tempo em que Jéssica ficou em silêncio, sua boca se abria várias, contudo ela nada dizia. 

— Por mim tudo bem — Respondeu de repente, surpreendendo a mim. — Mas acho que terei de conversar melhor com o Di sobre isso, não é mesmo amor

Concordo com a cabeça. O passar das horas com Jéssica estava fazendo-me odiá-la um pouco, seria possível que começássemos a ter problemas. 

— Mas estarei presente no jantar, pode ter certeza. — Garantiu, olhando-me uma segunda vez. Seus pensamentos pareciam visíveis para mim naquele momento, pude visualizar o que se passava nela e recordar-me de sua exigência em parte do acordo. 

Suspirei com o simples pensar dela me relembrando do que combinamos. 

Elas conversaram mais um pouco, quem as olhassem daquele jeito diriam que eram grandes amigas de longa data. E estranhamente acabaram me deixando de escanteio, minha presença fora ignorada por ambas, prestava apenas atenção no que elas diziam.

Aos poucos ficou evidente que minha mãe já estava gostando de Jéssica e não pude deixar de me preocupar. Levaríamos essa mentira até o natal — provavelmente até o dia trinta e um — depois disso voltaríamos a ser dois meros estranhos.

— Okay, acho que já deu a minha hora — Jéssica anunciou, cortando o assunto. — Tenho algumas coisas para resolverem e...

A morena me olha, movimenta as sobrancelhas como se dissesse algo. Demorei a entender o que ela queria dizer com aquilo.

— Ah sim, eu vou abrir para você. — Levantei-me, minha mãe assistia a cena com um riso leve nos lábios. Nem queria imaginar o que estava se passando em sua cabeça.

A acompanhei até a porta e sai com ela. Fechando-a para que eu tivesse certeza de que minha mãe não nos ouviria.

— O que foi tudo isso? — Pergunto, meu tom se misturando entre o espanto e supresa.

Ela da com os ombros.

— Fiz meu papel de namorada, ué. — Sorriu vitoriosa. — E você deveria me agradecer por entrar no seu joguinho doido.

— Eu sei, é só que... — Perco em minhas palavras, não sabia exatamente o que dizer. — Vamos precisar resolver o assunto da chácara, sabe disso não é?

— Claro. Vamos ter que rever nosso acordo já que agora será uma semana inteira com o nosso segredinho. — Ela sussurra a última palavra, não soube dizer se Jéssica estava apenas fazendo graça ou se realmente prezava por manter aquilo somente entre nós dois. — Enfim, eu te ligo depois e aí conversamos melhor sobre isso. Beleza?

Beleza. — Respondo. Nos despedimos brevemente, um aceno que sequer chega a ser um gesto amigável e cada um segue seu caminho.

Respiro fundo antes de entrar em meu apartamento.

— Ela é um amor, Di. — Minha mãe a elogia quando enfim ficamos sozinhos. Isso não era bem uma novidade, Marli era conhecida por gostar de todos que conheciam, não importasse quem fosse. — Enfim, vamos ao papo sério agora. 

Minha mãe sentou-se no sofá, juntando as pernas de forma elegante como só ela conseguia fazer. Os olhos castanhos claros encaravam-me astutos e sua postura era um tanto ereta demais. Firme. 

Sinto um certo nervosismo em mim, travo o maxilar e vejo que preciso respirar fundo antes que qualquer palavra fosse dita. Ela já sabia que toda aquela cena foi apenas um teatro de mau gosto e que estávamos apenas fingindo ser um casal? 

— Roberta disse que se sente pressionado sobre os jantares e mencionou brevemente a questão das piadas... — Ela começou a falar. Se eu não estivesse tentando parecer o mais natural possível, seria perceptível os longos segundos em que meu corpo simplesmente adquiriu uma postura menos rígida. Até mesmo já respirava com mais tranquilidade. 

— Mãe...

— Agora sou eu quem vou falar. — Ela ergue a mão me interrompendo. No momento meu único sentimento era querer estrangular-se minha irmã. O assunto que eu tanto odiava e buscava fugir estava lá na minha frente e dessa vez não havia qualquer escapatória. — Filho, eu não quero que você ache que estamos cobrando uma namorada, você sabe como a nossa família é e essas piadas são só para encherem o saco mesmo. 

