Miríade escrita por Melry Oliver


Capítulo 2
2. Final de semana




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No final de semana eu encontrava em frente ao espelho indecisa sobre o que faria com os meus cabelos, inclinada a prendê-lo, mas no fim deixei-os soltos sobre a blusa da Urban Outfitters vesti um jeans, e fui ao closet buscar um calçado, em meio aos pares de sapatos um atraiu a minha atenção. – Vacilei por um momento ao me deparar com um lado de tênis inquilino esquecido em um canto.

Fiquei irritada ao olhar para o solitário, sem mergulhar a fundo na lembrança daquele causador de prejuízo. – Abaixei-me para apanhá-lo do chão.

 — Do que me serve só um lado de tênis? Murmurei no quarto vazio.

Afastei a nuvem de irritação da minha cabeça, e o joguei sem cuidado, não valia a pensar nesse assunto, concentrei-me em terminar de me arrumar. – Mamãe levaria Ethan e eu para darmos um passeio e depois almoçaríamos.

Separei uma bolsa de lado, e coloquei dentro dela algumas coisas, eu ainda não tinha ganhado um novo celular, depois que o meu Iphone novinho tinha sido quebrado, então tive que levar minha câmera digital para tirar algumas fotografias.

Entrei na cabine carona do Sorento, enquanto Ethan se sentava no banco dos passageiros, mamãe usava um vestido azul delicado de alças os ombros pálidos a mostra, ela mantinha os cabelos presos em um rabo alto.

Ethan por sua vez vestia uma camisa cor de laranja creme, e uma bermuda bege, ele habilmente se inclinou sobre o encosto do assento da frente, logo depois de afivelar o cinto de segurança eu remexia em minha bolsa quando ouvir Ethan dizer.

— Gostei do tênis. – Ressaltou com um brilho nas esferas azuis.

Olhei para os meus pés, era um belo par de All Star vermelho.

— Eu tenho bom gosto. – Murmurei.

O menor tinha o costume de gostar dos meus tênis unissex.

— Me dá esse All Star?

Virei para fitá-lo.

— Não.

Ele fechou a cara. – Recebi um olhar reprovador de Sarah.

— Filho, sente-se direito e coloque o cinto de segurança. – Ele obedeceu.

Mamãe conduziu o carro para fora da área domiciliar, passeávamos pelas ruas de Melbourne com seus prédios históricos e modernos que compõe uma paisagem harmoniosa entre alamedas e parques de árvores frondosas.

De fato, uma vista encantadora.

O centro possuía avenidas largas, ruas para pedestres e belos shoppings centers, eu percebi a presença da herança arquitetônica europeia em algumas construções próximas ao centro que me fazia lembrar a Inglaterra. Virmos também o prédio imponente que se destacava entre os demais, era o prédio em que mamãe trabalhava.

— Wow! Ethan parecia um peixe fora d’água.

A Praça Federation Square apresentava uma arquitetura moderna em forma ondulada, sempre havia artistas de rua por ali no coração de Melbourne, atraindo plateias de curiosos, nessa praça, se concentram bares, restaurantes, museus e o centro de informações turísticas. Pegamos uma mostra muito interessante na Federation Square, uma câmera colocada na parte alta de um prédio, captava o movimento das pessoas, e o transformava em luzes coloridas, com várias tonalidades, conforme o movimento eu ajeitei as mãos e os pés como se estivesse nadando e ri.

A estação de trem Flinders Station se encontra ao lado da Federation Square, foi construída no século 19 e permanece até os dias atuais com as suas características antigas, eu gostava de apreciar as construções decrépitas, era conhecer um pouco mais da arte que sobreviveu ao tempo.

Depois de visitar vários locais turísticos, nós pegamos a Elliott Aventue e fomos ao Melbourne Zoo, o zoológico se encontrava entre jardins de flores e áreas de piquenique, muitos dos animais são organizados em zonas bioclimáticas, entre os bichos que viviam ali estão, pelicanos; coala; canguru; hipopótamos pigmeus; lontras; tigres; gorilas; elefantes e pinguins, Ethan logo se empolgou e começou a tirar fotos com a participação dos animais ao se posicionar na área de segurança estabelecida.

Algumas exposições populares incluíam a Casa das Borboletas, o grande aviário de voo e o Trail of the Elephants.

Eu já tinha perdido as contas de quantas fotografias eu tinha tirado de Ethan, energético como ele estava o cartão memória que ele utilizava já estava prestes a dizer tchau.

— Destinee tira mais uma minha com a mamãe. – Ele a abraçou e sorria, mamãe tirou os cabelos da testa dele, Ethan revirou os olhos, Sarah passou o braço esquerdo nos ombros do menor e sorria também.