Faço menção de querer falar, porém pela segunda vez ela ergue a mão. Não é necessário dizer o significado de seu gesto, ela não deixaria que eu falasse. Por enquanto. 

— E eu não quero saber que está usando Camila como um meio de calar a todos — Fico tenso de novo. Era exatamente isso o que eu estava fazendo com Jéssica, o único detalhe é que ela estava de acordo com essa loucura. 

— Mãe. — Consigo interrompê-la antes que seu discurso ganhasse mais força. Eu estava outra vez me afundando em minha própria mentira e agora teria de ser o mais convincente possível. Não só para encerrar aquele assunto de uma vez, mas para fazê-la parar de falar também. — Disse que levaria Camila para o jantar porque eu sei como você se importa que todos os filhos estejam juntos e blá blá blá blá. 

Me assustei com minhas próprias palavras, se metade do que acabei de falar não fosse apenas parte de uma mentira, poderia dizer que fui sincero. 

— E também já estamos juntos há três meses, o jantar de natal é uma ótima oportunidade dela conhecer todo mundo. — Falei mais convicto. Jéssica me ligaria depois para conversamos sobre uma nova pauta do acordo que fizemos, já seria uma brecha para anunciar que eu também tinha a minha. 

Marli ficou um tempo olhando-me seriamente, mas deu apenas cinco segundos e ela já estava sorrindo abobada. Mais parecia que era ela quem estava namorando em vez de mim. 

—Finalmente Di! — Ela se levantou para então sentar no mesmo sofá em que eu estava. — Camila parece ser uma ótima garota. 

— É, ela é. — Minto. Mesmo que por um lado isso também fosse verdade. Ainda não nos conhecíamos o bastante para que eu pudesse dizer com precisão se Jéssica era uma boa pessoa ou não. 

Por um lado seu surto momentos atrás tinha motivo, não sabia praticamente nada sobre ela. Apenas seu nome e sua idade, algo que não era lá grande coisa. 

— Tente não estragar isso, okay? — Pede mais gentil. — É a primeira vez que consegue uma namorada então trate de fazer esse relacionamento dar certo. 

— Você fala como se eu nunca tivesse me relacionado com alguém na vida — Protesto, notando em como pareci infantil ao resmungar. 

— Mas é por isso mesmo. — Sua resposta me cala. Indignado a encaro esperando que alguma fala inteligente saísse por meus lábios. 

Diria que ela estava equivocada. Uma parte poderia vir a ser verdade, em meio a rodinhas de amigos onde todos falavam sobre suas crush ou quem gostaria de ficar com quem, sempre fui o calado que dizia apenas que não pensava muito nisso. Meu comentário acabou gerando uma grande desconfiança de minha família e amigos, pois simplesmente achavam que a minha falta de interesse em meninas era por eu gostar de meninos. 

Meus pais foram os primeiros a me questionarem sobre isso e vieram com o discurso de que estariam do meu lado independente da minha escolha. Isso sim era uma verdade, meu irmão do meio — um dos gêmeos — se assumiu para toda a minha família quando fez dezoito. Um choque para muitos, o esperado para nós que convivia com ele. 

Mas isso não aconteceu comigo. Ainda que muitos ainda tivessem tal desconfiança sobre minha sexualidade, preferia pensar que esperaria a melhor hora para encontrar alguém. A palavra galanteador ou senhor conquistador não se aplicava a mim, as inúmeras vezes em que tentei manter conversa com alguma moça por mais de dez minutos estavam como prova. 

— E então? — Minha mãe chama a minha atenção. Estalando os dedos como Jéssica fizera antes para que eu a atendesse. 

— E então o quê?

— Vai me prometer que não irá estragar tudo com essa moça? — Pergunta. Prometer algo assim seria difícil, ainda mais quando o que eu Jéssica tínhamos não passava de algo profissional e mentiroso. 

Coço minha testa, me vendo que estava questionando a mim mesmo onde raios eu estava me metendo. 

— Prometo, é claro. — Respondo enfim, mentalmente preocupado se o não cumprimento daquela promessa iria me afetar no futuro. 


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Notas finais do capítulo

Já já respondo os comentários bebês ♥



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