Não havia dúvidas que aquelas duas pessoas se tratava de mãe e filho, Ethan possuía muita coisa de Sarah, os cabelos loiros, o rosto arredondado, a cor verde dos olhos, o desenho do nariz e a compatibilidade de ter a idade certa para ser filho de uma mulher de 32 anos, Sarah possui aquele olhar de ternura.

Apontei a câmera na direção deles e a máquina disparou depois vieram outras, na verdade vieram muitas, Ethan estava muito contente e sorria com frequência, sorriso esse que contagiava tanto a mamãe como a mim.

Já estávamos na área do jardim botânico, quando a minha primeira fotografia aconteceu em frente ao obturador tinha como plano de fundo a concentração verde, um lindo jardim gigante com plantas e árvores incríveis. Posicionei-me com o peso para um lado do corpo um sorriso emergiu em meu rosto e a câmera nas mãos de Ethan disparou.

Sarah que se mantinha próxima dele pegou a máquina e disse.

— Agora vai lá para perto da sua irmã, quero uma foto de vocês dois juntos.

Ele veio para o meu lado, eu fui para trás de Ethan e o abracei envolvendo seu pescoço com o meu melhor sorriso o registro aconteceu, antes de sairmos do jardim nós tiremos uma última fotografia depois de uma garota de cabelo rosa aceitar tirá-la.

Ethan queria ir a um Fast-food, entretanto Sarah alegou que nos levaria para comer comida de verdade, fomos a um restaurante nos arredores do centro com especialidade em culinária Italiana em um variado cardápio. – Foi uma boa escolha.

Enquanto eu decidia o que iria pedir, ouvir um casal ao lado da nossa mesa conversar em italiano, achei o máximo, a rica diversidade cultural que existia em Melbourne era linda, a boa convivência com a diferença era uma lição a ser aprendida.

Depois do prato principal, Ethan insistiu em querer comer pizza, mamãe atendeu ao seu pedido. – Uma deliciosa ideia.

Na saída do restaurante um senhor vendedor de flores ofereceu a minha mãe uma bela rosa branca, mamãe esboçou surpresa ao estender a mão e pegar o presente.

— Obrigada. – Lhe disse gentil.

Ethan logo ficou enciumado fechando a cara, cheio de infantilidade, eu achei o gesto do desconhecido particularmente bonito.

Levando-me a pensar que ao contrário do meu pai, minha mãe não se relacionou amorosamente com ninguém.

Pensar neles como casal, me levava a cena de dois adolescentes enamorados do colegial que cedo demais tiveram que lidar com a responsabilidade de cuidar de uma criança...

— Destinee!

Pisquei os cílios, e vi um Ethan energético com o rosto afogueado bem na minha frente trazia em punho o telefone estendido na minha direção.

— O papai quer falar com você – disse em júbilo, balançando o objeto inanimado em suas mãos.

Abri a palma e ele posicionou o telefone.

— Filha? Logo escutei a voz de barítono de Stephen.

Tive um vislumbre rápido do rosto expressivo e sorriso marcado do meu pai.

Quando eu tinha oito anos, os meus pais se divorciaram, Sarah Stoltz não se casou novamente, diferente de Stephen Haas, que refez a sua vida ao lado de Marcheline Urban, eu já a conhecia desde quando Stephen decidiu que seu relacionamento era realmente sério, ela tinha um filho Gavin Kaltman, nós tínhamos em comum um meio irmão de nome Jace que nasceu no verão do meu décimo primeiro aniversário, o bebê mais gordinho que eu já tinha visto em toda minha vida, Marcheline  segurava o pequeno recém chegado nos braços, sua cabeça era redonda com fios escuros, a pele marfim com grandes bochechas rosadas. Era uma das primeiras lembranças que eu tinha de Jace, antes de Marcheline me perguntar se eu queria segurá-lo. – meu convívio com Ethan me ensinou a lidar com crianças, e aquela foi a primeira vez que o meu irmão dormiu nos meus braços em sua inocência angelical.

— Bem-vindo à família pequeno Jace. – Beijei-lhe a testa suavemente.

Hoje Jace estava com 6 anos completados antes da nossa viagem, ele era muito doce, a festa temática do Scooby Doo foi tão bonita, tinha até participação de atores contratados para a encenação do desenho, Jace estava tão imperativo que dormiu muito tempo depois que a sua festa havia acabado.

Não falar de Melbourne nas vésperas se tornou algo premeditado já que o meu pai não havia aceitado a decisão de Sarah, tinha se formado um impasse que durou mais tempo do que eu esperava.

— Oi pai. – O saudei feliz, ao encolher os pés no sofá.

Através de uma ligação o meu pai tinha o costume de nos interrogar com perguntas repletas de curiosidade, na realidade o meu pai era presença constante tanto na vida de Ethan como na minha, sempre foi assim, e talvez continue a ser desse jeito...

— Como foi na escola nova? Inquiriu interessado.

Ambiente novo sem laços de relacionamento interpessoal formado.

— Foi... Legal. – Fiz careta com a escolha da palavra, a sensação de ser novata não era atraente, porém também não era um bicho de sete cabeças.

 Não foi tão ruim como eu pensei que seria.

— Conheceu amigos novos?

Pensei por um momento, uma garota receptível, um galã de ensino médio, um grupo para se enturmar, contei-lhe sobre os novos conhecidos, fiquei um pouco desconfortável com perguntas que envolvia garotos, tinha que ser Stephen, não era a primeira vez que ele me perguntava algo relacionado a isso, mas ainda assim eu não me sentia confortável.

Falar sobre esse assunto com o meu pai me deixava desconfortável, e com a impressão que ele estava me sondando sobre possível envolvimento com rapazes, depois que eu o apresentei Bill rotulado como o meu primeiro namorado, ele se tornou mais atento a esse assunto.

— Pai! Ouvir a sua risada rouca.

— Quê? Eu preciso saber, nada mais justo de deixar seu velho a par de tudo, não é?

Como se existisse alguém.

Revirei os olhos.

— Pai, você não é velho. – Ele riu.

— O que me diz?

— Sim, mas não dessa maneira. – Repousei a mão livre no colo.

Papai me fez mais algumas perguntas referentes a minha rotina, meu tempo em casa meu convívio com meu irmão e minha obediência à minha mãe, eu perguntei sobre Gavin, Jace e Marcheline.

— Gavin está frequentando a universidade de Dublin, e namora uma garota legal, você iria gostar dela, ela às vezes me lembra você.

Preocupei-me da nova namorada de Gavin me lembrar de alguma forma, particularmente eu achei estranho.

— O Jace está naquela fase de não querer ser chamado de bebê, mas só é Marcheline ter um nos braços que ele se chateia e diz ser o único bebê dela.

Meu pai tinha aquele tipo de risada que contagiava as pessoas, ele riu, eu ri.

— Marchel está ótima, e contínua envolvida com os projetos de arquitetura, recentemente ela entregou a última casa que estava trabalhando.

Foi bom conversar com Stephen, e saber que tudo estava bem com a família Haas,  a mudança de cidade não os afetou de maneira ruim e isso era bom, ao encerrar a chamada – Ethan me encarou incrédulo.

— O que foi? O fitei confusa. – Estiquei os pés no sofá.

Ele inesperadamente puxou o telefone, o menor estava agitado de expressão revoltada.

— Eu não acredito que você fez isso! Os olhos baixos encaravam o celular.

Ethan usava os cabelos até a nuca e parte dos fios da frente caia em seus olhos em uma tentativa de impedir Sarah de vir para a Austrália.

O encarei confusa, e automaticamente afastei os seus cabelos do rosto.

— Fiz o quê? Eu não o compreendia.

Com uma careta por eu ter mexido no cabelo dele, Ethan moveu a cabeça se livrando do meu toque.

— Você finalizou a ligação! E eu ainda queria falar com o papai! Soltou revoltado.

Em uma primeira impressão Ethan parecia um menino com armadura de anjo, mas o gênio do menor até hoje eu não sabia de quem ele havia herdado.

É sério que ele está fazendo esse drama todo só por causa de uma ligação?

— Liga de volta. –  Dei de ombros.

Ethan semicerrou suas esferas verdes em minha direção, a face pálida já estava vermelha.

— Sua chata! Disparou antes de sair correndo.

O meu irmão não aceitou bem a nossa mudança de país, e de certa forma eu o entendia, quando os meus pais se divorciaram ele era muito pequeno, e não tinha lembranças do tempo em que Stephen e Sarah eram casados, então crescemos entre duas casas diferentes.

Ele ainda estava confuso com a dinâmica de convívio que seria a partir de agora, Ethan admirava Stephen, isso era incontestável, lembro-me do dia que recebemos a notícia de Sarah, ele não reagiu bem ao saber que não o veria com tanta frequência como antes. Com peso na consciência eu encarei o telefone em cima da mesa o tirei do gancho e logo digitava os números iniciais para uma ligação.

Na hora do jantar eu terminava de ajudar Sarah a colocar os pratos na mesa, seu entusiasmo era admirável, minha mãe estava feliz no novo emprego, a cena ficou melhor quando Ethan apareceu na hora e comentou feliz com Sarah que Stephen o ligara, sorrimos diante de seu entusiasmo, nós jantamos como uma família de três pilares que se completam de uma maneira singular essa era a minha família.


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